31 maio, 2019

Razões para uma tão elevada abstenção - III (O 4º poder corrói os pilares da Democracia?)


Primeiro que nada a resposta à pergunta em título:
O 4º poder corrói os pilares da Democracia?
Corrói sim!

Para quem não esteja sintonizado com esta linguagem e até porque a própria comunicação social a marginaliza, diga-se que ela é mesmo poder. Um poder, o 4º, por vezes superior a todos os outros. A chamada Entidade Reguladora para a Comunicação Social mais parece regulada que reguladora, impotente para intervir ela e todos os outros poderes para limitar a concentração de media em grupos editoriais. Esta concentração compromete o pluralismo.

Formas de comprometer o pluralismo? Há pelo menos duas: uma baseada na "confiança" das chefias de redações onde predominam obedientes jornalistas precários (veja-se o último congresso dos jornalistas); outra, nos critérios bem selectivos de contratação de comentadores, politólogos, na sua grande parte defensores do "centrão"...

Mas não é apenas a percepção da ausência de pluralismo que empurra para a descrença  e, assim, para a abstenção. Deva-se referir o papel alienante, como bem aqui se anota
«Agora com mais calma. Não querendo ser abusivo. Peço o favor de considerarem friamente. Ligo a televisão e sob um debate político correm em rodapé notícias sobre futebol. No rescaldo das eleições, as televisões oferecem debates do mundo futebolista sobre fulano que não cumprimentou Beltrano. O jogo da bola, omnipresente, foi promovido a primeiro plano do interesse nacional.» Mário de Carvalho, aqui
Se antes a televisão manipulava pelas imagens, hoje distorce a realidade pela narrativa... e o "euísmo" substituiu a "achismo", né?

30 maio, 2019

Razões para uma tão elevada abstenção - II (Falha a educação para a cidadania?)

O texto acima é um print screen de parte da acta da Assembleia de Freguesia da minha União de Freguesias. Saudava eu, então (Janeiro de 2017), a presença de cerca de duas dezenas de jovens sentados no espaço destinado ao público.

Aquela presença de jovens do ensino secundário, nunca antes tinha acontecido... e não voltou a acontecer...

Resolvi sondar todos os meus camaradas com assento nas Assembleias das 5 freguesias do concelho, a resposta foi, resumidamente, "nunca!". E é um nunca extensivo a 4 mandatos. Isto é, em 12 anos x 5 freguesias, apenas uma única vez aquilo que devia ser rotina.

Conclusão: Os pilares da democracia, a composição e correspondente distribuição de poderes do Estado e o funcionamento dos órgãos não são explicados nas escolas. 
Assim, grassa a ignorância e...
quem ignora não estima. 
Fui espreitar o programa curricular, na área da cidadania, do ensino secundário. Está tudo explicado! Tá lá tudo, tanto que, por demasiado, só se pode esperar como resultado... 
...o que se vem registando!

    29 maio, 2019

    Razões para uma tão elevada abstenção - I


    Diz um comentador-analista encartado, depois de ter situado que Portugal figura no top 4 dos países abstencionistas, que a explicação para a altíssima abstenção de hoje é pouco dignificante, mas relativamente fácil de identificar: falta de civismo e cultura de desresponsabilização individual. 

    Admitindo que tenha razão, terá dito o óbvio que é aquilo que os comentadores-analistas encartados sabem dizer quando são chamados a dizer qualquer coisa. Teria sido útil se tivesse alertado para a tendência e aberto a discussão questionando: a que se deve a falta de civismo expresso pela alienação do uso da cidadania? Porquê a crescente tendência para a desresponsabilização do cidadão?

    Posts seguintes:
    - Falha a educação para a cidadania?
    - O 4º poder corrói os pilares da Democracia?
    - Os políticos são mesmo todos iguais? 

    28 maio, 2019

    SÉRGIO MORO NOVAMENTE EM LISBOA

    Protestos contra a presença de Sérgio Moro/Foto da LUSA
    Enquanto juiz, foi Sérgio Moro quem mandou prender o candidato que seguia à frente nas sondagens, Lula da Silva, o que facilitou, e muito, a vitória da extrema-direita. O mesmo juiz que interrompeu férias para evitar a libertação de Lula, o mesmo que, na última semana da primeira volta das eleições, decidiu libertar as declarações da delação premiada do ex-ministro petista Antonio Palocci, que claramente afectavam a candidatura de Fernando Haddad.

    Em Novembro de 2018 aceitou integrar o Governo do recém-eleito Jair Bolsonaro para liderar o Ministério da Justiça e da Segurança Pública.

