Foi ela, a minha Resignação, que me pediu:
"Vá partilha!"
... e eu não resisto, e partilho ainda que perplexo por ela mo ter pedido. Acho que se quer afastar...
Foi ela, a minha Resignação, que me pediu:
"Vá partilha!"
... e eu não resisto, e partilho ainda que perplexo por ela mo ter pedido. Acho que se quer afastar...
Só será novidade, isto que ando fazendo, para quem ande muito distraído. Não há muito, foi em Beja. Desta feita, foi em Faro. Contrariamente ao que se passou no Alentejo, hoje no Algarve entrei mudo e saí calado pois alinho com aquela atitude de saber ouvir ser virtude. Foram mais de duas horas a tomar notas...
E faço um apelo: quando houver razão, condições e dinheiro, para gozar férias, mais que nunca,
"vá para fora, cá dentro!"
(a explicação está no vídeo, onde consto)
Depois do tanto que ontem Natália Correia foi comentada parece ter vindo a calhar o programa da jornalista Maria Flor Pedroso com Nuno Severiano Teixeira e Carlos Coelho.
Mais análise do que opinião, mais explicação do que defesa de pontos de vista contraditórios o convidado, António Filipe (deputado e vice presidente da Assembleia da República), deu aso a este programa extraordinário a propósito da comemoração do Centenário do PCP.
Alguns dos temas abordados: os cem anos do único partido comunista que tem tal longevidade (nem o PC Chinês a tem); o PCP enquanto único partido que lutou contra o regime salazarento e detalhes do seu papel na conquista da Democracia; as razões pelas quais o PCP não luta pela saída da União Europeia; a necessária saída do euro só se fará de modo negociado e remeterá o País para uma situação onde os países nórdicos já estão; não, não é verdade que o PCP apoie este Governo; porque não alinha pela terminologia que o BE usa; visão do que se passa com a direita.... Tudo isso, e muito mais, sem esquecer o que se passa com as vacinas.
Mas a minha principal surpresa não foi o que ouvi ao meu camarada. A verdadeira surpresa foi o respeito (e até compreensão) que os intervenientes mostraram por estas posições. Para ouvir clique em Geometria Variável e surpreenda-se
A festa do meu aniversário foi, em tudo, em formato reduzido. Foi em formato reduzido pois não foi de casa cheia como sempre fora. Foi de reduzida alegria por motivos conhecidos. Se houve bolo? Sim, claro! Se soprámos as velas e se foi cantado o que sempre se canta num aniversário? Sim, como não? Ah, e prendas também houve!
Despachado o repasto passámos ao convívio com passagens dos tantos vídeos que fiz dos meus netos e depois a uma tertúlia de conversa que começando solta depressa se converteu em séria. A "bazuca" e o tão badalado "Plano de Recuperação e Resiliência" foi o tema sem que ninguém se lembre como veio à liça. Fui radical ao dizer que vai ser mandar milhares de milhões para cima de um problema que ninguém admite que exista. Meus genros olharam para mim na expectativa que passasse a explicar onde eu via o problema.
Passámos do "orgulhosamente sós" do "tempo da outra senhora", após o sonho que pouco durou, para o "orgulhosamente mal acompanhados". É verdade, passámos de um país agrícola de tempos idos para uma economia de serviços, de permeio fizeram-nos parar um processo de industrialização e rebentaram com a industria que então florescia.
Hoje dependemos de quase tudo o que consumimos e apostamos no turismo. O problema é não nos deixarem ser donos do nosso próprio destino.
E foi nesta altura que Natália Correia irrompeu pela sala e se juntou à conversa...
CASO SE AFASTE... CHAMO-A!
Entrou-me em casa
sem que desse como
Sentou-se ao meu lado
sem que desse como
Sentou-se à minha mesa
sem que desse como
Beijámo-nos
sem que desse como(nem que saiba dizer
ou se houve desejo
a acompanhar tal beijo)
Aceitei-lhe a presença
Aceitei que se instalasse
que ocupasse todo o meu espaço
e sorrindo-lhe, com afecto
com ela partilhei a minha cama
e dormimos juntos a noite inteira
Hoje, ao acordar,
perguntei
o que há muito pensara perguntar
Como te chamas? Quem és?
Ao que respondeu"Sou a tua Resignação"
Rogério Pereira
____________________
Em dia de aniversário
ela, caso se afaste
chamo-a!
