28 fevereiro, 2019

Mário de Carvalho e o perigo da «reactivação do nazismo»


Andava eu naquela labuta conhecida da procura da notícia, para a candonga costumada, trazendo para este meu espaço textos que outros vão escrevendo, quando tropeço no título "Não se deve perder de vista um mundo mais justo e solidário" e onde o escritor alerta para as «tremendas transformações» que o mundo está a sofrer, em que se assiste à recuperação de pontos de vista que se pensavam «completamente ultrapassados».

Trata-se, como pode (e deve) ler aqui, de um enquadramento a um anúncio querido (mais um livro). Para além de ter eu encontrado este modo em divulgá-lo e porque às tantas ele refere ter sido criado numa família de ideais republicanos, que nunca o quis ver vestido, quando aluno do Liceu Gil Vicente, em Lisboa, com a farda da Mocidade Portuguesa, organização juvenil da ditadura de Salazar, de pronto me ocorreu aquele outro texto seu, por mim aqui citado:
Eu nunca fui obrigado a fazer a saudação fascista aos «meus superiores». Eu nunca andei fardado com um uniforme verde e amarelo de S de Salazar à cintura. Eu nunca marchei, em ordem unida, aos sábados, com outros miúdos, no meio de cânticos e brados militares. Eu nunca vi os colegas mais velhos serem levados para a «mílícia», para fazerem manejo de arma com a Mauser. Eu nunca fui arregimentado, dias e dias, para gigantescos festivais de ginástica no Estádio do Jamor. Eu nunca assisti ao histerismo generalizado em torno do «Senhor Presidente do Conselho», nem ao servilismo sabujo para com o «venerando Chefe do Estado». Eu nunca fui sujeito ao culto do «Chefe», «chefe de turma», «chefe de quina», «chefe dos contínuos», «chefe da esquadra», «chefe do Estado». Eu nunca fui obrigado a ouvir discursos sobre «Deus, Pátria e Família». Eu nunca ouvi gritar: «quem manda? Salazar, Salazar, Salazar». Eu nunca tive manuais escolares que ironizassem com «os pretos» e com «as raças inferiores». Eu nunca me apercebi do «dia da Raça». Eu nunca ouvi louvar a acção dos «Viriatos» na Guerra de Espanha. Eu nunca fui obrigado a ler textos escolares que convidassem à resignação, à pobreza e ao conformismo; Eu nunca fui pressionado para me converter ao catolicismo e me «baptizar». Eu nunca fui em grupos levar géneros a pobres, politicamente seleccionados, porque era mesmo assim. Eu nunca assisti á miséria fétida dos hospitais dos indigentes. Eu nunca vi os meus pais inquietados e em susto. Eu nunca tive que esconder livros e papéis em casa de vizinhos ou amigos. Eu nunca assisti à apreensão dos livros do meu pai. Eu nunca soube de uma cadeia escura chamada o Aljube em que os presos eram sepultados vivos em «curros». Eu nunca convivi com alguém que tivesse penado no Tarrafal. Eu nunca soube de gente pobre espancada, vilipendiada e perseguida e nunca vi gente simples do campo a ser humilhada e insultada. Eu nunca vi o meu pai preso e nunca fui impedido de o visitar durante dias a fio enquanto ele estava «no sono». Eu nunca fui interpelado e ameaçado por guardas quando olhava, de fora, para as grades da cadeia. Eu nunca fui capturado no castelo de S. Jorge por um legionário, por estar a falar inglês sem ser «intréprete oficial». Eu nunca fui conduzido à força a uma cave, no mesmo castelo, em que havia fardas verdes e cães pastores alemães. Eu nunca vi homens e mulheres a sofrer na cadeia da vila por não quererem trabalhar de sol a sol. Eu nunca soube de alentejanos presos, às ranchadas, por se encontrarem a cantar na rua. Eu nunca assisti a umas eleições falsificadas, nunca vi uma manifestação espontânea ser reprimida por cavalaria à sabrada; eu nunca senti os tiros a chicotearem pelas paredes de Lisboa, em Alfama, durante o Primeiro de Maio. Eu nunca assisti a um comício interrompido, um colóquio desconvocado, uma sessão de cinema proibida. Eu nunca presenciei a invasão dum cineclube de jovens com roubo de ficheiros, gente ameaçada, cartazes arrancados. Eu nunca soube do assalto à Sociedade Portuguesa de Escritores, da prisão dos seus dirigentes. Eu nunca soube da lei do silêncio e da damnatio memoriae que impendia sobre os mais prestigiados intelectuais do meu país. Eu nunca fui confrontado quotidianamente com propaganda do estado corporativo e nunca tive de sofrer as campanhas de mentalização de locutores, escribas e comentadores da Rádio e da Televisão. Eu nunca me dei conta de que houvesse censura à imprensa e livros proibidos. Eu nunca ouvi dizer que tinha havido gente assassinada nas ruas, nos caminhos e nas cadeias. Eu nunca baixei a voz num café, para falar com o companheiro do lado. Eu nunca tive de me preocupar com aquele homem encostado ali à esquina. Eu nunca sofri nenhuma carga policial por reclamar «autonomia» universitária. Eu nunca vi amigos e colegas de cabeça aberta pelas coronhas policiais. Eu nunca fui levado pela polícia, num autocarro, para o Governo Civil de Lisboa por indicação de um reitor celerado. Eu nunca vi o meu pai ser julgado por um tribunal de três juízes carrascos por fazer parte do «organismo das cooperativas», do PCP, com alguns comerciantes da Baixa, contabilistas, vendedores e outros tenebrosos subversivos. Eu nunca fui sistematicamente seguido por brigadas que utilizavam um certo Volkswagen verde. Eu nunca tive o meu telefone vigiado. Eu nunca fui impedido de ler o que me apetecia, falar quando me ocorria, ver os filmes e as peças de teatro que queria. Eu nunca fui proibido de viajar para o estrangeiro. Eu nunca fui expressamente bloqueado em concursos de acesso à função pública. Eu nunca vi a minha vida devassada, nem a minha correspondência apreendida. Eu nunca fui precedido pela informação de que não «oferecia garantias de colaborar na realização dos fins superiores do Estado». Eu nunca fui objecto de comunicações «a bem da nação». Eu nunca fui preso. Eu nunca tive o serviço militar ilegalmente interrompido por uma polícia civil. Eu nunca fui julgado e condenado a dois anos de cadeia por actividades que seriam perfeitamente quotidianas e normais noutro país qualquer; Eu nunca estive onze dias e onze noites, alternados, impedido de dormir, e a ser quotidianamente insultado e ameaçado. Eu nunca tive alucinações, nunca tombei de cansaço. Eu nunca conheci as prisões de Caxias e de Peniche. Eu nunca me dei conta, aí, de alguém que tivesse sido perseguido, espancado e privado do sono. Eu nunca estive destinado à Companhia Disciplinar de Penamacor. Eu nunca tive de fugir clandestinamente do país. Eu nunca vivi num regime de partido único. Eu nunca tive a infelicidade de conhecer o fascismo.

