Nos primeiros momento do voo, Matias teve medo. Passado o medo, veio um sentir agradável a que se juntavam os chilreares de pássaros que em bando iam passando, depois as nuvens acenavam ao menino, sorrindo e os raios de sol beijavam-o ternamente. Ele, continuava agarrando o avião de papel, de mão bem firme, até que lhe veio o desejo de melhor posição. E se bem o pensou, melhor o fez. Contou, um, dois, três, e pimba, saltou-lhe para cima mas... agarrado à mão, rasgado, veio um pouco de papel da cauda do avião. Este, ziguezagueou um pouco, mas lá retomou o rumo, enquanto ele metia o papel no bolso.
Melhor acomodado, olhou então para baixo... e que linda era a terra, vista de cima. Como era tão verde. Ah! e o mar... o mar tão azul. Ia olhando, maravilhado o Matias até que deu que a cor lentamente, muito lentamente se ia alterando, alterando, alterando e, em pouco tempo, o que era verde se tornou barrento e o azul marinho tomara uma cor estranha. Não teve nem tempo para se assustar pois sentiu que o avião de papel começava a descer, muito devagarinho, muito devagarinho.
Percebeu que tinha chegado ao ponto alto pelo velho que lá estava. A figura era como a vovó lhe contava, mas de neve e gelo, nada. Pelo número de vezes que a vovó lhe repetira a história do "Senhor Inverno", Matias não tinha dúvidas. Era aquele o local e a barba do velho era tal e qual.
O velho acenou, para que se aproximasse. Ele saltou do avião e logo fez a pergunta, sem cumprimentar, "Onde está a neve?, estamos próximos do Natal... onde está? Queria brincar, fazer um boneco". O velho, afagou a barba e esboçou um sorriso triste, tão triste, tão triste, que Matias se espantou por ver tanta tristeza num rosto só.
E foi com esse ar de tristeza que o velho deu conta de como a neve tinha desaparecido há muito, há tanto, tanto, que a vida de um ser vivo só 30 vezes repetida é que daria para dar a ideia de há quanto tempo a neve desaparecera... "Eu, tenho trezentos anos!"
Matias, não tinha a mínima ideia dessa medida do tempo. E o velho continuou "E trezentos anos foi o tempo que levaste no voo que te trouxe até mim... Na viagem foste olhando o mundo? Viste como o verde das florestas, matas e canaviais foram dando lugar a terra sem vida, barrenta? Viste como a água do mar se tornou turva, de cor escura, onde nenhum pescador pesca um só peixe? Eu tenho trezentos anos e tu fizeste uma viagem no tempo... volta, volta depressa, a consoada não tarda!"
Matias não tinha percebido nada do que lhe acontecera nem o que acontecera ao mundo. Confuso, não fez qualquer pergunta. O velho voltou à fala apontando-lhe o bolso "Dá-me esse papel que guardas, quero mandar à tua família uma mensagem"
Depois da criança lhe estender o papel, rasgado da cauda do avião, o velho escreveu, escreveu, mandou guardar o recado bem guardado, pegou-lhe ao colo e foi colocá-lo no avião de papel para depois o lançar, na viagem de regresso.
De volta, Matias viu tudo o que vira, voltou a ver mas ao contrário. O mar, foi voltando à cor azul e a terra verdejou, os pássaros voltaram a chilrear, as nuvens piscaram-lhe o olho mas o sol já se tinham escondido e foi o luar que o veio beijar.
Sentiu então o avião de papel a descer, a descer direitinho a um lugar bem familiar, à rua que logo reconheceu e tal reconhecimento o encheu de uma alegria que há muito não sentia. Saltou do avião, que tinha parado mesmo à porta que bem conhecida e, pondo-se em bicos de pés, tocou à campainha!
Leia, aqui, o fim feliz
Que grande aventura, viveu o menino que não é Mattias e sim Matias.
ResponderEliminarMas... com outros tantos trezentos anos para o regresso, será que tinha acontecido o inverso? Quem lhe abriu a porta?
E, porque será que nessa terra Vovó se escreve com ifen?
Amanhã cá estarei.
Um abraço paciente.
Sorte tinha Saramago
Eliminarque tinha a seu lado
um revisor competente
Amanhã cá a espero
Abraço
Então, os teus leitores || comentadores não são revisores competentes?!
ResponderEliminarOlha que são! Olha que são!
Claro que são, mas dispersam a atenção
Eliminare eu passo por um enxovalho
ao contrário
de Saramago
Acabas de cair na esparrela
de que me queixo
Ao menos ao menino Matias
podias ter deixado um beijo
Li com entusiasmo mais um pedaço da aventura do pequeno Matias. Voltarei para ler o final.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Vai ter um final
Eliminara condizer com o Natal
Cá te espero
Abraço
Cá estou, num pulinho, enquanto me arranjo para ir passar o resto do dia ao hospital, só para assistir ao vôo de Matias :)
ResponderEliminarForte abraço!
Que tudo te corra pelo melhor
Eliminare o Matias, ligou-me agora mesmo
para te enviar um beijo
Abraço
Repito o que disse no outro lado. Parece que todos precisamos urgentemente de um final feliz. O Planeta também. Para viajar nas palavras não é necessário ser-se criança. Obrigada!
ResponderEliminarBj.
Lídia
Olá, querida amiga, sobre o Matias o conto encerra no ponto certo da alegria do reencontro. Quanto ao Planeta, continuaremos a precisar urgentemente de um final feliz...
EliminarBeijos ao seu Matias
Já fui ler o primeiro post, e aqui estou a ler o segundo.
ResponderEliminarUma estória de encantar e esperamos que o Matias tenha um final feliz, claro.
Faz lembrar o Natal, claro.
Desejo muita saúde e tranquilidade.
Beijinhos
:)
Sim Meu Sol, é sobre o Natal mas também sobre três palavras que tanto precisamos de reflectir nelas.
EliminarAté logo
Bjinho
O meu Matthias de cá quer um final feliz, mas sem os habituais sentimentalismos natalícios 🎅 Confio no teu talento literário, Rogério.
ResponderEliminarEis um pedido a que dificilmente acedo,
EliminarPrimeiro, porque sou um sentimental
Segundo, porque sempre festejei o Natal
E quanto ao meu talento literário, obrigado pela confiança. Tentarei continuar a merece-la
Mais um trecho que faz refletir sobre no que o mundo esta se tornando...
ResponderEliminare volto Rogerio Gostando da magia que as histórias despertam em nós.
Um abraço e já estou retornando às publicações.
Por ser encorajado pelos meus próprios netos tento este exercício de escrita. Mas houve um momento decisivo para me voltar a tentar escrever para crianças e esse foi quando fui surpreendido pela iniciativa de um grupo de pais e filhos encenarem um conto meu, numa escola... foi uma massagem de ego imensa, enorme!
EliminarQue seja bem regressada,
passarei por lá, não tarda nada
Abraço amigo