O Jimmy Carter disse o que disse, mas poucos sabem que o disse... Tal silenciamento dá aso a tudo o que agora por lá se passa.
E o que por lá se passa?
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disparou o golpe de Estado na Venezuela ao reconhecer o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como chefe de Estado "interino". O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luís Almagro, Brasil, Colômbia, Peru, Paraguai, Equador e Costa Rica, pronunciaram-se no mesmo sentido logo que Trump fez a declaração. Guaidó autoproclamou-se presidente alegando a "ilegitimidade" de Nicolás Maduro, vencedor das eleições de Maio com 67% dos votos, e afirma que vai nomear um "Conselho de Transição". O Supremo Tribunal de Justiça declarou "inconstitucional" e "usurpadora" a iniciativa de Guaidó. A Venezuela cortou relações com os Estados Unidos.
Numa
declaração proferida da varanda do Palácio de Miraflores a uma multidão
que se juntou para apoiar a legitimidade democrática e a República
Bolivariana, o presidente Nicolás Maduro anunciou o imediato corte de
relações diplomáticas com os Estados Unidos. Maduro deu um prazo de 72
horas aos diplomatas norte-americanos para abandonarem o país.
A
declaração de Trump reconhecendo a autoproclamação de Guaidó como
“presidente interino” sucedeu a movimentos militares registados na
segunda-feira, absolutamente inconsequentes e que culminaram na prisão
de 27 efectivos, a quem terão sido oferecidas várias regalias mas que
acabaram por ficar isolados e sem que qualquer outro apoio tenha chegado
a manifestar-se no interior das Forças Armadas.
Na sua declaração
dando luz verde a uma acção inconstitucional num país soberano, o
presidente dos Estados Unidos declarou Nicolás Maduro um "presidente
ilegítimo" e garantiu "total apoio económico e diplomático" para que
seja "restaurada a democracia na Venezuela". Trump "responsabilizou" o
presidente venezuelano por "quaisquer ameaças contra o povo
venezuelano", frase que é interpretada como uma intenção de estender a
intervenção ao nível militar logo que haja um qualquer confronto nas
ruas que sirva de pretexto.
Antes de Trump, já o vice-presidente
norte-americano, Michael Pence, tomara a mesma posição, exortando à
realização de manifestações de rua de apoio a Guaidó. "Façam ouvir as
vossas vozes para que a democracia seja restaurada na Venezuela",
escreveu Pence no Twitter.
Depois de Pence ter apelado à
insurreição nas ruas foi a vez de Michael Pompeo, secretário do Conselho
Nacional de Segurança dos Estados Unidos, exortar os militares a um
levantamento para "derrubar Maduro e restaurar a democracia na
Venezuela".
O Brasil de Bolsonaro foi a primeiro país a reconhecer
o golpe de Estado logo depois dos Estados Unidos. A acção de Guaidó
acontece menos de uma semana depois de se ter realizado em Brasília uma
reunião de conspiração contra a Venezuela com sectores da oposição
venezuelana e na qual ficaram definidas as bases do golpe: a suposta
"ilegitimidade" do mandato de Nicolás Maduro; e a utilização da
Assembleia Nacional como arma golpista, em vez da criação de estruturas
paralelas "no exílio".
Eleições não contestadas
As
eleições de 20 de Maio de 2018, que definiram o mandato para o qual
Maduro foi empossado em 10 de Janeiro último foram livres, abertas e
democráticas, conforme comprovaram 14 comissões técnicas eleitorais
enviadas de oito países e duas missões técnicas eleitorais.
Apresentaram-se
seis candidatos à presidência em eleições que mobilizaram 26 partidos
políticos. O acto eleitoral decorreu segundo a mesma legislação e as
mesmas condições técnicas das eleições para a Assembleia Nacional de
Dezembro de 2015, ganhas pela oposição que agora pretende derrubar o
presidente.
Nicolás Maduro ganhou as eleições com 67% dos votos,
seguido por Henri Falcón, com 20,93%. Efectuaram-se 18 auditorias do
sistema automatizado, públicas e transmitidas pelos meios de comunicação
social; representantes do candidato Henri Falcón participaram em todas
as reuniões relacionadas com o processo eleitoral e assinaram todas as
actas.
Nenhum candidato impugnou os resultados e não foi apresentada qualquer acusação ou qualquer prova de fraude.
Algumas
organizações de oposição anunciaram que “boicotavam” as eleições e
consideram-se credoras da abstenção registada, de 54%; argumentam agora
que as eleições têm de ser consideradas ilegítimas devido à abstenção,
que consideram elevada.
Porém, a percentagem de afluência às urnas
foi superior à média registada na maioria das eleições presidenciais
norte-americanas e igual à verificada pouco tempo antes nas eleições
presidenciais chilenas. Ninguém contesta, no entanto, a legitimidade do
presidente Piñera, discípulo, seguidor e admirador do ditador fascista
Augusto Pinochet.
José Goulão, in "O Lado Oculto"
Com lentidão - é tudo o que me resta, esta lentidão -, mas com interesse, tenho tentado acompanhar o golpe de Guaidó.
ResponderEliminarContinuo a acreditar na legitimidade e eficácia do sistema eleitoral venezuelano, bem como na muito ilegítima mas eficientíssima ingerência da extrema-direita em todos os países que se não
curvem diante dos seus interesses monopolistas.
Aflige-me a difícil situação dos venezuelanos metidos numa guerra de interesses.
ResponderEliminarAbraço e bom fim-de-semana
Todos os dias se sofre anonimamente, ao sabor de uma cultura de mono-notícias e de esquecimento. Retrocessos civilizacionais muito perigosos. Haja memória histórica!
ResponderEliminarComo se pode contestar uma eleição democrática mesmo que estejamos preocupados com a situação que se está a viver na Venezuela?!
ResponderEliminarAbraço
Trump está uma vez mais a brincar com o fogo
ResponderEliminara tentar distrair o mundo
das suas graves dificuldades internas
Cheira-me a petróleo