21 março, 2011

Metamorfose - IV (a primavera das mulheres puerís)

imgem retirada daqui
I
O corpo
dengoso ia desenvolvendo
um andar, um caminhar, lento,
voluptuoso,
ao encontro do que parecia ser seu destino
Tirou os olhos do chão
sem os colocar no ar
Virou para dentro de si
esse seu olhar
Parecia não ter visto outra coisa,
enquanto a densa teia a envolvia,
do que a asa que lhe nascia,
e também a outra, em síncrono movimento
Feliz, nesse encantamento,
falava com outras, suas iguais...
Falava da cor das asas,
da beleza dos locais
para onde iria voar
e das flores todas em que iria pousar,
do céu para onde nunca olhara antes...
Dissertava sobre seus amantes,
com a alma em cio
ouvindo das demais
conversas tão parecidas, quase iguais
em palavras gargalhadas
pois só estas, e não as graves,
passavam as paredes aveludadas
do casulo, sem entraves

II
Chegado o momento,
a parede se rompeu e saiu
Exercitou o bater de asas,
segura como nunca se viu
Voou na direcção do éden
sem lá chegar, mergulhando antes
em nunca experimentada escuridão.

III
Abri o livro disposto a ler
uma página qualquer
Entre a página aberta e a outra,
ali estava ela
a mais bela borboleta
parecendo ainda sorrir
num sorriso pueril

Rogério Pereira

14 comentários:

  1. Apesar de cativa a alma continua a sorrir pois tem o universo para voar.
    Um grande bj querido amigo

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  2. Olá

    Nossa junta vc é Gisa, que mais posso dizer a não ser lindoooooooooo

    Beijos e uma ótima semana
    Carinho no seu coração.

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  3. E existe algo melhor que a liberdade das interpretações? rsrsr
    Muitos bjs querido poeta.

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  4. Talvez seja a borboleta uma mulher deixando de ser criança, meu caro Rogério?
    As imagens se fundem e formam uma linda metáfora.
    O corpo se modifica, também a cabeça... mas o sorriso se mantém.

    Beijos, poeta

    Carla

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  5. Amigo Rogério nunca me deixa de surpreender.
    Um poema tocante, uma excelente homenagem à mulher/borboleta e à poesia.
    Parabéns!

    Bjos

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  6. Que lindas imagens as suas palavras criam!!! Convidam ao sonho!!! Romper cazulos, voar ao Edem, ser uma borboleta entre uma pagina e outra da vida!!!

    Nada paga o prazer de ler uma poesia e de viver nela um sonho!!!

    Obrigada!!!

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  7. E a primavera chega de mansinho em seu país. Eu de cá começo a sentir uma ligeira brisa de outono. Mande para um pouco dessas cores. Também eu quero ser borboleta.

    um abraço,

    PS - aguardo seu comentário sobre meu último tema.

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  8. Olá amigo
    Lindo poema, me lembrou um balé, dada a suavidade,
    Grande abraço

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  9. Rogério, desta vez superou-se!
    Estou boquiaberta com tanta beleza.

    Que visão etérea e pueril...

    Voar na direcção do Éden...

    Beijo para si.
    Janita

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  10. Confesso
    o meu insucesso
    como poeta
    comunicador...
    Então um ser
    que não olha o céu,
    que não tem assunto
    que não liga ao mundo
    que virada a cada
    momento
    só para dentro
    que viveu suspirando a sua própria
    beleza
    e a natureza
    que não chega a cumprir
    sua missão
    e acaba espalmada
    a fim de ser só olhada
    é coisa de tanta admiração?

    Ah, mulheres
    temos que um dia falar
    olhos nos olhos...

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  11. Meu caro, não gosto de seres pueris!

    Acho que empregou mal o seu talento , rrss

    Um beijo

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  12. Rogerio ,

    Sim , me parece que sua borboleta
    voou até Guimarães ...
    :)
    E que lindo foi esse juntar.
    Adorei seus versos esvoaçantes
    plenos de primavera.


    Bjo Grande !

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  13. Pela primeira vez na minha vida quis ser, apenas, simpática e não lhe desagradar e...dei-me mal.
    Nunca mais...
    Quando disse " Voar na direcção do Éden.." quis acrescentar "...Pena não ter chegado lá e ter caído na escuridão..." .Porém, vi-o tão embalado que não o quis acordar.

    Eu não digo que é fingidor??

    Janita

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  14. Claro que sou fingidor...

    "O poeta é um fingidor.
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente".

    Já lá dizia uma (também) boa Pessoa

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