Como frequentemente acontece, cruzei-me com ele na escada. Desta vez ia ele de saída. Sorri-lhe, saudei a mãe e afaguei o cão. Ele olhou-me, sério, com um ar entre o tímido e o curioso. Levantei a mão à altura do ombro dele e pedi-lhe, "Dá-me cinco!"
Como sempre acontece, ele fixou-me, esperou um momento e, sem alterar a expressão, correspondeu ao pedido esboçando um pequeno sorriso, o sorriso de sempre.
Foi então que interroguei a mãe: "Tem a cópia da minha chave de casa à mão?, deixei a minha lá dentro... esta cabeça já não é o que era..."
Ela já não se lembrava da cena, repetidamente acontecida, de habilidades antes colocadas para, sem forçar a fechadura, me abrirem a porta. Tantas as vezes acontecera que, a prevenir futuros desesperados, mandara fazer cópia e entregá-la à sua fiel guarda, para o que desse e viesse. Fez-se-lhe um clique e lembrou-se "Ah, sim. Subo lá acima e já lha trago! Deixo consigo o António, não demoro!" e subiu correndo...
Olhei o menino, pouco habituado a ficar sozinho comigo e percebendo o desconforto iniciei o improviso, devagarinho, com voz sincopada: "Era uma vez" e como por magia, em resultado daquela expressão que já antes ouvira, o rosto iluminou-se, e continuei "Era uma vez, um menino pequenino, pequenino" e coloque a minha mão a uma altura que era a dele. "Depois, o menino foi crescendo, crescendo, crescendo". À medida que o ia dizendo, minha mão ia subindo, subindo, subindo até ficar à altura da minha cabeça. "Já crescido, o menino ficou forte, forte, forte, mas com pouco juízo e usava a força só para fazer maldades, partia tudo, arrancava árvores"... aí o António levantou o dedito e sentenciou: "Num fajisso! Num fajisso!"
Surpreendido, atalhei, "Sabes António? Toda a gente lhe disse o que acabaste de dizer e ele nunca mais voltou a fazer. Hoje ele é bom, muito bom!"
Entretanto, a mãe chegara e assistia embevecida. Estendendo-me a chave, confirmou o que já eu entendera. Ele ama uma boa história. E a mim próprio prometi vir a contar-lhas...
Uma ternura essas conversas com as crianças ,em particular os netos.
ResponderEliminarE o que emociona mais é a emotividade natural que sempre te acomete quando se trata das crianças.
Coração 'ternurento' o seu Rogério.
É bonito de ler e sentir.
Bom Natal, amigo e abraços nesse domingo.
Esse "meu" neto
Eliminarnão é meu
foi ele que me adoptou
e chama-me vovô
O melhor do Mundo são as crianças...
Abraço ternurento
Olá, Rogério,
ResponderEliminarrss, até eu gostei dessa história, e estou longe da criança que em mim vivia!
Desejo Boas Festas para você e família, que 2022 seja um ano calmo, que nos devolva a paz, nos conserve a saúde e nos dê mais alegrias!
Cuide-se bastante!
Grande abraço!
Olá Tais,
EliminarEncurta a distância
que te separa de ti criança
Não é difícil, juro!
Se meu próximo ano for calmo
tal me fará ficar quieto,
e eu isso não quero
Cuidam de mim!
Cuida-te também a ti!
Abraço ou beijo
a escolha é tua
Eis a "chave" de uma boa vizinhança.
ResponderEliminarUma „chave“ que abre corações 💕
EliminarSão, no fundo, três chaves
Eliminarcom uma, abriu-me a porta
com a segunda, abre-me a ternura
com a terceira, abre-me a inspiração
Abraço aos dois
Também gosto de contar e de dramatizar estórias. Até costumo ter uma audiência bastante atenta. Há dias contei uma omitindo os dragões com várias cabeças, não fosse o meu "tesouro" de três anos e pouco ficar com pesadelos. No fim perguntei-lhe se tinha gostado. A resposta.... "Não".
ResponderEliminarGostei do teu conto. :)
É tão bom
Eliminarconseguir prender-lhes a atenção
É tão bom, ter esse dom
Quando voltares a contar não omitas o dragão
e ele dirá sim e nunca lhe ouvirás um não
(as histórias despertam a imaginação e treinam a lidar com o medo)
Gostei que tivesses gostado!
Abraço
Que carinha deliciosa tem o teu pequenino vizinho, Rogério! E quão prontamente respondeu "Num fajisso!", quando o personagem da tua história se mostrou menos bom... :)
ResponderEliminarBoas festas e um grande abraço!
Era para ficar escrito que era eu o personagem menos bom.
EliminarFazia tropelias, pequenas maldades
só que não cheguei a arrancar árvores
Boas Festas e um abraço do tamanho do teu
(o puto é linnnndo)
Ou a cena se repetiu, ou, este 'conto' verdadeiro, do menino que gostou de ouvir a historinha que o vizinho Rogério contou, e ficou sendo seu Avô, eu o sonhei. É que tudo aqui li, me é familiar.
ResponderEliminarNATAL FELIZ!
BOAS FESTAS!
Um ABRAÇO!
A cena é recente
Eliminarmas acontece
que se não aconteceu
até parece
Aqui, eu até confesso
que quando criança
não era nada fresco
só que se cruzou comigo
alguém me terá dito
"Num fajisso"
BOAS FESTAS
Dois ABRAÇOS
As crianças são sempre a nossa esperança de um mundo melhor...
ResponderEliminarCaloroso abraço, meu amigo, bom domingo
São
EliminarSão mesmo!
Abraço tão caloroso quanto o teu!
O "Era uma vez" é sempre mágico. Quanto à intervenção do pequenino... Eu não lhe tinha dito já que são eles a ditar-nos as histórias? Não?! É que estou a dizê-lo.
ResponderEliminarAbraço
Lidia
Claro que as histórias que eles contam são melhores que as nossas, mas são estas (as que contamos) que puxam pelas deles...
EliminarAbraço natalício
errata: "é que estou sempre a dizê-lo."
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