PORTUGAL PARTICIPA NO CONFISCO DE BENS À VENEZUELA
«O governo da
República Portuguesa está envolvido, directa e indirectamente, na
apropriação ilegal de pelo menos três mil milhões de euros de bens
públicos da Venezuela a que o Estado venezuelano está impedido de
recorrer para comprar medicamentos, alimentos e outros produtos de
primeira necessidade para a sobrevivência da população do país. Dessa
verba, 1359 milhões de dólares correspondem ao valor do ouro de Caracas
extorquido pelo Banco de Inglaterra, com anuência dos países da União
Europeia; e 1543 milhões de euros é a fatia de dinheiro confiscada pelo
Novo Banco, uma entidade nacional que foi salva com dinheiro extraído
dos bolsos dos portugueses e depois oferecida a um fundo abutre
norte-americano.»
«Até prova em contrário, o governo de Portugal
é parte responsável por estes actos – além do reconhecimento do golpe
terrorista através do qual os Estados Unidos designaram o seu agente
Juan Guaidó como “presidente interino” da Venezuela. Os portugueses
continuam à espera de respostas concretas a perguntas directas sobre
estas actividades governamentais praticadas à revelia e contra os
interesses dos portugueses, sobretudo dos que vivem emigrados na
Venezuela. Até agora só o silêncio tem respondido aos pedidos de
esclarecimento, o que também não parece perturbar a comunicação
mainstream que, assim sendo, só tem o que merece. Mas o silêncio
governamental vai valendo com uma confissão de cumplicidade de Lisboa
com os crimes cometidos pela direcção fascista dos Estados Unidos da
América contra a República soberana da Venezuela. Quem cala consente,
sobretudo sendo este um governo que tem palavra fácil.
“A nossa estratégia funciona…”
E
o que está a passar-se contra a Venezuela, com participação do governo
de Portugal, é uma guerra avassaladora que envolve “crimes de lesa
humanidade” passíveis de cair sob a alçada do Tribunal Penal
Internacional, de acordo com um relatório pedido pela ONU e em poder da Comissão de Direitos Humanos da organização.
A
guerra que atinge a Venezuela não resulta de sanções pontuais, como
poderá pensar-se. O que os Estados Unidos montaram, desde que o
presidente Obama declarou o país como “uma ameaça à segurança nacional”
norte-americana, em 2014, é um sistema organizado de punição colectiva
que visa a falência e o desmantelamento do Estado venezuelano.
O
Conselho de Relações Externas dos Estados Unidos, o mais pesado dos
famosos think tanks deste país, confessa que “as sanções são
alternativas visíveis e menos dispendiosas do que uma intervenção
militar”. Por outras palavras, as sanções são uma guerra, admite.
Mais
claro ainda nos termos usados é um membro do Departamento de Estado
norte-americano que prestou declarações sob condição de anonimato a um
conjunto de jornalistas, entre os quais Maria Molina, da Rádio Colômbia.
“Estamos a assistir a um colapso económico total da Venezuela”, disse.
“Portanto, a nossa política funciona, a nossa estratégia funciona”.
É a pessoas deste jaez e com esta consciência humanitária que o governo de Portugal está associado.
No
passado dia 25 de Abril, dois economistas norte-americanos, Max Weibrot
e Jeffrey Sachs, do Centro de Investigação Política e Económica dos
Estados Unidos, concluíram que o bloqueio económico e humanitário representa uma “punição colectiva”
que provocou já a morte de pelo menos 40 mil pessoas na Venezuela. Se
as sanções não existissem, revelam os autores, a economia do país não
teria sido afectada, seguiria o seu caminho; por outras palavras, não
haveria “crise humanitária”, não existiria “colapso”.
Uma teia imperial
As
sanções nada têm de acumulação de decisões pontuais aleatórias. São
aplicadas através de uma teia estruturada com o objectivo de asfixiar os
mecanismos que permitem a vida de um Estado e de um país.
A
sucessão de Ordens Executivas emanadas pelos Estados Unidos mas com
impacto global, sobrepondo-se à ordem internacional vigente segundo o
sistema da ONU, ilustram o funcionamento de um verdadeiro poder
imperial.