Ashes and Snow by Gregory Colbert from Gregory Colbert on Vimeo.
Sim, claro que este post complementa o de ontem. Contudo tem doses de ternura que o suplanta, e muito. É um poema. E funciona lindamente como terapia...
Obrigado Fernando, pela dica!
NA SELVA, TÁ-SE BEM
Há animais
que o sendo
são mais humanos
que muitos humanos
que eu conheço
Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu
desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança
incontestável pelo que me fizeste ontem.
A noite era quente e calma e eu estava em minha cama,
quando,sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo
sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo
minha aparente indiferença,aconchegaste-te a mim e
mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu
adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em
vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do
que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te
esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e
força.Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só
descansarei quando vir sair o sangue quente do teu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta!Carlos Drummond de Andrade
Depois das notícias de hoje, sobre o sucesso da sonda e sobre a reunião do G7 ocorre-me adaptar uma frase de Saramago, sem lhe trair o sentido:
Chega mais facilmente uma sonda da NASA a Marte,
que uma vacina a uma país pobre
Na senda do jornalismo sério tropeço num projecto, que mal conheço.
Se for o que espero, agarro! Se me desiludir, Largo!Mas desde já, se Mia Couto escreve para lá...
«Olá.
Os escritores alimentam uma relação equivocada com os outros. Talvez eles sejam escritores por essa mesma razão: a consciência de que estão equivocados quando representam o mundo. Os escritores, em geral, não resistem à tentação de ficarem calados quando lhes dirigem todo o tipo de perguntas. Vão a todas. Têm opinião sobre tudo: sobre a situação no Iraque, sobre as ameaças climáticas, sobre o destino do Trump, sobre os caminhos atribulados da COVID-19. Perguntas que não se fazem a um exímio dentista ou a um engenheiro espacial são dirigidas aos escritores como se eles fossem dotados de uma sabedoria particular. No meu caso, quando me fazem essas perguntas, a resposta mais honesta seria confessar: eu escrevo exatamente porque não sei. Sou um especialista em ignorâncias. E imagino que essa seja a mesma condição de todos os poetas e escritores: o gosto de reconhecer a sua mais profunda falta de erudição sobre o mundo. A única habilidade do escritor é enfrentar sem disfarce este desamparo.
Toda esta palavrosa introdução vem a propósito do desafio que a Fumaça me lançou: escrever umas tantas linhas sobre a situação de guerra em Cabo Delgado. Quando me pedem explicação sobre o conflito no Norte de Moçambique, a primeira coisa que me ocorre é a admissão da minha incapacidade. Sei que esta declaração de não entendimento não resulta. O mais fácil e o mais lucrativo para um jornal seria apresentar certezas com a energia com que um jogador de cartas joga um trunfo sobre a mesa.»Ler tudo, n´O FUMAÇA
Você viu o "É ou NÃO É"?
Não? Então veja!
Sim? Então reveja.
Mas não precisa de ver tudo, pois é longo. Clique neste link e ponha o cursor do tempo na marca de 55 min. e 20 seg. após inicio.
Vem esta recomendação dar suporte credenciado à tese expressa no vídeo que é uma excelente caricatura da realidade emocional muito antes da pandemia (o vídeo é de 2012).
O que o Diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental Miguel Xavier vem dizendo, desde há dois anos, dá para entender o vídeo.
Resumindo:
A saúde mental antes de ser doença, é um desequilíbrio.
E numa sociedade como aquela em que vivemos é difícil ter juízo!
PROVOCAÇÃOLevantei-meBarbei-meE fiz o que sempre façoMascarei-me de palhaçoDesci à ruaAndeiDepois atravesseiSegui em frentePassando por pouca genteGentePassando indiferenteSubi a ruaAndeiRegresseiTão pouca gentePassando indiferenteSó então repareiTinham todos a mesma máscaraFazemos parteda mesma palhaçadaAh, o que teria ridoFosse eu, palhaço ricoRogério Pereira
A SAÚDE PÚBLICA
À MERCÊ DOS NEGÓCIOS E DA CEGUEIRA GEOPOLÍTICA
Não vou falar do que não sei, passo a palavra ao José Goulão:
A saga das vacinas em Portugal está distorcida. Centra-se na condenável batota para adulteração das listas de prioridades da vacinação que, apesar da sua gravidade, funciona como cortina de fumo para esconder aspectos muito mais inquietantes do processo, o principal dos quais é a submissão do governo e a abdicação da vontade própria perante a inconcebível e corrupta estratégia de selecção, compra e distribuição conduzida pela Comissão Europeia. Uma estratégia que se guia sobretudo pelo lucro e pela secundarização da saúde pública, desvalorizando e silenciando eventuais riscos associados.
