06 dezembro, 2021

"O AVIÃO DE PAPEL" (continuação do conto prometido)

Nos primeiros momento do voo, Matias teve medo. Passado o medo, veio um sentir agradável a que se juntavam os chilreares de pássaros que em bando iam passando, depois as nuvens acenavam ao menino, sorrindo e os raios de sol beijavam-o ternamente. Ele, continuava agarrando o avião de papel, de mão bem firme, até que lhe veio o desejo de melhor posição. E se bem o pensou, melhor o fez. Contou, um, dois, três, e pimba, saltou-lhe para cima mas... agarrado à mão, rasgado, veio um pouco de papel da cauda do avião. Este, ziguezagueou um pouco, mas lá retomou o rumo, enquanto ele metia o papel no bolso.

Melhor acomodado, olhou então para baixo... e que linda era a terra, vista de cima. Como era tão verde. Ah! e o mar... o mar tão azul. Ia olhando, maravilhado o Matias até que deu que a cor lentamente, muito lentamente se ia alterando, alterando, alterando e, em pouco tempo, o que era verde se tornou barrento e o azul marinho tomara uma cor estranha. Não teve nem tempo para se assustar pois sentiu que o avião de papel começava a descer, muito devagarinho, muito devagarinho.

Percebeu que tinha chegado ao ponto alto pelo velho que lá estava. A figura era como a vovó lhe contava, mas de neve e gelo, nada. Pelo número de vezes que a vovó lhe repetira a história do "Senhor Inverno", Matias não tinha dúvidas. Era aquele o local e a barba do velho era tal e qual. 

O velho acenou, para que se aproximasse. Ele saltou do avião e logo fez a pergunta, sem cumprimentar, "Onde está a neve?, estamos próximos do Natal... onde está? Queria brincar, fazer um boneco". O velho, afagou a barba e esboçou um sorriso triste, tão triste, tão triste, que Matias se espantou por ver tanta tristeza num rosto só.

E foi com esse ar de tristeza que o velho deu conta de como a neve tinha desaparecido há muito, há tanto, tanto, que a vida de um ser vivo só 30 vezes repetida é que daria para dar a ideia de há quanto tempo a neve desaparecera... "Eu, tenho trezentos anos!" 

Matias, não tinha a mínima ideia dessa medida do tempo. E o velho continuou "E trezentos anos foi o tempo que levaste no voo que te trouxe até mim... Na viagem foste olhando o mundo? Viste como o verde das florestas, matas e canaviais foram dando lugar a terra sem vida, barrenta? Viste como a água do mar se tornou turva, de cor escura, onde nenhum pescador pesca um só peixe? Eu tenho trezentos anos e tu fizeste uma viagem no tempo... volta, volta depressa, a consoada não tarda!"

Matias não tinha percebido nada do que lhe acontecera nem o que acontecera ao mundo. Confuso, não fez qualquer pergunta. O velho voltou à fala apontando-lhe o bolso "Dá-me esse papel que guardas, quero mandar à tua família uma mensagem" 

Depois da criança lhe estender o papel, rasgado da cauda do avião, o velho escreveu, escreveu, mandou guardar o recado bem guardado, pegou-lhe ao colo e foi colocá-lo no avião de papel para depois o lançar, na viagem de regresso.

De volta, Matias viu tudo o que vira, voltou a ver mas ao contrário.  O mar, foi voltando à cor azul e a terra verdejou, os pássaros voltaram a chilrear, as nuvens piscaram-lhe o olho mas o sol já se tinham escondido e foi o luar que o veio beijar.

Sentiu então o avião de papel a descer, a descer direitinho a um lugar bem familiar, à rua que logo reconheceu e tal reconhecimento o encheu de uma alegria que há muito não sentia. Saltou do avião, que tinha parado mesmo à porta que bem conhecida e, pondo-se em bicos de pés, tocou à campainha!

Leia, aqui, o fim feliz


16 comentários:

  1. Que grande aventura, viveu o menino que não é Mattias e sim Matias.
    Mas... com outros tantos trezentos anos para o regresso, será que tinha acontecido o inverso? Quem lhe abriu a porta?
    E, porque será que nessa terra Vovó se escreve com ifen?

    Amanhã cá estarei.
    Um abraço paciente.

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    1. Sorte tinha Saramago
      que tinha a seu lado
      um revisor competente

      Amanhã cá a espero
      Abraço

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  2. Então, os teus leitores || comentadores não são revisores competentes?!
    Olha que são! Olha que são!

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    1. Claro que são, mas dispersam a atenção
      e eu passo por um enxovalho
      ao contrário
      de Saramago

      Acabas de cair na esparrela
      de que me queixo
      Ao menos ao menino Matias
      podias ter deixado um beijo

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  3. Li com entusiasmo mais um pedaço da aventura do pequeno Matias. Voltarei para ler o final.
    Abraço e saúde

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  4. Cá estou, num pulinho, enquanto me arranjo para ir passar o resto do dia ao hospital, só para assistir ao vôo de Matias :)

    Forte abraço!

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    1. Que tudo te corra pelo melhor
      e o Matias, ligou-me agora mesmo
      para te enviar um beijo

      Abraço

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  5. Repito o que disse no outro lado. Parece que todos precisamos urgentemente de um final feliz. O Planeta também. Para viajar nas palavras não é necessário ser-se criança. Obrigada!

    Bj.

    Lídia

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    1. Olá, querida amiga, sobre o Matias o conto encerra no ponto certo da alegria do reencontro. Quanto ao Planeta, continuaremos a precisar urgentemente de um final feliz...

      Beijos ao seu Matias

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  6. Já fui ler o primeiro post, e aqui estou a ler o segundo.
    Uma estória de encantar e esperamos que o Matias tenha um final feliz, claro.
    Faz lembrar o Natal, claro.
    Desejo muita saúde e tranquilidade.
    Beijinhos
    :)

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    1. Sim Meu Sol, é sobre o Natal mas também sobre três palavras que tanto precisamos de reflectir nelas.

      Até logo

      Bjinho

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  7. O meu Matthias de cá quer um final feliz, mas sem os habituais sentimentalismos natalícios 🎅 Confio no teu talento literário, Rogério.

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    1. Eis um pedido a que dificilmente acedo,
      Primeiro, porque sou um sentimental
      Segundo, porque sempre festejei o Natal

      E quanto ao meu talento literário, obrigado pela confiança. Tentarei continuar a merece-la

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  8. Mais um trecho que faz refletir sobre no que o mundo esta se tornando...
    e volto Rogerio Gostando da magia que as histórias despertam em nós.
    Um abraço e já estou retornando às publicações.

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    1. Por ser encorajado pelos meus próprios netos tento este exercício de escrita. Mas houve um momento decisivo para me voltar a tentar escrever para crianças e esse foi quando fui surpreendido pela iniciativa de um grupo de pais e filhos encenarem um conto meu, numa escola... foi uma massagem de ego imensa, enorme!

      Que seja bem regressada,
      passarei por lá, não tarda nada

      Abraço amigo

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