Mário de Carvalho - in "DENEGAÇÃO POR ANÁFORA MERENCÓRIA"

27 fevereiro, 2019

A palavra ao meu patrono... e à Armanian


Depois de dar a palavra ao meu patrono, acho que Nazanín Armanian também a merece.
E merece porquê?
Basta que não apareça nem em jornais, nem na TV.
E o que diz (escreve) a Nazanin?
Diz entre outras coisas, uma coisa assim:
Só os ingénuos podem acreditar que um tal Donald Trump, os criminosos de guerra como John Bolton e Elliott Abrams, ou que Bruxelas se dediquem a trabalhar em prol das classes mais desfavorecidas da Venezuela.
E diz mais...

26 fevereiro, 2019

Desmanipulando - V


A mentira leva sempre dianteira relativamente a quem desmente e é mais eficaz a mentira que o desmentido. Não só porque a mentira chega primeiro, como também foi preparada cuidadosamente para entrar na mente.

Gobbels sabia da poda e a sua cartilha não só está disponível como pode ser seguida e melhorada. A tecnologia o permite e permite-o também a segurança e impunidade a quem promove violações grosseiras de critérios e princípios deontológicos a que os jornalistas estão (deviam estar) obrigados.

Vem isto a propósito do protesto enviado pelo PCP à ERC.