As medidas estabelecidas por Washington contra a Caracas
– do mesmo tipo das impostas ao Irão e a Cuba – pretendem fazer com que
a Venezuela deixe de funcionar com a banca internacional e o sistema
financeiro em geral, não possa comercializar os produtos que garantam a
subsistência do Estado e das populações, como o petróleo e o ouro. Neste
quadro a Venezuela fica inibida de exportar e importar, de se
administrar, de se financiar e de honrar as suas dívidas. Esta asfixia
induz um processo sádico de punição de milhões de pessoa forçando-as, no
limite, a submeter-se à miséria ou a virar-se contra um governo que não
é, de facto, responsável pela degradação constante da situação.
Mercê
da complexa teia de procedimentos aplicada de forma arbitrária em
termos políticos, económicos, financeiros, sociais e humanitários, a
Venezuela não pode vender petróleo e ouro, não pode comprar medicamentos
em geral e vacinas em particular, não pode contrair empréstimos junto
da banca internacional, onde também não pode movimentar os seus activos
depositados ou em circulação no estrangeiro; além de não lhe ser
permitido pagar as dívidas, para que depois possa ser acusada de não
honrar prazos de pagamento e cair em default. Levando assim, por
arrastamento, os impérios internacionais de notificação de créditos,
como a Standard and Poor’s a colocar a Venezuela nos últimos lugares,
muito abaixo de “lixo” – situação mais grave ainda do que as de países
vítimas de guerras e agressões militares.
Trata-se de um sistema
maquiavélico, sádico, repete-se, porque atinge os seres humanos onde
eles são mais débeis, dependentes e indefesos como a saúde, a
alimentação, os bens essenciais de consumo. Uma guerra imposta sem
tropas mas também com mortos, feridos e famintos.
A componente portuguesa
E
o governo de Portugal participa de forma sorrateira, sem o assumir
perante os portugueses, nesta operação que provoca danos deliberados na
economia e no sistema de saúde venezuelano, com a agravante de originar
“diversos casos de morte – o que implica crimes de lesa humanidade”,
segundo o relatório apresentado pelo perito independente da ONU,
Alfred-Maurice de Zayas, na última sessão da Comissão de Direitos
Humanos das Nações Unidas.
Uma participação portuguesa que não
acontece apenas por arrastamento, devido às “nossas alianças” ou às
inerências da União Europeia. É uma opção deliberada.
Já em Agosto
de 2016, por exemplo, o Novo Banco decidiu que estava impossibilitado
de fazer operações em dólares com os bancos venezuelanos, invocando
pressões de outras entidades bancárias com as quais se relaciona. Fê-lo
numa conjuntura em que instituições como o Citibank se negaram a receber
fundos venezuelanos para importar 300 mil doses de insulina, o Crédit
Suisse proibiu os seus clientes de realizarem operações financeiras com a
Venezuela e, só em Novembro de 2017, foram bloqueadas por bancos
internacionais 23 operações de compra de alimentos, produtos básicos e
medicamentos, no valor de 39 milhões de dólares.
Mais
recentemente, em Janeiro e Fevereiro deste ano, coincidindo com a
entronização golpista de Juan Guaidó, o Novo Banco travou uma operação
de importação venezuelana de vacinas contra a meningite, rotavírus e
gripe, atitude que afectou directamente 2,9 milhões de crianças
venezuelanas.
Outro banco com grande representação em Portugal, o
Santander, surge envolvido em actuações deste tipo. Rejeitou uma
movimentação de fundos para reparação dos equipamentos hemodinâmicos da
área cardiológica, o que atingiu directamente pelo menos 500 crianças
com cardiopatia congénita. Exemplos deste tipo multiplicam-se em cadeia,
associados a centenas de instituições financeiras internacionais e
respectivos ramos.
Os fundos do Estado venezuelano confiscados
pelo Novo Banco atingem os 1543 milhões de euros, verbas para serem
prioritariamente utilizadas em produtos essenciais como medicamentos e
alimentação.
Não consta que o governo de Portugal, depois de ter
oferecido o antigo Banco Espírito Santo, resgatado pelos contribuintes
portugueses, a um fundo abutre norte-americano, se tenha movimentado
para evitar as consequências das decisões desumanas da instituição –
afinal um banco português.
