05 dezembro, 2018

SARAMAGO e a sua inquietante actualidade

A mim parece-me bem.

Privatize-se Machu Picchu, privatize-se Chan Chan,
privatize-se a Capela Sistina,
privatize-se o Pártenon,
privatize-se o Nuno Gonçalves,
privatize-se a Catedral de Chartres,
privatize-se o Descimento da Cruz,
de Antonio da Crestalcore,
privatize-se o Pórtico da Glória
de Santiago de Compostela,
privatize-se a Cordilheira dos Andes,
privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu,
privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei,
privatize-se a nuvem que passa,
privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno
e de olhos abertos.

E, finalmente, para florão e remate de tanto privatizar,
privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez
a exploração deles a empresas privadas,
mediante concurso internacional.
Aí se encontra a salvação do mundo…

E, já agora, privatize-se também
a puta que os pariu a todos.

– José Saramago, em “Cadernos de Lanzarote – Diário III”.
P.S. Tragicamente, este sublime escrito (que hoje reli no AVENTAR) não perde a actualidade, antes pelo contrário. Passe o machismo da catacrese final; para o caso, tanto faz.

5 comentários:

  1. Estas palavras de Saramago fizeram História, penso que não haverá que as não conheça. Incluindo os grandes incentivadores e adeptos das privatizações.

    Abraço, Rogério.

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  2. Privatizam sobretudo aquilo que geraria riqueza para todos nós e fica para o Estado o que dá prejuízo!

    Abraço

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  3. Não conhecia...
    Ahahahahah!
    Muito bem! Muito bom!
    ~~~~~~

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  4. E quem dá luz verde para privatizar o que é do Estado?
    Nunca percebi bem isto das privatizações bem como as consequentes reclamações.

    Concordo com Saramago...claro!
    Já agora privatize-se TUDO!

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  5. Privatiza-se tudo. Se pudessem até o ar que respiramos era privatizado.
    Saramago sempre atual.
    Abraço e bom fim-de-semana

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