31 dezembro, 2016

Não, não é a minha passagem do ano. Este é o jantar do 6º Aniversário do meu "Conversa Avinagrada" e António Costa foi o convidado


Vem Meu Contrário (que é meu juízo), lê o título, e diz: "É pá, deixa-te disso".
Vem Minha Alma, olha a foto e fica zangada "É pá, isso não se faz".
Eu, que há 6 anos que Avinagro a realidade, mando-os dar uma volta e concentro-me no que importa, para além do desagrado desses meus heterónimos que nem sempre estão de acordo com títulos marados, fotos gamadas e textos inapropriados.

E o que importa, foi por mim escrito quando me apercebi que o espaço da blogosfera ia sendo reduzido, muitos amigos abandonavam este espaço, iam partindo procurando outros. E citava Saramago: «...a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até ao grunhido.» 

E o que importa, foi hoje trazido (espécie de prenda) por José Pacheco Pereira (no Público):
«Nada é mais significativo e deprimente do que ver numa entrada de uma escola, ou num restaurante popular, ou na rua, pessoas que estão juntas, mas que quase não se falam, e estão atentas ao telemóvel, mandando mensagens, enviando fotografias, vendo a sua página de Facebook, centenas de vezes por dia. Que vida pode sobrar? 
(...) Um dos maiores riscos para o mundo é ter um presidente dos EUA que governa pelo Twitter como um adolescente, com mensagens curtas, sem argumentação, que, para terem efeito, têm de ser excessivas e taxativas.(…) 
Se acrescentarmos que muitos consumidores das redes sociais obtêm aí quase toda a sua informação, percebe-se os efeitos devastadores no debate público e como servem para a indústria das notícias falsas e para alicerçarem o populismo com boatos, afirmações infundadas, presunções, invenções. Como, na nova ignorância, se trata de uma atitude hostil ao saber e ao seu esforço, mais do que um efeito de fonte única, há uma guetização da opinião, com arregimentação entre os próximos e a diabolização dos “outros”. Ler só aquilo com que concordamos pode ser satisfatório psicologicamente, mas destrói o debate público fundamental numa sociedade democrática.»
Sobre o percurso do "Conversa" nestes 6 anos, graças a si, que não se desprende daqui, eis um retrato da evolução:


BOM ANO!

30 dezembro, 2016

Elegia ao ano velho. Ode ao Novo

Elegia ao ano velho. Ode ao Novo

Meu bom ano velho, que te vais
Cansado, trôpego, descomposto
Que não me fiquem teus ais
Leva para bem longe teu desgosto
E que ele não me apoquente mais

Sabes, velho tonto?
Em quantas das tuas 365 madrugadas
eu construía um sonho?
Em quantas das tuas 365 alvoradas
se me iluminava o rosto?

Sabes, velho refunfelho e travesso?
Sabes a esperança que te tinha, eras tu novo?
Sabes que lutei desde o teu promissor começo?
E o que sobra?, nem te conto
O que desse passado de esperança
eu não me esqueço
Sabes, velho safado?
Foste pouco novo
Mas esse pouco
Mesmo pequeno já foi tanto!

Vai,
Que eu fico e me renovo
Nesta mensagem em que me revejo
E que a todos endosso
BOM ANO NOVO! 

29 dezembro, 2016

Mário Soares e o apelo de Manuel Alegre


Leio o apelo, certamente sentido, do poeta "“Não se pode mutilar a biografia de Mário Soares nem adaptá-la às conveniências”. Neste momento nem entendo o que que seriam as (minhas) conveniências em distorcer, enviesar ou omitir passagens de uma biografia daquele a que podemos considerar o pai (desta) democracia. Aqui ficam os meus contributos ao longo dos tempos, para que nada falte ao biógrafo:

28 dezembro, 2016

Também faço o balanço: em 2016 os mais ricos aumentaram a riqueza que tinham em 2015

imagem de Rute Henriques, no Jornal Tornado

Toda, ou quase toda, a gente está fazendo o balanço do ano. Alinham todos, ou quase todos, os mesmos acontecimentos. Nenhuma admiração pelo facto, estranho seria que acontecesse chamar-se a atenção para um (um só) acontecimento não badalado e que desse indícios seguros de que ele, o tal omisso, fosse a causa disto ou daquilo.
Por tanto, nada me admira que os ricos, que o eram já no ano passado, tivessem visto a riqueza aumentada (em alguns casos até duplicada). 
Ocorre-me mais uma vez  a já estafada e tanto batida frase do Albert:
"É insanidade fazer sempre as mesmas coisas e esperar resultados diferentes"
 Mesmo quando as mesmas coisas nos pareçam dissemelhantes...

27 dezembro, 2016

Também faço o balanço: em 2016, este foi o post mais visitado

«Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (15)» 

Segunda-feira (e durante a semana inteira) -  Lembrando um poema "Até que o Sol nos apareça"
Uns dizem palavras de desalento
Outros que esperam ter esperança em Maio
A maior parte, não fala e quando saio
Oiço queixas veementes de tão mau tempo
...
Avancemos, chuva adentro
Chuva adentro
Até que o Sol nos apareça, e brilhe                           como se fosse Abril
 Terça-feira

Como se fosse Abril de novo, naquela noite de 4 de Outubro, fez-se a esperança. Tinha, o segundo mais votado, posto a esperança de lado. O terceiro festejava por ter obtido farta votação sem retirar, do todo, a conclusão. Veio pela voz "inesperada" a esperança: "O PS só não será Governo se não quiser".
E quis. Seguiram-se negociações, compromissos, pressões. E o desfecho aconteceu, histórico. Sabe a pouco? Mas neste caso o pouco é tanto!

Quarta-feira 

Foi um dia em que o sol  espreitou e a família apareceu, embora nem toda pois parte querida está distante. Aqui, neste espaço, tal foi festejado, ofereceram-me Ary. Seu poema começava assim:
«Meu Camarada e Amigo
Revejo tudo e redigo
meu camarada e amigo.
Meu irmão suando pão
sem casa mas com razão.
Revejo e redigo
meu camarada e amigo»
De pé, senti-me grande e com alma de menino.

