"...as manifestações são legitimas, são porventura necessárias, mas eu penso que há, também, outros modos, outros meios... se o povo português fosse capaz de se associar em pequenos grupos, reflectir e fazer chegar o seu pensamento, talvez fosse mais eficaz..." - D. Jorge Ortiga, aqui"Não é a classe trabalhadora que pôs este país sem trabalho. Vou repetir: a classe trabalhadora não foi a assassina da falta de trabalho em Portugal. Onde é que está o dinheiro?" - D. Januário Torgal Ferreira, no vídeo abaixo
A esplanada não estava molhada, mas vazia. Sentei-me e preparei-me para ler o jornal como sempre fazia. Abri-o e folheei-o, não me concentrando. Distraído, ia apurando o ouvido para ver se discernia o cântico da chuva, miúda. Mas foi outro o ruído: com um sorriso o velho engenheiro cumprimentou. E como se tivesse atrasado no assunto que trazia, lançou:
- Foi ontem à manifestação?, admiro a persistência daquela gente...
Pelo comentário feito à volta da própria pergunta, percebi que se excluía da gente que tinha estado presente.
- Fui, vou sempre.
- Foram poucos. Em Lisboa e nos outros lados... mas pelos vistos, no Porto, encheram a praça...
Não me apetecia prolongar a conversa e fiz silêncio. O jornal foi o meu refúgio, mas o velho engenheiro fez-se desentendido...
- Vi um comentário no seu blogue... aquele que tinha uma declaração de interesses e onde dizia que gostava de ver católicos progressistas caminhando ao seu lado... e quem comentava dizia: "tem mais católicos ao seu lado, do que aquilo que pensa
"
- E então?...
- Penso que quem o comentou fê-lo confundindo a realidade com o seu próprio desejo. Penso que a Igreja tem os católicos bem amarrados, não os deixa aderir à luta, à rua, aos sindicatos, aos partidos... não ouviu o Ortiga? Ele foi claro... e ele é a hierarquia... os padres não têm a linguagem do Torjal, passam a palavra do Ortiga... pelo que ele diz, a cidadania exerce-se nas eleições e em grupos de reflexão... ele diz que são mais eficazes...
Mantive o mutismo, e o engenheiro percebeu que hoje era o dia de eu querer ouvir a chuva a cair, copiando o estar do seu cão rafeiro. Minutos depois ao sair, disse-lhe em surdina, como despedida...
- Talvez os católicos progressistas estejam em força na rua, no 2 de Março...
Nem o olhei, mas acho que o seu sorriso foi, ainda, mais largo.
De facto, somos um bom bocado «mongos», mas já se viu que isto não vai lá com manifestações. Se estivesse em Lisboa, lá teria estado, sem dúvida, agora aqui em Leiria, o verdadeiro cavaquistão, nem me lo diga...
ResponderEliminarNo dia 2, lá estarei. Se bem que ache que não vamos conseguir nada com manifs!
pequeno-burguês relativo à pequena burguesia
ResponderEliminarpejorativo.
cuja visão é chã, acanhada, mesquinha, preconceituosa, reacionária. Do dicionárioHouaiss.
E eu direi: querem tudo de imediato com o esforço alheio.
Excelente, esta tua Conversa de Esplanada!
ResponderEliminarAs minhas - que penso uma única vez ter transformado num soneto "brincalhão" - já vão rareando...
Abraço grande!
Onde fui e pude acompanhar um pouco eram muitos a cantar e eu com eles! :-))
ResponderEliminarNão sei se a Igreja tem os católicos bem amarrados. Quando muito tem os padres...
ResponderEliminarCaro JDR,
ResponderEliminardá uma volta pelos sites da JOC...
e ficas em estado de choque
Este padre perdeu o medo. Precisamos de muitos padres e leigos como ele.
ResponderEliminarO medo não nos leva a lado algum.
Precisamos de "refundar" as mentalidades dos políticos deste país
É preciso obrigá-los a pagarem pelos erros cometidos...
O post é um primor. Retrata bem o que somos e o que se passa.
ResponderEliminarO velho engenheiro é o tipo nacional.
Os católicos assumem-se como classe, não como crentes, quando falam da coisa pública. Deus e o dinheiro têm momentos promíscuos...
O resto é retórica pura.
Beijinho e boa semana
Ah valente padre militar!
ResponderEliminarForte abraço!
Rogério.
ResponderEliminarA fotografia está fantástica e liga muitíssimo bem com o texto tão pertinente...
Quanto ao que deixou na minha janela fez-me sorrir. Trago-lhe o seguinte:
O embaraço são resquícios da nossa inocência, não acha?
Boa noite. :)
ResponderEliminarGosto tanto de o ouvir!...
Lídia
Eu sou católica, não me sinto amarrada e nem sei o que é a 'JOC' (fiquei curiosa, vou pesquisar)
ResponderEliminarDia 2/3/2013 terá a minha presença...mas começo a achar que manifestações são coisa que não incomoda sequer a choldra que uma dúzia de cabeças mentecaptas colocou no Poder!!
ResponderEliminarBons sonhos
E bem precisávamos dos chamados "católicos progressistas".
ResponderEliminarAlguém disse aqui em cima que os católicos se assumem como classe....pois que o sejam, também na rua.
Rogério, um dia disse que as manifestações não resolvem nada. Esta foi assim como que um fracasso, nalguns lados e "ninguém" lhe ligou patavina. Eu estive na rua, mas com muito pouca gente à volta.
Abraço