Pessoalmente tenho as expectativas baixas quanto ao encaminhamento que levará tal protesto. Tenho a nítida impressão que a entidade reguladora é regulada pelos detentores proprietários dos regulados.

Fica a matéria que a ERC terá de apreciar:

25 fevereiro, 2019

Desmanipulando - IV


A "bolinha", situa a Guardia Nacional Bolivariana (GNB) quietinha, lá onde deve estar. A azul se assinala a fumaça e as chamas da encenação orquestrada. A manipulação é primária, mas a provocação pode ainda servir para dividir a opinião pública, levar parte dela a aceitar a escalada e esta culminar na intervenção armada. 

À nossa imprensa, bastaria mostrar esta imagem e comentá-la, referindo que o recurso à manipulação é prática antiga, como aqui, neste meu espaço, venho denunciando, desde a imagem de Rocky Balboa que era feito passar por um estudante venezuelano vitima de tortura, até à mistificação de imagens trazidas da Síria.

À nossa imprensa, bastaria fazer passar o comunicado da Cruz Vermelha condenando activistas da oposição por, em tal encenação, se terem disfarçado de trabalhadores da Cruz Vermelha – uma violação flagrante dos protocolos humanitários. 

À nossa imprensa, bastaria citar  o Relatório do Desenvolvimento Humano (PNUD), relativo a 2016 , onde a Venezuela se mantinha como um dos países com um alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no ranking de 188 países e onde a Venezuela aparece com uma pontuação de 0,767 acima do Brasil (0,754), Peru (0,740) e Colômbia (0,727). 

À nossa imprensa, bastaria anunciar que até lhe ser montado o cerco, a Venezuela era o quarto país com melhor IDH na América do Sul. 

À nossa imprensa bastaria apenas dar uma só dessas noticias e convidar comentadores não encartados. Não o tendo feito será conivente com mais um crime perpetrado por quem já cometeu tantos...  

24 fevereiro, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 7




Porque os outros se mascaram...



Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia, in "escritas"
NOTA: Não acreditem que alguma vez Sophia sonhou sequer que eu existia quanto mais dar-me uma prenda neste dia 

23 fevereiro, 2019

José Afonso (1929-1987).

Não se separa um homem inteiro, 
das partes e facetas que lhe dão a dimensão. 
Não se separa o andarilho, dos trilhos percorridos. 
Não se separa o professor, dos seres a quem deu saberes. 
Não se separa o cantor, dos seus cantos. 
Não se separa o poeta, dos poemas que nós dizemos.
Não se separa o criador, da obra criada. 
Não se separa o resistente, da luta travada. 
Não se separa o sonhador, da utopia sonhada. 
Não se separa a razão, da alma. 
E quando tal se separa, o homem parte. 
E omite-se a inteira memória de um homem digno.
Rogério Pereira
(reeditado)

22 fevereiro, 2019

Venezuela, há mais de 2 anos que passa por dias decisivos. Amanhã será mais um, a que será dada toda a visibilidade...


A imagem, em cima, mostra uma fronteira com alguns milhares. Noutra fronteira, Puente de Angostura, são muitos, muitos mil.  Entretanto, certa imprensa refere sérios conflitos, com vitimas mortais, e nada ilustram a não ser imagens que não documentam nada.
Nessa multidão, vejam se descobrem algum reporter, correspondente, politólogo, comentador ou alguém avisado que possa explicar o que se terá passado. É suspeito, que nos pontos de refrega, nem exista um Huawei, com a funcionalidade adequada.
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Diz-se que amanhã será um dia decisivo. Não acredito! A revolução bolivariana e o povo já vem suportando mais de uma dezena de dias decisivos... 
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Segue-se a lista cronológica desses tantos:

21 fevereiro, 2019

Playing For Change

Na verdade...
Este mundo
está
uma valente
merda
Não acredito
que um hino
o mude
Mas...
...talvez ajude

