17 fevereiro, 2013

Geração sentada, conversando na esplanada - 27 (os católicos e a prática da cidadania)

"...as manifestações são legitimas, são porventura necessárias, mas eu penso que há, também, outros modos, outros meios... se o povo português fosse capaz de se associar em pequenos grupos, reflectir e fazer chegar o seu pensamento, talvez fosse mais eficaz..."  - D. Jorge Ortiga, aqui
 
"Não é a classe trabalhadora que pôs este país sem trabalho. Vou repetir: a classe trabalhadora não foi a assassina da falta de trabalho em Portugal. Onde é que está o dinheiro?" - D. Januário Torgal Ferreira, no vídeo abaixo

A esplanada não estava molhada, mas vazia. Sentei-me e preparei-me para ler o jornal como sempre fazia. Abri-o e folheei-o, não me concentrando. Distraído, ia apurando o ouvido para ver se discernia o cântico da chuva, miúda. Mas foi outro o ruído: com um sorriso o velho engenheiro cumprimentou. E como se tivesse atrasado no assunto que trazia, lançou:
- Foi ontem à manifestação?, admiro a persistência daquela gente...
Pelo comentário feito à volta da própria pergunta, percebi que se excluía da gente que tinha estado presente.
- Fui, vou sempre.
- Foram poucos. Em Lisboa e nos outros lados... mas pelos vistos, no Porto, encheram a praça...
Não me apetecia prolongar a conversa e fiz silêncio. O jornal foi o meu refúgio, mas o velho engenheiro fez-se desentendido...
- Vi um comentário no seu blogue... aquele que tinha uma declaração de interesses e onde dizia que gostava de ver católicos progressistas caminhando ao seu lado... e quem comentava dizia: "tem mais católicos ao seu lado, do que aquilo que pensa "
- E então?...
- Penso que quem o comentou fê-lo confundindo a realidade com o seu próprio desejo. Penso que a Igreja tem os católicos bem amarrados, não os deixa aderir à luta, à rua, aos sindicatos, aos partidos... não ouviu o Ortiga? Ele foi claro... e ele é a hierarquia... os padres não têm a linguagem do Torjal, passam a palavra do Ortiga... pelo que ele diz, a cidadania exerce-se nas eleições e em grupos de reflexão... ele diz que são mais eficazes...
Mantive o mutismo, e o engenheiro percebeu que hoje era o dia de eu querer ouvir a chuva a cair, copiando o estar do seu cão rafeiro. Minutos depois ao sair, disse-lhe em surdina, como despedida...
- Talvez os católicos progressistas estejam em força na rua, no 2 de Março...
Nem o olhei, mas acho que o seu sorriso foi, ainda, mais largo.

14 comentários:

  1. De facto, somos um bom bocado «mongos», mas já se viu que isto não vai lá com manifestações. Se estivesse em Lisboa, lá teria estado, sem dúvida, agora aqui em Leiria, o verdadeiro cavaquistão, nem me lo diga...

    No dia 2, lá estarei. Se bem que ache que não vamos conseguir nada com manifs!

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  2. pequeno-burguês relativo à pequena burguesia
    pejorativo.
    cuja visão é chã, acanhada, mesquinha, preconceituosa, reacionária. Do dicionárioHouaiss.
    E eu direi: querem tudo de imediato com o esforço alheio.

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  3. Excelente, esta tua Conversa de Esplanada!
    As minhas - que penso uma única vez ter transformado num soneto "brincalhão" - já vão rareando...

    Abraço grande!

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  4. Onde fui e pude acompanhar um pouco eram muitos a cantar e eu com eles! :-))

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  5. Não sei se a Igreja tem os católicos bem amarrados. Quando muito tem os padres...

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  6. Caro JDR,
    dá uma volta pelos sites da JOC...
    e ficas em estado de choque

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  7. Este padre perdeu o medo. Precisamos de muitos padres e leigos como ele.

    O medo não nos leva a lado algum.

    Precisamos de "refundar" as mentalidades dos políticos deste país

    É preciso obrigá-los a pagarem pelos erros cometidos...

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  8. O post é um primor. Retrata bem o que somos e o que se passa.

    O velho engenheiro é o tipo nacional.

    Os católicos assumem-se como classe, não como crentes, quando falam da coisa pública. Deus e o dinheiro têm momentos promíscuos...
    O resto é retórica pura.

    Beijinho e boa semana

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  9. Rogério.
    A fotografia está fantástica e liga muitíssimo bem com o texto tão pertinente...
    Quanto ao que deixou na minha janela fez-me sorrir. Trago-lhe o seguinte:
    O embaraço são resquícios da nossa inocência, não acha?
    Boa noite. :)

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  10. Eu sou católica, não me sinto amarrada e nem sei o que é a 'JOC' (fiquei curiosa, vou pesquisar)

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  11. Dia 2/3/2013 terá a minha presença...mas começo a achar que manifestações são coisa que não incomoda sequer a choldra que uma dúzia de cabeças mentecaptas colocou no Poder!!

    Bons sonhos

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  12. E bem precisávamos dos chamados "católicos progressistas".

    Alguém disse aqui em cima que os católicos se assumem como classe....pois que o sejam, também na rua.

    Rogério, um dia disse que as manifestações não resolvem nada. Esta foi assim como que um fracasso, nalguns lados e "ninguém" lhe ligou patavina. Eu estive na rua, mas com muito pouca gente à volta.

    Abraço

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