Quinta-feira

"Já cá tô" foi o sms que lhe enviei. Dali a pouco chegava ela. Percebera que fazia o esforço de chegar e que desde o último nosso encontro era visível que a vida se lhe tinha tornado um constante desafio, um apelo à sobrevivência. Sentou-nos e falámos sobre tudo o que nos ocorria até falarmos do que ali me trazia. Estendeu-me a pen e fez-me algumas veementes recomendações. Em casa, li todos os sonetos e fiquei com uma certeza...

Sexta-feira

Com textos diversos (e alguns avessos) os jornais falavam do Congresso. Um pelo referido deixava prever o desfecho. Escrevia:
«“Na generalidade acho que [Arménio Carlos] respondeu bem”, resume Carlos Trindade, porta-voz da tendência socialista, acrescentando que o mandato do líder da central ficou marcado por um momento político que exigia “muita união e expressão pública”. (...) Também Francisco Alves, dirigente sindical com ligações ao Bloco de Esquerda, realça que, nos últimos quatro anos, o trabalho “foi muito exigente”, mas a CGTP e o seu líder “esteve à altura do desafio”.»

Sábado - É hoje e amanhã é o primeiro dia do resto das nossas vidas!

26 dezembro, 2016

O nosso jantar de Natal? Não, não foi o que tende a ser!

A propósito de investigações minhas em torno das rogériografias aplicadas às famílias, já expliquei no Jornal "Tornado" que o nosso jantar de Natal não foi como é tendência ser.

E está aqui o filmezinho, que não me deixa mentir...

24 dezembro, 2016

Natal, uma consoada chorada (conto reeditado)


A história é breve, embora entre um e outro acontecimento medeie a esperança de vida de um galo. Eu conto, pois apesar de bem miúdo ainda me lembro de (quase) tudo.

A minha avó Mariana chamou-me depois de ter espreitado - "Estão a nascer, anda cá. Vem ver", e levou-me com ela por aquele grande terreiro baptizado de galinheiro, mas onde, além de galinhas, haviam coelhos, patos e pombos, todos partilhando o espaço mas com retiro adequado a sossego de cada um. Fui ver os pintainhos a nascer. Dois já tinham picado e destes, um deles, tinha a cabecita quase toda de fora do ovo. Adiantou-se o ver ao conhecimento do facto, pois nunca tinha ouvido falar que era assim. Levaram dois dias para saltarem todos para a vida, mas o primeiro saltou cedo, pouco mais de uma boa hora depois de ter espreitado. Minha avó, experiente, disse "Esse é frango e é aleijado". E era as duas coisa. Quanto ao diagnóstico da deficiência, o pintainho não se detinha de pé. Dava duas passaditas e mergulhava de bico, na poeira. O resto das férias passei-as na brincadeira e a assistir à persistência paciente de minha avó Mariana, mergulhando as patas do pequenito galináceo em vinho tinto, depois de levemente aquecido.

Meses depois o pinto já era um frango emproado. Reconhecia minha avó Mariana como sua mãe e atrás dela corria para onde quer que ela ia. Se ela parava, o frango empoleira-se num qualquer baixo beiral ou saliência e ficava ali, estupidificado, esperando que ela acabasse e fosse para qualquer outro lado. Vivia fora do galinheiro, em cuidados continuados.

Passaram anos. Uns poucos, pois os galos possuem larga longevidade e este usava-a com maldade. Desde que habitou o galinheiro, nunca mais houve a paz que antes por lá havia: os pombos deixaram de poder partilhar o milho das galinhas, os coelhos perderam a liberdade e não mais saíram da coelheira e a Reca, uma pata engraçada, que reagia a todo e qualquer chamamento, perdeu o seu lugar lá dentro. O galo, além de mau, não galava. Mas o safado imperava como se todas as galinhas fossem seu harém. Perseguia as coitadas e algumas, que esperavam ser montadas, recebiam brutais agressões. Muitas perderam a crista, outras a vista. Algumas, sortudas, apenas algumas penas. De madrugada, o galo enganava com o orgulho posto no seu cantar. Cantava alto, trinado e repetido. Cantava, cantava, cantava e só parava quando pensava que tinha acordado toda a gente, parava quando toda a gente tinha acordado. Entretanto, o malvado galo era gabado por todas as quintas à volta, e toda a gente comentava "Dona Mariana, o seu galo canta que é um regalo", e a minha avó escondia-lhe o comportamento agressivo como se protegesse actos desavindos de um mau filho.

Num Natal, um dos muitos passados na quintinha dos meus avós, já eu tinha condições de retirar a moral de qualquer história, a minha avó anunciou a sua resolução: esse ano não haveria peru. E assim foi. Na noite da Natal o galo saiu à mesa. O aspecto do assado era com a mesma imponência do bicho enquanto vivo, apesar do tostado. Mas o pior aconteceu, de tão rijo, ninguém o comeu. Souberam bem os miúdos de cabidela, a merecerem  lágrimas de minha avó, a correrem pelos olhos dela...


23 dezembro, 2016

No ano em que se comemora 40 anos de Poder Local Democrático a Assembleia da República toma uma triste deliberação


Por deveres de eleito e em nome à coerência, não pude deixar de estar presente no passado dia 14 de dezembro, no Palácio Anjos, em Algés, na Tertúlia “40 anos do Poder Local Democrático”, promovida pela União de Freguesias de Algés, Linda a Velha e Cruz Quebrada/Dafundo. 
Esta iniciativa, que assinalava o 40º aniversário das primeiras eleições autárquicas em Portugal, teve como propósito analisar a evolução do Poder Local Democrático e refletir sobre os desafios e caminhos para o futuro. Moderada pelo deputado Municipal e da Assembleia de Freguesia Carlos Coutinho (CDU), esta tertúlia contou com a participação de diversos oradores, nomeadamente, o Comandante Luís Costa Correia (militar de Abril), os deputados da Assembleia da República, Sérgio Azevedo (PSD) e António José Santinho Pacheco (PS), e o vice-presidente da ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias), Francisco de Jesus (CDU). Estiveram presentes nesta iniciativa o presidente da União de Freguesias, Carlos de Sales Moreira, membros do Executivo, o presidente da Assembleia de Freguesia, Joaquim Venâncio, deputados da Assembleia de Freguesia, vereadores do Município de Oeiras, deputados da Assembleia Municipal, representantes de instituições e munícipes e, claro, eu próprio.