20 fevereiro, 2019

Ramalho, o enfermeiro mártir


Começo a ser conhecido por aplicar, sempre que posso, a lei do menor esforço. Não que tenha tal vicio, mas para quê escrever algo que já está escrito? E bem escrito, ora leiam:
«(...) Há alguns meses, dois sindicatos dos enfermeiros iniciaram uma luta a favor daquilo que consideram justas reivindicações dos enfermeiros.Entre essas reivindicações destacam-se o aumento salarial de 400 euros (de 1200 para 1600) para todos os enfermeiros em início de carreira e a reforma aos 57 anos (neste momento, a reforma é aos 66 anos e 5 meses). Como o Governo não cedeu, o Sindicato Democrático dos Enfermeiros e a Associação Sindical dos Enfermeiros (ambos formados recentemente), declararam greves prolongadas em novembro e dezembro do ano passado e todo o mês de fevereiro deste ano.
Em resposta, o Governo pediu um parecer ao Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República sobre esta greve e a PGR considerou que a greve era ilícita, por dois motivos.Em primeiro lugar, porque o pré-aviso de greve indicava que ela seria total e, afinal, só os enfermeiros dos blocos operatórios fizeram greve e, mesmo assim, em regime rotativo. Graças a esta artimanha, bastava que um enfermeiro fizesse greve para que o bloco não pudesse funcionar. No dia seguinte, outro enfermeiro faria greve e o bloco continuava parado.
Deste modo, milhares de cirurgias tiveram que ser adiadas. Entretanto, os restantes enfermeiros, quer os hospitalares, quer os dos Centros de Saúde, não faziam greve.Em segundo lugar, a PGR considerou ser ilícito o financiamento dos grevistas por um crowdfunding, angariado no Facebook, e que era gerido por uma empresa e não pelo sindicato.
Após este parecer da PGR, a Associação recuou e desconvocou a greve, mas o Sindicato reagiu, através do seu presidente, e levou a luta para novos patamares. Carlos Ramalho, o presidente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros, criado em 2017 e cujos estatutos foram alterados e republicados no final do mês passado, afirmou aos jornalistas:
“Se era necessário um mártir, ele está aqui, sou eu, Carlos Ramalho, presidente do Sindepor”.
E, por esse motivo, iniciou hoje uma greve de fome à porta do Palácio de Belém.
Acho pouco.
Considerando as reivindicações – aumento salarial de 400 euros e reforma 9 anos antes dos restantes trabalhadores – Carlos Ramalho deveria, pelo menos, imolar-se pelo fogo, em frente ao Ministério da Saúde. Só assim o nome de Carlos Ramalho poderia figurar no monumento patente no Campo Mártires da Pátria!»
Este texto foi aqui roubado, 
que por seu turno o foi roubar a outro lado

19 fevereiro, 2019

Notícias malabaristas e os protagonistas...

 .
Recebo, volta não volta, notícias do Grupo Marktest. 
.
Hoje chegou-me mais uma, nada surpreendente, sobre os protagonistas que preenchem as notícias. Em análise, estão os programas: Jornal da Tarde, TeleJornal e Portugal em Directo (RTP1); 24: Sumário (RTP2); Primeiro Jornal e Jornal da Noite (SIC); Jornal das 8 e Jornal da Uma (TVI).  Não há detalhe, canal a canal, mas suspeito que a ordem do ranking é igual, assim como é comum a omissão.  Afinam todos pelo mesmo diapasão... 

(no mês anterior foi pior )

18 fevereiro, 2019

Joana de Vasconcelos, a obra obrada, "A Arte Que Merecemos" e a arte que esta Europa reconhece...

Tudo o que foi escrito antes (e que de seguida reproduzo) mantém actualidade. Apenas com esta nota prévia. Serralves será de Fevereiro a Junho a montra alta da obra obrada, em nome já não do regime mas desta Europa...
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Cada regime tem os seus nomes sagrados... Na ironia despejada na espuma dos dias, no desencanto de um orçamento que não dá à cultura nem sequer um por cento, esperar que a arte irrompa com pompa não é uma boa espera. Mas se não é o que merecemos é o que temos. E é grande:

SETE METROS

Uma obra
obrada pela Joana grande
só pode ser enorme
seja qual for a forma
que a obra obrada tome
(Só gostaria de saber
o que o personagem do Bordalo
dirá do galo)
Rogério Pereira