Porém, observando o comportamento do executivo de Lisboa nas questões venezuelanas, seria contra-natura que o fizesse.
Porque
– até prova em contrário – o governo da República Portuguesa e o Banco
de Portugal deram aval à extorsão de ouro no valor de 1359 milhões de
dólares à República da Venezuela. O secretário norte-americano do
Tesouro, Steven Mnuchin, afirmou que todos os governos e bancos centrais
da União Europeia foram consultados sobre a operação, concretizada pelo
Banco de Inglaterra, onde o ouro fora depositado de boa-fé; e ainda não
houve ninguém que o desmentisse.
Aliás, como já anteriormente
ficou registado, o governo português fez-se representar, em 11 de Abril,
numa reunião com o mesmo Mnuchin dedicada à asfixia financeira contra a
Venezuela. É do secretário do Tesouro de Trump a seguinte declaração:
“Continuaremos a utilizar todas as nossas ferramentas diplomáticas e
económicas para apoiar o presidente interino Guaidó”.
Fiel aos
tiques de “bom aluno”, o executivo de Lisboa não poderia deixar de
obedecer também à Ordem Executiva 13850 do governo norte-americano, que
boqueia, entre muitas outras coisas, o comércio de ouro com a empresa
estatal venezuelana Minerven.
Como o governo de Portugal continua a
manter o silêncio sobre estes seus envolvimentos, e como não poderá
alegar engano sobre as verdadeiras intenções “democráticas” de Trump ou
Mnuchin, não existem dúvidas de que se identifica com o carácter
agressivo, desumano e anti-democrático do lado onde se colocou.
Objectivos claros e terroristas
O
ministro venezuelano dos Negócios Estrangeiros, Jorge Arreaza, costuma
citar um dos seus interlocutores oficiais norte-americanos que lhe disse
um dia: “já que não podemos mudar o governo venezuelano vamos arruinar a
vossa economia”.
A declaração resume, sem dúvida, todo um programa terrorista de âmbito transnacional sob a batuta dos Estados Unidos.
Segundo o relatório de Alfred-Maurice de Zayas,
o perito independente designado pela ONU para avaliar a situação, esse
programa “além de obstruir o acesso ao financiamento externo e aos
pagamentos internacionais afecta o financiamento normal do aparelho
produtivo nacional, criando uma redução da oferta de bens e serviços
locais”.
Ainda segundo Zayas, as sanções de Trump e Obama e as
medidas unilaterais do Canadá e da União Europeia “agravam directa e
indirectamente a escassez de medicamentos como insulina e
antirretrovirais, acarretando demoras na distribuição e funcionando como
agravante em diversos casos de morte – o que implica crimes
lesa-humanidade”.
O compromisso de Alfred-Maurice Zayas para apreciar a situação é com a ONU, não com Nicolás Maduro.
Seria,
portanto, bastante mais digno e humanista que o compromisso do governo
de Portugal fosse com as Nações Unidas, não com Donald Trump e o seu
farsante Guaidó.
por José Goulão,
n´O LADO OCULTO
Li, apesar das dificuldades impostas pelas cataratas e do risco dos revezes cardíacos.
ResponderEliminarPartilho na esperança de que seja lido e assimilado, por muito que que saiba que cada vez menos o cidadão comum frequentador do Fb, foge da leitura extensa e tende a repudiar tudo o que contradiga o que diariamente a comunicação mainstream lhe vem oferecendo de bandeja.
Abraço
Maria João
Li, apesar das dificuldades impostas pelas cataratas e do risco dos revezes cardíacos.
ResponderEliminarPartilho na esperança de que seja lido e assimilado, por muito que saiba que cada vez menos o cidadão comum frequentador do Fb, foge da leitura extensa e tende a repudiar tudo o que contradiga o que diariamente a comunicação mainstream lhe vem oferecendo de bandeja.
Abraço
Maria João
Não tarde estamos como a Venezuela :(
ResponderEliminarHoje :-As estradas são como os sentimentos, inconstantes
Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira
Muito mais coisas não se dizem sobre a Venezuela, pois não?
ResponderEliminarQuase tudo se conquista
ResponderEliminarAbraço