01 outubro, 2018

Universitários hoje! Outros jovens, outros tempos, outras escolas... II

«Se fores obediente e lamberes o chão, podes vir a mandar, quando for a tua vez, e, nessa altura, podes escolher um chão ainda mais sujo, do alto da tua colher de pau. És humilhado, mas depois vingas-te.
Pacheco Pereira, in "A abjecção das praxes"

«Ao fim e ao cabo, a praxe não é um corpo estranho alojado no complexo sistema que forma as nossas elites.»
Rogério Pereira (eu), in "Dicas do Bruno"

«Bateram-se pel' «o dia inicial inteiro e limpo»? Passaram as passas do Algarve por tempos renovados, livres e em progresso? Tiveram-nos, sem dúvida, pelo menos em parte. Ganharam. Mas a «revanche» do miserável Portugalório analfabeto, submisso e mendigo, aí está a instalar-se de ano para ano. A praxe estudantil»
Mário de Carvalho, na sua página

3 comentários:

  1. Eles andem aí, os morcegos disfarçados de estudantes ou vice-versa, querendo convencer-nos de que só humilhando é que conseguem «integrar» (dizem eles) os caloiros. Julgam-se já adultos, mas apenas dão largas aos seus instintos mais baixos e às suas taras mais sádicas. Felizmente nem todos os estudantes são assim, longe disso, mas os que o são conspurcam o bom nome de todos.

    Fui estudante universitário também. Aqui no Porto não havia praxes, a não ser no Orfeão Universitário do Porto, em que os orfeonistas caloiros eram submetidos a uma coisa chamada julgamento. Eu mesmo fui orfeonista também, mas escapei ao meu julgamento por milagre. Comparados com as praxes que por aí se têm visto, os julgamentos do Orfeão eram quase sempre (mas só quase!) inocentes e até ingénuos. E só duravam meia hora ou nem tanto.

    Em Coimbra, porém, o caso mudava de figura. A praxe coimbrã já era uma bestialidade naquele tempo. Por exemplo, um caloiro que fosse apanhado na rua depois do toque da "Cabra" (nome dado ao sino da torre da Universidade de Coimbra, que "berrava" às seis da tarde) estava sujeito a sofrer uma carecada ou, como se dizia, a «sofrer um ataque de caspa metálica». Um desgraçado de um caloiro que precisasse de sair à rua para ir jantar à cantina da Associação Académica ou a uma casa de pasto, corria um sério risco de ficar sem cabelo. Até as raparigas podiam sofrer carecadas, imagine-se!

    Enfim, as praxes são o fascismo no seu "melhor". São uma tentativa de regresso ao «miserável Portugalório analfabeto, submisso e mendigo», como muito bem disse o grande escritor Mário de Carvalho.

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  2. As praxes que existiam em Coimbra, na segunda década do século passado, eram bastante mais inocentes, se bem me lembro do que o meu avô delas contava. Um caloiro mais atrevido que não respeitasse o toque da Cabra, corria o risco de ter de fazer uma serenata a uma árvore, ou uma declaração de amor a um poste...

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  3. Confesso que não pude ver esse vídeo até ao fim. É deplorável!
    Pensar que há um "não" ao alcance de todos para terminar com estas manifestações de cobardia. E, no entanto, não há, entre tantos caloiros, tantos "doutores"quem o use, quem o queira usar. Estranho, não? Exclusão, afirmação, (duvido, sinceramente). A Escola reflete as tendências dos tempos, os vícios do mundo, onde se contam entre outros a desvalorização progressiva do respeito pelo outro, a educação que não traz de casa e devia trazer-se, a consciência dos limites das liberdades. Aquilo a que hoje se chama praxe não é mais do que uma oportunidade consentida dos mais fortes exercerem o poder sobre os mais fracos, por mais perverso que este seja. "Inaceitável", diremos, mas... que temos feito? Quem explica a um filho caloiro que não pode, não deve deixar-se humilhar? Quem lhe dá instrumentos para saber/poder defender-se de situações que não deseja? Quem lembra a um filho "doutor" que tem de se respeitar a ele próprio, antes de tudo o mais. Andam todos tão "ocupados"!

    Lídia

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