Das diversas intervenções perceberam-se vários consensos, designadamente o ter sido uma afronta ao Poder Local (e às populações) a lei que determinou a extinção de freguesias de 4.252 para 3.091. 

A União da Freguesias local foi considerada um "monstro" e uma outra (a "minha"), no dizer do seu Presidente, ingovernável. Nessa consideração, senti-me gratificado por em 8 de Novembro a Assembleia de Freguesia da "minha" União de Freguesias ter aprovado por unanimidade uma proposta da CDU para a reposição das Freguesias (coisa que em 2013 só passou "por uma unha negra")

Assim, quer em clima de tertúlia quer na manifestação dos eleitos, e no lugar próprio, duas das maiores Uniões de Freguesias do País se manifestaram contra a sua própria existência.  Terá a ANAFRE outras manifestações, muitas. Todas elas foram ignoradas pelo PSD, CDS e PS que na Assembleia da República votaram contra o que os eleitos locais decidem e pensam e as populações anseiam. 

Mas, embora este texto já vá longo não posso deixar de citar, da sua intervenção de abertura, esta passagem da intervenção do Comandante Luís Costa Correia, militar de Abril (na foto acima, de fato claro):
«Com alguma ingenuidade pensei no início do corrente ano que tanto a Assembleia da República como o Governo poderiam recordar às portuguesas e aos portugueses o quadragésimo aniversário das inesquecíveis datas de 1976 em que o quadro de funcionamento democrático foi erguido, sem que tais iniciativas significassem ingerências em possíveis iniciativas de outros órgãos institucionais, uma vez que sabia que o Presidente da República não deixaria de fazer lembrar adequadamente - como fez - a eleição de António Ramalho Eanes, bem como de se associar - como fez - às comemorações das Associações Nacionais dos Municípios e das Freguesias.

Não tendo o Presidente da Assembleia acolhido tal ideia, apesar de adequadamente exposta, preferindo focar os aspectos comemorativos da aprovação da Constituição, sugeri, assim, a pessoa exercendo importantes funções governativas que fosse proposta ao Presidente da República a data de 12 de Dezembro, comemorativa das primeiras eleições para as Autarquias Locais, para, recordando a realização das Eleições de 1976 se proceder a um acto simbólico de reconhecimento nacional à Função Pública central, regional, e local, condecorando quem, ao longo de mais de 40 anos, foi um esteio sólido da que, sucedendo ao STAPE, é agora designada por "Administração Eleitoral".
Mais uma vez não tive sucesso.»*
A Assembleia da República ontem deu-lhe a resposta...
* ler aqui, texto integral

22 dezembro, 2016

Natal. Será a Maior Flor do Mundo a Amizade?


E toda a aldeia foi ver a "Maior Flor do Mundo"
____________

...resoluto, opto por falar de um sentimento necessário e difícil de explicar. Saramago atreveu-se a tal, mas de maneira tão discreta que pergunto-me se, na vertigem dos dias apressados, alguém terá dado por tal. Reconto o que Saramago contou. Faço-o a partir do vídeo (ver abaixo). O tal escaravelho despertou a curiosidade do menino. A amizade começa normalmente por uma impressão forte causada por o outro. Segue-se o interesse e, logo de seguida, a expressão primária da posse e da exclusividade. O menino, aprisiona o surpreendido escaravelho. Quer-o só para si. Pretende-o só seu. É comum nas amizades, na sua fase inicial e, por vezes prolonga-se por mais do que seria devido e perde-se. Não é conhecida a relação estabelecida entre o besouro e o seu carcereiro, mas é contado que na primeira oportunidade o besouro foge.
A perseguição acontece mas não para aquilo que parece. Dá-se pura e simplesmente um cordial reencontro. Sem falar - pois seria outra a estória se os animais falassem - o besouro indica-lhe a passagem para a outra margem. A margem onde está a flor carente e que se virá a tornar a Maior Flor do Mundo. A verdadeira amizade é assim, quase sempre nos conduz a locais belos e a gestos necessários.
Conta-se depois como menino fez aquilo que fez perante a admiração do povo. No fim, dá-se a despedida e cada um vai à sua vida, com a Maior Flor do Mundo, na imagem ao fundo. O menino vai crescer e o escaravelho vai fazer rodar o sol, fazendo-o rolar pelo firmamento acreditando ambos que um dia esse sol brilhará para todos nós. Tal acontecerá, se a amizade se tornar "A Maior Flor do Mundo"...
(reedição, com alterações)

21 dezembro, 2016

É Natal, é Natal, ninguém me deve levar a mal


Tenho usado Banksy para apontar a contradição dos católicos e de mim próprio. 
O mundo já não é o que era quando Cristo nasceu nem mesmo o mundo é já aquele em que eu era miúdo. 
O mundo já não é o que era quando Cristo foi erguido na cruz, nem é o mesmo daquele que eu me lembro. 
Acho que o que estou escrevendo não será propriamente uma novidade. Mas se eu disser que uma qualquer Popota  se irá tornar a grande amiga das crianças passando o pai de Natal a ser um personagem burlesco de Carnaval, vão se admirar... Penso até que se irão insugir.
E Cristo? Ah, esse menino cada vez mais fora do protagonismo mesmo com o ritual da Missa do Galo.

Os presentes? Tarde ou cedo serão armas de arremesso...


Por enquanto hoje são ainda "coisas" pacíficas...


20 dezembro, 2016

"Pintar um bonito sorriso a Maria"



As pegas de ambos os sacos vincavam-lhe os dedos, deixando-lhes as pontas arroxeadas e um ligeiro formigueiro, sintoma de que lhe iam ficar dormentes. Ignorava isso. Se ligasse, seria mais penoso chegar com aquele peso vencendo a ainda longa distância até chegar a casa. O frio, também fazia por não o sentir e quando este a venceu, sorrio por não haver Natal sem esse frio que vence sempre quem tão pouca roupa trás. “Mais um pouco e o esforço afastá-lo-á”, ia pensando à medida que o rosto se lhe afogueava e o corpo, um pouco, já transpirava. 

