19 junho, 2010

'Memorial do Convento' e 'Lusíadas' os menos preferidos. "A Maio Flor do Mundo" a mais amada...

Quando, na véspera da sua morte, José Saramago leu (papel) e releu (on line) o DN, que terá pensado?
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“O Memorial do Convento, de José Saramago, e Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, são as duas obras que os alunos de Português do 12.º ano menos apreciam. Dado que, para a vice-presidente da Associação de Professores de Português (APP), deve obrigar os professores a encontrar formas atractivas de captar a atenção dos alunos”.
É este o texto, que
pode ler aqui, editado pelo DN online e também em formato papel, do dia 16, véspera da morte de José Saramago. Os textos são iguais, as fotos não. Enquanto no formato papel apareciam, lado a lado, os livros tão pouco apreciados. No formato digital, aparece a foto acima sem qualquer referência visual à obra de José Saramago. Mera distracção? Apagão do suporte magnético? Extravio da “pen”? Tenho pena, mas não consigo responder…

Conta-se hoje, depois daquele pequeno incidente (de que apenas eu terei dado conta), que José Saramago terá tido uma morte serena, muito a fazer sentir que partia tranquilo, com aquela tranquilidade de quem sente que fez todos os dias aquilo que é exigível que um Homem faça todos os dias, e… deixe obra. Contudo, essa tranquilidade na partida tem duas leituras:
Saramago resolve “partir” ao saber desta pequena distracção do DN, entendendo-a como sinal de que está sujeito ao lento e persistente apagamento da sua obra e pensamento. Neste caso, terá resolvido morrer, acreditando que o seu desaparecimento é o seu último acto contra quem sempre o quis silenciar, distorcer a mensagem, vilipendiar a obra e denegrir o homem. Outra leitura, vai em caminho oposto. Saramago morre tranquilo porque sabe que deixa um suporte de força enorme (a sua Pilar), uma estrutura (
a Fundação José Saramago) e uma imensa corrente de solidariedade. Saramago parte seguro que não mais será esquecido.


As crianças tem a vida mais facilitada que os adolescentes que são confrontados com a leitura obrigatória do "Memorial do Convento" (não seria mais pedagógico, que a escola começasse por leituras mais acessíveis como por exemplo "Levantados do Chão" e, assim, despertar o interesse pela sua leitura?). De facto é ver a pequenada mobilizar-se para trabalhos vários, cheios de criatividade e amor...

Pode aperceber-se do que está acontecendo, com os "ateliers a Maior Flor do Mundo", obra da Fundação que assegurará que pelo menos as crianças não o esquecerão. E os velhos como eu, também não!

7 comentários:

  1. Como tenho esta mania das conspirações, acho que ao ser obrigatória uma das suas obras mais difíceis, será uma sofisticada maneira, dos jovens ficarem, automaticamente, alérgicos a todas as outras, mas isto serei eu a pensar parvoíces ;)
    Bjos

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  2. Eu tive o privilégio o ano passado, através das minhas aulas de Literatura ( frequento a Universidade Sénior)ter uma professora que nos "ensinou" a ler Saramago (se assim o posso dizer).
    Confesso que anteriormente também não tinha apreciado "O memorial do Convento" e depois de o reler com (outra mente e outros olhos)fiquei fascinada com a profundidade da obra.
    Agora pergunto:
    -Não será também que alguns professores não sabem ensinar Saramago?

    Bom fim de semana

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  3. Amigo Rogério!

    Ainda bem que te conheci...
    desculpa se já vou entrando sem subtilezas de formalidades que não interessam a ninguém...assim penso eu!!!
    Se não estiveres de acordo, diz!

    O texto está fantástico.
    Nas conjecturas que te ocorreram, eu opino pela segunda; Saramago morre tranquilo com a sua amada, sentindo que estava cumprida a sua missão, que será imortal pela sua simplicidade e mestria.

    Bem-hajas.
    Postei no Rau a minha homenagem, bem diferente da que leste no Sempre Jovens.

    Beijo
    Ná de FerNAnda

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  4. Rogério

    Mais uma vez surripiei (desta vez foi só o canto direito) do seu post lá para o meu "Largo"
    Espero que mais uma vez me desculpe.
    Abraço

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  5. Ainda sou do tempo em que José saramago, não fazia parte da literatura obrigatória dom currículo escolar, mas o frete do zarolho, parece que continua nestas gerações. É pena, são dois grandes autores e agora ambos falecidos...

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  6. Ontem, não andei por aqui, nem por fiz romagens pela blogosfera. Estive, em família, escondendo emoções e o luto. (Sim! As famílias também servem para isso...)

    Obrigado a todos!
    (prometo-vos que futuras ausências serão igualmente breves...)

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