05 maio, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 16

Sophia, com três dos cinco filhos...

"Mãe distraída, talvez mesmo desatenta, Sophia deixava as ralações mundanas com vestuários e refeições para as criadas, encarregadas de levar as crianças à escola para que pudesse dormir até tarde. De tal forma que era comum ouvir Luísa, a empregada minhota de sempre, alardear com ironia a falta que fazia à família: «Se não fosse eu, nesta casa comiam-se versos.»", lê-se no Observador.

Noutro texto, a filha, refere-se à mãe em termos que confirma tal leitura, “Por um lado, fascinava-me, introduzia qualquer coisa de luminoso na vida. Por outro, sentia falta de ter uma mãe ‘de todos os dias’”

Em tudo isso lido, é omisso qualquer nota ou comentário sobre a vasta obra que Sophia destinou às crianças. Obra que testemunhava, ela própria, o imenso carinho e respeito que nutria por elas.

Acabo de adoptar Sophia como minha mãe adoptiva...   

10 comentários:

  1. Obrigada pela partilha.
    Um abraço e uma boa semana

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  2. Escrever livros para crianças não significa que seja aquela mãe que uma criança precisa: uma mãe atenta e não destraída. Não compreendo, que uma mulher como a Sophia tivesse cinco filhos, numa casa onde se comiam versos. Uma grande poetisa portuguesa, sem dúvida, mas como mãe... esquece a Sophia!!!

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  3. Maldita tablet!!!

    *distraída*

    Já agora, tu idealizas a Sophia!!!

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  4. Se a esse ponto te sentes cativado e se esse apelo é tão forte assim, sê então seu filho adoptivo, Rogério.

    Houve um momento da minha pré-adolescência em que decidi adoptar a Natália Correia como minha mãe intelectual. Hoje, tal não me passaria pela cabeça mas, nesse momento, havia acabado de perder a minha avó paterna a quem conferira esse estranho papel, já que a minha mãe me parecia sempre demasiado preocupada com as refeições, o brilho do soalho e os electrodomésticos topo de gama.

    Forte abraço,

    Maria João

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  5. Para mim, a Sophia
    só me serviria como Tia.

    E que gosto seria tê-la
    a ler-me poesia
    durante todo o dia!...!

    Mas, para Mãe...
    ...para Mãe, não a queria!

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  6. Penso que haja poucos jovens de uma certa geração e até actualmente que não conheçam o obra de Sophia para crianças.
    Faziam parte do programa de leitura obrigatória!

    Abraço

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  7. Já a poeta deixa de ser grande, pois que se atreve a entregar a outros, a lida da casa, o acompanhamento dos filhos. Sophia pertencia a uma certa elite social e cultural, a quem estes "excessos" eram permitidos. Ela não é, de modo nenhum, o protótipo da mulher portuguesa dos anos 60, quando os filhos eram crianças. Quanto a ser mãe, o que ela fazia, como deixar os filhos com os avós ou empregados não faz dela uma mãe menos competente. Maria Tavares, a filha mais velha, refere-se a este assunto, num documentário,(RTP2, se não estou em erro)e acrescenta, rindo: "naquele tempo não se ficava traumatizado". As coisas devem ser lidas, segundo a época e o contexto em que se dão. Os livros para crianças eram tidos como objecto de luxo. Ela não os comprava, escrevia-os por não encontrar qualidade no que, em termos de literatura, era oferecido às crianças. Hoje felizmente já não são "luxo" os livros e eu pergunto, quantas das boas mães lêem para os filhos pequenos, sem que seja para os adormecer? Os livros de Sophia para crianças são simplesmente maravilhosos. Se algum dos filhos adormeceu enquanto ela os lia, isso eu já não sei dizer. Mas pode bem ter acontecido.


    Lídia


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  8. Ah, só agora vi que Sophia se levantava tarde, mas não li nada sobre as noites passadas a escrever ou mesmo sobre a visita dos "fantasmas" da PIDE que lhe invadiam a casa a altas horas para lhe levarem o marido ou revirarem a casa.

    Lídia

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  9. Lídia,

    Devia ter sido eu
    a escrever aquilo
    que aqui escreveu

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