14 abril, 2011

Será o trabalho para todos, uma flor? A Maior Flor do Mundo?

Continuo a faina que me apraz, lembrar o livro por aquilo que diz o filmezito premiado. Revejo a estória por um outro lado. O lado da pobreza e a abundância como margens do rio que tem uma e outra de cada lado e retiro a primeira conclusão: Não há clima e natureza que façam tal maldade, de forma tão desenhada. De um lado o verde luxuriante, do outro a secura extrema. Só pode ser obra de homens, mas não dos que juntam o suor àquilo que fazem. Só pode ser obra dos homens mandantes, mandando mal. As imagens seguintes, também do filme que ilustra o conto do meu nobelizado, não são ambíguas. Cruel a ruína das fábricas, desolador o abandono dos estaleiros. Nem vivalma se vê. O letreiro avisando o perigo arrasta consigo a ironia de o perigo agora ser outro. Sem terra agricultada e com toda a actividade parada que vai ser deste povo e do país? Que está acontecendo agora? Que aconteceu antes de agora, em tempos idos, para se chegar a este ponto chegado? Levanto as palavras para verificar, se por baixo delas, existe resposta. Sem sucesso pois as palavras, de todos os lados, são o que são e mais o que o leitor acha o que possam ser, dentro dos limites razoáveis desse entender. Escreveu Saramago sobre o menino: "Em certa altura, chegou ao limite das terras até onde se aventurara sozinho. Dali para diante começava o "planeta Marte". Para mim, leitor, por baixo e por detrás de tais palavras só poderia haver o entendimento de ser, aquele outro mundo, obra de marcianos. Riquezas de um outro mundo e não daquele que avistava da sua aldeia.

-- Disseram-me, ainda ontem, que o escritor não planeia as respostas, por isso não vale a pena procurá-las no livro. Nele ou a partir dele só saberemos exprimir perguntas ou simplesmente insinuá-las. Por isso procurei nas estatísticas o que me faltou saber no conto. E pronto. Cá estão os números que explicam a aridez. Por tantos postos de trabalho perdidos, como ver diferente a paisagem? Se a construção tem limites de necessidades e a industria não, porquê a inversão? Agora com a construção parada e a industria desactivada, que outra coisa pode ser o sonho de Saramago? Que representa afinal a "Maior Flor do Mundo"?


PS: Este texto enferma de um pecado quase original de tentar colocar os amantes das palavras a entender os frios gráficos e, ao invés, pôr os sisudos adoradores de números a encontrar a magia das palavras. Prometo não voltar a fazer o sacrilégio...


As imagens são retiradas do video e os dados da Pordata

17 comentários:

  1. Que boa(s) análise(s), amigo Rogério!
    Gosto de as ler e aprender.
    Obrigada.

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  2. A capacidade de interrogar e de nos interrogar

    é um acto inteligência

    Que nunca te doa a sensibilidade

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  3. Um desses... com a mania que sabe muito disse numa entrevista que em relação à agricultura saía mais barato comprar lá fora... a besta, porque não tem outro nome, não vê que o barato sai caro... menos postos de trabalho e um rio de dinheiro que sai, lá para fora e não fica cá para ser aplicado na economia interna... eu fico sem perceber estes especialistas... da treta.

    Bjos

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  4. Juro que o gráfico me chocou bastante, mas o colorido dele deu uma quebrada na aparência sisuda do mesmo
    Um grande bj querido amigo

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  5. Há coisas que são muito difíceis de entender.

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  6. Os gráficos são comunicadores por excelência, no que concerne a análises comparativas, mas vim à procura das palavras e de um certo colorido que, apesar de tudo elas aqui sempre têm, lançando sementes de esperança neste aparente deserto que se nos depara.
    Porém, hoje, todo o colorido se diluiu, nesta afirmação que levarei comigo:
    "Não há clima e natureza que façam tal maldade, de forma tão desenhada. De um lado o verde luxuriante, do outro a secura extrema. Só pode ser obra de homens, mas não dos que juntam o suor àquilo que fazem."

    Obrigada!

    L.B.

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  7. Caro Rogério
    Excelente interpretação da obra.
    Aquilo que lhe acrescenta torna as coisas muito mais perceptíveis. O gráfico complementa muito bem o texto.
    Abraço

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  8. O meu amigo está a fazer um verdadeiro mestrado sobre esta magnífica obra. E está a pôr-nos a pensar, o que muitas vezes faz doer ;)e agora duplamente, pois também doí a ver o dinheiro a desaparecer.
    Se não temos agricultura, indústria, construção , não admira a aridez da paisagem.
    Só podem ser marcianos o autores deste descalabro económico, social e humano.
    Portanto vamos mandá-los para Marte!

    beijinhos

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  9. Fico maravilhada com as tuas análises interpretativas.
    É fascinante como procuras ver para além do óbvio.
    Eu , já o disse anteriormente, continuo a achar que a maior flor é a liberdade.
    Saramago faz de início alusão à força das suas palavras; o besouro aprisionado no escuro da caixa também me leva a crer que este conto é uma retrospectiva sobre a liberdade de expressão que lhe foi "castrada".
    Ele cuida da sua flor, alimenta-a, zela por ela em terreno árido( preza o seu direito à expressão?)

    No final questiona se os adultos conseguirão aprender o que tanto apregoam.
    Não sei...são leituras e cada olhar tem uma diferente. É isto que provoca a boa escrita.
    beijinhos

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  10. A Flor do mundo é o coração que sonha...

    Abraço!

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  11. Além das excelentes postagens que aqui coloca ainda se dispõe a embelezar o meu blog com comentários tão poéticos!
    Obrigada e um abraço

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  12. Amigo Rogério:
    Deixe-me parabenizá-lo por estas suas excelentes análises.
    Venho tb responder à pergunta que me fez lá no CR. Então não há jornalistas no "i"?
    Quando apareceu costumava comprá-lo sempre às sextas, porque trazia excelentes reportagens. Depois caiu um bocado,mas de vez em quando compro, porque me cansei do DN e do Público. Leio tudo on line
    Bom fds

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  13. Humor é um dávida dos deuses.

    Rogério, o seu comentário é um mimo, ainda não parei de me rir, e acredito que Hollywood lhe tenha roubado o estilo de beijar.

    Boa noite!

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  14. Perfeito! Excelente ponto de vista.
    Um abraço

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  15. Gostei. Gostei mesmo muito desta leitura. Excelente!

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