19 fevereiro, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 71

------------------------------------------Foto de José Ferreira
Vejo as redes sociais como florestas imensas onde ainda aprendo a pousar...

Não tenho imagem mais apropriada para descrever a minha inaptidão (e talvez até o meu não querer) para voar e pousar nos ramos que se dizem amigos da densa e diversa floresta das redes sociais. Não me sinto pássaro de piar, cantar, chilrear ou de fazer voos atrevidos, nessa densa ramagem. Talvez porque goste demais das palavras ou, quem sabe?, nem tenha asas... E se as tiver?, porquê limitá-las a tão estreito voo? Dir-me-ão que faço apreciações fora do reconhecimento desse espaço de liberdade (será?) e de avanço tecnológico onde tudo é possível desde a simples troca de virtuais afectos à denúncia de desumanidades e mobilização para combates ou sua simulação. Espaço que, como todos os espaços, depende de quem os usa e do fim que lhes dá. Não discuto que seja ou não assim, mas sinto que cada vez menos é um espaço de reflexão e cada vez mais um espaço de manipulação... Talvez por isso, valha a pena aprender a estar. Para combater tendências, ou, pelo menos, as equilibrar... Falo do Facebook, nunca me senti atraído pelo Twitter, mesmo antes de saber o que Saramago sobre ele comentou e onde  me reforçou conselhos sobre como estar na blogosfera... 

HOMILIA DE HOJE
"Escrever num blog não difere em nada de escrever numa folha de papel. Salvo a extensão do texto em que, no caso do blog, se aconselha uma certa brevidade, os escritores não estão condicionados por normas ou regras que, supostamente, caracterizariam o blog. Não sou frequentador assíduo da internet. Consulto o Google com frequência, nada mais. Quanto a ler outros blogs, faço-a às vezes, mas não mantenho diálogo com eles. Para mim, a internet é uma fonte de informação rápida e em geral eficaz, porém não confundamos: a literatura ou é ou não é, não há meios termos. Muitas transformações teriam de dar-se (e eu não vejo como nem quais) para que a internet tomasse lugar no fazer literário." 
(...)
"Nem sequer é para mim uma tentação de neófito (escrever no Twitter). Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido."
 José Saramago, entrevista à GLOBO, Setembro de 2009

17 comentários:

  1. Quando escrevo numa folha de papel NINGUÉM me lê, quando escrevo no blogue há mais gente a ler aquilo que lá publico do eu alguma vez imaginava.

    A internet é uma fonte de informação rápida, mas nem sempre ficaz!!!

    "A literatura ou é ou não é, não há meios termos."
    Lá isso é uma verdade universal com ou sem net.

    Agora vou até à ARTE...

    Rath, Helau!

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  2. Concordo com as preocupações. Sempre relutei muito até me render ao blog, mas o fato é que realmente é um meio muito eficaz de troca de ideias e um alegre encontro de amigos que jamais poderíamos supor um dia ter.
    Quanto às redes sociais, participo de todas pois gosto de ter opiniões próprias a respeito do novo. Assim, tenho twitter e facebook. No entanto, nunca me sinto muito a vontade circulando por estes meios. Não me parecem meus. Ando sempre com cuidado e com insegurança, mas não deixo de andar.
    Um grande bj querido amigo.

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  3. como tudo nesta vida, as coisas sao o que fazemos delas

    Bjinhos
    Paula

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  4. Mais uma vez, obrigada pela escolha da foto que ilustra lindamente o texto.

    Tal como tu, Rogério, também eu não sou fã do twitter e tampouco do facebook.
    Tinha deixado o último há anos, até o Pedro começar a trabalhar por turnos. Como sabes, o contacto é imediato via FB. Ele recebe a mensagem no telemóvel. Daí que tenha voltado.
    Concordo com José Saramago, mas temo que cada vez se escreva mais sem papel.
    As redes sociais são acessíveis a todos, enquanto a escrita mais "séria" está só reservada a alguns; aos muitos bons ou, muitas vezes, aos que têm condições económicas para financiarem as suas próprias publicações, ou ainda, pura e simplesmente, aos que têm bons padrinhos.
    É um facto indubitável, que se lê muito "porcaria" em livros e muitíssimos bons escritos em Blogs.
    Dou-te dois exemplos apenas, num mundo de imensos; Manuela Baptista e Graça Machado.
    De ti já não falo, pois passaste ao lado de lá.

