07 agosto, 2012

Curiosity: "Chega-se mais facilmente a Marte neste tempo do que ao nosso próprio semelhante" (Saramago)


Testemunham textos anteriormente escritos que sempre tive preocupação de caminhar entre duas culturas, mesmo quando escrevia sobre futilidades e dissertava sobre os efeitos da electrodinâmica nas relações amorosas. Por isso fui sensível à proeza da ciência e da tecnologia e quase me levantei aos pulos e aos berros vitoriando o feito, como se dele tirasse eu proveito. Se tivesse um Mars em casa também assim festejava. Depois cai em mim, e a cultura humanística me beliscou relembrando outras palavras de Saramago:"O único progresso verdadeiro é o progresso moral."

Foi com a certeza de que este sucesso nos afasta, mais do que nos aproxima, da resolução dos grandes problemas da humanidade, que esfriei o entusiasmo. A chegada a Marte é espantosa, mas em nada contribui para a mudança do paradigma actual em que o desenvolvimento se faz sem se ter como objectivo a felicidade humana. Deu-me mais esperança o discurso de Pepe Mujica do que o sucesso deste passo dado para a exploração planetária.

Agradeço à Helena Pato este video que me disponibilizou no facebook

17 comentários:

  1. É muito mais interessante chegar a Marte do que ao nosso próprio semelhante, José!!!

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  2. Saramago mais uma vez diz o que deve ser dito. A chegada a Marte realmente é um feito inacreditável, mas acho também que nada contribuirá para o desenvolvimento de uma sociedade humana mais feliz e justa.
    De qualquer forma, é um marco da ciência e de um jeito ou de outro muda, a longo prazo, a vida de todos nós.
    Beijo.

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  3. Gosto e, por isso, partilhei...lá no meu espaço.

    Beijo

    Laura

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  4. O Rogério está como o Príncipezinho... que achava ser fácil ter amigos, bastava pura e simplesmente querer, procurar e estar disponível para retribuir. Muitos seres humanos deveriam estar isolados por uns tempos num único Planeta para si só, da vez que pensam que o seu umbigo é o centro do universo... Seria interessantíssimo.


    Somos feitos de memória e pó de estrelas. Gastamos muito do nosso tempo a a desprezar a mistura faiscante de que somos feitos, escolhemos esquecer em vez de lembrar, baixar a cabeça para o pó da terra em vez de erguer a cabeça para o céu
    Esquecemos sobretudo de nos olharmos nos olhos, o gesto que permite reconhecermo-nos como iguais. Animais moribundos, todos nós, tanto os velhos nos lares de "idosos" como os jovens génios. Esquecemos que morrer é deixar de ser lembrado e que a memória do cheiro e do toque dura mais que a do olhar. Esquecemos que as coisas não podem ser possuídas por nóss porque duram mais do que nós. Esquecemos que gozar o dia é também recordar a noite de onde veio e antecipar a noite para onde vai. As crianças sofrem de tédio porque lhes falta o poderoso filme das recordações e a capacidade de concretizar os sonhos.
    Nesta década ficanmos parados como garotos a olhar uma loja de brinquedos. As catedrais do dinheiro desabaram porque se tornaram virtuais sem que ninguém desse por isso. As estruturas políticas desmoronaram-se porque estavam escoradas nessa economia virtual. Gastamos horas e horas de conversa, páginas e páginas de jornais a futurar desenvolvimentos tecnológicos que nos tornarão ainda mais virtuais e abstractos, mais distantes da vida - essa coisa chata onde se trabalha e se sua e se ama e se escolhe e se cometem erros e se chora e se ri. A memória é essa coisa assustadora que nos impede de morrer de vez como morrem todos os outros animais e que nos foi roubada. Esquecemos de lembrar! Mais fácil é chegar a Marte do que ao coração... Não fosse Marte o deus da guerra...

    Obrigada Rogério, por este bocadinho.
    Um beijinho... e vou olhar as estrelas...especialmente a Lua, o nosso satélite!... e que pelos vistos já passou à história e não será mais lembrada... e o que mudou?! :)

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  5. Caro Rogério
    Já tinha dado uma espreitadela ao Vídeo quanado a Helena o colocou no FB.
    De facto ainda há quem olhe para a vida no seu verdadeiro sentido.
    "Brutal".
    Abraço
    Rodrigo

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  6. Sim Rogério, quando vi a notícia quase em directo, de imediato me lembrei desta frase de Saramago e embora compreendesse o entusiasmo daqueles cientistas face a todo o tempo que trabalharam naquele projecto fantástico e que nos espanta na sua precisão e grandeza, lembrei-me simultâneamente que possívelmente todos os milhões gastos no mesmo dariam para matar a fome neste nosso mundo.
    Todo aquele entusiasmo não passa de um entusiasmo egocentrista, pois como diz a Fada do Bosque"... a Lua não será mais lembrada...e o que mudou?"