«...Todo o poder político tende a monumentalizar a sua ideologia, aquilo em que realmente acredita. Assim, escolher uma artista que produz obras de grande escala, feitas por grandes equipas coordenadas pela vontade central de uma iluminada, é monumentalizar uma certa forma de gestão e de empreendedorismo enquanto arte, e do artista enquanto gestor de objectos ou eventos de grande escala. Não é muito diferente da contratação de Souto Moura ou de Cabrita Reis para as barragens do Douro. Nestes casos, a decisão final é privada, mas a mensagem é a mesma: uma grande empresa faz-se representar por artistas-empresários. Escolher Joana Vasconcelos é dar a entender que o Estado é também ele uma grande empresa.
Depois, o modo como acabou por se escolher a artista, directamente e sem consultar os interesses do mundo da arte, ignorando instituições e comissários, por exemplo, também diz muito sobre este Governo.(...) E é claro que mesmo ao nível da forma, a obra de Vasconcelos é uma monumentalização do empreendedorismo enquanto estética. Construir obras de arte a partir de panelas não é muito distinto de vender conservas ou aguardentes gourmet. Agarra-se num certo produto, que até já foi indício de pobreza e torna-se aquilo num produto de luxo, exaltando a pobreza como uma espécie de desígnio nacional, e muito obviamente monumentalizando as políticas deste governo.»
in "A arte que merecemos"
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* Obrar = cagar, defecar

17 fevereiro, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 6


A imagem acima, datada, refere-se, não a um desabafo com quem Sophia se correspondia, mas a um grito de raiva. A mesma raiva já referida no poema de Sophia, que assim escrevia:
«Com fúria e raiva acuso o demagogo
.
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra»
«Pensa bem, Rogério, a quem ela se refere como "demagogo"», comentou-me a Teresa, no domingo passado...
Não foi necessário pensar muito, ele (o demagogo) se retratou, sorriu, gargalhou, e pôs pedra no assunto... por amor a Deus!

16 fevereiro, 2019

GOVERNO DA ISLÂNDIA: União Europeia? Nem vê-la! (Mais diálogo, menos guerra)


Katrin Jakobsdottir, primeira-ministra da Islândia, reafirmou a vontade do seu país de permanecer fora da União Europeia e declarou-se crítica das tendências dominantes na NATO para assumir opções de força.
“Penso que a Islândia não deve entrar agora na União Europeia” e “não vejo qualquer razão para que isso aconteça”, declarou a chefe do governo de Rejkjavick numa entrevista ao website EU Observer.

13 fevereiro, 2019

Augusto Santos Silva faltou à lição... merece "chumbar" por tão grave falta


A Constituição mexicana pode até ser muito diferente da portuguesa, mas nem é isso que agora interessa. Há pontos comuns. Lopez Obrador fala de coisas comuns. Deu uma lição. Uma lição que todos os membros de governos que se dizem amantes da Democracia e da Paz deveriam estar em condições de dar...

Augusto Santos Silva, pelo que é conhecido, não podia ser lecionador e como aluno não seguiu  a lição. Merece "chumbar"... por faltas.

Lopes Obrador fala pausado, mas o nosso ministro é surdo. Ele e uma parte do Mundo...

11 fevereiro, 2019

Venezuela e o que (não) se diz dela! - V


Começo a ler e vou por aí fora. A dada altura paro num parágrafo, num tal que compara Ali Primera a José Afonso. Aqui decido, depois de tudo lido, fazer um interregno. Este, de irresistível título:
«Canção mansa para um povo bravo» 

10 fevereiro, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 5

 

A frase e a época referida nela estão datadas. Referem-se ao curso de inversão da revolução de Abril. Contudo, a expressão de Sophia mantém uma actualidade brutal e mais marcante pois as fraudes são impunes, os oportunismos assumem a forma de "pós verdade" e as confusões são veiculadas pelos laboratórios sofisticados do 4º poder. Hoje como ontem o "capitalismo das palavras" comandam o Mundo...

Fica, de Sophia, o seu testemunho-poema
Com fúria e raiva

Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse
Com fúria e raiva acuso o demagogo

Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner.
in "O nome das coisas" [1977].

09 fevereiro, 2019

Venezuela, quem mente?