19 dezembro, 2016

Bom Natal para os amigos e até mesmo para os que, não o sendo, vão por aqui aparecendo



Ano a ano a árvore se vai alargando 
Uns só agora chegaram. Outros partiram e vão voltar, outros nem pensarão nisso... Guardo palavras, caras, sorrisos, máscaras e mais de quase 25 mil comentários. Guardo-os a todos e tenho-os no registo de terem passado. 
Muito obrigado. 
Eu sei que às vezes me "espalho", me excedo. Se pensam que me arrependo, esqueçam. Neste espaço nenhuma ofensa é deliberada, pensada e dirigida. 
Se erro?... É a vida.
Façam o favor de nos fazer felizes! 
Nota: Se faltar aí alguém, considere-se um não-ausente
 _____________________________________
NATAL de 1971 
...
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo de bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?

Jorge de Sena, "De palavra em punho"

17 dezembro, 2016

Redacções do Rogérito (33) - "A minha vida daria uma peça de teatro"

Tema da redacção: "Teatro da Cornucópia"


Disse-me a senhora professora que a vida de uma companhia como esta daria um filme e aquilo que eu acho é que se é verdade que a minha vida daria uma peça com muito mais razão a tal cornucópia devia manter-se em cena pois se caso não fique a minha vida fica carecida de encenação.
Eu gosto muito de teatro pois é mais aquilo que a vida é e o cinema é mais aquilo que nos fazem crer o que a vida está a ser sem que se possa validar o que estamos a ver e se a cena filmada é real ou inventada ou o que é ainda pior se o que o que estamos a ver não será coisa inventada para nos dar a volta ao juízo e eu não gosto disso.
Numa altura em que querem encerrar o teatro e desfazer a companhia tenho o sentimento de que o que era mesmo muito útil era abrir uma sala em cada bairro e cada sala ter um palco e cada palco ter luzes da ribalta e buracos onde se metem aquelas pessoas que vão lembrando o que às vezes se varre da memória e um pano que se pudesse abrir e fechar e onde de quando em quando se dissesse merda sem levar uma reprimenda da senhora professora ou de quem por lá estivesse.

Este meu amor ao teatro vem do tempo em que pisei um palco.
Foi numa sala de aula e em que a turma toda se empenhou uns fazendo os cenários outros os trapos e adereços da época de 1640 e só não gostei do meu papel de traidor e só aceitei por ser o único Miguel de Vasconcelos que cabia no armário e passava pela janela desenhada no cenário.
Aprendi uma coisa nesse meu desempenho e  deste aí nunca mais traí e é para isso que o teatro é preciso.

16 dezembro, 2016

O Natal, a Síria e as 6 razões porque aplaudi...



Quando no congresso do meu Partido o representante do PC Sírio foi muito aplaudido eu juntei-me a esse aplauso. De pé e por meia dúzia de razões:
  1. A primeira é que, por estranho que pareça, na Síria não são só os camelos que celebram o Natal, e cristãos havia muitos ;
  2. Esta confirma a primeira, pois como (não) é sabido, família de Bashar Al Assad pertence ao Islão tolerante da orientação Alawid;
  3. Tenho alguma confiança no general Loureiro dos Santos, ele diz que a Síria não é uma ditadura e eu acredito na criatura;
  4. Tenho alguma confiança num outro gajo, que por sinal também é general (General Wesley Clark) e que foi dizendo que já em 2001 a guerra da Síria estava planeada;
  5. Esta confirma a anterior pois o dito sujeito afirmava que ia tudo a eito. Dizia ele assim: "Quando retornei ao Pentágono em Novembro de 2001, um dos oficiais militares superiores teve tempo para uma conversa. Sim, ainda estamos em vias de ir contra o Iraque, disse ele. Mas havia mais. Isto estava a ser discutido como parte de um plano de campanha de cinco anos, disse ele, e havia um total de sete países, a principiar pelo Iraque e então a Síria, Líbano, Líbia, Irão, Somália e Sudão";
  6. A imprensa portuguesa, porque 50% da gente que lá anda tem que bater a bolinha baixa, usa a palavra "rebelde" e baniu a palavra "mercenário". Se a usasse, teria de entrar em explicações inexplicáveis, de quem lhes paga o salário...


14 dezembro, 2016

From Trump to Guterres


No que se refere a preencher este meu espaço, é sabido que não falho um dia. E se ontem me ausentei, foi por deveres de cidadania e cumprindo responsabilidades de eleito. Antes da Ordem do Dia, o Partido Socialista propôs um voto bem ajustado e com as palavras certas e alusivas ao acto e ao programa do recém eleito Secretário Geral da ONU e a quanto é gratificante, motivo de orgulho e de esperança ter Guterres a jurá-lo. Votámos todos, por unanimidade e aclamação.
Já agora, justifico também a demora... é que recebo uma inesperada chamada. Era o Trump. 
Porque meu conhecimento da língua inglesa não é brilhante, não atendi. E  deixei que tão elevado e ilustre personagem deixasse recado na "caixa das mensagens".
E deixou. Fui decifrar:
«Como se sabe, o funcionamento da organização depende do auxílio financeiro de seus membros, com parcelas mais substantivas cabendo aos países mais ricos. Destarte, a Organização das Nações Unidas encontrou-se aprisionada pelas grandes potências porque qualquer tentativa de críticas ou sanções contra elas seria estéril. Em primeiro lugar, porque não se submetem a tais pressões. Em segundo lugar, se penalidades lhes fossem aplicadas, provavelmente abandonariam a organização, debilitando-a, tornando-a inoperante e menos representativa. Em terceiro lugar a saída de grandes potências como os Estados Unidos poderia inviabilizar economicamente a entidade.»

(Miyamoto, citado aqui)

 

12 dezembro, 2016

Chiça!, de tão actual, até arrepia...


