25 novembro, 2014

Poesia (uma por dia) - 72



A MULHER QUE CHORA BAIXINHO

A mulher que chora baixinho
Entre o ruído da multidão em vivas…
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,
Cheio de individualidade para quem repara…
O arcanjo isolado, escultura numa catedral,
Syringe fugindo aos braços estendidos de Pan,
Tudo isto tende para o mesmo centro,
Busca encontrar-se e fundir-se
Na minha alma.
Eu adoro as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreende-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às maquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.
Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.

Álvaro de Campos

9 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Esta força de amor e de pertença que nos pode mover e fazer tão melhores!

    Beijinhos Marianos, Rogério! :)

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  3. ~
    ~ ~ Acontece que este mundo imundo anda demasiado repugnante para inspirar adoração, amor e ternura...

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  4. Majo,

    esse mundo imundo anda tal como diz.

    Mas sabe?
    Há gente de um outro mundo
    que eu hoje trago ao assunto

    Há gente assim,
    como nos fala o poeta,
    com a ambição de trazer o universo ao colo...

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  5. Trazer o Universo ao colo
    Embalado aos acalantos
    Dos sussurros das pessoas doces
    Que de além mar enternecem
    A vida dos que daqui esperam
    Um dia pousar o olhar.

    Bj querido amigo.

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  6. Que delícia de texto...
    Foi a sensibilidade desta alma sem tamanho que o fez ser grande.

    Eu aprecio a beleza das pequenas coisas, aprecio almas sensíveis e... apesar de tudo, ainda tenho fé na humanidade dos homens.


    Beijinhos poéticos
    (^^)

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  7. Álvaro de Campos aqui, neste excerto de "Acordar", tão perto de Sophia.

    "pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio"

    A "Unidade" como princípio fundamental da existência do homem...

    Mas onde e quando?

    Bj.

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  8. A MULHER QUE CHORA BAIXINHO sou eu.

    Os poemas de Álvaro de Campos são pérolas da POESIA PORTUGUESA.

    Abração de amizade, camarada Rogério.

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  9. Um poema que nos devolve a fé na humanidade.
    Acordai,apreciai o belo e lutai por ele.
    beijinho

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