"No início, a raça dos homens não era como hoje. Era diferente. Não havia dois sexos, mas três: homem, mulher e a união dos dois. E esses seres tinham um nome que expressava bem essa sua natureza e hoje perdeu seu significado: Andrógino. Além disso, essa criatura primordial era redonda: suas costas e seus lados formavam um círculo e ela possuía quatro mãos, quatro pés e uma cabeça com duas faces exatamente iguais, cada uma olhando numa direção, pousada num pescoço redondo. A criatura podia andar ereta, como os seres humanos fazem, para frente e para trás. Mas podia também rolar e rolar sobre seus quatro braços e quatro pernas, cobrindo grandes distâncias, veloz como um raio de luz. Eram redondos porque redondos eram seus pais: o homem era filho do Sol. A mulher, da Terra. E o par, um filhote da Lua.Sua força era extraordinária e seu poder, imenso. E isso tornou-os ambiciosos. E quiseram desafiar os deuses. Foram eles que ousaram escalar o Olimpo, a montanha onde vivem os imortais. O que deviam fazer os deuses reunidos no conselho celeste? Aniquilar as criaturas? Mas como ficar sem os sacrifícios, as homenagens, a adoração? Por outro lado, tal insolência era perfeitamente intolerável. Então...O Grande Zeus rugiu: Deixem que vivam. Tenho um plano para deixá-los mais humildes e diminuir seu orgulho. Vou cortá-los ao meio e fazê-los andar sobre duas pernas. Isso com certeza irá diminuir sua força, além de ter a vantagem de aumentar seu número, o que é bom para nós. E mal tinha falado, começou a partir as criaturas em dois, como uma maçã. E, à medida em que os cortava, Apolo ia virando suas cabeças, para que pudessem contemplar eternamente sua parte amputada. Uma lição de humildade. Apolo também curou suas feridas, deu forma ao seu tronco e moldou sua barriga, juntando a pele que sobrava no centro, para que eles lembrassem do que haviam sido um dia.E foi aí que as criaturas começaram a morrer. Morriam de fome e de desespero. Abraçavam-se e deixavam-se ficar assim. E quando uma das partes morria, a outra ficava à deriva, procurando, procurando...Zeus ficou com pena das criaturas. E teve outra idéia. Virou as partes reprodutoras dos seres para a sua nova frente. Antes, eles copulavam com a terra. De agora em diante, se reproduziriam um homem numa mulher. Num abraço. Assim a raça não morreria e eles descansariam. Poderiam até mesmo continuar tocando o negócio da vida. Com o tempo eles esqueceriam o ocorrido e apenas perceberiam seu desejo. Um desejo jamais inteiramente saciado no ato de amar, porque mesmo derretendo-se no outro pelo espaço de um instante, a alma saberia, ainda que não conseguisse explicar, que seu anseio jamais seria completamente satisfeito. E a saudade da união perfeita renasceria, nem bem os últimos gemidos do amor se extinguissem.E esta é a nossa história. De como um dia fomos um todo, inteiros e plenos. Tão poderosos que rivalizávamos com os deuses. É a história também de como um dia, partidos ao meio, viramos dois e aprendemos a sentir saudades. E é a razão dessa busca sem fim do abraço que nos fará sentir de novo e uma vez mais, ainda que só por alguns momentos (quem se importa?), a emoção da plenitude que um dia, há muito tempo, perdemos.»Platão, in "Mito do Andrógino ( Banquete de Platão)"
"Rosa dos Ventos" - Sagres (imagem da net)
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Os tempos
Apagaram as Rosas dos Ventos
Destruíram mapas dos mares
Sextantes antigos, modernos radares
E outros apetrechos mareantes
Hoje, e esse hoje tem muitos ontens,
Diz-se haver um só caminho
E que fora dele o desastre é certo
Como se não fosse certo o desastre dentro dele
Com a mesma certeza com que se dizia haver
Um só caminho (a defesa do Império) a percorrer
A nossa presença na Europa não se discute, como um dia
A nossa presença em África não se discutia
Negociar com os credores, soa a fuga à honra
Negociar com os os movimentos de libertação
Soava a rendição...
