“Deu-se o menino ao trabalho de subir a encosta, e quando chegou lá acima, que viu ele? Nem a sorte nem a morte, nem as tábuas do destino… Era só uma flor. Mas tão caída, tão murcha, que o menino se achegou, de cansado. E como este menino era especial de história, achou que tinha de salvar a flor. Mas que é da água? Ali, no alto, nem pinga. Cá por baixo, só no rio, e esse que longe estava!... Não importa. Desce o menino a montanha, atravessa o mundo todo, chega ao grande rio, com as mãos recolhe quanta de água lá cabia, volta o mundo atravessar, pelo monte se arrasta, três gotas que lá chegaram, bebeu-as a flor com sede. Vinte vezes cá e lá… …Mas a flor aprumada já dava cheiro no ar, e como se fosse uma grande árvore deitava sombra no chão.”
Vinte vezes cá e lá. Vinte certas, diz o escritor, e quero acreditar que sejam precisas tantas. Imagine, caro leitor, que a água não é água, mas sim porções de coisas esforçadas que é necessário fazer para salvar a vida da nossa flor. Pense que, de cada vez que se sobe a montanha, se deposita na Democracia muribunda algo que a faz, lentamente, renascer. Indique uma só, que esteja disposto a fazer ou que ache ser necessário que se faça... Lembre-se que há pequenas coisas, à semelhança das que cabem numa mão pequenina.
As imagens são do video . O texto, em itálico, é do livro de Saramago "A Maior Flor do Mundo"
Reeditado, post inicial em 15 de Abril de 2011
ResponderEliminar"...numa mão pequenina" cabe TUDO!
Beijinho
Laura
Muitas pequenas coisas podem fazer uma grande Democracia.
ResponderEliminarMuito bom, este "post", hoje.
Gostava de sugerir, dessas vinte, uma coisa em concreto, mas a imagem da própria mão aberta a outra mão, que por sua vez se abre a outra, e a outra, pareceu-me reconfortante.
Eu podia ler "O Tesouro" de Manuel António Pina a um grupo de crianças, na Biblioteca, e responder as todas as perguntas sem deixar cair nenhuma lágrima de comoção.
Um beijo
Corrijo:
ResponderEliminar... e responder a (e não "as") todas as perguntas...
;)
Rogério,
ResponderEliminarO teu artigo faz-me lembrar o "Principezinho" de Saint Exupery, o meu livro preferido.
Um abraço
O que eu faria para salvar a Democracia?
ResponderEliminarEm termos práticos, e disso é que neste momento é preciso, "corria" com este governo e colocava lá gente com siso!
Beijos.
Bela postagem, Rogério!
ResponderEliminarConsidero que a chave ainda é consumo (eco)consciente e crítico.
Vinte vezes e sempre!
Uma Paz e Ecologia com entendimento muito profundo de ambas.
Um abraço
Por mim um dos males maiores no Homem - que não sendo um dos seus piores defeitos, é contudo um dos que o leva depois a colecionar os mais horrorosos - é, imagine-se, uma virtude que me foi vendida sempre como uma grande qualidade humana: a ambição. Na ambição, cabe a do, “pelo conhecimento”, mas também a do, “pelo ter”, e é esta ambição pelo ter, que lhe abre as portas de um dos seus piores defeitos: o Egoísmo. É o egoísmo humano que faz do Homem a criatura má em que se torna quando está dominada pela ambição. É por exemplo ele que faz com que um gestor/político diga sem rebuços que as centenas de milhares de euros que ganha anualmente são “o seu valor de mercado”. Foi a ambição que lhe encheu o ego e o tornou egoísta, não porque recebe o dinheiro, mas pela declaração que faz quando interpreta o que ganha.
ResponderEliminar(…) “Indique uma só, que esteja disposto a fazer ou que ache ser necessário que se faça.” (…): Aposto no “ser necessário que se faça”. Cada um deveria todos os dias ao sair de casa, fazer um pensamento sobre a melhor forma de conduzir a sua ambição de forma a que ela não se transforme em egoísmo. Para os mais distraídos, talvez a colocação na testa de um post it: “Por favor, avise-me se lhe pisar os calos”.
A idéia de democracia já era uma flor murcha, pois nasceu de um grupo de pessoas da elite e enquanto eles pensavam...pensavam...pensavam, os escravos deles lhes serviam.
ResponderEliminarNas tribos indígenas se entende a democracia sem nunca terem pensado nisso - ainda hoje.
Barbara.
-> A superclasse (alta finança internacional - capital global) não só pretende conduzir os países à IMPLOSÃO da sua Identidade (dividir/dissolver identidades para reinar)... como também... pretende conduzir os países à IMPLOSÃO económica/financeira.
ResponderEliminar-> A superclasse é anti-povos que pretendem sobreviver pacatamente no planeta...
-> Um caos organizado por alguns - a superclasse ambiciona um Neofeudalismo, uma Nova Ordem a seguir ao caos...
não me calar,
ResponderEliminaré isso que eu faço
um abraço, Rogério
este simbolismo do exemplo, da solidariedade... toca fundo....
ResponderEliminarMeu querido amigo
ResponderEliminarJuntar todas as mãos possíveis e varrer o desgoverno que nos governa, e só muitas mãos juntas o podem fazer.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Encontrei o seu blogue por mero acaso. Um feliz mero acaso. : )
ResponderEliminarConheço bem este texto do Saramago (até por questões profissionais). Obviamente, belíssimo! Uma metáfora perfeita sobre a forma como a vida deveria ser vivida.
Voltarei. Até breve. : )
Ana
www.oreversodalinha.blogspot.com
Este extraordinário texto faz parte da minha colecção de trechos.
ResponderEliminarA flor anda tristonha... mas não vai murchar.
Parabéns pela escolha tão contundente com os dias que correm.
Boa noite!:)