    Hoje, no curto espaço de um mês, Sérgio Moro está novamente em Portugal desta vez para participar na 10.ª edição das Conferências do Estoril, as quais contam com o alto patrocínio do Presidente da República Portuguesa.

    Sobre tudo isto escreve José Manuel Correia Pinto, no seu POLITEIA:
    A presença de Sérgio Moro em Portugal é um insulto à democracia portuguesa, é um ataque ao Estado de Direito democrático e uma ofensa gratuita e desnecessária ao Presidente Luís Inácio Lula da Silva.
    Se é óbvio pela história destas conferências que os seus o organizadores sempre privilegiaram nos convites formulados o que de mais reaccionário havia no mundo ocidental, apresentado com vestes de grande modernidade, não deixa de ser espantoso que Sua Excelência o Presidente da República que, por palavras, se diz tão preocupado com o “populismo” empreste o seu nome e o seu alto cargo à pregação desse mesmo populismo sobre um tema que, dada a sua complexidade e o clima emocional que gera, é, num país como Portugal, o que mais, ou porventura o único, se presta à propagação desse mesmo populismo.

    27 maio, 2019

    As eleições, a apropriação do trabalho e o resultado


    Ontem, domingo, foi, como sempre acontece, uma lufa-lufa, uma corrida, um estar em todo o lado para onde era chamado. 
    Primeiro, levantar cedinho para chegar a tempo. Depois participar na preparação da Mesa e a pedido do presidente (um PSD que me considerou mais experiente) esclarecer  um ponto ou outro e alguns avisos à navegação, a que foi dada devida atenção. De seguida acudir a Mesa da frente que já perto da abertura da Assembleia de Voto não tinha ainda Presidente e estavam todos (responsavelmente) assustados pela reconhecida inexperiência. "Estamos todos aqui pela primeira vez" dizia a Suplente da função ausente com ar quase desesperado. 
    De pronto ensaiei uma simulação, esclarecendo as funções básicas, repetindo as dicas e alertas que já antes tinha dado à Mesa, no outro lado. Aos funcionários da Câmara e da Junta comuniquei que se não houvesse alguém para avançar a cobrir a falta eu lhes daria um nome. E dei. Depois liguei à camarada e de pronto confirmou poder estar no posto, o que aconteceu "em menos de um fósforo".
    O dia correu como era necessário que corresse. Entre sorrisos e muita entreajuda. De quando em quando repetia que no fim os cadernos terão de bater certos, e os escrutinadores iam acautelando isso.
    À hora aprazada, fechada a sala, as operações de contagem, escrituração das actas, embalados e lacrados tudo em separado como manda a lei. Tudo acabado certo e arrumado, ainda não eram oito.
    À saída, estava a eleita da Junta a saudar-nos:
    "Parabéns, foram os primeiros a acabar! Ou não fosse o José Luís o Presidente!"
    Meu Contrário fez um oh entre o espanto e a raiva e Minha Alma segredou-me calma: 
    "Uns trabalham outros agregam os louros. O reconhecimento imerecido da ignorância é filho
    ...e os votos apurados rimam com isso"


    26 maio, 2019

    Face aos resultados... ouvimos dizer que estás cansado. Ouvimos dizer que estás cansada. Que a raiva e a desilução vos secou por dentro, que não vos apetece fazer nada...



    Ouvimos dizer que estás cansado
    «Ouvimos dizer que estás arrasado.
    Que já não podes andar de cá para lá.
    Que estás muito cansado.
    Que já não és capaz de aprender.
    Que estás liquidado.
    Não se pode exigir de ti que faças mais.

    Pois fica sabendo: nós exigimo-lo.
    Se estiveres cansado e adormeceres
    ninguém te acordará,
    nem dirá:
    levanta-te, está aqui a comida.
    Porque é que a comida havia de estar ali?

    Se não podes andar de cá para lá, ficarás estendido.
    Ninguém te irá buscar e dizer:
    houve uma Revolução. As fábricas esperam por ti.
    Porque é que havia de haver uma revolução?
    Quando estiveres morto virão
    enterrar-te, quer tu sejas ou não culpado
    da tua morte.

    Tu dizes: que já lutaste muito tempo
    que já não podes lutar mais.
    Se já não podes lutar mais, serás
    destruído.

    Dizes tu: que esperaste muito tempo.
    Que já não podes ter esperanças.
    Que esperavas tu? Que a luta fosse fácil?
    Não é esse o caso: a nossa situação é pior que tu julgavas.

