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A sala de cozimento onde se inicia todo o processo de fabrico da cerveja |
A SURPRESA E O APRENDIZ
Minha Alma há pouco me perguntava se me lembrava de quem estava, quem me recebera e me deu a descrição detalhada das minhas responsabilidades, seu âmbito e relações funcionais, aos mesmo tempo que circulávamos pelas instalações
A surpresa foi minha, a dele nenhuma. A avaliar pelo seu sorriso largo ele sabia. O reencontro foi um apertado e longo abraço, assim como foi longa a conversa, relembrando tempos e lutas em que participámos juntos na Direcção da Associação de Estudantes do Instituto Industrial de Lisboa a que ele presidia (eu tinha dois pelouros, a secção cultural e o das relações externas).
Diz-me ele, num tom entre a afirmação e a pergunta: - “Foi aquele teu texto no jornal da Associação que fez com que te suspendessem o adiamento da incorporação militar, não foi? Chegaste a ir à guerra?
– “Acho que sim! Para a incorporação compulsiva ter-se-á, também, somado ao facto de ser delegado à RIA onde quase todos eramos simpatizantes do Partido... talvez a exceção fosse a Helena Roseta mais um ou outro... quanto à guerra... fui mobilizado para Angola, onde fui enfermeiro e...”
Ele, interrompendo:
- “Olha, vem mesmo a calhar! Tudo o que fazias ou orientavas, para tratar da saúde ao pessoal, pode agora ser ajustado, em termos de conceito, ao tratar da saúde aos equipamentos. Basta fazer o paralelo; vacina ou anti palúdico não é, nem mais nem menos, que a manutenção preventiva; ferida, de queda ou tiro, passa, numa máquina, a ser a reparação de uma avaria ou seja manutenção curativa...”
Desta vez fui eu a interromper:
- “...e um ataque cardíaco?”
Resposta pronta:
- “Por falta de manutenção, as máquinas também gripam”
Ambos soltámos uma sonora gargalhada, posto que ele comentando que bastava de conversa, ali e naquela altura, lembrando que lhe competia mostrar-me o avanço da montagem da fábrica, para meu enquadramento.
Entrámos numa nave, elevada, e eu fiquei espantado com a beleza daquilo a que chamei “depósitos” que ele imediatamente corrigiu esclarecendo que se tratava de “panelas” e lá foi dizendo que era naquela sala de cozimento que todo o processo de fabrico começava.
Eu, o aprendiz, nunca mais o interromperia no decurso da visita.
Continua