Na história
Há afinidades sem glória
O estranho é que seja a Rosa dos Ventos
A interrogar se outras direcções são possíveis
Talvez esquecida, como os demais
Dos seus próprios pontos cardeais
Rogério Pereira/17Out2012(reeditado)
Apresentação, contar da esquerda: Eu, Meu Contrário e Minha Alma |
Eu (virado para a assistência, com a sala quase vazia): Esta Mesa Redonda é para configurar um novo projecto que oriente o desempenho desta página. Ouvir-vos neste importante passo será decisivo. Há quem tenha páginas temáticas, que optaram pela poesia, ou pela intervenção política, ou pelas questões ambientais e outras causas, que faço? Quem quer tomar a palavra?
Minha Alma (com voz irada): Mais uma vez foste precipitado a fazer pré-anuncio de um novo projecto sem nos teres escutado. Lembra-te, que mais que tu só, somos um colectivo... E depois mudar, em que sentido? Se o mundo é diverso, como podes tu optar por uma única forma, entre prosa e poesia se cada uma só por si, ao estilo que te conhecemos, te vai criar embaraços do Diabo...
Meu Contrário (interrompendo): Isso mesmo, prosa, é cão. Poesia é gato. Ele tanto morde, como logo depressa se roça nas pernas de quem comenta...
Minha Alma (interrompendo): Ora aí está uma coisa que ele devia mudar. Entra no espaço dos outros, ladra e mia e nem um cumprimento à entrada e nem uma saudação à saída. Muda isso! Outra coisa, acaba com o desperdício de espaço mal empregado. Tens no blog informação que ninguém usa, links em que ninguém entra. Em vez de disso, faz conteúdos a partir desses espaços anunciados. De resto, a avaliar do que se diz por aí, o que esperam de ti são os eternos e repetidos interregnos para coisas belas, poemas, textos bucólicos bem construídos e pejados de alegorias ou metáforas. O que esperam de ti são mais manifestos ou actos apelando à cidadania. Te lembro teu lema "O meu acto de cidadania é um constante (e militante) apelo à resistência...". Já antes disse aqui, que mudar por mudar, é como fechar a janela, é desertar de um projecto. É fechar um diário por acabar. É deixar de resistir...
Meu Contrário (com um sorriso): É mesmo isso! Ele precisa de mudar alguma coisa, para que tudo fique na mesma, no respeito pelos seus valores e princípios.
Eu (concluindo): Posso eu então concluir, pelo que acabei de ouvir, que devo arejar a casa, colocar cada coisa em seu lugar e encontrar um lugar para cada coisa, libertar-me de monos, passar a ser mais bem educado e manter o rumo que dei à barca?
Minha Alma e Meu Contrário (em coro): Isso mesmo!
(... e os três saímos dali cheios de ânimo para arrumar a casa!)
Em dia de comemoração, o pré-anuncio do meu novo projecto.
Falemos primeiro do que estou comemorando. Faz hoje, dia 11, exactamente 11 anos, que ofereci um jantar de agradecimento aos meus assessores, o Pedro, o Arnaldo, o Luís e o Mário, por se terem prestado a ser os meus conselheiros, críticos e juízes.
O jantar tinha por objectivo, além do convívio, agradecer-lhes a paciente tarefa a que se prestarem durante 6 semanas, em finais de 2009, a lerem textos meus que lhes enviava em word, via e-mail, e que cada um deles comentava e pontuava, de 1 a 5.
Os textos, eram textos em que eu, escrutinando o Semanário Expresso, pretendia fazer prova de a redacção do jornal estar a ser manipulada por forças ocultas, que então designei por PiG (Partido da Informação Golpista).
Chegados ao fim daquela maratona, coube-me fazer um balanço geral sobre se considerava, então, ter conseguido (ou não) obter o músculo necessário para imergir na blogosfera, ir à luta, denunciar a imprensa golpista e os seus artigos e reportagens.
Na altura, não consegui provar a existência do PiG, mas recebi forte incentivo para enveredar pela carreira de blogger.
Em dia de comemoração estava marcado, para hoje, novo jantar. Aqui, já não faria sentido avaliar se, passados todos estes anos, o meu trabalho aturado tinha finalmente provado que a imprensa é (está) ou não condicionada por mão pesada (ao ler isto, eu fiquei sem dúvida alguma). A agenda era outra, dar-lhes a conhecer o meu novo projecto para este espaço.
