27 maio, 2010

Jornalistas entre o cacete (dramatizadores) e o Massagim (desdramatizadores)

"... na Paiva Couceiro estava o Café Chaimite (o toldo vê-se à direita na foto da esquerda), que a partir de certa altura se converteu na meca das nossas discussões políticas (agora é uma cafetaria sem carácter). Todos os dias descíamos a rua, a pretexto de estudar no Chaimite, e passávamos horas a conversar e discutir. Foi uma das minhas universidades."
Isto relembra Penim Redondo, no filme da sua vida, que é também parte da minha.

Relembrando o grupo frequentador daquela nossa universidade questiono-me como seria o nosso diálogo hoje, sobre a primeira página do DN. Que pensam o Penim, o Osvaldo, os Vitores (o de Direito e o Vítor Ópera), o Cesário, o Fernando, o Jorge, o Brás, o Carlos "Texas" e outros cujo nome se esfumou... O que eu penso, encaixa na perfeição nos próprios objectivos deste blogue. Sobre alguma imprensa dita de referência, já escrevi aqui, que a considero uma droga e que alguns jornalistas deveriam ser incriminados por passadores, devendo ser fortemente penalizados pelo tráfico de produto que, diga-se, ainda por cima é produto marado. Eis que Deus me ouviu (Ele é infinitamente bom, pena é ser lento)...
Também já me pronúnciei sobre o que penso, quando se coloca Sócrates entre a cacetada (jornalistas de cacete em riste, insistentes, sem parar) e o massagim (tópico analgésico aplicado por outros jornalistas e comentadores institucionalizados). Tenho me insugindo contra o colocar-se a pessoa do Chefe do Governo na berlinda, fazendo passar as suas políticas para um plano secundário, desviando-nos dos seus efeitos, condicionando a opinião pública, fazendo-a aderir à teoria de que a história se escreve ora por herois e ora por vilões e que, neste caso, Sócrates seria o vilão a abater.
Assumi isso na minha própria declaração de príncipios, no ponto 3 onde declaro que "Denunciarei todas as notícias ou opiniões que, em meu juízo, colocam em causa a reputação e o bom nome das pessoas sem a devida prova e fundamentação do interesse público." Fartei-me de escrever em conformidade com este principio. Não acreditam? Podem ver isso em vários posts, nomeadamente: em Janeiro (aqui e aqui); Fevereiro (aqui, aqui, aqui e aqui ); Depois desisti (corria o risco de, também eu, me desviar do essencial: combater as políticas de Sócrates)...
Notícia de última hora: Mário de Carvalho, que também passou pela universidade do Café Chaimite, denuncia a informação golpista. Por isso passa, a partir de hoje, a fazer parte do rol de testemunhas que provarão a existência do PiG, diz ele ao seu estilo:
“…certo tipo de jornalismo, que vive à custa das tensões, dos exageros e do alarme social. Os dramatizadores e os desdramatizadores têm no plano social os mesmos papéis que, nos interrogatórios das polícias, o agente bom e o agente mau, com a alternância entre a tranquilização e o susto.
Não digo que, aristotelicamente, a virtude esteja no meio. Talvez a virtude seja um traço coleante que vai de extremo a extremo, numa espessura muito complexa, e que precisa de ser avaliada todos os dias, com o olhar com que observamos os barómetros.”
Mário de Carvalho, in Jornal de Letras (21de Abril/4 de Maio)

13 comentários:

  1. Subscrevo e também hoje me insurgi lá no CR contra um título do DN. É que além de tudo o que aqui diz, acontece que agora fazem títulos e notícias como se estivessem a escrever em blogs, sem qualquer preocupação de rigor informativo. FElizmente, como escrevi ontem, ainda há jornalistas que vale a pena ler. São é cada vez menos nas redacções, porque não estão para suportar as cretinices desta nova vaga de jornalistas que, apesar d tereme tirado licenciaturas, de jornalismo e comunicação parece terem aprendido muito pouco

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  2. E entre a eterna dúvida, eu gostava de ser mosca, mas uma que soubesse ler para tentar saber a verdade verdadeira :)

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  3. Rogério,
    Será que posso também testemunhar a existência do PiG?

    Quanto à sua nobre declaração de príncipios, também estou de acordo que não se devem atacar os políticos enquanto pessoas, por muito que as detestemos. O que está em causa são as ideias, as políticas. Mas, e se Sócrates mentiu? Como é?

    Maiúka

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  4. Rogério, o que eu penso julgo que já sabes.

    Eu, sempre que fui eleito para alguma coisa, levei muito a sério respeitar quem me tinha elegido.

    Quando me imagino no lugar do Sócrates tenho a certeza de que seria, eu próprio, a exigir a divulgação de tudo o que servisse para esclarecer definitivamente qualquer dúvida.
    Não me consigo imaginar a invocar formalismos para fugir ao completo esclarecimento de suspeitas legítimas.

    Maneiras de ser.

