02 fevereiro, 2016

As palavras saem-me do corpo (a alma só atrapalha)

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A minha palavra
é um braço
com que te enlaço
e um punho erguido
necessário, sentido
A minha palavra
é um gesto lento
é um lamento
um grito ouvido
de um homem ferido
A minha palavra
nem sempe é bela
é um comer saído da gamela
é um sorvo, um beber
é um dar do meu saber
A minha palavra
prentendendo-a justa, é louca
é uma boca
com lábios de beijar
e dentes de morder, de trincar

(saiba mais sobre as minhas palavras)


Reedição 
post de Outubro de 2010

16 comentários:

  1. Partindo do princípio que a alma é uma mera conceptualização de qual necessitámos para tentar explicar aquilo que cada corpo sente, pensa, decide e produz/faz, entre as quais se conta a palavra, concordo absolutamente contigo e sempre te digo que a minha palavra, justíssima em qualquer circunstância, beija, morde e trinca incomparavelmente mais e melhor do que eu própria o faço...

    Forte abraço!

    Maria João

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    1. As palavras sentidas
      são sempre melhores que nós

      que somos muitas vezes inaptos
      para converte-las em actos

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    2. As minhas, Rogério, atendendo às muito específicas circunstâncias em que as vou escrevendo, adquirem a dimensão de actos e gestos... e tão lentos vão sendo, tão limitados se encontram em mim os actos e os gestos, que mal me vão suprindo as necessidades mais básicas da sobrevivência e quase se esgotam - ora no seu limite, ora tentado ultrapassá-lo - na produção da própria palavra...

      Maria João

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  2. Eu perdi as palavras, o meu amigo encontrou-as.
    A alma estão nelas e são tão belas.

    Um beijinho

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    1. Sempre que um amigo
      alguém que muito estimo
      perde alguma coisa
      eu procuro
      vasculho
      na minha memória

      ("isto"... isto é muito antigo)

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  3. Palavras em carne viva!...

    Muito belo, isto!

    Lídia

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    1. Quando a gente tem tempo
      as palavras acodem
      umas beijam
      outras mordem

      :))

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  4. Em 2010 eu não sabia que havia um "Conversa Avinagrada" logo, foi a primeira vez que li o poema. As palavras, são armas de vários gumes. Elas, podem ser, alegria, tristeza, engano, justiça, sei lá, que mais. Elas até podem ser um belíssimo poema como o que acabo de ler.
    Um abraço

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    1. ...este poema é do tempo
      em que tinha mais tempo...

      Agora andam-me arredadas as palavras
      mas não os abraços

      deixo-lhe um

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  5. eu não conhecia este poema, e gostei destas palavras rimadas e com muito sentido.
    e assim se faz Poesia, mesmo com a alma a atrapalhar.
    beijos

    ;)

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    1. Sabes?
      Enquanto a alma dorme, escrevo.
      Depois ela acorda

      e gosta

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  6. As palavras saem-te através do corpo mas não são, senão, a tua alma.

    Beijinhos, Rogério :)

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    1. Não ligue à Minha Alma
      é de nós a mais "avinagrada"

      Em mim, os versos que faço
      são à força de braço
      (embora sem esforço)

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