 «Comecei a trabalhar para um diálogo e uma paz preventiva na Venezuela em 2015, a pedido da oposição moderada. Desde dezembro de 2015, viajei 34 vezes a Caracas e dez vezes à República Dominicana nas negociações. Com uma ideia básica: se se não há muitas vozes e atores na comunidade internacional que apostem pelo diálogo e se a ideia que predomina é que não cabe o diálogo, que não cabe falar com Maduro, que o que se deve fazer é forçar a implosão e a saída com sanções, o resultado será um grande desastre. Quando escuto que há que se fazer o que for preciso para que o governo Maduro acabe, me lembro de quando diziam que o Iraque tinha armas de destruição em massa, e que não havia outra solução (os EUA lideraram uma invasão). Em algum momento a oposição venezuelana teve um candidato único para ir às eleições? Não se chegou esse ponto, e por isso não houve um acordo. É muito estranho que uma vez que todos queriam a saída eleitoral, a oposição, que obviamente para tentar ganhar tem que ir unida, não tenha se unido em torno de um candidato.»
 José Luís Rodriguez Zapatero
in "Entrevista  a´O GLOBO"

08 fevereiro, 2019

SINDICATOS


Sindicato é aquilo que qualquer trabalhador sério sabe o que é

Sindicatos amarelos - aparecem no século XIX na França e na Alemanha e vieram contaminar todo o mundo. Normalmente formados ou financiados pelos patrões com o objetivo de, pela divisão os trabalhadores, defender seus próprios interesses e não os da classe trabalhadora. São contrários à greve e adotam posição conciliadora. A denominação de "amarelos" (ou Krumiros) decorre da fama de fura-greves.

Sindicatos laranja - são uma degenerescência dos amarelos. Evoluíram nos processos e nas formas de financiamento (campanhas crowdfunding).  Têm uma característica distintiva: são mesmo da cor que lhe dá o nome. 

Sobre as tais campanhas, perguntava-se  
Como viu a campanha de crowdfunding? Acha que os enfermeiros deveriam divulgar, a bem da transparência, quem fez os donativos?
Nós temos uma solução para o problema: não há melhor forma de sermos transparentes quando se desenvolve uma luta que é todos saberem que quando iniciam uma greve e quando a terminam não vão receber, no final do mês, o respectivo número de horas que estiveram paralisados. É também uma forma de responsabilidade pessoal. Ninguém faz a greve pela greve. Só é feita em última instância porque corresponde a uma redução do rendimento no final do mês. Ao contrário do que muitas vezes se fala, não é verdade que os trabalhadores só querem fazer greve porque têm sempre os salários assegurados. Os trabalhadores dos nossos sindicatos, quando fazem greve, têm redução do salário e entendem essa greve como um investimento de curto e médio prazo para melhorar as condições de trabalho. Quanto a outros casos, cada um fala por si. Pelos vistos, também já se transformou num negócio, uma vez que a margem cobrada pela tal empresa é significativa.
(a resposta é de um sindicalista a sério)

07 fevereiro, 2019

Marcelo e os media


Não sei por anda o Presidente. Quando julgamos que ele está num lado, ele já anda noutro e nem apereceu onde se esperava que aparecesse. Mas por onde passa deixa rasto, como se evidencia no título acima, dando conta que Marcelo anda acudindo à imprensa e logo abaixo algumas notícias que Marcelo deseja salvaguardar que se continuem a publicar.

Além do que atrás foi escrito, leia-se o que lá está assim dito. «A crise que a comunicação social atravessa é vista pelo Presidente da República como uma "situação de emergência" que "vai sendo cada vez mais grave" e que está já "a criar problemas democráticos, problemas de regime". Por este motivo, Marcelo Rebelo de Sousa questiona "até que ponto o Estado não tem a obrigação de intervir?"»

A crise que a comunicação social atravessa é vista pelo Presidente da República como uma "situação de emergência" que "vai sendo cada vez mais grave" e que está já "a criar problemas democráticos, problemas de regime". Por este motivo, Marcelo Rebelo de Sousa questiona "até que ponto o Estado não tem a obrigação de intervir?"

Ler mais em: https://www.cmjornal.pt/tv-media/detalhe/marcelo-rebelo-de-sousa-sera-que-o-estado-nao-deve-intervir

Foi depois de tal alerta que apareceu a NÓNIO e, assim, os accionistas da Global Media, Público, Media Capital, Renascença, Impresa e Cofina, podem continuar descansados...
A crise que a comunicação social atravessa é vista pelo Presidente da República como uma "situação de emergência" que "vai sendo cada vez mais grave" e que está já "a criar problemas democráticos, problemas de regime". Por este motivo, Marcelo Rebelo de Sousa questiona "até que ponto o Estado não tem a obrigação de intervir?"