    É assim: se não levarmos a cabo o sobre-humano,
    estamos perdidos.
    Se não podermos fazer o que ninguém de nós pode
    exigir, afundar-nos-emos.
    Os nossos inimigos só esperam que nós nos cansemos.
    Quando a luta é mais encarniçada é que os lutadores
    estão mais cansados.
    Os lutadores que estão cansados de mais,
    perdem a batalha.»

    Bertold Brecht

    25 maio, 2019

    Leve a sua reflexão até à boca da urna!


    ...parafraseando o citado apetece lembrar:
    é insanidade a maioria continuar votando do mesmo modo
    e esperar que a realidade mude

    24 maio, 2019

    Porque voto em quem voto? Tudo explicado pela Ana Margarida de Carvalho e... por um gráfico

    A Ana* explica (aqui) tudo, e o gráfico ilustra, complementa, reforça...

    * Ana Margarida Carvalho, mandatária da candidatura da CDU, é uma escritora e jornalista portuguesa. Única a receber sucessivamente o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores por cada uma das suas três obras de ficção (dois romances e um livro de contos).

    23 maio, 2019

    Porque voto em quem voto? Explico tudo, em menos de um minuto...



    Ou, então, tudo mais explicado em formato 
    um pouco
    mais alongado
    ... e ainda, num frente-a-frente, 
    que tenho bem presente

    Chico, da Guerra Colonial ao Fado Tropical


    «123 – Novas amizades. – Era já noite e ninguém nas ruas. Caminhava batendo os passos para sentir-me em companhia de mim próprio. Ia de não sei onde para lado nenhum, fardado com a farda do Exército português, com a boina de cavalaria a ocupar-me as mãos. Passeava apenas, adiando o sono. Atravessei um denso jardim e, ao longe, oiço o dedilhar de uma guitarra em acordes indecisos. Fui andando nesse sentido. À medida que avançava a melodia se ia construindo e o som ganhava nitidez. Mesmo antes de a voz aparecer, reconheci a composição de Chico Buarque. Depois a voz deu-me a canção que quase sempre trazia no coração e que frequentemente me vinha à mente em dias em que acordava com canções dentro de mim.
    Aproximei-me sem qualquer cuidado em reservar sinais da minha presença e fiquei surpreso à paragem brusca do cantar. Reagi retomando o verso interrompido:
    «Esperando, esperando, esperando, esperando o sol, esperando o trem, esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem…»
    Sorri para o grupo. O que cantava, mulato muito claro estendeu-me a mão sorridente e julgo que aliviado. Os outros dois, um negro, o outro branco, acolheram-me assim também dessa maneira. Não falámos e o mulato claro retomou a canção até todas as vozes que ali estavam se juntarem num coro com o sotaque devido:

    Esperando, esperando,
    esperando, esperando o sol
    Esperando o trem,
    esperando aumento para o mês que vem
    Esperando um filho p´ra esperar também
    Esperando a festa, esperando a sorte,
    esperando a morte, esperando o Norte
    Esperando o dia de esperar ninguém,
    esperando enfim, nada mais além
    Da esperança aflita,
    bendita,
    infinita do apito de um trem
    Pedro pedreiro pedreiro esperando
    Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
    Que já vem...
    Que já vem
    Que já vem
    Que já vem.
     (…)

    O resto foram mais canções e prolongada cavaqueira sobre a cultura brasileira, a negritude, a miscigenação, a guerra colonial, a escravidão, a alma deles e a minha. Falámos da minha alma lusa, do meu coração celta e do meu sangue mouro.
    Foi nessa noite, onde as canções romperam as couraças que protegem o pensamento perseguido e a filosofia proscrita, que se geraram laços de amizade e cumplicidade que me iriam abrir a porta a outras relações, entrando na intimidade da cidade.»

    CAPÍTULO VII

    EM NOVA LISBOA (HUAMBO)

    21 maio, 2019

    A minha sondagem, depois do último debate...

