Vamos lá relembrar as razões de chumbo daquele "orçamento da tanga". Lembram-se da idade da minha médica? Agora junte os dados...
(vi o ÉouNÃO É? Veja aqui também!)
Vamos lá relembrar as razões de chumbo daquele "orçamento da tanga". Lembram-se da idade da minha médica? Agora junte os dados...
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Este post é uma continuação do editado ontem... Quanto a sentir-me Galeano, verdade se diga, não foi apenas hoje. Se ver/ouvir o vídeo, perceberá o que digo...
Não está a acontecer, nem as próximas eleições vão ser, uma guerra pelo poder. Não há, nem haverá, exércitos, nem armas, nem tanques na rua. Trata-se, sim, de guerrilha. Guerrilha diferente das formas conhecidas. Nesta, há (haverá) guerrilheiros dos lados em confronto, num confronto em que não se tocam, mas em que se agridem, até que, finda a contenda, o apaziguamento demonstra que ao fim ao cabo, os que mais se agrediram, estão do mesmo lado...
Falando um pouco mais claro e, para ser mais inteligível, reduzamos, a minha proposta de reflexão, à escala de uma organização partidária, pois aí, tal como na organização dos poderes no País, também há guerrilha pela tomada do poder. De um dos lados em confronto se diz do outro o que nem Maomé disse do toucinho, e vice-versa. A escalada agressiva foi subindo de tom até que definida a parte vitoriosa e terminada a guerrilha, soam, não só as trombetas da paz, mas também declarações de reconhecimento e louvor entre vencido e vencedor.
Se Saramago fosse vivo diria de tal guerrilha o que escreveu sobre o palco em que se desenrola a cena, agora convertida em
HOMILIA
Hoje o dia foi intenso
e
uma canção basta
para sentirem
o que me vai na alma!
ELA (atendendo, com voz dorida) - Olá, Rogério!
EU (em tom expectante) - Então? Como vai isso?
ELA (mantendo o tom) - Vou andando... Ontem, que julgava que a consulta era preparatória da operação ao outro olho, a médica descobriu que a lente de contacto, que me tinha sido posta no olho operado, estava a ser rejeitada. Terei que ser submetida a uma (e disse um nome imperceptível) e não sei quando terei visão em condições. Quanto ao resto, lentamente, vou recuperando... a médica, quando viu as análises iniciais até se admirou como é que eu conseguia andar, mas...
EU (atalhando) - Recuperando... ora aí está o verbo esperado! E quando é que tens a tal consulta de oftalmologia?
ELA (em tom de enfado) - Só para o ano, Rogério! Só para o ano!
EU (encorajador) - Mas para o ano, é já aí!
ELA (rindo) - Dizes tu! Expressando-se a médica sem referir uma data...
UMA VOZ (gritando) - Chega já aqui!
EU (interrogando) - Quem é? Estão a chamar-te?
ELA (rindo) - Não, não é comigo! É alguém aqui da mesa ao lado! É que vim beber um cafèzinho, aqui na esplanada! Está frio, mas um sol linnndo!
Mantivemos ainda a conversa por um bom bocado, falando de tudo e de mim. Lá foi dizendo que tinha escrito, a custo, mais um soneto, que não tinha visto nada do que temos escrito, que tem estado sem paciência para nada mas que hoje sentira um pouco de alento. Perguntei-lhe se autorizava a que desse conta do seu estado, aqui, hoje, neste meu espaço. Resposta pronta "Claro!"
«Nunca tivera daquelas exclamações de que ter filhas, miúdas, mulheres, era uma dor de cabeça, uma chatice. Nunca as teve porque nunca assim pensou, sendo mais insistente o pensamento de que ter filhos, independentemente do sexo, era, mais de que uma responsabilidade acrescida, uma exigência de conduta. Sempre achou que o exemplo era a maneira mais pedagógica de educar e que esse valor, bem partilhado pela sua mulher e doseado com outros, daria às filhas as armas, porque de armas se trata, para se afirmarem na vida. Lembrava-se que, no dia em que aguardava o nascimento da sua filha-do-meio, nessa mesma clínica, uma parturiente irrompeu em soluçante choro, audível na pequena sala de espera para onde davam as portas todas, a dos quartos e a sala de partos. Aí se ouviam os gritos da mulher clamando de ser desgraça, castigo de Deus o ter tido outra menina. "Aí, quem pode ouvir agora o meu homem..." Este pungente lamento foi mais claro pois coincidiu com a saída da enfermeira que, supunha ele, lá dentro lhe dava assistência. Ia tirando as luvas de borracha e com voz embargada, quase sussurrada dizia como se acabasse de ser insultada: "Alguém que venha tratar esta mulher, eu já a não quero nem ouvir."»