Ler mais em: https://www.cmjornal.pt/tv-media/detalhe/marcelo-rebelo-de-sousa-sera-que-o-estado-nao-deve-intervir
A crise que a comunicação social atravessa é vista pelo Presidente da República como uma "situação de emergência" que "vai sendo cada vez mais grave" e que está já "a criar problemas democráticos, problemas de regime". Por este motivo, Marcelo Rebelo de Sousa questiona "até que ponto o Estado não tem a obrigação de intervir?"

Ler mais em: https://www.cmjornal.pt/tv-media/detalhe/marcelo-rebelo-de-sousa-sera-que-o-estado-nao-deve-intervir

06 fevereiro, 2019

Logo, ao jantar...

Logo, ao jantar,
haverá o que sempre houve,
à volta da mesa:
a alegria costumada
rirás
rirei
rirão
riremos
Haverá velas num bolo,
troca de olhares
e flashes 
Cantaremos
(os miúdos vão querer apagar
as velas, e cantar também)
Depois,
depois acho que te direi
Ah, quanto te quero bem...
Ou talvez diga
aquela frase batida
assim
Se não fosses tu
não sei o que seria de mim

05 fevereiro, 2019

Sobre como (realmente) vai o Mundo, ler tudo no "LADO OCULTO" - 22

CONHEÇA O GOLPISTA DA VENEZUELA

O Lado Oculto dá hoje a conhecer em pormenor quem é o golpista Juan Guaidó que se autoproclamou presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e Chefe de Estado sem ter sido eleito para nenhum dos cargos. É uma resenha de 15 anos de conspiração sustentados pelo governo dos Estados Unidos, desde a formação em terrorismo e "revoluções coloridas" na Sérvia aos "estágios" nas arruaças sangrentas designadas "guarimbas", à manipulação de lugares em órgãos institucionais até chegar à "presidência", depois de receber um presidente do vice-presidente dos Estados Unidos. 

Conheça assim o indivíduo que recebeu do governo português o reconhecimento da "legitimidade" da usurpação.

Estão disponíveis mais textos sobre a situação na Venezuela, desde a história do telefonema do vice-presidente Pence dando ordem para Guaidó avançar, a carreira sangrenta e criminosa de Elliot Abrams, o enviado de Trump para o golpe e a evocação do humanista e cientista europeu Alexander von Humboldt, um homem que há mais de 100 anos conhecia melhor a América Latina que os sociopatas que estão a conseguir governá-la.

Falamos também de guerra, mesmo de guerra nuclear, que poderá ser o caminho por onde vão os Estados Unidos ao abandonarem o Tratado INF, sobre proibição de mísseis de médio alcance.

Guerra também para continuar no Médio Oriente, onde a recente criação da Missão da NATO no Iraque pode conter a unificação de um conflito neste país e na Síria, ameaçando o Irão.

Guerra ainda quando os Estados Unidos dão fuga a terroristas do Daesh que estavam em poder dos Talibã, no Afeganistão; ou quando Emmanuel Macron decide enviar tropas e armas para a Síria para compensar os meios militares que os Estados anunciaram retirar, sem o concretizar.

Não perca também os antecedentes e a realidade do rebentamento da barragem de Brumadinho, no Brasil, um país, de facto, atolado na lama do seu aparelho de gestão.

04 fevereiro, 2019

O Papa na berlinda... e Galeano explica


O Papa está na berlinda. Não consta que o cartoon acima seja do Ministro Augusto Santos Silva... mas até podia... 

Tudo porque no outro dia o Papa disse: "Se eu disser 'ouça a esses países' ou 'ouça a aqueles países', me colocaria numa posição que desconheço, seria uma imprudência pastoral e eu causaria problemas"
Ontem terá dito algo parecido e fez apelo ao diálogo ao mesmo tempo que alertava o mundo.
Logo lhe caiu em cima, não o "Carmo e a Trindade", mas todos aqueles de que fala Galeano na primeira parte deste vídeo (sendo que na segunda parte fala dessa tal ditadura que dá fundo ao cartoon...)

