28 março, 2021

Memórias, com bichos - 3 (Sebastião, 1993 - 2005 )

Teria a minha-do-meio metade da idade que tem agora quando se entregou a uma actividade querida: dar lições à guia, num picadeiro próximo. Amante de cavalos e e de crianças por lá andou uns anos até atinar que o soldo era pouco e, embora gratificada pelos sorrisos dos meninos e dos equídeos, lá foi pensando que aquilo não era vida e deu a esta outro rumo...


Enquanto por lá andou, gostou. Parecia a mãe de todas as crianças e até as éguas, em hora de parir, requeriam a sua presença pois tê-la por perto inspirava-lhes a confiança que o veterinário precisava para que o parto decorresse calmo.

Um dia, numa quinta próxima, uma cadela meio adoentada deu à luz uma ninhada de uns tantos cachorritos. E porque o leite materno faltava, alimentou-se a ninhada nas tetas de uma outra rafeira. Um dos recém-nascidos ficou desde logo debaixo de olho da Sandra, quer por ser o mais bonito mas também por carecer de acarinhado trato. E logo que o cãozito dispensou o aleitamento, trouxe-o para nossa casa. 

Recebeu o nome de Sebastião. Eu acrescentei-lhe o apelido e o cognome, e ficou conhecido por Sebastião José de Carvalho e Pereira, o verdadeiro Marquês de Pombal, embora nunca tivesse conhecido qualquer vénia nem lhe tenha sido erigida qualquer estátua.

O Sebastião, de diminutivo Sebas, foi crescendo entre duas estadas, ora em nossa casa, ora no picadeiro. Aqui, as crianças nem sempre o tratavam carinhosamente e algumas até lhe prestaram judiarias que lhe vieram a condicionar o comportamento, passando a ser pouco amistoso com os mais pequenos, a ponto de lançar a pata ao Miguel deixando uma pequena marca na cara. De resto para todos, tinha a docilidade e o espírito brincalhão próprios dos boxer. Para os outros cães, a força e a agressividade de um doberman e vencia todas as lutas e disputas, embora não lhes mordesse. Viveu cá em casa até...

Epílogo

... até a Sandra ter ido para onde já fora a João, passando a ocupar o pequeno apartamento da Cruz Quebrada, que a minha-mai-velha entretanto deixara vaga. O Sebas terá tido então o prazer de disfrutar correrias e tropelias na "densa mata do Vale do Jamor", onde outrora o Gato tinha sido tão feliz. Uns meses depois, a Sandra ligou, chorosa, dando notícia de o Sebas ter sucumbido, vítima daquela terrível e incurável doença (Leishmaniose). 
 
Fica esta memória!

13 comentários:

  1. Memórias inesquecíveis que arrastam outras memórias.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah, como tens razão!... A procurar a foto, tropecei em tantas outras e a comoção tomou conta de mim...

      Eliminar
  2. Belas memórias, Rogério!

    Como em todas as casas da minha infância (os dois andares geminadas de Algés e o "chalet", no Dafundo) havia bichos não humanos, todas as minhas memórias, de uma forma ou de outra, têm bicho(s) por dentro.

    Forte abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu fico a ganhar... as minhas, e esta em particular, até passam por éguas parindo acalmadas pela presença da minha família

      Abraço, largo, largo!

      Eliminar
  3. Bonitas memórias.
    Na minha meninice sempre tivemos um cão de guarda. O Matateu. Vivia preso numa corrente que corria num arame à volta da casa e do quintal. Quando ele morreu, o seu substituto, durou pouco tempo. Mordia em toda a gente que se aproximasse dele. Do meu pai ao meu irmão mais novo, todos fomos mordidos. O meu pai mandou abatê-lo, quando ele mordeu um vizinho e por causa disso tiveram uma briga feia.
    Depois veio o Pirúças que morreu de velhice com 19 anos, já eu vivia em Moçambique. Depois disso meus pais mudaram de casa e nunca mais tiveram cães.
    Abraço, saúde e boa semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cão assim, também se evita. Sempre nos recomendaram ou se conhecem bem antes (como foi o caso da nossa Lobita) ou se pegam cachorritos...

      Abraço e saúde, da boa!

      Eliminar
  4. Respostas
    1. Como não gostar?!
      Pena a foto da minha Sandra acusar a erosão do tempo...

      Abraço

      Eliminar
  5. Uma memória com bichos muito terna.
    O meu pai era caçador, sempre vivi com cães á minha volta, mas a memória mais marcante, não foi com um cão, mas com uma gata, que viveu connosco 19 anos e partiu no dia 1 de janeiro de 2020.
    São seres muitos especiais.

    Um beijinho

    ResponderEliminar
  6. Fica a memória e fica bem, Sebastião.

    um abraço Rogério

    ResponderEliminar
  7. Temo estes fins. A morte de um animal é uma dor profunda. Essa doença é terrível, o Black José além de ter a vacina usa, também uma coleira para a evitar. Há uns anos desconhecia-se a existência dessa doença. Hoje conhecesse mas há muitos donos que, como a vacina é cara, não vacinam os seus companheiros. Ainda há quem não os tenha chipado. Parece impossível mas é verdade.

    ResponderEliminar