As palavras do nobelizado escritor e as imagens do maravilhoso filme premiado nada terão deixado ao acaso. Tudo o que foi escrito dito e ilustrado, o terá sido para fazer sentido, pois as obras que merecem atenção não se perderão em detalhes gratuitos apenas para dar corpo ao que se quer contar. Tudo faz, ou exige, entendimento e eu vou fazer o meu, sem perder de vista que a minha declarada intenção de procurar, na bela metáfora, o significado para a flor que passa da condição de quase morta à de "A Maior Flor do Mundo". Antes de procurar o seu ser, vejamos o seu estar. Sem dúvida, que embora o seu autor tenha sido empurrado para terras de Espanha o livro e as imagens são de Portugal. Que outro país podia ser? Com o mar ocidental banhando praias ensolaradas, com longas estradas ligando o nada a coisa nenhuma, com a construção desenfreada de condomínios, com a desertificação e a proliferação de terras incultas, quer as que se apresentam áridas quer as que a Primavera enche de verde e de floridas paisagens... Que outro país podia ser, senão este, onde os rios correm sem outro destino que não seja o poderem ser usados pelos meninos para regarem flores que definham? Até mesmo quando os rios nos acenam com grandes albufeiras, eles e essas de pouco nos servem (Alqueva, o maior lago artificial da Europa, tem aproveitamente irrisório)...
Parei este meu escrever para confirmar o anúncio visível no estaleiro, revendo o vídeo. Escrito em espanhol, pois outra linguagem não estava a usar o narrador, oferecia-se a venda de 2 000 moradias de luxo. Contradição aparente, pois não era visível outra riqueza que não fosse a da mãe natureza. Digo aparente pois quem me lê, sabe que o inicio da queda da actividade agrícola (e toda a produtiva) quase coincide com a chegada de volumosos dinheiros comunitários e que uma população mais ou menos ociosa sonhava futuros cor-de-rosa, consumindo, a pronto ou a crédito: veículos vistosos e bem motorizados, moradias de luxo em paraísos quase encantados. Os muitos que trabalhavam passaram a comprar o pão nosso de cada dia, feito com cereal de seara importada deixando-o de haver onde tanto havia amanhada por "levantados do chão". As grandes superfícies, não contadas no conto, transformaram-se em catedrais de consumo e da importação... Bom é melhor parar aqui, pois quer-me parecer que inadvertidamente vou cair na questão que explica a razão do endividamento. Seria útil falar dela, mas prometi que não o faria, talvez outro dia...
Mas vamos à conclusão e ao que suponho ser a flor: o sonho de pôr a terra a produzir
Que parta todos os sonhos
ResponderEliminarMas que a vontade de sonhar de todos os sonhadores não se abarque nunca,
Os sonhadores se cobrem de sombras de certos sonhos sonhados ,
É quando o inimigo fortalece de não o vê-lo realizado,
Por ora, o que será sempre possível é sonhar
sonhar o sonho calado
E, para isso jamais faltará sonhadores...como nós!!!
Bju
Que o seu sonho se realize!
ResponderEliminarAs terras se tornem produtivas, as flores se reanimem viçosas, as crianças sejam felizes, os adultos responsáveis e tolerantes.
Enfim.. que Portugal se levante do chão; da descrença e mostre ao Mundo que ainda temos portugueses com valor.
Capazes de garantir o pão-nosso-de-cada-dia a quem dele precisa e possa viver com dignidade e alegria.
Janita
Este livro de Saramago foi-me oferecido há uns anos!
ResponderEliminarTenho que o procurar para o reler...
Quanto à necessidade de voltarmos a cultivar os nossos campos, tens toda a razão!
Eu não sou capaz de o dizer como tu mas dói-me a alma ao ver as nossas terras de "almazío" como diziam os meu avós...
Esta palavra deve ser um termo muito próprio da zona onde nasci...nunca a encontrei no dicionário!
Parece viável, mas apenas como agricultura de subsistência,porque se quisermos mais do que isso, vamos deparar-nos com os problemas de escoamento que a Europa nos "inventou", não é assim?
ResponderEliminarL.B.
Vim ver esse menino por ser meu conhecido de há longa data.
ResponderEliminarContinua a querer levar a água à sua flor.
Fico feliz.
Ná
Gosto da maneira como escreves. Um bj querido amigo
ResponderEliminarAté os sonhos precisam de água
ResponderEliminarágua de beber
Abraço
Endividamento, masi olhos que barriga, dinheiro fácil, irresponsabilidade, falta de informação.. tudo isso nos conduziu à situação actual.
ResponderEliminarOu optamos ( não apenas em Portugal, mas num contexto europeu) por um modelo de desenvolviment sustentável, como está subjacente no video, ou a crise que agora vivemos continuará a agravar-se. Com ou sem FMI, o importante é que a Europa defina um novo rumo.
Cara Lídia,
ResponderEliminarNão creio que apenas a economia de subsistência possa beneficiar do crescimento do uso da terra. A balança alimentar é fortemente deficitária em poduções que já tivemos e que entretanto fomos perdendo. O grupo Pão de Açucar é o 5º maior importador e quase só de produtos alimentares... Entretanto, Alexandre Soares dos Santos queixava-se há menos de um ano que não comprava borrego nacional porque a produção não lhe assegurava entregas no prazo e com o calibre contratualizado. Hoje, a campanha de publicidade do PD dá conta que a Páscoa se fará com borrego nacional, sinal de que entretanto a produção se terá organizado... Resumindo: há um mundo de coisas para fazer, mesmo considerando as "ingerências" de Bruxelas e o fraco desempenho negocial do país na definição de uma politica agricola comum... É preciso com urgência regressar à produção nacional pois com o aumento do preço do petróleo temos que repensar toda a cadeia e, assim, tornarmo-nos menos dependentes das importações o que tem ainda efeitos na espiral do endividamento que não irá parar de aumentar...
Longa a resposta, mas muito ficou por dizer...
Carlos Barbosa,
ResponderEliminarTem razão. O que as lideranças europeias não enxergam a realidade far-se-á impor: O preço do petróleo irá ditar um novo paradigma: o da produção em próximidade!
Rogério, neste post você se superou. Lindo, lindo texto. E que bela inspiração com este vídeo da Fundação Saramago. Continue assim, amigo, a conta-gotas, que seja, levando sabor ao mundo.
ResponderEliminarUm abraço emocionado,
Sabe, Rogério, há alguns dias não passava por aqui. Não por nada, mas porque não cheguei nem perto de meu computador nesses dias, a não ser ontem, tarde da noite. Mas enfim, eis-me aqui, neste lugar de que tanto gosto. Assisti aos vídeos, li tudo que você escreveu, fechando com este post magnífico que resume tudo. Acho que você tem razão quanto ao que representa "A Maior Flor do Mundo". Eu não li este livro do Saramago, mas já ouvi falar, e você foi muito feliz na postagem do vídeo. Adorei o personagem Saramago, perfeita animação!
ResponderEliminarO paralelo que você faz é perfeito. Só você, Rogério!
Aproveito para agradecer às palavras lá em meu blog: "Ocorre-me... Talvez... deixar-lhe esta água, que trago entre mãos, que já salvou uma flor à beira de desaparecer. Talvez dar a ler o que eu acabei de escrever. Talvez dar-lhe o meu video a ver... Talvez..."
Isso me foi muito importante, obrigada!
Beijos
Carla