    A Católica é reputada em estudos de... mercado. O mercado da opinião não lhe é excepção. A imprensa é cliente importante e atenta. Quando determinada tendência cresce, pimba!, a imprensa encomenda. Encomenda para saber orientar o que deve meter em primeira página, como deve criar sobressaltos e casos ou produzir omissões. É assim que tem acontecido. E tem assim funcionado.
    Desde cedo percebi que tinha que concorrer com as minhas sondagens e fui-as fazendo utilizando sempre a mesma base e o mesmo modelo de dimensionamento das classes sociais que a Marktest segue e, assim, fui a correr para a rua a saber qual o sentido de voto, depois do debate de ontem...
    I
    Vejamos os resultados e a sua análise:
    1. As classes A e B, cerca de 17,5% do eleitorado, estão mais radiantes que antes. Confiam piamente na capacidade dos politólogos, comentadores e outros estupores.
    2. A classe C (C1, 24,9% + C2, 31%) andam numa roda vida e, tal como nas sondagens anteriores, a coisa anda distribuída entre os mesmos de sempre. Lêem programas, declarações, insultos, promessas e sermões e não perdem uma só cena do wrestling que passa nas televisões. Passam o tempo em aritmética, não na da economia nacional nem sequer na caseira. Embora tivessem abanado com o desafio do João Ferreira
    3. A classe D, 26,7% continua à rasca mas é firme em não aceitar esta situação. Uns até falam na necessidade do tal susto de que falava Saramago... mas bem podiam ir votar na CDU

    20 maio, 2019

    Manuel Veiga, estive lá!


    Obviamente, estive lá. Foi no sábado passado, à mesma hora em que algo acontecia num outro lado. Mas como o futebol é tão só e apenas a coisa mais importante de entre aquelas que não têm importância nenhuma... fui dar-lhe um abraço, comprar-lhe o livro e cobrar-lhe um sorriso. Fica na contracapa o poema, o primeiro a ser lido:
    ARGILA DO SONHO...

    Neste arfar dos homens um destino mudo.
    Suspenso. Como as labaredas de um incêndio.
    Pressentido apenas no voo inesperado
    Dos insectos. E no delírio do restolho.

    Somos o sopro que fecunda o fogo. Elos de um percurso
    Que os ventos traçam. E de que os deuses zombam...

    E, no entanto, nesta ardência da vontade (que se expande)
    Perdura uma febre e uma surda espera.
    Como se a Festa de outrora
    Mais que festa fosse aurora...

    Ou uma palavra nova. A despontar no léxico
    E na gramática do Mundo...
    Manuel Veiga, in Perfil dos Dias

    19 maio, 2019

    Dominical liturgia [citando Sophia] - 18

     

    Quando numa viagem, ao contá-la, falamos em encruzilhadas é mais que certo estarmos a fazer uma metáfora. A viagem, pode ser a vida e as encruzilhadas podem ser os pontos (situações e os contextos em que ocorrem) onde fazemos opções. Nesse sentido, e porque teremos de fazer opções no próximo Domingo, ocorre-me o conto "A Viagem", de Sophia. Devem lê-lo. Primeiro, porque é belo. Segundo por lhe dá orientação de voto.
    E cito:
    «Através dos vidros, as coisas fugiam para trás. As casas, as pontes, as serras, as aldeias, as árvores e os rios fugiam e pareciam devorados sucessivamente. Era como se a própria estrada os engolisse.
    Surgiu uma encruzilhada. Aí viraram à direita. E seguiram.
    - Devemos estar a chegar - disse o homem.
    E continuaram.
    Árvores, campos, casas, pontes, serras, rios, fugiam para trás, escorregavam para longe. A mulher olhou inquieta em sua volta e disse:
    - Devemos estar enganados. Devemos ter vindo por um caminho errado.
    - Deve ter sido na encruzilhada - disse o homem, parando o carro...» E mais adiante, escreve Sophia:
    - Estamos a perder-nos cada vez mais - disse a mulher.
    - Mas onde há outro caminho? - perguntou o homem.
    E parou o carro.
    À esquerda havia uma grande planície vazia; à direita uma colina coberta de árvores.
    - Vamos subir ao alto da colina - disse o homem. ­
    De lá devem avistar-se todos os caminhos em redor.
    Subiram ao alto da colina e não avistaram estradas...
    Não sei quantos parágrafos depois
    - Vamos depressa - disse o homem. - Vem aí noite e ainda não encontrámos o caminho.
    E foram quase correndo.
    Entre as sombras do crepúsculo ouviram de repente vozes.
    - Gente! - exclamou o homem. - Estamos salvos! - Salvos? - perguntou a mulher.
    E de novo se ouviram vozes:
    - Estão para aquele lado - disse a mulher, apontando para a esquerda.
    - Não, estão para além - disse o homem, apontando para a direita.
    O homem agarrou a mão da mulher e correram os dois para a direita.
    Mas à medida que iam correndo, as vozes iam-se tornando-se mais distantes.
    - Vão mais depressa do que nós! - queixou-se a mulher.
    - Mas - respondeu o homem - se conseguirmos ao menos seguir a direcção que levam estaremos salvos. Assim foram, escutando e correndo, enquanto as sombras do crepúsculo cresciam. Até que as vozes deixaram de se ouvir e a noite caiu espessa e cerrada.
    E, perto do fim do conto
    Cheios de esperança, avançaram para o espaço descoberto, mas, saindo do arvoredo, encontraram à sua frente um abismo.
    Debruçados espreitaram. Porém, à luz das estrelas nada viam diante de si senão um poço de escuridão, enquanto um frio de mármore lhes tocava a cara.
    - É um precipício - disse o homem. - A terra está separada em nossa frente. Não podemos dar nem sequer mais um passo.
    - Olha! - respondeu a mulher.
    E apontou um estreito carreiro que seguia rente ao abismo. Tinha à esquerda uma alta arriba de pedra e à direita o vazio.
    O conto termina em angustiado chamamento...
    depois de um quadro claro
    de um lado, o esquerdo, uma arriba de difícil escalada
    do outro, o direito, o vazio que é menos que nada

