29 maio, 2022

QUEM TEM DE IR PARA OUTRAS TERRAS?

Ontem, aqui e no facebook, escrevia eu ««Portugal é hoje o país da União Europeia com mais emigrantes em proporção da população residente. O número de emigrantes portugueses supera os dois milhões, o que significa que mais de 20% dos portugueses vive fora do país em que nasceu.»

Ontem, lá no facebook, tinha este comentário «Acontece porque as pessoas procuram melhores condições de vida, em Portugal existem muitos empregos básicos mas poucos são os portugueses que querem, como limpezas, construção civil, restauração, agricultura etc etc alguns até preferem viver de subsídios do que trabalhar e contribuir para a comunidade...»

Depois, de seguida, gerou-se um bate-papo que, a páginas tantas, mereceu a promessa de vir a escrever isto que agora estou escrevendo. 

Sem contrariar o quer que seja do que foi respondido verdade seja que tal resposta deixa esquecido muito ao que este nosso País atormenta. 

Atormenta ter perdido (quase) todo o sector da metálico-mecânica.

Atormenta ter perdido (quase) todo o sector de construção e reparação naval.

E a grande maioria dos dois milhões que tiveram de partir para outra terra serão gente qualificada, operários e técnicos especializados que tinham emprego nessas áreas. 

No sector da metálico-mecânica, foi para o galheiro todo o cluster ligado ao fabrico de material circulante. Veja-se, que agora, a empresa Medway (a antiga CP Carga, antes desta ser privatizada) anunciou a aquisição de 16 locomotivas eléctricas e 113 novos vagões. O material vai ser adquirido à empresa Stadler (as locomotivas) e Tatravagonka (os vagões) por um valor total de 93 milhões de euros, ou seja, o sector ferroviário português continua a alimentar o aparelho produtivo de outros países, em vez de reconstruir o seu.(ver aqui)

No sector da construção e reparação naval, hoje reduzido ao mínimo, a dimensão dos efeitos deve ser avaliada com impactos bem superiores. 

Vejamos: para quê estaleiros, se não temos barcos? A frota pesqueira tem vindo a reduzir-se, 20% dos barcos foram à vida e a que resta vai envelhecendo (a idade média das embarcações ronda os 45,7 anos enquanto a média europeia é de 23,9 anos) e é assim que, apesar de 97% do território português ser mar, o país importa 1.3 milhões de toneladas de peixe por ano (ver aqui)

A frota da marinha mercante não está melhor, antes pelo contrário, como se infere neste testemunho passado em vídeo.

 

11 comentários:

  1. Gostei de ler e fiquei melhor informada. Um país com tanto mar e a importar tantas toneladas de peixe?!!! Inacreditável!

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    1. "mais bem informada" .... oops!

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    2. Rogério V. Pereira30 de maio de 2022 às 11:29

      E digo-lhe mais, a indústria conserveira vive um mau momento: A diminuição da sardinha pescada aliada ao preço elevado obrigou as empresas de conservas a importarem matéria-prima. Algo insustentável a longo prazo dado que, para já, o aumento dos custos não se reflectiu no consumidor final.

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    3. Essa indústria está em crise há muito tempo. As empresas de conservas de maior sucesso, no Algarve, estavam localizadas em Portimão, Olhão. E uma em Tavira. Hoje não sei se ainda existe. Por curiosidade vou pesquisar.

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  2. Praticamente sem economia primária e desprezando desta forma a colossal fonte de recursos que poderia ser o mar português, transformámo-nos num país de pequenos serviços e risonhos serviçais...

    Haverá, ainda, forma de inverter tudo isto?

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    1. Falando na economia do mar, estamos mesmo muito mal...
      Contudo, não sendo tão radical
      acho que pelo rumo que a barca leva
      a esperança vai desfalecendo...

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  3. Aqui 🇩🇪 somente conheço um emigrante português que trabalha numa gelateria italiana, perto de minha casa, como empregado de mesa. Sei que vem da Serra da Estrela, mas nunca me interessou o que é que ele lá fazia.

    A anónima tem um nome: Teresa Palmira Hoffbauer 💙

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    1. Nada espanta...
      há uma dificuldade tamanha
      em lidar com a língua germânica

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    2. Tanto eu como ele sabemos falar português!!

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    3. Estás a desconversar, ou quê? Disseste há pouco que aí, nas tuas redondezas só conhecias o empregado de mesa...
      Quando, em finais dos anos 80, estive 2 semanas em Hannover, os únicos portugueses com que me cruzei foram os que me acompanharam na feira...
      Dou-te o caso da França. A primeira vez que fui a Paris, no Aeroporto de Orli, o bagageiro era português, o condutor do autocarro que nos conduziu ao centro, era português, o taxista que me levou ao hotel, era português. E qual era a nacionalidade do recepcionista no hotel? Se adivinhares, dou-te um doce!
      Se não fosse o casario diria que não teria nem saído do Rossio...

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    4. Claro que tem de haver muitos emigrantes portugueses na Alemanha 🇩🇪 mas eu não os conheço. Esqueci de mencionar os empregados do restaurante português, onde vou raramente. Um deles é do Algarve.
      Os portugueses preferem emigrar para a França 🇫🇷 por causa da língua, digo eu.

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