29 fevereiro, 2012

Baptista Bastos, BrancaMar, Montesquieu e... eu

Não estava a pensar em nada (se tal me é possível) quando hoje lia a crónica de Baptista Bastos. Sempre o faço, às quartas-feiras, único dia da semana em que compro o Diário de Notícias. Lia-o com a atenção que ele merece, até suspender a leitura numa citação de Montesquieu: “Não há desgosto que uma hora de leitura não desvaneça.” Pronto, lá fui eu para outras divagações e, sem aparente ligação, cair na promessa que fizera a BrancaMar. É que o primeiro impulso que tive para lhe acalmar a alma e a incentivar à escrita foi dizer-lhe: minha querida amiga, não desista, não se vá embora, não deixe de escrever. “Seus escritos (e outros) entram na minha hora diária de leitura. Contribuem para que desvaneça desgostos e retempere o ânimo que preciso ter, que precisamos ter." Hesitei, questionando-me se teria eu tanta importância assim para a incentivar a continuar. Achei então argumentar, dando-lhe a ela os argumentos que uso eu próprio para diariamente escrever e manter viva esta conversa. 
Escrevo porque sim, porque gosto das palavras, porque as gosto de alinhar, rimá-las e dar-lhes a energia que por vezes lhes falta, sobretudo às menos usadas ou às mais aviltradas. Escrevo para arrumar as ideias, aprofundar o juízo das coisas e do mundo, nesta insistente, quase teimosa, tarefa de o tentar compreender. Escrevo não só para que me leiam, mas para que eu registe a memória e me espante com o que pensava vir acontecer, depois de, mais tarde, ter acontecido. Escrevo para todos e, assim, também para mim. Escrevo e leio, porque não há escrita que não me obrigue a ir ler. De vez em quando leio um livro, faço como Montesquieu…não ler, por ler. Leio para desvanecer a desesperança. Leio para ser.
Eu, Minha Alma e Meu Contrário (num dia calmo) 
Voltando ao texto de Baptista Bastos, é uma prosa do... caraças.

PS: Já depois de editado BrancaMar me enviou um mail a lembrar onde reside a promessa. É nos comentários a uma Homilia. Nessa.

15 comentários:

  1. Nunca falho uma crónica do BB. São de mais, quer no conteúdo, quer na forma!

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  2. Como sempre, o BB deixa-nos a pensar com crónicas aparentemente simples. Curioso, que também me concentrei na mesma frase, embora por razões diferentes.

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  3. Escreve(m) e escreve(m) muito bem. E eu agradeço que o continue(m) a fazer por muitos anos para deleite meu.

    Bem Haja(m)!

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  4. Leio porque necessito.
    Leio porque gosto.
    Leio porque quero compreender.
    Leio porque quero esquecer.
    Leio porque estou feliz.
    Leio porque uma lágrima me impede de sorrir.
    Leio porque respiro e respiro porque leio.
    Leio.
    Isso é uma das ações mais definitivas da minha vida.
    Leio.
    Um bj querido amigo

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  5. Apreciei o registo do meu amigo BB

    e da Brancamar

    és um tipo atento e generoso

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  6. O Rogério escreve muito. Escreve bem. Escreve com alma.E eu gosto de ler e sentir assim.
    Beijinho

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  7. Amigo Rogério,

    nem sei por onde começar. Começo por Baptista Bastos cuja escrita sempre admirei, primeiro como jornalista e mais tarde como romancista. "A colina de Cristal" foi para mim um relato surpreendente e vivo sobre a dureza dos homens que construíam estradas num outro tempo, num outro regime, uma vida tremendamente dura, quando o asfalto se fazia em bidãos na própria estrada, a escaldar nas mãos dos trabalhadores...e despertou-me para procurar outras obras suas. Eu tinha como vizinho um desses homens e sentia-se por vezes o cheiro do "piche" a ferver.

    Montesqieu, foi outro nome que me deu alegria constar desta página, sempre gostei de filosofia e do "Iluminismo", como de todos os espíritos livres.