03 fevereiro, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 4

*Ver aqui  
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Aproveito para dar novas da Maria João. Já saiu dos cuidados intensivos e o seu prognóstico não podia ser melhor...

02 fevereiro, 2019

Venezuela e o que (não) se diz dela! - IV



Depois de um dia vos ter elogiado Pepe Mujica, eis que ele regressa às primeiras páginas daquela imprensa que pela nossa não é citada. Disse ele, dois dias antes do que hoje se passou em Caracas, “Diante da situação…eleições totais dariam uma saída, mas desde que a esta ideia se somasse um monitoramento da ONU”. E disse mais, acrescentou que negociar é a única forma de evitar a guerra, a única ferramenta que há em política”. Ele alertou ainda que “estão soando fortes os tambores de guerra no Caribe por conta da situação venezuelana e devemos recordar que, nas guerras, morrem geralmente os que não têm responsabilidade nelas”.

Mujica condenou as sanções à Venezuela, que chegaram ao ponto do congelamento de ativos da PDVSA nos Estados Unidos. “Com sanções económicas se castiga os povos e fanatiza os governos”, disse. Disse dois dias antes do que hoje se passou... E o que se passou hoje em Caracas? Passou mais do que aquilo que a nossa imprensa diz ter-se passado. A notícia  é da TelSur, e reza assim o título: 
«Nicolás Maduro ratifica su apoyo a la iniciativa de diálogo de Uruguay, México y la Caricom*»
*Caricomcomunidade da região das Caraíbas.

Em Matosinhos... Se fui? Claro!, esperava o quê?

01 fevereiro, 2019

Venezuela e o que (não) se diz dela! - III


O presidente francês, Emmanuel Macron, ordena a Nicolas Maduro que não reprima a oposição MAS ELE ESQUECE as 3 300 prisões e os 2 000 feridos ligados à repressão do movimento dos coletes amarelos.
O presidente do governo espanhol, Pedro Sanchez, dá oito dias a Nicolas Maduro para organizar eleições MAS ELE ESQUECE que não está no seu posto senão graças a uma moção de censura e não por eleições livres.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusa Nicolas Maduro de não ser legítimo por o presidente venezuelano foi eleito senão por 30,45% dos inscritos, MAS ELE ESQUECE que apenas 27,20% dos eleitores estado-unidenses o escolheram.

O presidente colombiano, Ivan Duque, grita à “narco-ditadura venezuelana” MAS ELE ESQUECE que 65% da cocaína no mundo é fabricada na Colômbia, sob o olhar complacente das autoridades do país.

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, está preocupado quanto aos direitos humanos na Venezuela MAS ELE ESQUECE ter declarado que os movimentos sociais que se opusessem à sua política seriam considerados como organizações terroristas.

O presidente argentino, Mauricio Macri, acusa Nicolas Maduro de ser um corrupto MAS ELE ESQUECE que só o seu nome aparece nos Panama Papers, não o do presidente venezuelano.

Portugal deplora a crise venezuelana que, segundo a ONU, empurrou 7,2% dos venezuelanos para os caminhos da emigração MAS ELE ESQUECE que 21% dos portugueses tiveram de abandonar seu país e vivem no estrangeiro, segundo as mesmas fontes.

O presidente peruano, Martin Vizcarra, grita à ditadura na Venezuela MAS ELE ESQUECE que foi nomeado à frente do seu país sem o menor voto popular, apenas em substituição do presidente anterior destituído por corrupção.

No Reino Unido, os dirigentes denunciam os atentados à liberdade de expressão na Venezuela MAS ELES ESQUECEM que mantém, sem nenhum motivo válido, o jornalista Julian Assange em reclusão.

A Bélgica alarma-se com a situação da economia venezuelana MAS ELA ESQUECE que em Bruxelas a empresa Euroclear retém 1,25 mil milhões de dólares pertencentes ao Estado venezuelano.
Estas inversões acusatórias, próprias desta ” Escola do mundo invertido ” descrita por Eduardo Galeano, fazem parte do modus operandi da propaganda contra a Venezuela. Elas visam preparar a opinião pública internacional para a legitimidade de uma acção violenta contra o Povo venezuelano.

As bombas mediáticas já começaram a chover.