In Lembranças de um pai de filhas...
Venho eu dizendo, nem me lembro há quanto tempo, que o futebol é tão só e apenas a coisa mais importante de entre aquelas que não têm importância nenhuma. Acho que alguém do Ministério Público terá reconhecido a justeza do meu escrito e deu o nome adequado à investigação em curso. "Fora de Jogo", nome bem posto. Pois o que se passa e tão só e apenas a mais importante de entre aquelas que contribuem para caracterizar esta Democracia em que vivemos!
O vídeo é mero exemplo! Não quero arriscar vaticínios sobre como é que isto acaba... nesta Democracia em que vivemos, prognósticos só no fim!
A INESPERADA VIAGEM
Sentara-se no banco do jardim. A caminhada tinha-o maçado para além do esperado e apertou-o uma morna sonolência. Nem reparara que no outro banco, mesmo em frente, estava alguém de idade mal percebida, talvez criança, talvez adolescente. Brincava com um iô-iô enorme, brilhante e reluzente. A rodinha, ora enrolando, ora desenrolando, tinha o movimento para baixo e para cima parecendo comandar o olhar da menina. Olhos grandes e verdes, olhando para baixo e para cima, acompanhando o movimento. A carita sardenta, duas tranças enfeitando um cabelo meio ruivo, a contrastar com a cor do vestido, deu de caras com ele. Ela sorriu-lhe e ele respondeu-lhe ao sorriso.
Ficaram por momentos sorrindo um para o outro, até que ela se levantou e foi ao seu encontro.
"Queres vir comigo?", perguntou enquanto enchia um pequeno balão, verde, do tom dos seus olhos. Embaraçado pelo convite inesperado, limitou-se a estender a mão correspondendo ao gesto da menina, que lhe tinha estendido a sua, pequenina, pequenina, pequenina.
De mão dada, ela deu novo sopro no balão. Sopro tão grande, tão grande, que o balão de pequenino se tornou gigante. E mal se dera conta de tal feito, já o balão se ia elevando, lento, lento, arrastando consigo os dois. De lento passou a velocidade de foguetão, levando ele e a menina sardenta que o mantinha seguro pela mão, direitinho àquela nuvem branca que, ocasionalmente, por ali passava. O balão-foguetão abrandou a marcha e ele perdeu a sensação que tanto o assustara para passar a sentir outra, tranquila, calma, calma, como nunca sentira na vida. Olhou para baixo e quase sentiu vertigens. Lá em baixo o mundo parecia pequenino, pequenino... percebendo que se iam deslocando dirigiu-lhe palavra:
- "Onde vamos?", perguntou ele.
- "Conhecer o mundo!", respondeu ela "Vês aquele rio, agora com a água feita num fio? Vês aquele lago, de peixes ausentes? Vês aquela floresta, despidas de árvores? Vês aquela praia, onde a areia se fez rara? Vez aquele icebergue, perdendo gelo? Tudo obra de quem faz com que aconteça e não confessa!"
Ele ia olhando, olhando e vendo, olhando e vendo, sinal de que vendo não esqueceria.
Primeira volta dada ao mundo, iniciaram uma segunda, com ela segurando-o pela mão e pendurados no balão lá foram, sem cansaço, ele ainda com ânimo elevado até que o foi perdendo com aquilo que ela lhe ia mostrando, com aquilo que ela lhe ia dizendo."Vês aquele homem agredindo um vizinho? Vês aquela multidão, caminhando, caminhando, procurando onde viver, mas em vão? Vês aquele jovem a ser torturado e a violência do verdugo? Vês aquele aldeamento, cinzento e sem vida, porque lhe cortaram a energia? Vês aquele exército invadindo a cidade, destruindo tudo à sua passagem? Tudo obra de quem faz com que aconteça e não confessa!"