De quando em quando ouvia, e pouco me dizia. Pedro Homem de Mello, mal o conhecia e esse desconhecimento vem até hoje. Falta minha?, ausência pensada?
Chiça!, de tão actual, até arrepia

11 dezembro, 2016

O grande "dérbi" e a lição deste Mouro (não confundir com o Mourinho)


Há uma dúvida que me resta
Ou, eu Mouro, ensino munta bem
Ou meus netos aprendem... depressa
Por ordem (da esquerda para a direita): a Maria (SLB); o Duarte (SCP); a Marta (SLB); o Diogo (SCP); o Miguel (SLB)

10 dezembro, 2016

A José de Castro, a parte que faltava a uma sentida homenagem.


Prometi imagens e ei-las aqui, num outro lugar. Neste espaço, basta-me esta. Retrata um ponto elevado e que deixa a assistência em pose quase litúrgica (exceptuando a minha). A vereadora (como já referi) declama. Entre mim e Eunice caberia uma multidão, soubesse da romagem o  povo de Paço de Arcos e ele ali se juntaria, a ouvir versos belos de Herberto Helder,:
«...Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus, e
dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor...»

 Sobre o actor, e para quem seja ele um desconhecido, procurei palavras que lhe dessem da curta vida os actos que lhe merecessem homenagem tão sentida.  Do que apurei podia ser esta a síntese a caber na sua lápide:
José de Castro, nasce em Paço de Arcos, no dia 16 de Novembro de 1931 e Morre no dia 6 de Outubro de 1977, com 46 anos de idade, no seu funeral, levou sobre o seu caixão, uma bandeira do PCP.
 Dados mais apurados constam da memória d´OS BARDINOS

09 dezembro, 2016

Marcelo Rebelo de Sousa confessa...

“Só se quisermos um daqueles debates a que eu estava habituado na universidade, em que debatemos, teoricamente, tudo. E é muito útil. Mas debater [a renegociação da dívida], em termos concretos, com relevância política, não faz sentido nenhum” - no Observador, claro
Andam por aí perdidas essas rogériografias que explicam tudo...
Quando as encontrar aviso... e... ei-las aqui

08 dezembro, 2016

Hoje, em Paço de Arcos, uma bonita homenagem à memória de José de Castro...


Eram algumas dezenas de pessoas, poucas, as que rodeavam a estátua-memória do actor José de Casto (1931/1977). A convocação da memória acontecera na véspera. Entre gente bonita e outra ali reunida estavam eleitos do meu partido, outros (poucos) de outros partidos, o Presidente da Junta de Freguesia,  familiares de actor falecido e a vereadora Marlene Rodrigues. Depois de discurso enquadrado (Voz de Paço de Arcos), a vereadora, nada intimidada pela presença de Eunice Muñoz e Fernando Tavares Marques, pegou num papel que levara, projectou a voz e nela a sua própria alma. E disse um poema:

O ACTOR

O actor acende a boca. Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor pôe e tira a cabeça
de búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.

O que rutila, o que arde destacadamente
na noite, é o actor, com
uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca
e retira
o adjectivo da coisa, a subtileza
da forma,
e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria
labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.

Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus, e
dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor.

O actor é um advérbio que ramificou
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.

Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com sua ossada de base,
com suas tantas janelas,
as ruas -
o actor com a emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.

Em estado de graça. Em compacto
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.

O actor em estado geral de graça.

Herberto Hélder
NOTA: Há imagens. Quando as tiver, edito-as

07 dezembro, 2016

Ainda o XX Congresso e a esperanca de quem não esquece o Congresso do PS


Por acaso foi para o Tornado (e não neste espaço) que me atrevi a dar (para já) alguns contributos para um balanço de como eu vi o XX Congresso do meu Partido.

Recuo no tempo, heis-me em Junho passado a revisitar o Congresso do PS e detenho-me num painel temático, moderado por Nicolau Santos.
Avanço e, chegando a esta cena, estanco. 
Alto, isto está um espanto.
Não pelo o que disse o convidado, pois o que Pacheco Pereira disse não compromete o PS. Não diria o mesmo do que aconteceu em sala, aliás, na altura muito bem composta. Sigam o vídeo:
  • ao 5º minuto, aplauso;
  • ao 7º minuto, novo aplauso;
  • mais coisa menos coisa, ao 8º, ao 10º, ao 12º, 15º, 16º aplausos;
  • após o 17º minuto, aplausos quase seguidos...
 Ah, se os dirigentes do PS souberem, como eu, ouvir... (refiro-me às palmas e ao que elas sublinhavam, claro)

06 dezembro, 2016

António Costa, os entrevistadores e nós, os telespectadores (continuação)


Dormia Cristo a sono solto e, para que não acordasse, tirei o som àquela coisa. Habituado que estou a interpretar comportamentos não verbais e a discernir o significado de um olhar de esguelha, de um sorriso inexpressivo e de mãos cerradas, foi, em certo sentido, mais esclarecedor ver isso do que se tal tivesse ouvido. Curioso, curioso, foi o facto de os dois, cada um em alturas distintas, terem assumido esgares mal contidos, músculos faciais tensos, sinalizadores de contenção de raiva. 
Surpreendido por se terem a tanto atrevido, fui validar o meu entendimento com insuspeitos especialistas
Entendimento validado, tive um alerta que me recomendava cuidado e me dizia «Não é suficiente perceber que alguém sentiu raiva, o mais importante é verificar o que essa pessoa fará a partir da raiva que sente. Alguém, diante da raiva, pode controlá-la, ressignificá-la e agir de forma assertiva.»

Assertivo seria, por exemplo, um deles, explicar a Maria Luís Albuquerque que não há assim grandes diferenças entre as acusações de António Costa e as conclusões do Tribunal de Contas.   
Eu por mim espero sentado, Ele, Cristo, espera dormindo.