    18 maio, 2019

    Gaza-Visão


    Os palestinos fizeram "festival alternativo" (decorre a votação sobre a Euro-Visão) enquanto José Goulão, escreveu isto:
    O que está em curso há mais de setenta anos contra o povo palestiniano é um genocídio. Bárbaro. Impune. Ignorado. Branqueado por uma “comunidade internacional” que repudia o próprio direito pelo qual deveria guiar-se; e por uma comunicação social vesga e totalitária que tomou conscientemente o partido dos genocidas, pelo que chega ao comportamento perverso de acusar as vítimas de práticas terroristas.

    17 maio, 2019

    Poesia (uma por dia) - 96

    COISA

    Havia um linguista consagrado,
    na rua onde morava,
    que abominava a palavra “coisa”.
    Dizia cada coisa da palavra coisa!
    Dizia, por exemplo, que “coisa”
    designa substância e como tal tem nome:
    pedra, nuvem, árvore…
    Logo a pedra, revoltada…
    que, também ela, tem nome:
    granito, xisto, ardósia…
    e logo o granito ameaçador:
    pois que seu apelido, 
    e nomes próprios:
    amarelo capri, giallo antico, arabesco…
    e a nuvem… cirro, cúmulos, nimbus...
    e a árvore…

    E tão convincente foi a argumentação
    que nunca mais a coisa foi coisa,
    e passou a ser, quase sempre,
    a nomeação exata
    do inominável.
    Que coisa!...
    Lídia Borges

    16 maio, 2019

    A noticia do dia: ainda há jornalistas assim!

    Roubei o palhaço ao "The Braganza Mothers"
    A noticia do dia: ainda há jornalistas assim:
    «Um exército de comentadores, jornalistas, economistas e políticos rasga as vestes pela falta de respeito de Joe Berardo, pela desfaçatez de Joe Berardo, pela petulância de Joe Berardo, pelo riso alarve de Joe Berardo.

    E o que é que Joe Berardo, tal como Ricardo Salgado, tal como Zeinal Bava, tal como tantos outros que passaram pelas várias comissões de inquérito que já escalpelizaram os vários escândalos financeiros do país, acabaram por tornar claro nas declarações que fizeram aos deputados da Nação? É que aquilo que agora lhes é apontado como condenável e criticável foi, simplesmente, a normalidade do funcionamento do regime: foi a normalidade do regime político/jornalístico, foi a normalidade do regime económico/financeiro e foi a normalidade do regime jurídico/legislativo.

    Quando Joe Berardo responde “perguntem aos bancos…” à questão sobre como conseguiu receber milhões de euros em créditos sem ter de entregar garantias, está a explicar aos deputados como era a normalidade do funcionamento do regime económico/financeiro.