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  5. O jornalismo, tal como a informação, não é levado a sério nem por quem faz nem por quem lê.
    Aqui é que está o cerne de tudo.
    Confesso que nada sei sobre quase tudo,e no meu humilde modo de ser só ando por aqui a escrever o que me vai na alma.
    Mas, quem é lido ou ouvido por milhares de pessoas, tem que ser mais do que isto, tem que ser criterioso, responsável isento e íntegro.
    Um abraço

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  6. Carlos,
    Tal como eu coloca a tonica na qualidade da imprensa. Só não estamos de acordo é nas razões pelas quais o quarto poder está como está. Quanto a mim os bons jornalistas rareiam, não pelo facto de não aturaem cretinices, mas sim por razões que as minhas testemunhas são claras em inumerar (e eles são todos jornalistas no activo):
    - Baptista Bastos: “será urgente que os jornalistas vítimas do fluxo censório venham à praça queixar-se das suas desventuras”;
    •André Freire, a precaridade e a juventude das redações, torna os jornais incapazes de serem isentos;
    •Ferreira Fernandes, dá testemunho de como uma agência de notícias se limita a ser superficial em “A história que não vai ler” ou sensacionalista no seu 'Dealers' de falatório vendem converseta marada";
    •Óscar Mascarenhas, dá testemunho da ausência de jornalismo de investigação na sua tese de mestrado;
    •Vasco Ribeiro, dá testemunho sobre as “Fontes sofisticadas de Informação” e de como os "consultores" fazem as agendas dos principais jornais ;
    •Ruben de Carvalho, dá testemunho sobre a forma como esconde factos para servir ideológicamente determinados objectivos, “Comunicação social e realidade”.
    Abraço

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  7. Isa,
    Tal como eu e como o Carlos, também coloca a questão da imprensa. Só lhe digo para não pretender ser mosca. Seria um risco terrivel. É que entre "Dramatizadores" e "desdramatizadores", existem centenas de camaleões, bicho de lingua imensa que não deixariam de a comer... Não lhe quero tal destino!

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  8. A minha querida Maiúka,
    Engrossa a coluna de preocupados com a imprensa golpista. Se fosse da "arte" poderia ser minha testemunha... Quanto ao Sócrates mentir... É claro para todos que mentiu e mente. Mentiu nas promessas eleitorais para chegar ao poder. Mente para o manter. Se mentiu no caso TVI? SE calhar também! Mas isso não me interessa nada...

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  9. Caro Penin

    És o primeiro comentador a deixar a questão da imprensa golpista para um plano secundário (pelo menos). Se Lula da Silva seguisse o teu exemplo não sei se o Brasil estaria no ponto em que está. Mas o PiG teria atingido os seus objectivos...

    Quando dizes: "Não me consigo imaginar a invocar formalismos para fugir ao completo esclarecimento de suspeitas legítimas" consideras a lei uma coisa formal e os textos da imprensa golpista (ou afirmações de arremeço político) suspeitas legitimas.
    Ainda assim, dou de barato uma coisa e outra. A luta pela posse da imprensa é preocupante, mas não por isso...(vê resposta que dei ao Carlos)

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  10. Mais um comentário preocupado com a imprensa. Também só uma pequena discordancia na sua afirmação "O jornalismo, tal como a informação, não é levado a sério nem por quem faz nem por quem lê."
    Garanto-lhe que quem pretende manipular a opinião pública sabe o que faz. Quem lê, mentiras muitas vezes repetidas, acaba acreditando ser verdade. Outra técnica é a do silenciamento de pessoas (economistas de esquerda); de instituíções (OIT; CES; ONGs,etc) ou até mesmo de ideias e movimentos de opinião...

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  11. A questão da manipulação é muito complexa. Acho que não se encontrou melhor solução para o problema do que deixar todos dizer o que pensam.

    Normalmente só consideramos manipulatórias as opiniões diferentes da nossa. Todos nós temos tendência para considerar as nossas próprias opiniões como as melhores quando não as únicas correctas.

    Por isso quando alguém pensa, como tu, que sabe o que deve e não deve ser publicado é perigoso dar-lhe o poder de proibir (eu sei que tu não aceitarias de qualquer modo). O resultado costuma ser catastrófico.

    Felizmente há blogs e facebooks e twitters onde todos nós podemos publicar as nossas opiniões.
    Estou convencido de que há certos artigos de jornal que são lidos por uma maioria de pessoas que não compraram o papel mas leram na net.

    Esta proliferação da opinião caótica está a reduzir, dentro de certos limites, o poder do dinheiro na comunicação de massas.

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  12. Penim,

    Apenas três reparos.

    Primeiro - eu não considero manipuladoras as opiniões diferentes da minha. Considero manipuladoras opiniões não fundamentadas em provas. Ora o que parece ter acontecido foi avançar-se com afirmações e agora anda-se desde há um ano (+ ou-) à procura de provas;
    Segundo - a divulgação de escutas é uma ilegalidade;
    Terceiro - A ética jornalistica é um valor em si mesmo

    (até parece que estamos no Chaimite... lá o Vitor, ou até mesmo o Mário poderiam dar achegas...)

    PS: Não gramo o Sócrates, nem um bocadinho. Mas a questão não é essa...)
    Abraço

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  13. Caro Rogério :)
    Atrasada mas, cá estou!... cá estou, feliz por poder testemunhar de um grande texto e de uma verdade incontestada que a todos nós, democratas, nos arrepia e confrange!
    Obrigado pelas palavras que, se me permite, subscrevo.
    Bem-haja, Rogério!
    Um grande abraço.

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