    Concluindo, digo que as redes sociais são para usar com moderação, o que nem todos fazemos (eu incluída)... É viciante e expõem-nos demasiado ...
    Sei que também só se expõem quem quer, mas essa é a tendência natural.
    Perigosa, também! Muito!

    Conselho, a quem não precisa, usa só para divulgar o que escreves, já que no teu lugar tens as duas portas abertas.


    Beijinho

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  5. Uma pequena maravilha essa do "grunhido"... mas não será isso que eles querem para nos controlar melhor? Quem não se souber expressar nem sequer sabe exigir...

    Bjos

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  6. Gosto imenso da foto. Quanto à opinião de Saramago é uma... opinião. Em relação ao twitter sou até capaz de alinhar com ele. Por exemplo, com o twitter não alinharia duas ideias para comentar o teu post. Tenho twitter praticamente desde que ele nasceu mas raramente me abeiro do dito. Quanto ao blog, pela liberdade que nos permite, já não estou tão próximo da opinião de Saramago. Soubesse eu escrever como ele, tivesse eu o engenho que ele tinha, não estivesse (como não estou) eu (queria dizer ele) engajado a nenhuma editora, quisesse eu divulgar o que escrevo, não estivesse eu dependente dos direitos de autor que se traduzem em euros (escudos, pesetas, dólares) que nada me impediria de escrever os meus livros em blogs. Mas a realidade material é outra e por isso até aceito a sua (dele) relutância em "fazer" literatura na blogosfera. Já agora, para que não restem dúvidas, como não sei escrever livros vou-me entretendo a escrever em blogs.
    Um grande abraço Rogério, desejo-te uma boa semana.

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  7. Como passarinho tímido que sou também não me sinto à vontade nas redes sociais, é um horizonte demasiado largo para os meus voos :)
    Aqui nos blogues passeio mais demoradamente, troco afectos e pensamentos e...voo!

    beijinhos e boa semana

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  8. Por muito afogada em trabalho que eu ande (nos fins-de-semana a coisa até piora), eu não perco as tuas « Homilias». Excelente.

    Eu não me perco nas redes sociais. Tenho FB por comodidade de contactar família distante, mas não permaneço lá. O blogue é um momento diferente, de mais afectos e seriedade.

    Bjs

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  9. Também prefiro os blogues Rogério. O facebook, a única rede social que conheço, é apenas boa para comunicar com familiares ou amigos à distância e já agora para a divulgação do teu livro, :) e de algumas campanhas que nos mobilizam mais rápidamente para algumas lutas necessárias.

    Aliás, já fechei a página do facebook por duas vezes e só não o faço de vez poque é lá que vou ver os meus filhos quando não estou com eles, sobretudo a mais nova que está mais distante, é lá também que eles têm alguns contactos profissionais. Não fosse isso e ela, a mais nova, já me confessou também estaria tentada a fechar a sua página.
    Daí que às vzezes é um mal necessário, pelo menos temporáriamente.

    Dos blogues neste momento não sei o que te dizer, o melhor que tenho tirado deles além de algumas boas leituras é um grupo de amigos, alguns que fui conhecendo e com quem mantenho afinidades, mas não acho que sejam assim tão necessários à nossa vida.
    Depois do entusiasmo inicial, chega-se a um ponto em que me parece que nos dão mais perda de tempo que proveito, peço perdão pela franqueza.
    Estou em período de reflexão sobre esta matéria, por isso não gostaria de dar uma opinião neste momento.

    Beijinhos
    Branca

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  10. Voltando atràs, quando digo que não acho que sejam assim tão necessários à nossa vida e que às vezes criam alguma falta de tempo para outras coisas, claro que me referia aos blogs em si e não aos amigos, nada de confusões. Aliás mantenho contacto com alguns que já fecharam os seus espaços aqui criados, ou os deixaram parados no tempo.

    Beijinhos
    Branca

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  11. Vou-te dedicar um post, querida Brancamar... Não para te dar conselho ou influenciar, mas para eu próprio reflectir ao correr das palavras na razão (ou falta dela) para diariamente vir aqui ou visitar-te a ti e a outros... farei isso.

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  12. Boa noite
    Parece que lentamente e quase despercebidamente vamos adentrando nas redes sociais da Net.

    Gosto dos blogues porque posso expressar-me e ser lido e ao mesmo tempo ler e comentar partilhando ideias.