O jantar, naturalmente, foi adiado mas não o pré-anuncio.
Dele falarei amanhã, já com algumas mudanças. Boa?
Só há facebuquianos porque o face foi criado?
Ledo engano! Neste mês em que celebra o seu 7º aniversário, e há quem o faça cantando, ocorre-me dizer que o estilo facebuquiano sempre se encontrou um pouco por todo o lado. Mas agora é muito, e invadiu a blogosfera...
Se isto implica uma autocrítica? Sim, claro!
Aquele texto fora feito num ápice, como então reconheci. Ficou então em aberto a hipótese de o ter de o rever mais tarde, com a ajuda da menina Amélia.
Calhou hoje e bate tudo certo! Está connosco desde os seus 15 anos... contas feitas, há mais de 55 anitos.
"Posso tira-lhe uma fotografia?" Resposta pronta" "Claro".
E assim fica contada a história de uma verdadeira amizade!
«A amizade aceita a frontalidade, a um sorriso corresponde com outro e tem sempre disponível um ombro. A falsa amizade finge tudo isso!»
Rogério Pereira
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«Não fazemos amigos, reconhecemo-os.»
Vinicius de Morais
Quando as artes bem se conjugam, resulta assim, como pode ver aqui.
Ficar-me por adjectivos, é pouco dado ao que me proponho. Se não reparem: o quanto foi apurado o trabalho do carpinteiro de palco; o quanto foi eficaz a mão que tratou do som, da luz; o quanto foi apurada a encenação; o quão tão intenso terá sido o ensaio e treino. A obra, essa é antiga, e o instrumental há muito rodado terá tido um desempenho a preceito, com a presença sempre dedicada do maestro...
Nos dias que correm, que estará acontecendo a gente nossa, a quem tem por profissão a mesma ocupação? Isto, onde (aqui) sempre a cultura foi tratada como enteada... e todo o reclamado apoio tarda.
"Quando a arte e a cultura forem rio abaixo,
a humanidade segue o mesmo desastroso percurso..."
Maria João B. de Sousa
Logo, ao jantar,não haverá o que sempre houve,não haverá à volta da mesa:a alegria costumadanão rirás
não rireinão rirãonão riremosNão haverá velas num bolo,troca de olhares
e flashesNão cantaremos(os miúdos não vão poder apagaras velas, nem cantar também)Depois,depois não fará sentido voltar a dizerAh, quanto te quero bem...Ou, saudoso, talvez ainda digaaquela frase batidaassimSe não fosses tunão sei o que seria de mim
Rogério Pereira/6Fev2021
Eu nunca disse, em toda a minha vida
"Agora você é apenas alguém que eu conhecia"
_____________________________________
Ocorreu-me este vídeo para vos falar da situação que vive o teatro. O vídeo é um bom exemplo do "espectáculo total" que caracteriza a representação teatral. Falta-lhe o palco mas acrescenta os efeitos que o uso da tecnologia permite. Nada que eu, se fosse encenador, não ultrapassaria acrescentando ao par, uns quantos anjos pintando as cores... (não enjeitaria sentir um anjo a colorir-me o corpo).
Quanto à situação por que passa o teatro, no inicio da pandemia ajudámos como podíamos... mas foi tão pouco face ao que por aí vai!
Confinadas as artes, com a cultura em quarentena, não saberemos como irão sobreviver os que criam, os que desempenham, os que dão suporte e ajuda, os que promovem... Impotente para fazer o quer que seja em prol de quem se dedica à actividade artística, limito o meu objectivo ao incremento pelo gosto pela criação artística.
Este é o primeiro post que vai nesse sentido.
E é tão belo!
A dimensão da louça que há para lavar é um indicador muito significativo. Desde logo do esforço que dá a lavar, numa data, como é o caso, em que uma máquina de lavar era posse rara em qualquer família da classe média. Estou a falar em meados da década de sessenta, tinha a menina Amélia cerca de 15 anitos, quando entrou naquela casa e passou ela a lavar a louça.
Mas, como indicador significativo, a quantidade de louça a lavar também reflecte o nível económico da família, pois numa família pobre, a louça é pouca. Aquela família, da classe média, usava os pratos todos e era significativo o número de talheres que a menina Amélia tinha que levantar da mesa. Exactamente seis: o casal, o Manuel e a Judite; o pai desta, o avô Garcia; três filhos, o Alberto, a Teresa e a Paula, a mais nova, que a menina Amélia sempre tratou por Paulinha.
