«Em tempo de solidariedade e de muitas palmas aos trabalhadores do SNS, recrudesce, por entre algumas mentiras e meias-verdades, a campanha a favor dos grupos privados que da saúde fazem negócio.
A crise sanitária que vivemos veio sublinhar, por um lado, a importância e o papel insubstituível do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, por outro, a necessidade do reforço das suas estruturas, nomeadamente no plano financeiro, passando a canalizar para o SNS muito dos fundos públicos que têm alimentado os lucros dos grupos económicos que actuam na área da saúde e no negócio da doença.
Sem pôr em causa a contratualização temporária e limitada de serviços privados, o que se exige são verbas que permitam também valorizar os profissionais de saúde, designadamente quanto a remunerações e carreiras e, face às necessidades, fazer novas contratações.
Foi aliás no SNS – que se revelou imprescindível – que milhares de doentes infectados pela Covid-19 encontraram tratamento, e não nas seguradoras ou nos grupos privados da saúde.
Entretanto, em tempo de solidariedade e de muitas palmas aos trabalhadores do SNS, recrudesce, por entre algumas mentiras e meias-verdades, a campanha a favor dos grupos privados que da saúde fazem negócio.
Promovida por comentadores e analistas ao seu serviço, primeiro trataram de questionar a capacidade de o serviço público responder ao surto epidémico, e agora vêm, de mansinho, pôr em causa a possibilidade de o SNS recuperar os doentes em lista de espera, na expectativa de continuarem a alimentar o sector privado da saúde com os milhares de milhões de euros que o erário público transfere anualmente, e se possível ainda com mais dinheiro.
Nesta nova operação de ataque ao SNS, lá estão, na linha da frente, os promotores da política de direita, nomeadamente o PSD e o CDS-PP, a falarem da necessidade e da exigência do reforço do SNS, esquecendo que é deles o velho slogan «quem quer saúde, paga-a».
Aliás, um lema que os seus governos (e não só) procuraram aplicar a tudo o que são serviços públicos, em particular nas áreas sociais, nomeadamente através de privatizações ou de cortes substanciais no seu financiamento.
Mas também os propagandistas da chamada «reforma do Estado», que a apresentam como a panaceia para todos os males, embora sem dizerem ao que vêm. Sem concretizarem que a sua «reforma do Estado» passa pela destruição dos serviços públicos, nomeadamente nas áreas da saúde e da educação, e pela redução dos apoios sociais.
Nesse sentido, depois da «revolução nos transportes públicos» do ano passado, e num momento em que se desvanece o mito das vantagens da gestão privada e da empresarialização na saúde, importa partir do trabalho realizado nestes últimos dois meses e melhorar a capacidade do SNS, não apenas para responder a momentos de crise como o que vivemos, mas de forma permanente e em todas as circunstâncias.»