"A congruência da maior parte da gente que tem governado o país é, como se sabe, nula. Dizem hoje uma coisa, amanhã fazem outra; prometem com juras solenes cumprir um programa e antes que o eco das palavras se esbata já estão a fazer o contrário do que prometeram.Isto a gente sabe. O que talvez muitos desconheçam é que estes comportamentos são potenciados e favorecidos pela democracia representativa tal como é praticada nos nossos dias."
No artigo publicado por J. M. Correia Pinto, no seu blogue, e do qual transcrevi a parte inicial, é-nos sugerida uma reflexão sobre o sistema democrático actual. Creio, no entanto e sem retirar qualquer validade àquele texto, que aí se omite uma perspectiva importante: a estrutura do tecido social dos representados no actual sistema, que, não sendo uma abstracção, não poderá ser ignorada nas motivações e consequência da sua intervenção cívica, decorrente do voto e, depois dele, no controlo da execução das politicas sujeitas ao escrutínio eleitoral . Por outras palavras: a destruição do aparelho produtivo, terá quase aniquilado uma classe operária com peso social e politico relevante; terá reduzido o assalariado agrícola à mínima expressão; terá feito quase desaparecer outros sectores onde os laços de relação laboral propiciavam, à semelhança de outras classes, uma exigência mais esclarecida quanto ao desempenho das instituições e poderes políticos. Isto para concluir que, se mudar o sistema e permanecer o actual desequilíbrio da estrutura de classes, dificilmente se encontrarão respostas de equilíbrio democrático e de maior bem estar e paz social. Quando se destroí economicamente um país não só se desenvolvem os conhecidos e vividos factores de crise económica e financeira, também se colocam disfuncionalidades graves no funcionamento da democracia, com todos os riscos e ameaças daí decorrentes.
A democarcia representativa só tem um defeito: os eleitos esquecem-se depressa de que estão ali, não em defesa dos seus interesses próprios, mas em defesa dos interesses de um grupo, de um povo.
ResponderEliminarConcordo com a visão do Rogério.
L.B.
Da análise perfeita que li, retiro a frase que mais me disse;
ResponderEliminar"O “aprofundamento da democracia” pressupõe um poder político popular que controle, sem partilha, o poder económico e seja ideologicamente hegemónico, o que nunca acontecerá se ao inimigo – o capital - forem facultadas as armas de destruição da própria democracia. É essa hegemonia que é preciso conquistar. Sem ela nunca haverá verdadeira democracia.
Beijo
Que palavras tão certeiras!!!
ResponderEliminarGostei de o ler.
ResponderEliminarcvb
o problema de qualquer politica, de qualquer ideologia e para mim o seguinte:
ResponderEliminar" eu nao gosto da mesma musica que tu"
Bjinhos
Paula
E receio...receio pela democracia, pela liberdade...receio que tudo se venha a perder-...
ResponderEliminarBj
Rogério
ResponderEliminarA desilusão sistemática, relativamente ao cumprimento das promessas feitas em campanha política, pelos sucessivos governos, tem afastado o interesse da população pela política e pelas instituições que a deveriam proteger e defender os seus interesses. A pouco e pouco, ( e veja-se pelo crescente aumento da abstenção nas eleições e agora pela diminuição da adesão às greves), as pessoas vão ficando um pouco ao sabor das águas, desalentadas, tristes e enfraquecidas. Antes que o posto de trabalho se perca, antes que os filhos passem fome, o melhor é trabalhar, calar e seguir. Enquanto isso, os timoneiros lá vão, inconscientes de rumo, norte ou propósito colectivo. Os umbigos são grandes e o milho é pouco para tantos pombos.
Democracia representativa? Querem lá saber, de serem a voz de quem já não os afronta. É que os lugares estão sempre garantidos para os mesmos, apenas vão alternando de poleiro.
Um abraço.
Não resisto em a comentar Maria João,
ResponderEliminarA sua referida alienação com a consequente submissão a tantas medidas, nesta vaga de elevada pressão sobre as condições de vida, só se pode explicar por se terem desarticulado as classes que historicamente são as que desenvolvem entre si laços de solidariedade e de resposta colectiva: a classe operária e, de alguma forma, os assalariados agrícolas... O sector de serviços é caracterizado pelas fracas interdependências processuais não se desenvolvendo, por isso, uma consciência e uma cultura de valor colectivo. A classe média não tem consciência de classe, cada pessoa é um ser individualizado e as relações de solidariedade, quando sentidas, são apenas afectivas. Mas não é só a industria que desaparecendo faz desaparecer a intervenção cívica e politica. Por outro lado, a cultura e o ensino retiraram da linguagem corrente palavras que até passaram a estar proscritas. Classes sociais, classe operária, cooperativismo, são palavras perseguidas ou conotadas. Claro que o até aqui dito não explica tudo, há que lhe juntar o que disse. Vivemos um período em que o medo se instala e cada um tende a sobreviver individulmente... Pela importância regressarei ao tema.
Meu caro,
ResponderEliminarÉ do nosso medo que vamos tendo medo. Até quando?
Os exploradores apoiados pelos explorados
ResponderEliminarOs explorados aducicados pelos exploradores
As classes sociais existem
mas falta a consciência
a algumas
Um dia seremos de novo crianças
porque as revoluções
não se fazem com homens tristes
ou apenas de estômagos vazios
A democracia representativa tem muitas limitações na verdade, porque acaba por se deixar envolver com o capital e num sistema economicista como aquele que se vive actualmente a promiscuidade entre o poder económico e político é grande e a liberdade e regras democráticas acabam por ser invertidas e aproveitadas descaradamente a favor das classes instaladas no poder (político/económico), onde muita da comunicação social também está envolvida e assim existe uma democracia que não o é.
ResponderEliminarEntão que fazer?
Somos também um povo muito acomodado, que só reaje in extremis e tarde, sem sentido crítico, pelo que não se vislumbram a curto prazo grandes mudanças. Como diz o Eufrázio falta a consciência. Felizmente conheço jovens que a têm, que saltam para a rua quando é preciso, tenho-os a meu lado e acredito que eles serão o futuro, mas um futuro que lhes custará muito.
Não sei se será por falta de tecido industrial e agrícola que as reacções são apáticas, a classe operária existe, mas está no desemprego, a mão de obra é desviada pelos grandes grupos para países onde é obtida a preços baixos, sem vergonha da exploração do trabalho infantil e de horas escravizantes de trabalho e os que ficam por cá são mais fácilmente manejáveis porque sabem que o que não fizerem outros fazem, até ao dia em que todos se souberem unir.
Mesmo nos serviços o trabalho efectivo é substituído por trabalho precário, até mesmo na saúde ou no ensino, quer no sector particular ou público e é muito fácil substituir pessoas, como se fossem apenas um número, porque há sempre quem se sujeite a ficar por menor preço. Não há conciência de classe, nem solidariedade entre trabalhadores.
Hoje o individualismo e a competição imperam e é impensável ver por exemplo, como aconteceu no meu serviço em 1975, que por uma comissão de 5 trabalhadores suspensa, apenas por defender um feriado de carnaval, que não era obrigatório, todos os outros virem para a porta em sua defesa até que voltaram a ser reintegrados. Eram trabalhadores responsáveis e pelo menos um deles um chefe de Divisão de muitos anos.
Muito haveria a dizer, mas fica para a próxima oportunidade, para não dizer tudo hoje, :)
Beijos
Branca