MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA
Minúcia é o labirinto muro por muro
Pedra contra pedra livro sobre livro
Rua após rua escada após escada
Se faz e se desfaz o labirinto
Palácio é o labirinto e nele
Se multiplicam as salas e cintilam
Os quartos de Babel roucos e vermelhos
Passado é o labirinto: seus jardins afloram
E do fundo da memória sobem as escadas
Encruzilhada é o labirinto e antro e gruta
Biblioteca rede inventário colmeia –
Itinerário é o labirinto
Como o subir dum astro inelutável –
Mas aquele que o percorre não encontra
Toiro nenhum solar nem sol nem lua
Mas só o vidro sucessivo do vazio
E um brilho de azulejos íman frio
Onde os espelhos devoram as imagens
Exauridos pelo labirinto caminhamos
Na minúcia da busca na atenção da busca
Na luz mutável: de quadrado em quadrado
Encontramos desvios redes e castelos
Torres de vidro corredores de espanto
Mas um dia emergiremos e as cidades
Da equidade mostrarão seu branco
Sua cal sua aurora seu prodígio.
Sophia de Mello Breyner Andresen
ResponderEliminarRendida e em silêncio, porque é nele que se criam e projetam as coisas belas...
"um dia emergiremos" deste labiríntico interregno!
Beijinho
Laura
É no sentir, pensar e agir,
ResponderEliminarque poderemos um dia emergir,
nadar até colocar os pés
em terra firme,
e definitivamente,
conseguir atingir o sonho
sonhado!
Beijo
Maravilha! O poeta é um vate!
ResponderEliminarQue linda escolha. Obrigada.
Beijinho e bom fim de semana.
ResponderEliminarUm labirinto - encruzilhada, antro gruta, jogo de sucessiva imagens sobrepostas, refletidas em espelhos, vidro frio, vazio. Tudo sugere o caos mas, como sempre em Sophia e nem sempre na vida, a desordem desagua na ordem branca e luminosa, cosmos de um olhar puramente andresiano.
Um poema que dá "pano para mangas"
Um beijo
Rogério,
ResponderEliminarPrimeiro, o poema é belíssimo, não me lembro de o ter lido. Gosto bastante desta poetisa.
A imagem ainda não me tocou.
Segundo quanto ao Django:
Não gosto de violência gratuita, como à partida pode parecer. O filme tem diálogos que nos fazem pensar. A escravatura foi uma das maiores desumanidades (para além do holocausto).
O realizador critica de forma peculiar a sociedade esclavagista americana.
Há quem diga que este filme é racista, pois não o avalio como tal.
Boa noite, obrigada pela visita.:)
Tudo é espantoso nestas duas mulheres, Helena e Sophia...
ResponderEliminarCom a primeira, perco-me nos "corredores de espanto" de todas as infâncias, com a segunda descubro "seu branco, sua cal, sua aurora, seu prodígio"...
Abraço!
Um poema muito belo e intenso.
ResponderEliminarGosto da pintura de Helena Vieira da Silva, porque os seus quadros mostram-nos tudo o que ela nos quer dizer.
Espero ansiosamente por esse dia.
beijo
Fê
A eterna sabedoria de Sophia.
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