17 maio, 2019

Poesia (uma por dia) - 96

COISA

Havia um linguista consagrado,
na rua onde morava,
que abominava a palavra “coisa”.
Dizia cada coisa da palavra coisa!
Dizia, por exemplo, que “coisa”
designa substância e como tal tem nome:
pedra, nuvem, árvore…
Logo a pedra, revoltada…
que, também ela, tem nome:
granito, xisto, ardósia…
e logo o granito ameaçador:
pois que seu apelido, 
e nomes próprios:
amarelo capri, giallo antico, arabesco…
e a nuvem… cirro, cúmulos, nimbus...
e a árvore…

E tão convincente foi a argumentação
que nunca mais a coisa foi coisa,
e passou a ser, quase sempre,
a nomeação exata
do inominável.
Que coisa!...
Lídia Borges

5 comentários:

  1. Uma coisa sem ser coisa
    É uma coisa inominável?

    Gostei desta poesia
    Que coisa! Quem tal diria?

    Pode ser que um dia eu saiba
    escrever assim poesia.

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  2. Gostei de ler.
    Abraço e bom fim-de-semana

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  3. Gosto muito da poesia da Lídia e também da palavra coisa, sobretudo quando usada no plural para designar muitas ou todas as coisas, evitando com toda a propriedade que conversas e textos se transformem numa infinda e entediante designação de substantivos.

    Quando usada no masculino é que a coisa muda e pode, então, passar a designar o absolutamente inominável.

    O pobre linguista consagrado da rua da Lídia, desconhece as subtilezas da palavra coisa, coitado.


    Abraço,


    Maria João



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  4. Adorei:))

    Bjos
    Votos de um óptimo Sábado.

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  5. Há coisas assim!...

    Obrigada. Aos comentadores também.

    Lídia

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