    Temos portanto aqui duas companhias de peso e depois de ter passado pelo link que nos deixou do "nosso" Baptista Bastos, aplaudo porque é realmente um texto brilhante.

    Concordo plenamente que "Não há desgosto que uma hora de leitura não desvaneça.", mas por isso mesmo preciso de tempo, para ler também outras coisas.

    Quanto aos seus argumentos seria complicado estar aqui a rebatê-los, primeiro porque quando diz "Hesitei, questionando-me se teria eu tanta importância assim para a incentivar a continuar.", é precisamente essa importância de alguns amigos como o Rogério que me vão mantendo por cá. Antes de passar por esta página acabava de me rir com o seu comentário no sítio da Lídia Borges e tudo isso é muito salutar, a troca, a partilha. Aliás, se algum dia deixar de escrever, nunca deixarei de vos ler, sempre que possível. Há laços que ficam, empatias, afinidades.

    Mas, houve um tempo em que não havia internet, nem blogues, nem redes sociais e eu acho que escrevia muito mais nessa altura e com maior inspiração. Sendo mulher, mãe de dois filhos, profissional, sem qualquer ajuda doméstica neste momento, não tenho argumentos para o contrariar em vários aspectos que focou, mas o meu tempo não abunda, faço mesmo parte como já deve ter percebido daquela classe de profissionais que o governo teima em massacrar, embora não desista também eu de lhes fazer o mesmo, :)

    Sendo a leitura uma fonte de formação e a escrita algo que não pode ser compulsivo e porque não tenho o talento do Rogério não é previsível a frequência com que me poderei manter por aqui, mas por enquanto vou cedendo aos seus argumentos e aos encantos da sua escrita e vou ficando assim em passo um pouco mais lento.

    Para finalizar, quando olho para o título deste post, sinto-me como uma BrancaMar sofucada por dois gigantes, mais parecida com uma BrancaRiacho com duas montanhas nas margens e o Rogério logo a seguir para me salvar da situação, :)

    Agradeço e dou-lhe os parabéns pelo seu dom adivinatório de me ter colocado entre gente de que muito gosto, sinto-me tão bem acompanhada!

    Beijos de boa noite.
    Branca

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  8. Voltei, só para dizer que os argumentos da Gisa me convenceram definitivamente. Descobri-a aqui, um dia destes tinha-te dito a ti Rogério, acho eu, num comentário para tràs que não saberia se a minha pouca disponibilidade para a internet me permitiriam alargar-me mais até chegar a ela, mas que as suas palavras me marcavam, acabei por não resistir e já por lá andei, :) um dia destes.

    Beijos

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  9. "Escrevo para todos e, assim, também para mim. Escrevo e leio, porque não há escrita que não me obrigue a ir ler. De vez em quando leio um livro, faço como Montesquieu…não ler, por ler. Leio para desvanecer a desesperança."

    Consegui uma sintonia rápida com o espírito e a letra desta prosa.

    Li o seu comentário, "companero", lá no "dispersamente" e agradeço a boa intenção e à pergunta posso responder que me parece que vou gostar da companhia, aliás estou a gostar deste seu estilo aberto, desinibido, de escrever para ler e ser lido.

    Vamos a isso.
    Um abraço,

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  10. Eu penso que não poderia exitir sem ler /sem escrever.

    Por isso persevero .

    No entanto, acho exagerada a afirmação do francês: infelizmente, existem desgostos quem a leitura/escrita aliviam


    Bom dia, meu caro

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  11. ERRATA:

    Que nem a leitura e/ou a escrita

    As minhas desculpas

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  12. Eugénio de Andrade dizia que escrevia para adiar a morte...
    Não gosto muito de pensar nas razões por que escrevo. É uma reflexão sempre inconclusiva. Costumo abandoná-la no preciso instante que precede o "para nada".


    Um beijo

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  13. Baptista Bastos é um grande jornalista, um dos nossos maiores.

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  14. Quando já não estiver disponível no sítio do Diário de Notícias, esta crónica de Baptista Bastos pode ser lida em http://sorumbatico.blogspot.com/search/label/BB, juntamente com outras mais. Vale a pena lê-las e meditar sobre elas.

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