    Quando Ricardo Salgado justificou com um parecer de três reputados juristas a legalidade do recebimento de 14 milhões de euros a título de “liberalidade” de um empresário agradecido, estava a demonstrar ao país como era a normalidade do funcionamento do regime jurídico/legislativo.
    Quando Ramalho Eanes e Jorge Sampaio condecoraram Joe Berardo; quando Cavaco Silva condecorou Zeinal Bava; quando a maioria dos políticos e tantos jornalistas portugueses de economia e política, com bravas exceções (que as houve e, a alguns, prejudicou-lhes mesmo as carreiras) disseram e escreveram, anos e anos a fio, toneladas de elogios a estas pessoas; quando competiram num frenesim de bajulice a estas pessoas; quando esconderam as notícias negativas, mesmo as mais insignificantes, sobre estas pessoas; estava a decorrer em velocidade de cruzeiro a normalidade do funcionamento do regime político/jornalístico.
    A direita adora dizer que são filhos dos desmandos do antigo primeiro-ministro, suspeito de corrupção, José Sócrates, os escândalos que levaram Joe Berardo a ir pavonear graçolas ao parlamento, Ricardo Salgado a altivar-se ofendido pelas suspeitas dos deputados e Zeinal Bava a magicar graves falhas de memória durante o interrogatório da comissão de inquérito. É mentira.

    15 maio, 2019

    Sondagens e o destino dos indecisos

     
    São poucas as sondagens que separam os indecisos dos que não quiseram responder. 
    Mas há (pelo) uma  que o faz, e são XX%. 
    "Alto aí", diz-me Minha Alma, e continua: "supõe tu que a grande parte destas indecisões são ténues desencontros de pássaros? Nesse caso é ainda muito incerto o resultado, e tudo pode acontecer!"

    Não respondi a Minha Alma, limitei-me a mandar as sondagens à merda
    E que bem que fiz...

    14 maio, 2019

    Euro_visão


    Houve em 1984 uma canção, no limiar da adesão.
    No ano seguinte foi assinada a adesão e as canções, com uma outra (digna) excepção,
    foram caindo, caindo, caindo...
    Não sei se há ou não coincidências...
    mas são coincidentes as aparências...

    Houve em 1984 uma canção
    Às vezes é no meio do silêncio
    Que descubro o amor em teu olhar
    É uma pedra
    É um grito
    Que nasce em qualquer lugar
    Às vezes é no meio de tanta gente
    Que descubro afinal aquilo que sou
    Sou um grito
    Ou sou uma pedra
    De um altar aonde não estou
    Às vezes sou o tempo que tarda em passar
    E aquilo em que ninguém quer acreditar
    Às vezes sou também
    Um sim alegre
    Ou um triste não
    E troco a minha vida por um dia de ilusão
    E troco a minha vida por um dia de ilusão

    Às vezes é no meio do silêncio
    Que descubro as palavras por dizer
    É uma pedra
    Ou é um grito
    De um amor por acontecer
    Às vezes é no meio de tanta gente
    Que descubro afinal p'ra onde vou
    E esta pedra
    E este grito
    São a história d'aquilo que sou
    Às vezes sou o tempo que tarda em passar
    E aquilo em que ninguém quer acreditar
    Às vezes sou também
    Um sim alegre
    Ou um triste não
    E troco a minha vida por um dia de ilusão
    E troco a minha vida por um dia de ilusão

    Às vezes sou o tempo que tarda em passar
    E aquilo em que ninguém quer acreditar
    Às vezes sou também
    Um sim alegre
    Ou um triste nãoV E troco a minha vida por um dia de ilusão
    E troco a minha vida por um dia de ilusão

    Maria Guinot - 1984

    13 maio, 2019

    É verdade, (também eu) entro na campanha! - II


    Até que enfim que fico na fotografia (o que há muito não acontecia, dado a que sou normalmente eu o fotografo)... Numa sala a que tiveram de ser acrescentados lugares para acolher todos os quiseram estar, as primeiras palavras foram as de Manuel da Fonseca e Armindo Rodrigues, pela voz bem colocada de André Levy, que em dia de aniversário teve a generosidade de ser ele a oferecer ao colectivo a declamação de poemas daqueles e um de sua autoria. Este, assim:
    Sou europeu, pois sinto-me
    produto de uma longa história
    de tribos e reinados
    mistura de populações
    Guerras e pogroms
    Cruzadas, inquisições
    descobertas e conquistas
    estados e nações
    De belas paisagens e culinárias
    Gente de muitas feições
    E tantas tantas línguas
    culturas e tradições
    cantares e pensares
    De druidas a sacristões
    de Aristóteles a José Socrates
    e mais sábios e cabrões
    Mas hoje Roma, Schengen
    Maastricht, Amesterdão
    Bruxelas, Nice, Lisboa
    Não são paragens num circuito turístico
    Pelo continente
    São actos de rendição
    momentos em que ao nosso país
    mistura de carne, terra e mar
    foi levado o que de mais rico
    traz ao mundo e tem para dar
    E querem tirar-nos a nossa voz
    O nosso querer
    o nosso poder de decisão.
    Mas a tal tamanho roubo
    Eu só posso dizer: não.
    Por isso não sou união europeu
    sou patriota e português.
    Mas não me confundam com um nacionalista,
    xenófobo, racista.
    Quero o melhor para o meu povo
    E sou internacionalista.
    Porque razão havia eu de pensar
    que esta ou aquela nação
    é melhor ou pior
    mais gorda, esperta
    branca, pernalta
    mais valente ou imortal.
    Eu ser português foi um acaso.
    Mas é neste canto do mundo
    Onde tenho raízes
    Que defendo o património humano e material
    Histórico e cultural
    Do nosso povo,
    De qualquer povo
    De todos os povos, por igual.