    As restantes redes penso que acabamos por nos familiarizar com elas, mas já numa outra linha de comunicação, onde paira uma certa desconfiança.

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  13. Rogério, tudo bem?
    Os blogs são uma tendência muito forte, é inegável isso, um meio democrático que socializa perfeitamente os escritos, um caminho, o futuro hoje!
    Agradeço a visita e deixo-te um feliz aniversário com certo adiantamento!
    Grande abraço!

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  14. Eu não teria exposto o que sinto relativamente a Net de outro modo, mas sendo a minha ignorãncia ainda mais profunda porque nem sei sequer o que é o Twitter!

    Parabéns por um dos seus mais interessantes posts, Rogério.

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  15. Pois. Saramago sabia isso e muito mais...

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  16. Boa Rogério, fico à espera do tal post, embora eu já não tenha muitas dúvidas sobre as razões porque ainda venho aqui, mas para todos nós há tantas e tão variadas, conforme a personalidade, o momento e a motivação.

    No fundo os que são verdadeiros estão aqui como na vida real e os outros também, cabe-nos saber distinguir.

    E afinal o que é a vida real e virtual, qual a linnha que as separa, se eu várias vezes ao visitar a filha em Leiria me encontro quase sempre e até janto e passeio com uma amiga que conheci aqui em 2007, pouco depois de criar o meu blog e que me entrou pelo e-mail dentro sem a conhecer de lado nenhum, só pelo que lia não no meu sítio, mas no blog de um doente oncológico, onde muita gente se conheceu, criaram-se laços enormes, ela e outros foram os primeiros a vir de propósito ao Porto para um encontro, também motivado por uma jovem professora que trabalhava perto de mim sem que o soubesse e que já me havia conhecido e me chamava carinhosamente "tia" e levou muitos outros da mesma idade e com algumas motivações a fazê-lo. Conheci as famílias, convivo ainda com todos, chegaram a ficar em minha casa e eu própria já fiquei na casa de uma outra amiga de Lisboa. Os mais fortes amigos que guardo da blogosfera não tinham blog, mas liam ou escreviam nesse e depois disto e por isto tudo permaneço, apesar de ter tantos momentos em que sinto que este tempo em que estou aqui é um tempo em que mais uma vez não liguei a um amigo da juventude e de turma, apesar de o querer fazer há vários dias. Poderás dizer que o podia fazer antes de escrever, mas não, porque este texto ficou a meio para atender um telefonema da filha, porque já cheguei tarde para acorrer a uma situação dos pais com 80 anos e porque agora já é tarde para ligar a alguém. A vantagem destes espaços é que podemos escrever a qualquer hora, sem incomodar minguém, nem sequer é obrigatório ler de imediato.

    Virtual acho que é só aquilo que por aqui não será verdadeiro e com esse lado não me interessa esbarrar, embora já tivesse esbarrado sem querer, mas nada de muito importante.
    Só tenho boas recordações, muitos amigos, mas a minha dúvida é essa, é que a blogosfera é imensa e os laços vão aumentando e a certa altura forçosamente estás a falhar ou a esquecer-te de ti, a não ser que estejas só por ti.

    Vim reflectir um pouco contigo e aguardo a tua reflexão.

    Beijinhos
    Branca

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  17. Ah, das coisas mais maravilhosas que me aconteceram e me deram a dimensão de até onde nos podem levar os laços que aqui criamos, de entre convites vários, um dos que mais me comoveu foi o da filha de um doente para o seu casamento, que sabia ser um prazer para o pai e sabia que o seu tempo de vida já era curto e que seria o momento ideal para estarmos todos juntos, os pais já tinham passado por minha casa, ele partiu em Novembro e continuo amiga da família. Outro momento foi o ter sido convidada para o baptizado-comunhão simultâneos do filho da jovem professora de que falei atràs, apesar de eu não ser muito de cerimónias religiosas e ter entrado na família e na casa de uma pessoa que sei que não abre esses precedentes fácilmente e por isso me tocou essa abertura.
    Duas pessoas totalmente diferentes, mas que trago comigo para a vida, por razões também diferentes.

    Tantas histórias que tenho para contar, apesar de ter colocado um poema por acaso numa página, quando decidi ver como se fazia um blog, num último dia de férias e tencionar que ele fosse apenas um blog de poesia.

    Beijos e desculpa a extensa reflexão e desfiar de memórias.

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