A casa, uma moradia de dois pisos, quatro quartos e duas salas, davam trabalho na proporção e não era pouco. Sempre a somar, importa falar do quintal, onde, ao lado do galinheiro, numa pequena casa onde num tradicional tanque era lavada roupa, que os bons preceitos de higiene, determinava que fosse muita. Essa era também tarefa da menina Amélia, talvez aquela em que perdesse mais tempo pois a Paulinha gostava de dar à língua e a menina Amélia partilhava esse mesmo gosto, perante a aceitação paciente da Judite, a dona da casa.
Mais ou menos por essa altura, o Alberto frequentava a Academia Militar mas a folga da menina Amélia, decorrente dessa ausência, foi sol de pouca dura. É que, talvez uns três meses depois, entrei eu em cena. Ao casar com a Teresa, passei a habitar a casa e uns meses mais tarde, não muitos, nasceu a nossa filha João. E poucos anos depois, nasceu a Sandra. A menina Amélia manteve-se ao serviço, este mais aligeirado pela racional distribuição de tarefas e também por a menina Amélia não se sentir a criada para todo o serviço. Ela fazia parte da família e como tal, assim era tratada. Todos partilhavam com ela os seus sorrisos e as mulheres até cumplicidades. Mulheres, já não meninas. Menina, menina, só a Amélia.
Os anos foram passando. Primeiro o avô Garcia, depois o dono da casa. A menina Amélia partilhou connosco as suas silenciosas lágrimas. Com a morte do Manuel, a Judite veio viver para Oeiras e a menina Amélia por cá aparecia, não como mera visita, mas para ajudar num mundo de coisas, nomeadamente lavar a louça.
Falecida a Judite, a Teresa manteve-a. Falecida a sua (nossa) Teresinha, eu mantive-a e partilhámos juntos a dor de tão sentida partida.
O acordo é vir dar a volta à casa, deixando-a limpa e arrumada, de quinze e em quinze dias. Na semana passada esteve cá. Troca de roupas de cama, aspirar, passar a ferro, lavar chão e janelas, uma formiguinha ágil e trabalhadeira numa azáfama que não pára até à despedida.
Sexta-feira, ligou-me consternada: "Senhor Rogério, fiz o teste ao Covid e deu positivo". Falámos mais um pouco para detalhe do como terá acontecido e depois disso temos vindo a ligar um ao outro.
Estamos ambos bem!
PS: Este texto foi feito num ápice e terei de o rever mais tarde, talvez com a ajuda da menina Amélia e... com uma foto dela.
"Ó pai, então foste dizer que estavas de quarentena? Agora vão pensar que foste contaminado!", censurou-me a minha-mai-nova e eu, admitindo o erro, preparava-me para vir aqui fazer um desmentido. Fui saber qual a diferença entre "quarentena" e "isolamento profilático". São a mesma coisa! Contive-me a tempo.
Mas o saldo disto tudo, a menos que me aconteça o que não desejamos (está no plural, topam?) e venha a ter qualquer sintoma é que estou bem e a vizinha do 2º andar faz tudo, tudinho, a satisfazer o meu paladar (o bacalhau, estava um regalo).
Na imagem, em baixo, estou pálido? Nada que minha inabilidade como técnico de iluminação não explique... e não tem a ver com qualquer sintoma!
A imagem refere-se a uma vídeo-conferência que teve a minha presença a convite do Rotary Club de Oeiras em representação de... (já sabem de quem).
Esta foto é minha, tirada em cima do balcão da cozinha. Não, não representa a imagem do vírus. Representa, isso sim, o mimo que me rodeia. Os olhos, são pratinhos de arroz-doce que uma vizinha me trouxe. A pêra, sobrou do rico cabaz trazido pela minha-mai-velha, produto da quintinha dela e a banana é a última que resta de um pequeno cacho que a minha-mai-nova me trouxe a casa.
As refeições, almoço e jantar, foi serviço contratado à minha vizinha de baixo e a do lado me deu a bela sobremesa que já marchou.
Se estou de quarentena? Sim estou. Mas com todo este carinho, não sei se vou querer, tão depressa, sair dela.
Por enquanto, não tenho sintoma nenhum e quanto a sabor, nem vos falo... (pois já o deixei escrito)