O velho engenheiro nem me deixou sentar. Colocou o jornal em cima da mesa e ia dizendo não perceber porque o jornal tinha fechado o texto à leitura on-line. Na esplanada era rara a gente calada, por isso começou a ler de alto, e depois mais alto ainda, até que toda a esplanada se calou para o ouvir. A meio, palmas e tudo...
(o texto integral passou para outro lugar)
...
- As
vozes que mais recorrentemente se ouvem, que são a favor e confiam no
projecto europeu, apontam o modo como ele foi erguido, nomeadamente o
euro. A sua voz é mais radical.
- O euro foi muito mal
concebido, isso é consensual. Mas vou para além disso. O euro é um
projecto que exige a existência de um Estado europeu. O euro não pode
ser um factor de criação de um Estado europeu (como se pretendeu).
Quanto muito, se houvesse um Estado europeu, então poder-se-ia ter
criado o euro.
...
- Os
resultados eleitorais recentes, que levam cerca de 120 deputados de
extrema-direita e eurocépticos ao Parlamento Europeu, são expressão
disso?
- A Europa está fraquíssima, em decadência clara, quer
do ponto de vista económico, quer social, quer até político. Mas isso
não é surpresa. Rompeu-se aqui um equilíbrio que assegurava a grande
originalidade do processo de integração europeia.
- Então,
futurologia. Daqui a dez, 20 anos, como é que imagina que vamos olhar
para estas eleições que expuseram a fragilidade da Europa?
-
Não vou fazer futurologia. mas vou dizer quais são os meus receios.
Dificilmente a Europa se manterá. A degradação já é tal que é muito
difícil a Europa voltar a beneficiar do ambiente de estabilidade. Se não
garante a estabilidade, desagrega-se. Esse cenário é cada vez mais
provável.
...
-
Indo mais ao coração dos seus livros, e dizendo numa formulação
provocadora: aquilo não nos atira para um "orgulhosamente sós"?
- Não vejo porquê. As pessoas confundem autonomia com "orgulhosamente
sós". E muito português pensar que precisamos sempre de um paizinho, e
que se não temos um paizinho ou uma mãezinha estamos sós. Podemos
exercer a nossa autonomia, de país que já tem longos séculos de
autonomia, cooperando com outros países na gestão de interesses comuns.
Por isso fui e sou a favor da participação de Portugal na União
Europeia.
Se não fazer parte da União Europeia fosse estar
"orgulhosamente sós", haveria 165 países no mundo "orgulhosamente sós".
Isso é um disparate federalista.
- Um disparate federalista?
- O federalismo e uma teoria perigosa na Europa porque se apoia num
mito (o da solidariedade). Tentar forçar uma realidade que não existe é
do pior que se pode fazer em política.
...
- Se exceptuarmos o Governo, não vejo ninguém de garrafa de champanhe na mão a celebrar a famosa saída limpa da troika.
- Não vai alterar nada de fundamental [a saída formal]. Vamos ficar
sujeitos às regras do Tratado Orçamental, que não podemos cumprir.
- Não podemos cumprir?
- Não temos margem para cumprir. O que nos é exigido é impossível de
cumprir. Reduzirmos o déficit a quase zero, até é possível, desde que
não seja amanhã. Mas reduzir a dívida pública para 60% do PIB em 20 anos
é inexequível. Isto põe o país numa situação falsa. Um país nunca se
deve comprometer com coisas que não pode cumprir. Segundo o Tratado,
vamos ter que fazer uma parceria - gosto do nome [risos] com a Comissão
Europeia para ela nos impor um conjunto de políticas económicas durante
20 anos.
- Ou seja, vamos continuar atados.
- Não
vamos. Antes disso alguma coisa vai suceder. Ninguém aceita 20 anos de
austeridade, que é o que propõe o Tratado Orçamental. Entretanto a
Europa ou dá uma grande volta ou desaparece.
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Agradecimento: Agradeço este texto a Jorge Faria, que o editou na sua página do facebook
ResponderEliminarAi eu coitada, como vivo em gram cuidado
por meu amigo que hei alongado;
muito me tarda o meu amigo na Guarda.
Ai eu coitada, como vivo em gram desejo
por meu amigo que tarda e nom vejo;
muito me tarda o meu amigo na Guarda.
(Afonso X ?, Sancho I ?)
Se a europa começasse a funcionar... Portugal pode não ter nada, mas perderia tudo!
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