Trilogia do meu ser: tentativa, insubordinada, de tentar explicar, somos "o quê?"
Caiu bem, em quem meu leu - julgando porventura tratar-se de figura de estilo - a trilogia de personagens com que me apresento e faço depois desenrolar a narrativa desse meu primeiro livro. É redutor tal interpretação, mas sofrível se comparada aquela outra que toma MEU CONTRÁRIO como um opositor, não sei se ao meu EU se a MINHA ALMA. É ignorância ou distracção não perceber que o que fazemos resulta, em cada acto, da conivência dos três. Mas ainda pior, é tomar o entendimento de que MINHA ALMA é o meu ser espiritual, no sentido metafisico do ser. Nada disso. Se me permitem, se permitem ao autor (em adicional ao seu escrito) aconselhar sobre o melhor entendimento a dar, gostaria que vissem em MINHA ALMA aquela parte de mim que é sensível e sensorial, onde reside a parte substancial dos afectos, embora não a totalidade (somos mais complexos que essa divisão geométrica: dum lado a razão e do outro o sentimento). Outro aspecto: a MINHA ALMA é tangível, localiza-se entre zonas bem definidas do cérebro, e desenvolve-se em tecidos diferentes sendo o mais palpitante um músculo. O músculo do coração. Outra precisão: MINHA ALMA é, por tudo isso, mortal. É até, será, julgo, a primeira a morrer. Na sequência da morte, seguir-se-á MEU CONTRÁRIO e só então EU, que acabarei por morrer com o desgosto de os ver desaparecer... Com estas locubrações contrario meu mestre, que aceitava, sobre o assunto, deixar páginas em branco.
HOMILIA DE HOJE
"A pergunta “quem és tu?” ou “quem sou eu?” tem uma resposta muito fácil: cada um conta a sua vida. A pergunta que não tem resposta é outra: “que sou eu?”. Não “quem” mas sim “quê”. Aquele que se faça essa pergunta irá enfrentar-se com uma página em branco, e não será capaz de escrever uma única palavra."
In José Saramago nas Suas Palavras
Caro Rogério
ResponderEliminarQuando entrei naquela sala vi 3 pessoas que conhecia pessoalmente. Uma delas era o Eufrázio com quem não estava há mais de 20 anos. Lembro a sua intervenção, rápida concisa e apaixonante como só um "artesão de metáforas" sabe fazer. Contou uma linda estória, de como se fez um amigo. O que disse, a forma como o fez e a entrega do manuscrito, foi de facto um dos momentos mais emocionantes, sem menosprezo para os outros intervenientes.
Parece-me que o meu caro conseguiu dar resposta a um enigma com que todos nos defrontamos. O fazer, o ter duvidas se o deve fazer e a parte que justifica e esbate as nossas contradições do dia a dia. Pode-se dizer que essa triologia do " eu o meu contrário e a minha alma" vai fazer "escola".
Um abraço
Rodrigo
Rogério
ResponderEliminarConsegui ler, mas não comentar. Para o fazer teria de pensar... ter cabeça. E ainda não colei a minha.
Se lhe sinto a falta? Às vezes sim, outras não.
Boa semana. Beijo
A aposta vale, meu caro amigo.
ResponderEliminarVou tentar responder à difícil pergunta: "que sou eu?".
Mesmo que me vá enfrentar com uma página em branco, uma única palavra ainda hei-de escrever.
Volto já!
Abraço amigo
ResponderEliminarDivididos e postos lado a lado, assim nus se olharam. Atônitos com a exposição, voltaram-se primeiro contra a aflita plateia e após contra a vexada imagem amalgamada no espelho, única culpada por todo este estrago. Suspiraram complacentes com todos e deixaram-se levar ao sabor da imaginação de quem os quisesse analisar. Agora já era tarde para revides...
ResponderEliminarUm grande bj querido amigo
Ass: talvez uma "samaraguiana"
Quem é o quê? Pergunta o mestre Saramago.
ResponderEliminarDesde que me conheço, só comecei a ter medo quando me fazia esta pergunta... e porquê eu? e o resto???
Quanto ao que dizes sobre a morte, que parte morre por fim, não concordo com a morte da alma.
Podia explicar, mas sei que não é relevante.
Boa semana
Beijo meu
A unidade tripartida da personagem constitui, neste livro, um aspeto de indubitável relevo. São as vozes interiores que medem e ponderam, que analisam e procuram o equilíbrio e a coerência dos gestos.
ResponderEliminarCorpo e alma, razão e coração, inteligência e desejo. Eis a "matéria" de que é feito o homem.
L.B.
Olá Rogério,
ResponderEliminarA primeira coisa em que reparei foi na interessante entrada do blog. Tentei ler o texto do Eufrázio, que adivinho interessante, para também eu daqui aplaudir, o texto e o gesto e também o teu gesto - gestos simples mas grandiosos, de que se fazem as boas amizades.
Quanto à homilia de hoje é muito interessante e leva a uma grande reflexão, concordo com o teu Mestre, por vezes sentimo-nos perante páginas em branco, mas tal como tu não acredito na vida para além da morte, a não ser naquela vida que o amor mantém em nós, ou seja a vida com que mantemos na nossa alma (espaço dos afectos) os nossos mortos.
Belo texto.
Beijos
Amigo Rogério, reli a trilogia do seu ser e encantei-me pela segunda vez... pela primeira vez, penso que também contrariaria o seu mestre... enquanto poeta - julgo eu... - já fui tantas coisas... mas o "tantas coisas" remete-nos, talvez, para o "quem sou eu?"... assim, de repente, sou apenas uma poeta compulsiva ou um ser vivo que teima em explorar as suas poucas capacidades até ao limite das forças. E já não é mau de todo...
ResponderEliminarLamento não ter podido estar presente no lançamento do Almas Que Não Foram Fardadas.
Um abraço :)
A tua homilia, hoje, está particularmente bem construída.Fina análise do der humano. Fabuloso Mestre segues!
ResponderEliminarBj
Não seu se concordo co Saramago neste aspecto.
ResponderEliminarUm abraço
Gostei muito de o ler nesta trilogia... numa só obra, a escrita/pensamento a três.
ResponderEliminarA homilia de hoje, magnifica!
beijinho
cvb