05 dezembro, 2016

António Costa, a entrevista e nós, os telespectadores


À hora de inicio da coisa, batem-me à porta. Era Cristo. Posso? pergunta e sem esperar resposta, entra, senta-se, pega no comando, sintoniza o canal e ajusta o som. Timidamente e nada refeito de tão inesperada e antecipada natalícia presença sentei-me a seu lado. 
A coisa começa e Cristo comenta: "Bons entrevistadores, esperemos"
Como resposta ao comentário fiquei calado
Ia a coisa para aí com uns largos minutos debatendo o tema da caixa e da sua recapitalização quando Cristo não contém um prolongado bocejo: "Sabe?, eu não sei nada de finanças..."
Ocorrendo-me o poema, um tanto despropositadamente completei-lhe a ideia "E consta que não tem nenhuma biblioteca!"
Cristo olhou-me de frente e foi directo "Os poetas gozam da impunidade dada à liberdade poética. Desse Pessoa tenho Eu a obra toda"
Estávamos nós nisto, eu e Cristo, quando André Macedo dispara uma pergunta estilo tiro ao boneco a que Costa respondeu com um sorriso na ponta da língua. 
"Cristo, estás a ver isto?"
Não estava.
Cristo tinha adormecido. Em seu regaço aberto um livro "Levitico" entreaberto numa página, onde li, brandamente, para não acordar o Senhor:
" Se teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então, sustentá-lo-ás. Como estrangeiro e peregrino ele viverá contigo. Não receberás dele juros nem usuras; teme, porém, ao teu Deus, para que teu irmão viva contigo. Não lhe darás teu dinheiro com juros, nem lhe darás alimento para receber usura”.
Pena Costa não ter tal livro em sua biblioteca.

03 dezembro, 2016

A ler, no "Tornado"

02 dezembro, 2016

XX Congresso, a maralha invadiu a sala

Desta vez fiz sucesso na rectaguarda,
no controlo de entrada
dos membros convidados de partidos amigos.
 Vieram de 60 partes do mundo.
Se eu sou multilingue? Não!,
nem um sorriso à recepção precisa de tradução.
 A sala de delegados rejuvenesceu!
Que lá faria eu?

30 novembro, 2016

Filipe VI perdeu a oportunidade de referir a "Jangada de Pedra" e eu ia aplaudir?

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«Quanto melhor vá a Europa melhor irão Portugal e Espanha ... quanto melhor sigam Espanha e Portugal, melhor caminhará a Europa»
Filipe VI, hoje em São Bento
«...tentei demonstrar duas coisas; primeiro: a Península Ibérica tem pouco a ver com a Europa no plano cultural. Dir-me-ão que a língua vem do latim, que o Direito vem do Direito Romano, que as instituições são europeias. Mas o certo é que, com este material comum, fez-se nesta península uma cultura fortemente caracterizada e distinta. Segundo: há na América um número muito grande de povos cujas línguas são a espanhola e a portuguesa. Por outro lado, nascem em África novos países que são as nossas antigas colónias. Então imagino, ou antes, vejo, uma enorme área ibero-americana e ibero-africana, que terá certamente um papel a desempenhar no futuro. Esta não é uma afirmação rácica, que a própria diversidade das raças desmente. Não se trata de nenhum quinto nem sexto nem sétimo império. Trata-se apenas de sonhar – acho que esta palavra serve muito bem – com uma aproximação entre estes dois blocos, e com o modo de o demonstrar. Ponho a Península Ibérica a vogar para o seu lugar próprio, que seria no Atlântico, entre a América do Sul e a África Central. Imagine, portanto que eu sonharia com uma bacia cultural atlântica."

Entrevista concedida por Saramago a Inês Pedrosa, in Jornal de Letras 10-16/11/1986

29 novembro, 2016

Reflexões, no dia em que o orçamento foi aprovado...

Como tudo começou.


Como tudo tem avançado.


E os riscos de ambiciosos protagonismos...


«Independentemente do modo como a questão da Caixa foi tratada - e foi reconhecidamente mal - em aspectos que, não sendo de pormenor, também não têm uma importância exagerada, a verdade é que o Bloco rompeu a solidariedade de apoio ao Governo, juntando-se à direita reacionária para supostamente resolver, de acordo com as suas inabaláveis convicções , um problema que já tinha data marcada para ser resolvido.
É um acto que não pode deixar de ter consequências por afectar seriamente o princípio da confiança.»

José Manuel Correia Pinto, in facebook

28 novembro, 2016

«Um homem pode viver cem anos na cidade, sem dar por que morreu e apodreceu há muito»


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«Instalámo-nos, portanto, na cidade. Aí toda a vida é suportável para as pessoas infelizes. Um homem pode viver cem anos na cidade, sem dar por que morreu e apodreceu há muito. Falta tempo para o exame de consciência. As ocupações, os negócios, os contactos sociais, a saúde, as doenças e a educação das crianças preenchem-nos o tempo. Tão depressa se tem de receber visitas e retribuí-las, como se tem de ir a um espectáculo, a uma exposição ou a uma conferência.
De facto, na cidade aparece a todo o momento uma celebridade, duas ou três ao mesmo tempo que não se pode deixar de perder. Tão depressa se tem de seguir um regime, tratar disto ou daquilo, como se tem de falar com os professores, os explicadores, as governantas. A vida torna-se assim completamente vazia.»
Leon Tolstoi, in “Sonata a Kreutzer”
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Há dias assim, em que nos limitamos a imitar os outros

27 novembro, 2016

Fidel, Havana, outras cidades sitiadas e as tais liberdades tão badaladas

Hoje, chamaram-me a atenção para o facto de Fidel de Castro não ter uma única estátua onde apareça isolado. "Sabes?, ele apenas integra, em colectivo, um monumento à revolução e ao socialismo!"
Entendendo tal reparo como aviso para que não entre eu num culto de personalidade que ele enjeitaria, falo da sua obra e de como como resistiu Cuba enquanto outras cidades administradas pela potência sitiante vão definhando...

Deixemos de parte as cidades burras pois em matéria  de Educação sabemos que o ranking não é relevante já que a burrice ianque é paradigmática e seria ofensivo comparar o quer que seja, neste domínio, à escolaridade do povo cubano. Deixemos então de parte isso e concentre-mo-nos nas cidades-gueto, aquelas por onde paira a tal liberdade de que tanto se fala. 
Não, não estou a comparar capitalismo com socialismo. Só estou a apontar que Cuba foi resistindo e o Michigan não. 

O Michigan e não só...