Ele ia olhando, olhando e vendo, olhando e vendo, sinal de que vendo não esqueceria.
A dada altura tropeçaram num raio de sol. No tropeção, rebentou o balão. Com o susto, ela largou-lhe a mão. A queda, inevitável, aconteceu e o corpo dele acelerou, acelerou, sem parar de acelerar. Quando ele pensava que se ia esmagar... acordou.
Acordou onde tudo começou, no banco de jardim frente ao outro de onde ela pela primeira vez lhe sorrira. Fora um sonho, que agora de quando em quando recorda, para que não esqueça que os males do mundo são causados por quem faz com que aconteça e não confessa... nem é obrigado a confessar.
Trago, mais uma vez, este conto meu, dos primeiros a serem contados (2012). Está mais que repetido e publicado, um tanto por todo o lado.
Porque é que eu o repito? Primeiro, pela actualidade:
«...pois essa cidade foi invadida por ratos pequenos mas que se transformaram, com o tempo, em ratos cada vez maiores. Ratos enormes e gordos. Enormes e maus, que tudo roíam e destruíam, espalhando o terror e pondo os habitantes da pacata cidade fechados em casa, sem saírem dela. Os ratos tomaram conta da cidade e só faziam e espalhavam maldade. O governo e os senhores que faziam leis e tomavam conta da ordem na cidade, deixaram de o poder fazer.»
Segundo, porque ontem passou despercebido.
Depois, porque nunca foi ouvido, assim dito:
Se na homilia anterior versei identidades entre mim e Saramago, pequenas, contudo significativas. Nesta, confesso a sua determinada influência em me abalançar a escrever contos para crianças. E foi assim que me aconteceu escrever aquela alegoria à libertação da cidade ocupada. E foi assim que aconteceu também aquela outra onde punha em evidência os riscos da desmedida ambição.
O primeiro mereceu honras de narração por um reputado actor o outro deu-me a alegria de ousada encenação e endiabrado desempenho. E como não há duas sem três, estou escrevendo um próximo...
É neste contexto criativo, que hoje faço passar talvez o conto mais belo em que uma criança é o principal protagonista, ensinando-nos gestos que nos falta. É uma reposição. Talvez o post até hoje mais comentado e que deu aso ao mais intenso diálogo...
HOMILIA, DITA PELO SEU AUTOR
Em tempos, já lá vão 10 anitos, tive um trabalhão em reconstituir um post roubado. Volto a lembrá-lo, hoje, um dia histórico em que, enfim, foi aprovada na Assembleia da República legislação que criminaliza o enriquecimento injustificado. Aleluia.
E porque o lembro? Porque lá falava de água mole batendo na pedra dura, da corrupção.
«João Cravinho não esconde a sua desilusão. Autor de um pacote legislativo que deixou no Parlamento antes de ir para Londres para a direcção do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, viu as suas propostas serem rejeitadas pela sua própria bancada, a do PS. - IN JORNAL O PÚBLICO, 27 de Julho de 2008»
Viva o água mole!
A consulta estava marcada há algumas semanas atrás, não muitas. E, um pouco antes da hora marcada, tirei uma senha que não serviria para nada. Seu costume era, e continuava a ser, vir ao fundo pequeno corredor e chamar pelo nome.
Esperei curtos minutos para ouvir "Rogério!" e um sorriso seu acompanhava o gesto convidando à ida. Amparou a porta para que entrasse e após trocados amistosos cumprimentos iniciou a consulta perguntando-me detalhes sobre como eu estava evoluindo.
Contei-lhe como me sentira, de como do nada sentir passei por um período longo de dores, das noites mal dormidas, dos meus diálogos com o meu corpo, desses meus textos plenos de ironia, de como na farmácia, a Ana, se admirara dessa minha escrita e me prometera enviar um artigo cientifico. Nessa altura, ela interrompeu "Sabe, Rogério? assim como a mente agrava a doença ela também interfere na cura!"
A partir daqui, enquanto me media a tensão e me pesava, íamos falando da Teresa. Com voz consternada ia comentando as suas confidências, a sua apreensão pelos meus excessos e pela minha falta de juízo. Percebendo a minha comoção, mudou de assunto com um gesto significativo e um abanar de cabeça de desalento.