    Fantástico o vídeo que aqui nos deixaste, é um oásis neste deserto ouvir de vez em quando alguém que pensa e sente a vida.

    Beijos
    Branca

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  7. Vou-me, sem palavras. Estão todas aqui!

    Um beijo

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  8. O nosso semelhante não tem poços de petróleo e em Marte nunca se sabe...

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  9. Nem imagina as vezes que eu pensei nisso hoje durante o dia, Rogério.
    Chegar a Marte pode ser um grande passo para a Humanidade. Resta saber se a Humanidade resiste a tanto despautério.

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  10. ‎"A chegada a Marte é espantosa, mas em nada contribui para a mudança do paradigma actual em que o desenvolvimento se faz sem se ter como objectivo a felicidade humana". .....eu confesso que leio muito, mas entendo muito pouco, gostaria de
    saber um dia quem é o "malvado" da história humana, onde vive e como deixam viver, ao mesmo tempo sinto uma felicidade imensa em perceber que há no mundo uma parcela grande de não malvados! ah, saramago diz que com certeza a terra rebentará, não já, mas que de imediato deveríamos levar um susto, acho que de certa forma vivemos continuamente assustados, só que dispersos...admiro muito a colcha de retalhos que teces a cada postagem!!!

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  11. É sempre bom vasculhar mais uma coisa
    Quem sabe
    talvez um dia descubram esta coisa

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  12. Não resisti e roubei este texto extraordinário a um post e resolvi que estaria bem aqui, como comentário.
    Não sei se é abusivo, mas da fama de ladrão já não me livro...
    espero que o BioTerra me perdoe...

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  13. Rogerio
    marte é mesmo ali ao virar da esquina e o nosso semelhante é do outro lado por isso mais longe
    kis >:=)

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  14. ... isso de olharmos para o nosso semelhante é uma coisa sem grande importância, com pouca visibilidade e que rende pouco... descubramos o que se passa em MARTE!

    O vídeo é grandioso!
    Um prazer ler-te.
    Abraço Rogério
    cvb

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  15. Sim Rogério, quando vi a notícia quase em directo, de imediato me lembrei desta frase de Saramago e embora compreendesse o entusiasmo daqueles cientistas face a todo o tempo que trabalharam naquele projecto fantástico e que nos espanta na sua precisão e grandeza, lembrei-me simultâneamente que possívelmente todos os milhões gastos no mesmo dariam para matar a fome neste nosso mundo.
    Todo aquele entusiasmo não passa de um entusiasmo egocentrista, pois como diz a Fada do Bosque"... a Lua não será mais lembrada...e o que mudou?"

    Fantástico o vídeo que aqui nos deixaste, é um oásis neste deserto ouvir de vez em quando alguém que pensa e sente a vida.

    Beijos
    Branca

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  16. Olá amigo, adorei o video e palavras para quê? Disseste tudo o que tinha que ser dito. Só mais uma coisa...com tanto dinheiro gasto, dava para acabar de vez com a fome que há no mundo, mas isto é só um pensamento de uma parvinha... Beijos com carinho

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  17. Rogério,

    Gostava de dizer algumas coisas.

    Primeiro, parabéns pelo artigo.

    Segundo, não sei se sabes, mas tenho um especial carinho pelo Uruguaia pelo que se está a passar nesse país com a tentativa de uma verdadeira democracia participativa e porque colaboro com o semanário "Acciòn Informativa" desse país.

    Terceiro, acho o comentário da Fada do Bosque delicioso. Bem sei que sou suspeito ao constantemente elogiar a Fada, mas o que escreveu é para mim uma verdadeira lição e um poema aos meus ouvidos.

    Quarto, e para acabar, tendo alguma "formação" em astronomia, não deixo de considerar os passos que se estão a dar nesse domínio como fabulosos para melhor compreender o mundo que nos rodeia. Não esquecendo esse facto que acho acha extraordinário, para mim o ser humano como tal e como "único" será sempre colocado acima de qualquer outra coisa.

    Um grande abraço

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