08 junho, 2023

ESCREVO A TODO O MOMENTO PILHAS DE RIMAS, E SINTO-ME O CARLOS DOS JORNAIS



Ultimamente acontece-me, é frequente, quando tenho uma palavra em mente em menos de um fósforo logo aparece outra palavra a com elas fazer quadra, ou apenas uma rima. Acontece-me o mesmo com a escrita. Quando deixo, em qualquer lado, um comentário depois deste escrito, verifico que fica um verso.

Lembrei-me, então, do Carlos dos Jornais que, na esquina daquela rua onde ainda adolescente morei (e Saramago também) com a Morais Soares, vendia o Carlos os seus jornais. E que figura era essa? Consultei o Dr. Google para me ajudar e acabei por encontrar. Ora leiam o assim escrito:

"Iniciamos com uma alusão a uma figura peculiar de Lisboa, que durante algumas décadas marcou o quotidiano de todos aqueles que passavam pelas ruas (..)“Carlos dos Jornais”, (cujo nome completo desconhecemos), que conforme o nome indica, vendia jornais e revistas nessa esquina. Mais tarde, segundo conseguimos apurar, terá mesmo aberto um quiosque também em Lisboa, embora desconheçamos se o terá feito na mesma rua. Segundo informações que recolhemos nesta aldeia global, que é a Internet, Carlos dos Jornais, era um homem brincalhão, muito correcto e respeitador. Teria sido apenas mais um comum mortal, se se tivesse apenas limitado pura e simplesmente à venda de jornais e revistas. No entanto, a peculiaridade da sua figura consistia na sua facilidade em dialogar em verso como os seus clientes, através de quadras todas elas improvisadas na hora, muitas vezes até de forma de desgarrada com quem se atrevia a responder às suas quadras.

O que muitos não saberão, tal como nós não o sabíamos até há alguns meses atrás, é que Carlos dos Jornais, devido à sua popularidade a afabilidade, foi convidado para gravar um disco com algumas das suas quadras, certamente preparadas para o efeito. 
Em termos de registo fonográfico, trata-se, sem dúvida de uma interessante recolha, não só da voz e quadras de Carlos dos Jornais, como também da própria ambiência de Lisboa à época da gravação desde disco, que podemos situar, com elevado grau de probabilidade, em 1970. Nele encontramos não só o som das guitarras portuguesas, como também o próprio registo dos transeuntes a comprar jornais ao intérprete do disco e de toda a azáfama matinal típica de uma grande cidade como Lisboa. Os temas abordados por Carlos dos Jornais retratam o Portugal da época, com claras alusões à promessa do fim das barracas em Lisboa, ao insucesso do treinador Meirim (do Belenenses) e, quase totalidade da face B do disco, uma homenagem aos nossos artistas, tais como Hermínia Silva, Tonicha e Raul Solnado.
 
Aliás, em relação a este último Carlos dos Jornais, é peremptório ao invocar a tristeza geral do povo português pelo fim do afamado programa de entretenimento “Zip-Zip”, ao qual dedica a seguinte quadra: “...Ao Solnado, bom rapaz/Oiça bem a minha voz/ Não sabe a falta que faz/ O Zip para todos nós/ Mesmo depois da canseira/ era esta a discussão/ estamos na segunda-feira/ à Zip na televisão/ Era uma noite de arrasa/ dizia o povo, acho bem/ Estava tudo em casa/ Na rua quase ninguém.”

Desconhecemos se Carlos dos Jornais terá sido convidado a gravar mais algum disco. Uma coisa podemos, no entanto, conjecturar: terá Carlos dos Jornais vendido os seus próprios discos no seu quiosque? Provavelmente sim."

Leia tudo aqui e, sobretudo, oiça-lhe a voz

2 comentários:

  1. Meu caro Rogério
    O povo é sábio, e tal qual o nosso António Aleixo, as suas quadras eram Filosofia pura.
    Lembra-me perfeitamente, durante a minha infância no Alentejo das quadras populares vendidas nas feiras e pelas tabernas nas aldeias.
    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Acabas de me dar uma pista para a explicação de como meu avô sabia tantas quadras do popular poeta: meus avós tinham uma loja em Ermidas Sado

      Abraço, meu caro

      Eliminar