Nem tínhamos tido, ambos, a percepção de como a consulta se alongara até que de repente sentimos isso mesmo... Enquanto ia escrevendo a receita olhava-lhe aqueles cabelos brancos e sustive o ímpeto de lhe perguntar quantos utentes estariam naquele Centro sem médico de família e quantos anos mais eu a teria comigo...
À saída, sem me conter, perguntei-lhe a idade. Ela apercebeu-se do sentido e segredou-me baixinho. "76, Rogério! 76!
PRIMEIRO TELEFONEMA
Fernando (atendendo a chamada) - Olá Rogério! Tudo bem?
Eu - Olá meu caro amigo e camarada! Há quanto tempo?... Tudo bem! Espero que de teu lado também... Estou a ligar-te retomando aquela ideia que não conseguimos levar por diante... refiro-me a alguém daí, da "Intervalo", dar aulas de teatro aos alunos do Centro Qualifica... a ideia surgiu antes da pandemia!
Fernando (após curto silêncio) - Não me lembro... terá sido comigo? Mas... pois bem, suponho que se trata de fazer frequentar aulas de representação. Mas agora?
Eu - Sim! Isso mesmo! Claro que agora, já, não! A ideia é mais que simples ideia. Trata-se de um projecto que culminaria na representação, pelos alunos, de uma peça de Saramago a estrear de hoje a um ano, exactamente, para celebrar o centenário. Se concordasse, de seguida falaria à professora Manuela...
Fernando (com indisfarçável entusiasmo na voz) - Marque uma reunião. Mas cuidado, só o faça depois de eu trocar impressões aqui com a minha gente. Já lhe ligo.
Eu - Tudo bem! Até já então!
SEGUNDO TELEFONEMA
Prof.ª Manuela (atendendo a chamada) - Está!? Olá, Rogério. Como vai?! Está melhor?!
Eu - Olá querida amiga. Estou melhor, obrigado. Acabo de falar com o Fernando, da Companhia de Teatro, e ele está a considerar retomar aquela ideia... (e pu-la ao corrente da conversa tida)
Prof.ª Manuela (com indisfarçável entusiasmo na voz) - Marque então uma reunião. Pode ser a qualquer dia da semana, a meio da tarde! Obrigado, meu caro! Depois diga-me o que ficar combinado
(AO FIM DA TARDE ENVIEI A AMBOS UM SMS A CONFIRMAR A QUARTA-FEIRA DA PRÓXIMA - VOU SUGERIR QUE A PEÇA SEJA "CLARABÓIA")
Não irei para já tomar nenhuma decisão. Fosse este espaço um lugar de venda num mercado, arrumava a tralha e ia para casa. Se fosse loja, fecharia a porta. Acontece que é um diário empenhado em acompanhar o que considero ser mais que uma pedrada no charco.
Não, não vou desistir!
«Pode um homem procurar identidades com outro, até lhe assumir os tiques e procurar imitar-lhe palavras e ir até a um limite que a outros poderá parecer ridícula manifestação de perda da sua própria personalidade? Claro que pode. Pode e não surpreende. (...) Mas não valorizo isso mais do que o valor em si mesmo, dos comportamentos que nos deveriam levar a identificar e a copiar quem admiramos. Em criança, garanto-vos que já fui "Tarzan", "Capitão Fantasma", "Pincipe Valente", "Tom Sawyer" e até "Mandrake. Juro-vos que nunca quis ser "Tin-Tin" ou o "Homem de Borracha".A humanidade estaria melhor se procurasse seguir os seus heróis, sabendo-os escolher. A humanidade estaria melhor se todos copiássemos humanos que valorizaram a marcha humana (...) Tudo isto porque descubro a sobrevivência em mim dessa tendência de criança e "brinco" a sentir, para já, identidades com o meu herói Saramago. Dou comigo a sentir a grata satisfação de ter frequentado a mesma escola. Dou comigo a ter o prazer de também ter, como ele, curiosidade por sinaleiros...Na sua autobiografia pode ler-se "Já eu tinha 13 ou 14 anos quando passámos, enfim, a viver numa casa (pequeníssima) só para nós: até aí sempre tínhamos habitado em partes de casa, com outras famílias."»