Fidel, in memoriam - "... há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis" - escreveu Brecht


As imagens são de um Homem, excepto uma que retrata a emoção de um povo. Na sua maioria situa há quantas horas lhe foram dedicados textos, artigos de homenagens ou de simples noticias.
Sobre a sua morte não faz sentido falar-se (há mortos que não partem) a não ser para dizer que Fidel fez um percurso, mas o verdadeiro protagonismo pertence ao povo cubano.
Falemos então dele, do povo cubano. Podíamos começar por Havana e ver imagens de resultam de um desumano bloqueio e compará-las com outra cidade, esta americana que, tendo tido população também cerca de 2 milhões de habitantes, não resistiu à tragédia que lhe inferiu o capitalismo. Detroit ruiu, Havana não.
Vejamos, então:

25 novembro, 2016

A Síria, o Papa Francisco, a missionária Guadalupe, o General e a posição confortável do Vaticano


Há caras que valem mais que mil palavras. E há palavras, curtas e claras, que valem mais que milhares de reportagens e páginas de jornais, sobretudo quando, umas e outras, projectam no Mundo a falsidade. Sabe disso, quer o Papa Francisco, quer o General Loureiro dos Santos.
Aliás, nem sei exactamente quem serão aqueles que detendo poder podem jurar não saber... 
Resta-me a pergunta, pejada de ingenuidade:
por que raio o Vaticano mantém*, na ONU, o estatuto de mero observador?
* O Estado do Vaticano, foi admitido como membro de pleno direito das Nações Unidas, em Julho de 2004, mas João Paulo II abdicou voluntariamente do direito de voto.

23 novembro, 2016

Mesa Redonda (9) - Tema: conto escusado, embora bem comentado

Da esquerda para a direita: Eu, o Meu Contrário e a Minha Alma

Eu (virado para o Meu Contrário): Esta Mesa Redonda foi convocada por ti, meu juízo. Diz lá, por por que ajuízas ser o meu conto escusado?
Meu Contrário (muito sério e calmo): Tudo o que serve para pouco, podendo servir para muito, é um desperdício! (após um pequeno silêncio, prosseguiu). A ideia do conto é interessante, mas, mesmo tratando-se de ficção cientifica, não me parece que prenda alguém à leitura…
Eu (pensativo): És capaz de ter razão. Muitos foram os que vieram ler a sinopse e não voltaram. Houve quem voltasse para dizer ser um texto previsível...
Meu Contrário (como que encorajado): Pois! A narrativa das partes iniciais parece ter sido criada  para justificar o final. Usas e abusas dos links obrigando a ir ver a outro lado o que devia ser integrado no que está a ser lido...
Minha Alma (interrompendo nesse preciso momento): De facto, se tivesses caracterizado logo que a classe dos "deprimidos" resulta da evolução da actual precarização do trabalho, tudo seria mais claro... e a passagem escondida é forte, vejam bem: «61,5% dos jovens trabalhadores têm vínculos precários. Este nível de precariedade, instabilidade e insegurança pressiona os salários para baixo.130 mil dos jovens desempregados inscritos nos centros de emprego não têm acesso a nenhuma prestação de desemprego, sendo os mais afectados pelos cortes nestas prestações. 2/3 dos jovens dos 18 aos 34 anos vivem em casa dos pais, consequência visível da perda de direitos, dos contratos a prazo, salários de miséria e desemprego».
Meu Contrário: Falas em "Oficio" sem explicar o que é isso...
Eu: Mas se escrevesse sobre tudo isso, escrevia um livro.
Minha Alma e Meu Contrário (em coro): Então escreve!

21 novembro, 2016

Os deprimidos - Parte III (fim, ou o começo de tudo)

ler parte II 

 
Ia fazer no dia seguinte 25 anos.  E na sala, que já tinha sido de espelhos, relembrava o que aquela sala o fazia lembrar. Tinha ideia de ali ter gatinhado, de ali ter aprendido a andar, de ali ter dito a primeira palavra (embora não se recordasse qual, admitia ter sido a palavra "mãe"), de ali ter assistido ao ar feliz do pai dizendo-lhe ainda criança "olha a mãe tem uma depressão benigna, tem assegurada cura". Nessa altura nem conhecia todas as  palavras que seu pai empregara, mas o rosto e o tom com que o dissera, faziam-lhe adivinhar que as noticias sobre a mãe eram boas. E foram, sua mãe Bruna regressara a casa, curada sem riscos de ser qualificada como deprimida. E foi nesse mesmo dia que a sala de espelhos deixou de fazer sentido. Dia após dia, serão a seguir a serão, a sala era onde a família se reunia. Nunca mais foi necessário simular que havia gente, para além da gente que ali havia. Eram só três, mas a sala passou a estar cheia.
Fazendo esse retorno ao passado, ocorreu-lhe que o passado é mais que a memória que cada um guarda. Animado de um propósito subiu a escada. Tinha de descobrir quem seus pais seriam e qual seria o passado dos deprimidos. No sótão estaria a resposta. E procurou-a. Havia lá de tudo o que ficara fora de uso. A um canto, jazia tecnologia antiga, aparelhagem diversa e descontinuada. Tralha. Pegou naquilo que em aspecto mais se aproximava dos Tels em uso. Tentou ligar, mas não acontecia nada. Aturadamente foi tentando até que se ligou. Cedo percebeu que nem por ser coisa antiga lhe seria vedado o acesso. Raciocinou que os sucessivos up grades das actuais redes mantinham a lógica da primitiva que lhe dera origem. Foi insistindo, experimentando hipóteses... E, a dada altura, "Bingo!" exclamou para consigo.

Ao entrar, a primeira imagem era enigmática, tinha o que lhe parecia ser um barco e uma frase "Nada é definitivo num naufrágio, havemos de corrigir o rumo errado!"  Que quereria aquilo dizer? Fez outras tentativas para encontrar a resposta e de cada vez que tentava mais perplexo ficava. Poema? O que seria um poema? Leu e releu, e começou-se a fazer na sua mente alguma luz... e uma pista: aquele nome, igual ao seu. Quem seria ele? Anotou a data, Dezembro de 2012. Foi há 100 anos. Ia a progredir na pesquisa, quando sua mãe o chamou: 
- "Rogério, tens o jantar na mesa, daqui a nada está tudo frio, filho!"
E desceu a correr.

