Continuo a faina que me apraz, lembrar o livro por aquilo que diz o filmezito premiado. Revejo a estória por um outro lado. O lado da pobreza e a abundância como margens do rio que tem uma e outra de cada lado e retiro a primeira conclusão: Não há clima e natureza que façam tal maldade, de forma tão desenhada. De um lado o verde luxuriante, do outro a secura extrema. Só pode ser obra de homens, mas não dos que juntam o suor àquilo que fazem. Só pode ser obra dos homens mandantes, mandando mal. As imagens seguintes, também do filme que ilustra o conto do meu nobelizado, não são ambíguas. Cruel a ruína das fábricas, desolador o abandono dos estaleiros. Nem vivalma se vê. O letreiro avisando o perigo arrasta consigo a ironia de o perigo agora ser outro. Sem terra agricultada e com toda a actividade parada que vai ser deste povo e do país? Que está acontecendo agora? Que aconteceu antes de agora, em tempos idos, para se chegar a este ponto chegado? Levanto as palavras para verificar, se por baixo delas, existe resposta. Sem sucesso pois as palavras, de todos os lados, são o que são e mais o que o leitor acha o que possam ser, dentro dos limites razoáveis desse entender. Escreveu Saramago sobre o menino: "Em certa altura, chegou ao limite das terras até onde se aventurara sozinho. Dali para diante começava o "planeta Marte". Para mim, leitor, por baixo e por detrás de tais palavras só poderia haver o entendimento de ser, aquele outro mundo, obra de marcianos. Riquezas de um outro mundo e não daquele que avistava da sua aldeia.
-- Disseram-me, ainda ontem, que o escritor não planeia as respostas, por isso não vale a pena procurá-las no livro. Nele ou a partir dele só saberemos exprimir perguntas ou simplesmente insinuá-las. Por isso procurei nas estatísticas o que me faltou saber no conto. E pronto. Cá estão os números que explicam a aridez. Por tantos postos de trabalho perdidos, como ver diferente a paisagem? Se a construção tem limites de necessidades e a industria não, porquê a inversão? Agora com a construção parada e a industria desactivada, que outra coisa pode ser o sonho de Saramago? Que representa afinal a "Maior Flor do Mundo"?
PS: Este texto enferma de um pecado quase original de tentar colocar os amantes das palavras a entender os frios gráficos e, ao invés, pôr os sisudos adoradores de números a encontrar a magia das palavras. Prometo não voltar a fazer o sacrilégio...
As imagens são retiradas do video e os dados da Pordata
Que boa(s) análise(s), amigo Rogério!
ResponderEliminarGosto de as ler e aprender.
Obrigada.
A capacidade de interrogar e de nos interrogar
ResponderEliminaré um acto inteligência
Que nunca te doa a sensibilidade
Um desses... com a mania que sabe muito disse numa entrevista que em relação à agricultura saía mais barato comprar lá fora... a besta, porque não tem outro nome, não vê que o barato sai caro... menos postos de trabalho e um rio de dinheiro que sai, lá para fora e não fica cá para ser aplicado na economia interna... eu fico sem perceber estes especialistas... da treta.
ResponderEliminarBjos
:)))
ResponderEliminarJuro que o gráfico me chocou bastante, mas o colorido dele deu uma quebrada na aparência sisuda do mesmo
ResponderEliminarUm grande bj querido amigo
Há coisas que são muito difíceis de entender.
ResponderEliminarOs gráficos são comunicadores por excelência, no que concerne a análises comparativas, mas vim à procura das palavras e de um certo colorido que, apesar de tudo elas aqui sempre têm, lançando sementes de esperança neste aparente deserto que se nos depara.
ResponderEliminarPorém, hoje, todo o colorido se diluiu, nesta afirmação que levarei comigo:
"Não há clima e natureza que façam tal maldade, de forma tão desenhada. De um lado o verde luxuriante, do outro a secura extrema. Só pode ser obra de homens, mas não dos que juntam o suor àquilo que fazem."
Obrigada!
L.B.
Caro Rogério
ResponderEliminarExcelente interpretação da obra.
Aquilo que lhe acrescenta torna as coisas muito mais perceptíveis. O gráfico complementa muito bem o texto.
Abraço
O meu amigo está a fazer um verdadeiro mestrado sobre esta magnífica obra. E está a pôr-nos a pensar, o que muitas vezes faz doer ;)e agora duplamente, pois também doí a ver o dinheiro a desaparecer.
ResponderEliminarSe não temos agricultura, indústria, construção , não admira a aridez da paisagem.
Só podem ser marcianos o autores deste descalabro económico, social e humano.
Portanto vamos mandá-los para Marte!
beijinhos
Fico maravilhada com as tuas análises interpretativas.
ResponderEliminarÉ fascinante como procuras ver para além do óbvio.
Eu , já o disse anteriormente, continuo a achar que a maior flor é a liberdade.
Saramago faz de início alusão à força das suas palavras; o besouro aprisionado no escuro da caixa também me leva a crer que este conto é uma retrospectiva sobre a liberdade de expressão que lhe foi "castrada".
Ele cuida da sua flor, alimenta-a, zela por ela em terreno árido( preza o seu direito à expressão?)
No final questiona se os adultos conseguirão aprender o que tanto apregoam.
Não sei...são leituras e cada olhar tem uma diferente. É isto que provoca a boa escrita.
beijinhos
A Flor do mundo é o coração que sonha...
ResponderEliminarAbraço!
Excelente! Continuar em alta.
ResponderEliminarAlém das excelentes postagens que aqui coloca ainda se dispõe a embelezar o meu blog com comentários tão poéticos!
ResponderEliminarObrigada e um abraço
Amigo Rogério:
ResponderEliminarDeixe-me parabenizá-lo por estas suas excelentes análises.
Venho tb responder à pergunta que me fez lá no CR. Então não há jornalistas no "i"?
Quando apareceu costumava comprá-lo sempre às sextas, porque trazia excelentes reportagens. Depois caiu um bocado,mas de vez em quando compro, porque me cansei do DN e do Público. Leio tudo on line
Bom fds
Humor é um dávida dos deuses.
ResponderEliminarRogério, o seu comentário é um mimo, ainda não parei de me rir, e acredito que Hollywood lhe tenha roubado o estilo de beijar.
Boa noite!
Perfeito! Excelente ponto de vista.
ResponderEliminarUm abraço
Gostei. Gostei mesmo muito desta leitura. Excelente!
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