PS: vou enviar esta homilia às companhias de teatro cá de Oeiras, e junto-lhe um desafio! Boa?
(...)O que acontece não acontece porque alguns querem que aconteça, mas porque a massa dos homens abdica à sua vontade, deixa que façam, deixa que se agrupem os nós que depois só a espada poderá cortar, deixa que promulguem leis que depois só a revolta poderá revogar, deixa que cheguem ao poder homens que depois só um motim poderá derrubar.
A fatalidade que parece dominar a história não é outra coisa que não a aparência ilusória dessa indiferença, desse absentismo (...)
A todo momento acontecem notícias, intervenções, entrevistas e depois uma chusma de comentadores de serviço comentam as notícias, as intervenções e as entrevistas. Contudo, fogem do assunto ou passam-lhe ao lado...
Se quiserem dar uma olhadela, força!
Um dia, enquanto descia, cruzei-me com ele na escada. Sorri-lhe, saudei a mãe e afaguei o cão. Ele olhou-me, sério, com um ar entre o tímido e o curioso. Levantei a mão à altura do ombro dele e pedi-lhe, "Dá-me cinco!"
Ele fixou-me, esperou um momento e, sem alterar a expressão, correspondeu ao pedido esboçando um pequeno sorriso.
Depois seguiram subindo e já no patamar de cima ouvi a sua vozita, com um tom entre o afirmativo e o que interroga, dirigindo-se à mãe: "Vovô?". Fez-se um breve silêncio até que a mãe confirmou, "Sim António, o vizinho é o avô Rogério!"
Revejo o vídeo, que a mãe me enviou, e ocorre-me um texto antigo:
«(...) as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.»
Na entrevista, por ventura muito vista, sugiro que a reveja. Não toda, apenas 30 segundos a partir do décimo quinto minuto. Basta ir aqui, colocar o cursor do tempo um pouco à frente do 15º minuto e oiça a pergunta e depois a resposta.
Caso não se dê ao trabalho, eu lembro. Perguntava o entrevistador se, para a discussão do orçamento na especialidade, o Governo mantinha ainda margem de manobra negocial. Resposta pronta de Costa: "Nesses temas, dificilmente haveria!".
A imagem dada na escorreita expressão do Primeiro Ministro ao falar da fechadura e na maçaneta para se referir à abertura, é plena de sofisma. É que na realidade ele pôs a porta... no trinco. E o que é curioso é que nenhum comentador fala disso.
Quanto à esquerda, mantém a porta encostada, enquanto Costa (como se prova) espera pela maioria absoluta e dificilmente entrará disposto a negociar os tais temas...
Saramago dizia que "todos nós somos escritores, uns escrevem outros não". Clarice era uma escritora que escrevia. Eu sou escritor que vou escrevinhando de vez em quando e é exactamente por isso que a entendi quando se sentiu morta antes de morrer. Dizia ela:
«Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.»
No meu caso, só não me pesa a solidão!
PS: Não procurei este tema ele é que, inadvertidamente, veio ter comigo
Dou inicio hoje ao há muito interrompido. Primeiro, porque sim. Segundo, porque é oportuno. Terceiro, porque me propus a celebrar o centenário de alguém que insiste em se manter vivo e interventivo. Mais vivo que os que, estando vivos, parecem que há muito mais tempo terão morrido. Mais interventivo que os que afirmam que o estão, não estando. Ou melhor, estão intervindo para que se melhor um pouco para que tudo fique na mesma e se faça ouvir os humilhados e ofendidos, com voz de lamento, que mais vale pouco que nada.