    André Levy

    12 maio, 2019

    Dominical liturgia [citando Sophia] - 17

      Há nos poemas de Sophia uma actualidade que registo. Parece interveniente. Parece que se cola a valores a defender aqui e agora. Parece...


    As Pessoas Sensíveis

    As pessoas sensíveis não são capazes
    De matar galinhas
    Porém são capazes
    De comer galinhas

    O dinheiro cheira a pobre e cheira
    À roupa do seu corpo
    Aquela roupa
    Que depois da chuva secou sobre o corpo
    Porque não tinham outra
    O dinheiro cheira a pobre e cheira
    A roupa
    Que depois do suor não foi lavada
    Porque não tinham outra

    «Ganharás o pão com o suor do teu rosto»
    Assim nos foi imposto
    E não:
    «Com o suor dos outros ganharás o pão»

    Ó vendilhões do templo
    Ó construtores
    Das grandes estátuas balofas e pesadas
    Ó cheios de devoção e de proveito

    Perdoai-lhes Senhor
    Porque eles sabem o que fazem

                                                            (in Livro Sexto, 1962)
    A Forma Justa 
    Sei que seria possível construir o mundo justo
    As cidades poderiam ser claras e lavadas
    Pelo canto dos espaços e das fontes
    (...)
    Sei que seria possível construir a forma justa
     De uma cidade humana que fosse
    Fiel à perfeição do universo
     (...)
    (in O Nome das Coisas)

    11 maio, 2019

    Venezuela e o que (não) se diz dela! - X

    A RTP, submissa à condição de canal noticioso do tal autoproclamado "coiso", dá conta que o dito cujo terá pedido aos Estados Unidos para que estejam prontos para colaborar com forças armas venezuelanas de forma a derrubar Nicolás Maduro. O tal autoproclamado "coiso", cito, «garantiu que tem o apoio de mais de 80% dos militares e defendeu que só não há mais apoios porque o regime está a instaurar o terror no país».

    Entretanto, outras fontes, dão conta de que o tal apregoado terror não impede de o  «Plan Vuelta a la Patria» registar já mais regressos à Venezuela do que os venezuelanos mobilizados pelo "coiso" para as manifestações de hoje, em Caracas.

    Outras fontes? «Plan de Vuelta a la Patria»? Qué qué isso?
    tudo aqui, é só ler. 


    09 maio, 2019

    O rio e o voto


    Um rio...
    Um rio é um rio, e parece estar tudo dito
    Acrescentar que tem de ter
    uma nascente e margens, para entre elas correr ,
    parece pura perda de tempo,
    coisa de quem não tem onde ocupar o pensamento
    Não é verdade
    Falava um poeta sobre o comportamento das águas
    quando esmagadas pela pressão violenta das margens
    Então falemos nós dos diques de palavras ponte-agudas
    escolhidas a dedo de entre as que metem medo
    para suster o livre curso das águas
    nada mais fazendo que retardar o destino
    do rio, ainda fraco, ainda menino
    Venham as primeiras chuvas que o façam crescer
    e o poema, sabe-mo-lo todos nós,
    percorrerá o sentido inevitável da foz
    Rogério Pereira
    Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento.
    Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.
    Bertold Brecht
    O voto é a arma do povo
    Disse Alguém
    Imagem retirada daqui

    07 maio, 2019

    Venezuela e o que (não) se diz dela! - IX

    PORTUGAL PARTICIPA NO CONFISCO DE BENS À VENEZUELA


    «O governo da República Portuguesa está envolvido, directa e indirectamente, na apropriação ilegal de pelo menos três mil milhões de euros de bens públicos da Venezuela a que o Estado venezuelano está impedido de recorrer para comprar medicamentos, alimentos e outros produtos de primeira necessidade para a sobrevivência da população do país. Dessa verba, 1359 milhões de dólares correspondem ao valor do ouro de Caracas extorquido pelo Banco de Inglaterra, com anuência dos países da União Europeia; e 1543 milhões de euros é a fatia de dinheiro confiscada pelo Novo Banco, uma entidade nacional que foi salva com dinheiro extraído dos bolsos dos portugueses e depois oferecida a um fundo abutre norte-americano.»

