Som (a bater à porta) - Truz, truz, truz
Eu (perguntando) - Quem é?
Alzheimer (em voz segredada) - Sou eu! Abra, temos que falar!
Eu (abrindo) - Então diga lá, mas não me tome muito tempo!
Alzheimer (com vós rápida, martelada) - Chegou-me aos ouvidos que meu amigo, vai daqui ali e esquece-se, pelo caminho, daquilo que ia lá fazer! Que se esquece de fazer a toma, volta não volta e fica indeciso se já foi tomado ou não o comprimido! Quando vai à retrete esquece-se de puxar o autoclismo! E pior que isso, no outro dia nem sabia onde ficava aquilo onde vai todos os dias...
Eu (interrompendo) - Basta! Chega! Ponha-se já na alheta e saiba, que sou cauteloso com o que como! Carne vermelha, nem vê-la e sigo a dieta mediterrânea! Saiba que uso a cabeça a toda a hora! Saiba que todos os dias escrevo de modo criativo! Que diariamente faço exercício, até em esforço! (e, dizendo isto, bateu-lhe com a porta na tromba)
Minha Alma (sem ser vista e com voz calma) - Mas olha que o gajo tem razão, tens que te por a pau com o Teu Juízo. Fala-lhe nisso!
CAI O PANO
Aplaudo!!! Tens é de continuar a escrever de forma criativa, ou não, que também se pode agilizar a mente num artigo de opinião e caso estejas a tomar vinte e tal medicamentos por dia, que é o meu caso, faz um calendariozinho e vai riscando os que já tomaste. Esse senhor alemão antipático é muito persistente, mas não bate, necessariamente, à porta de todos os representantes da nossa geração. Olha o exemplo do Saramago e de tantos outros que partem bem lúcidos e trabalham até ao último sopro de vida...
ResponderEliminarCoisas que não deves fazer, mas que eu faço - Que bem prega Frei Tomás... - , é começar a escrever ou a ler sem teres despachado os medicamentos todos porque aí, meu amigo, nem um rapaz de 18 anos se safava... embora reconheça que não é muito comum tomarem-se perto de trinta medicamentos diferentes por dia quando se tem 18 anos.
De qualquer forma, continuo a aplaudir o facto de teres fechado a porta nas trombas desse senhor incómodo.
Forte abraço!
Chega a uma altura que todos têm aquelas caixinhas, uma para cada dia da semana, dividida em outras quatro caixinhas que dizem "de manhã, ao almoço, ao jantar, ao deitar". É para sermos organizados, o tal Alzheimer pode não ter nada a ver com o assunto.
EliminarMaria João, querida amiga, ocorrem-me três notas, ao ler o teu comentário:
Eliminar- Primeira: continuar a escrever, já nem é opção, é vício!
- Segunda: se eu tivesse que tomar 30 comprimidos, teria de acrescentar mais um ... para a dor de cabeça
- Terceira: quanto ao senhor incómodo, esteve para levar um valente pontapé no ramo
Abraço forte
Caro Luís, a partir de amanhã, as tomas passam a ser apenas tantas quantos os dedos de uma mão... quanto ao idiota que me bateu à porta, claro que foi inventado
EliminarCaixinhas não servem senão para atrapalhar quando se tomam xaropes, ampolas, carteiras e vários injectáveis. Tenho mesmo que os transformar num gesto automático e, pelo sim, pelo não, colocar alarmes para os injectáveis
EliminarSe ainda te lembras do que esqueceste estás muito bem!
ResponderEliminarAbraço
Isso mesmo! Mas não diria que estou muito bem, pois em mim povoam as mazelas... e que mazelas.
EliminarAbraço
Bater-lhe com a porta na cara foi uma boa ideia. Um escritor está sempre a exercitar a memória. Se esquece alguma coisa é pura distração... Gostei, meu Amigo Rogério.
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Querida amiga, a primeira ideia foi dar-lhe uma sova grossa, mas achei que nem isso merecia (lembro que é este-teatro-da-treta é coisa inventada). E tens razão, por vezes ando mesmo despassarado, é que além da escrita faço intervenção política e também cívica. Meus dias são um lufa-lufa. E quando paro escrevo, como agora está acontecendo...
EliminarUm beijo
Meu caro Rogério
ResponderEliminarQuem tem problemas com o Sr. Alemão não consegue articular com tal perfeição esta escrita criativa que aqui nos trazes, Bravo!! gostei da tua argumentação.
Um abraço militante
Acho que para quem escreve assim, não vejo o tal senhor entrar.
ResponderEliminarEsquecer de algo ou até trocarmos certas coisas, e ir fazer uma tarefa e pelo caminho fazer outra, acontece a todos.
Gostei do texto e acheio-o criativo.
Boa semana e saúde.
:)