25 maio, 2023

EM ANGOLA, NA GUERRA, NUM LIVRO DE MEMÓRIAS DE AFECTOS, ANGÚSTIAS E MEDOS...

Porque consta este vídeo aqui? A resposta é dada da seguinte forma: além da biblioteca montada na que foi por mim chamada "Universidade Livre da Real República do Reino da Roça" também dinamizava uma rádio, "A Rádio Livre da Real República do Mesmo Reino".

Ora leiam o que escrevi no livro "Almas Que Não Foram Fardadas":

51 – Chegaram enfim as «Moscas» e as «Mesas Redondas.»

– A cadência de cartas, as que recebia e as que quase diariamente escrevia, mantinha-se. Continuavam a ser cartas ridículas, umas e outras como dizia o poeta. Umas e outras com desenhos. As minhas, com desenhos de elefantes e pacaças e meninos a chorar reclamando cuidados meus. As da Teresa com desenhos das minhas filhas, com rabiscos de todas as cores, ou casinhas ou uma mãe com duas meninas, uma ao colo, outra pela mão. Desenhos que esbatiam a solidão da Minha Alma, fazendo esforço, Eu e o Meu Contrário, para manter elevada e concentrada a diária ocupação. Todas as cartas eu lia duas ou três vezes e os tais desenhos passaram a povoar o meu «altar», ao lado das fotografias delas.

Poucos eram os assuntos ou temas para além dos inspirados pelas palavras «futuro” e «saudade», umas vezes rimando com «felicidade» outras com «liberdade». Ocasionalmente falávamos de dinheiro questionando eu se ela já tinha levantado a parte disponibilizada no continente e ela respondendo a isso. Uma pergunta era insistente querendo confirmar se me tinha enviado os suplementos do Diário de Lisboa e ela me repetia que sim, semana a semana, sem que recebesse eu algumas daquelas folhas de opinião, de ensaio literário, texto cine-clubista ou uma ou outra entrevista.

Antes de partir tinha-lhe pedido para enviar o jornal inteiro mais as revistas Vida Mundial e Seara Nova, dentro. Por conselho de alguém avisado, ficou combinado que ela me enviaria apenas os suplementos do jornal, pois a PIDE ou a segurança militar poderiam não só confiscar todos os exemplares como até vir a colocar-me problemas. Mas nem isso me chegava às mãos. Até que umdia, de uma só vez, chegou no correio a expedição de mais de um mês: cinco números de A Mosca, outros tantos da Mesa Redonda, mas da Seara, nada. Abri e passei avidamente os olhos por tudo aquilo, recuperando notícias e ideias atrasadas. À medida que o fazia ficava mais transtornado, Meu Contrário furioso e Minha Alma desolada."

Queriam ler mais? Não esperam pela demora pois a reedição está na forja! Boa?

8 comentários:

  1. Bons tempos esses, em que a elaboração do livro nos ia sendo facultada em 'fascículos', nos "Caminhos do Meu Navegar".
    Nem de propósito! Também agendei para o início da próxima madrugada, movida pela saudade, a reedição de um post do tempo em que a blogosfera fervilhava de emoções, passatempos, desafios e ilusões.
    Sei que o Rogério não pode comentar, mas gostaria que o lesse e, sobretudo, lesse o final em que, incluído numa quadra minha, está o link que nos conduz a esses bons velhos tempos.
    Fique bem.

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    1. Rogério V. Pereira26 de maio de 2023 às 13:52

      Olá, Janita! Lembro, esse foi o primeiro e teve esse berço. Mas os outros seguintes também nasceram, poema a poema e texto a texto, neste berço. E sim, vou lá passar e ler-te.

      Fique melhor!

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  2. Nem sei o que dizer porque estou a desligar-me devagarinho.

    Abraço

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    1. Rogério V. Pereira26 de maio de 2023 às 13:54

      Vais-nos deixar? Ainda não desligaste e já sinto saudades!

      Saudoso abraço

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  3. Boa! Muito boa, mesmo!
    Fico muito contente por saber que tens uma reedição n forja!

    Forte abraço!

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    1. Rogério V. Pereira26 de maio de 2023 às 13:55

      Fico contente por ficares contente!

      Abraço forte!

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  4. Rogério V. Pereira26 de maio de 2023 às 20:57

    ...e esse caminho passa pela reedição de mais um livro esgotado. Coloquei em primeiro lugar a "Seara Nova", por razões que na citação refiro... mas caso não calhe já tenho outra hipótese na calha!

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  5. Meu caro Rogério
    Fico feliz por ti pela reedição da tua obra "Almas que nunca foram fardadas"
    Já tenho em formato digital, mas se sair em papel gostaria muito de o possuir, faria parte da minha pequena biblioteca.
    Um abraço

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