    06 maio, 2019

    António Costa, o seu Bobi e a promessa feita ao meu genro...

    «António Costa entendeu passear uma escova de dentes na Assembleia da República e as direitas tresmalhadas perguntaram-lhe: 
    Está a passear o seu bóbi?
    Costa respondeu
    - não estão a ver que é uma escova de dentes? 
    Já nos passos perdidos olhou para a escova de dentes e disse:
    Anda Bóbi, conseguimos enganar as direitas tresmalhadas»
    in O Puma
    Agora, após a "anedota" (com aspas), o pagamento da promessa ao meu genro:

    05 maio, 2019

    Dominical liturgia [citando Sophia] - 16

    Sophia, com três dos cinco filhos...

    "Mãe distraída, talvez mesmo desatenta, Sophia deixava as ralações mundanas com vestuários e refeições para as criadas, encarregadas de levar as crianças à escola para que pudesse dormir até tarde. De tal forma que era comum ouvir Luísa, a empregada minhota de sempre, alardear com ironia a falta que fazia à família: «Se não fosse eu, nesta casa comiam-se versos.»", lê-se no Observador.

    Noutro texto, a filha, refere-se à mãe em termos que confirma tal leitura, “Por um lado, fascinava-me, introduzia qualquer coisa de luminoso na vida. Por outro, sentia falta de ter uma mãe ‘de todos os dias’”

    Em tudo isso lido, é omisso qualquer nota ou comentário sobre a vasta obra que Sophia destinou às crianças. Obra que testemunhava, ela própria, o imenso carinho e respeito que nutria por elas.

    Acabo de adoptar Sophia como minha mãe adoptiva...   

    04 maio, 2019

    «Partilhar a memória é uma forma de evitar que o passado se repita»


    Recebi da presidente da Associação, de que sou também dirigente, um e-mail que transcrevo na integra. Com vaidade o faço:
    «Termina hoje a iniciativa "25 de Abril- Somos a memória que temos" levada a cabo pela nossa Associação, entre 22 de Abril e 4 de Maio, e dela cumpre fazer um balanço.

    Como planeado:
    • Executaram-se, com a participação dos alunos do Centro Qualifica e  da ES. Sebastião e Silva, cerca de 100 telas alusivas à data. As telas decoraram o Jardim de Stº Amaro de Oeiras, as ruas próximas da nossa sede e o Passeio Vitorino Nemésio;
    • Executaram-se 15 telas de grande dimensão e foram montadas três exposições documentais nas Escolas que connosco se associaram na iniciativa;
    • Foram realizadas sessões de debate com os alunos das escolas, as quais registaram viva participação e um número assinalável de presenças:
    - Centro Qualifica/ES. Luís de Freitas Branco (cerca de 150 presenças)
    - ES Quinta do Marquês (cerca de 90 presenças)
    - ES Sebastião e Silva (cerca de 40 presenças)
    • Foram oferecidos livros às Bibliotecas daquelas escolas (junto se remete, em formato PDF, um exemplar do livro "Almas que não foram fardadas", memórias da Guerra Colonial, da autoria de Rogério Pereira, edição da EMACO)
    • Foi realizada recolha de imagens e produzido o video que está sendo divulgado na página do FB da "Desenhando Sonhos" (ver aqui )
    À CMO, à Junta de Freguesia da UFOPAC, às Escolas participantes no projecto, ao Centro Qualifica, aos alunos e professores e a todos os que associaram a esta memorável iniciativa, registem os nossos melhores agradecimentos.

    Atentamente,

    Olívia Matos
    (Presidente da Direcção)»

    03 maio, 2019

    Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, para que ninguém esqueça...


    Se não fosse a CGTP nem me ocorreria que pudesse haver tal dia. No título, figura um apelo ao não esquecimento. Um só, pois o «lápis azul» da censura salazarenta hoje não incomoda. A não memória, aquilo que preocupa, a memória que se perde, é recente. A imagem é deste ano e reporta a omissão como forma subliminar de censurar.
    Quanto ao vídeo (também recente), montei-o eu, estava guardado para este dia. Veja-o e responda:
    Hoje há liberdade de imprensa?

    Também pode assistir à versão longa.. e, então responda:
    Há?