No outro dia, e no outro, e no outro, muitos a fio, não descolou do propósito. Passado meses quase tinha a certeza de quem era (seria neto de um dos netos deles) mas não tinha qualquer dúvida de que a classe dos deprimidos era originária dos precários do século passado. A luta dos precários de então tinha-se gorado e a sociedade tinha mudado. Meteu-se-lhe então na cabeça um desafio: "Porque não regressar à luta? Porque não fazer renascer a esperança?" E voltou a ler o poema. Nunca tinha lido um poema assim, na verdade, nunca tinha lido nenhum poema na vida.

Passaram meses sobre a descoberta e a decisão de iniciar uma investigação. Para a investigação que tinha enveredado, faltava-lhe encontrar o algoritmo que conseguisse desligar cada chip de cada deprimido de forma a que este não fosse controlado sem que o sistema de controlo e os planos de trabalho fossem dar o alarme aos ofícios onde o deprimido estava alocado.  Resolvido e testado o algoritmo iniciaria o plano. 

Passaram meses sobre o teste do algoritmo, sobre o sucesso do teste e sobre o inicio do plano. Na sala, que antes tinha sido de espelhos, 397 rostos aguardavam poder contribuir para o que se fosse seguir: como desactivar todos os sistemas: da logística à domótica, dos tempos de controlo aos chips dos controlados, do accionamento dos drones à recepção de encomendas, dos braços robotizados a todos os "OKs" programados.  Consensualizado o plano, cada um foi para o seu lado, munido de uma tarefa, clara, precisa.
A data combinada? 25 de Abril! 
A senha? "Conversa Avinagrada"! 

FIM

20 novembro, 2016

Os deprimidos - Parte II

ler parte I


Correspondeu àquele beijo com a mesma intensidade com que se sentia beijada. Há muito que o Miguel não o fazia. Depois sentaram-se na cozinha, evitando a sala espelhada, onde em tempos, para simular estarem acompanhados a semearam de espelhos e se sentiam compensados das ruas vazias, olhando os seus reflexos.
Naquele momento queriam mesmo sentirem-se na intimidade. A gravidez de Bruna, que depois viria a ser confirmada, levava ambos a sentir essa necessidade. Falaram de projectos futuros, de como a vida iria mudar com um novo ser, da necessidade de se programarem de modo diferente, de como teriam de alterar a forma de gerir seus ofícios. "Podemos passar a gerir no modo virtual, os TelOficios estão em saldo e podemos configurar o software de forma a controlarmos o teu e o meu", sugeriu Miguel. 

Bruna reagiu em lamento, comentando a insegurança de ter a actividade do seu Oficio suportada apenas por dois deprimidos com o nível 2 de depressão e à beira do previsto "fim do período de vida útil" pelo que a sua entrada no nível de depressão seguinte requereria mais apoio presencial. Miguel tranquilizou-lhe a ânsia. E lembrou-lhe a notícia do medicamento INFARMED. "Se começarem o tratamento nos dias mais próximos terão a capacidade actual por mais 10 anos e, nessa altura, já a nossa criança terá mais autonomia" argumentou Miguel. Bruna, convencida, aceitou que fizessem a encomenda do aparelho naquele instante.
Ele fê-lo através do TelLog, exclamando "boa, a entrega será imediata!" e de seguida fizeram a encomenda do anunciado tratamento no sítio da farmácia virtual...

Passados 15 minutos, o quadro monitor da demótica do condomínio assinalava uma entrega proveniente do drone 327 e que este aguardava o aviso de recepção.  Miguel, clicou "OK" no TelLog. Bruna foi buscar o aparelho e em gesto apressado libertou-o da embalagem. Olhando o aparelho era, na aparência, igual aos dois outros apenas se diferenciado pela cor. O TelLog era azul, o TelCom amarelo e aquele era vermelho. "Configuramos já?" perguntou Bruna antecipando a resposta ligando o pequeno portátil. 
Entrou no menú geral e clicou em "registe-se"
Inseriu os dados do seu Oficio, identificação fiscal, número de deprimidos no activo, nível de depressão e número do Cartão de Cidadão (neste campo, havia uma nota, "o chip do CC assegura a rastreabilidade dos inputs). Parou. 
- "Miguel, o que significa isto?"
- "Acho que cada função a controlar tem por base a identificação da pessoa a controlar, deve ser isso!"
Bruna continuou para o menú das funcionalidades, passando o aparelho a apresentar uma tela com várias linhas em frente às quais tinha um espaço um apor um pisco:
  1. - relógio de ponto - v
  2. - atraso tolerado - v
  3. - localizações fora do Oficio (integra GPS) - deixou em branco
  4. - localizações dentro do Oficio (integra planta do edifício) - v
  5. - Lista de Tempos por Tarefa (integra Plano de Trabalho) - v
  6. - Tolerância para tempos despendidos fora do Plano - deixou em branco
De seguida clicou "em passar à tela seguinte" e apareceu o alerta "o campo 6 é obrigatório" e Bruna volta a inquirir Miguel:
- "Porquê este campo obrigatório?" 
- "Acho que se não preencheres esse campo deixas de poderes receber alertas sobre os riscos de incumprimento do Plano de Trabalho, deve ser isso!"
Bruna fica a pensar e depois exclama:
-"Ah, pois é!, agora me lembro quando estivemos a configurar no outro micro-portátil as encomendas a lançar nos supermercados, havia algo assim semelhante... até tinha um alerta sobre os riscos de mantermos conversa com os os deprimidos locais para além de um certo tempo... avisava que colocava em risco o completar-se a encomenda... lembras-te?" Dizendo isto, foi ao campo 6 colocar o pisco. 
E continuou a introduzir os dados. Após validar toda a configuração, pediu ao Miguel se podiam passar para a sala de espelhos.
"Sabes?, preciso de ver gente!"
Nesse preciso momento recebia no TelCom, pela função alta voz, a seguinte mensagem:
«Última hora. Feitos hoje  os testes em carga sobre a nova fábrica de montagens de automóveis da Wolkswagen. Com as novas tecnologias de automação, todas as operações foram robotizadas bastando um único deprimido, com a qualificação de 1º nível de depressão, para assegurar o seu funcionamento. A CIP já comunicou ao Governo o Programa de recolocação dos 250 deprimidos que passam ao quadro de excedentários prevendo-se que, desses, 20% possam ser integrados em Ofícios de manutenção.»