Retomo no tema em que interrompi, citando o "Ensaio de Saramago: Verdade e ilusão democrática", publicado pelo "Expresso" em 18 de Junho de 2015 e que revela uma actualidade que nos faz pensar se no entretanto se terá passado algo, digno de ser ser anotado, para além da espuma dos dias e dos jogos de poder:
HOMILIA DE RELANÇAMENTO
«Aprendemos dos livros, e as lições da vida o confirmam, que, por mais equilibradas que se apresentem as suas estruturas institucionais e respectivo funcionamento, de pouco nos servirá uma democracia política que não tenha sido constituída como raiz e razão de uma efectiva e concreta democracia económica e de uma não menos concreta e efectiva democracia cultural. Dizê-lo nos dias de hoje há-de parecer, mais que uma banalidade, um exausto lugar-comum herdado de certas inquietações ideológicas do passado, mas seria o mesmo que fechar os olhos à realidade das ideias não reconhecer que aquela trindade democrática — a política, a económica, a cultural —, cada uma delas complementar das outras, representou, no tempo da sua prosperidade como projecto de futuro, uma das mais congregadoras bandeiras cívicas que alguma vez, na história recente, foram capazes de comover corações, abalar consciências e mobilizar vontades. Hoje, pelo contrário, desprezadas e atiradas para a lixeira das fórmulas que o uso, como a um sapato velho, cansou e deformou, a ideia de uma democracia económica, por muito relativizada que tivesse de ser, deu lugar a um mercado obscenamente triunfante, e a ideia de uma democracia cultural foi substituída por uma não menos obscena massificação industrial das culturas, esse falso melting-pot com que se pretende disfarçar o predomínio absoluto de uma delas. Cremos haver avançado, mas, de facto, retrocedemos. E cada vez se irá tornando mais absurdo falar de democracia se persistirmos no equívoco de identificá-la com as suas expressões quantitativas e mecânicas, essas que se chamam partidos, parlamentos e governos, sem proceder antes a um exame sério e conclusivo do modo como eles utilizam o voto que os colocou no lugar que ocupam.
Uma democracia que não se auto-observe, que não se auto-examine, que não se autocritique, estará fatalmente condenada a anquilosar-se. Não se conclua do que acabo de dizer que estou contra a existência dos partidos: sou militante de um deles. Não se pense que aborreço os parlamentos: querê-los-ia, isso sim, mais laboriosos e menos faladores.»
José Saramago
O verdadeiro compromisso compreende e confunde-se com uma obrigação assumida. Compromisso e promessa não são sinónimos, pois "promessas leva-as o vento" enquanto o compromisso, compromete quem o assume.
Um compromisso assumido entre pessoas, organizações, partidos diferentes tem um nível determinado pelo grau de convergência no entendimento a que cheguem, assim e como alguém já terá enunciado como principio :
"O nível de convergência é que determina o grau de compromisso"
Balanço e questões relacionadas. Isto é, que aconteceria:
E o que é que isto tem a ver com o voto contra no orçamento e com o meu título? Não sei, deu-me para isto!
(recomendo também outras leituras datadas)
Esses são os meus recursos de escrita, de comunicação, de investigação e de arquivo. O portátil que está atrás, tem cerca de 6 anos e há 2 tive que lhe comprar uma bateria, cuja autonomia actual não dá tempo nem para me coçar.
Por cima do seu teclado está um "híbrido", pois serve de "tablet" ou de computador. Foi comprado (nada barato) há dois anos e meio e há cerca de dois meses a bateria pifou. Fui à Worten, onde o comprei, e a notícia caiu-me em cima como uma bomba: "Meu caro senhor, essas baterias foram descontinuadas... fui ver se haveria em stock mas no armazém dizem-me que esgotaram".
Eu já conhecia o conceito de obsolescência programada mas nunca lhe tinha sentido o efeito...
Em Setembro de 2019, os mesmos de sempre chegaram-se à frente e voltaram à carga no passado Maio, mas... ainda hoje não há notícias e é pena, pois iriam agitar as águas entre os 40000 participantes do Web Summit.
COP26 e Web Summit, com inicio na mesma data (hoje), dois eventos mundiais, a que chamam cimeiras, com temas, agendas e participantes diversos.
Porque ligo neste espaço os dois eventos? Vejamos: Na Web Summit ir-se-à incrementar o uso desse recurso, a web, e eu estou assustado porque tal não está (estará) a ser avaliado no outro lado. E qual é o susto? Veja só:
«A internet tem maior participação no aquecimento global que o tráfego aéreo. A tecnologia da informação actualmente é responsável por 2% de todas as emissões de CO2. (...) O lixo electrónico é um dos grandes problemas da actualidade. Por ano é produzido até 50 milhões de toneladas desse tipo de dejecto no mundo inteiro, só na Europa este volume vem crescendo em 5% ao ano. »Lêr tudo, aqui
E outra coisa: para quando uma cimeira para avaliar esta techno-toxicodependencia?