Não estava a pensar em nada (se tal me é possível) quando hoje lia a crónica de Baptista Bastos. Sempre o faço, às quartas-feiras, único dia da semana em que compro o Diário de Notícias. Lia-o com a atenção que ele merece, até suspender a leitura numa citação de Montesquieu: “Não há desgosto que uma hora de leitura não desvaneça.” Pronto, lá fui eu para outras divagações e, sem aparente ligação, cair na promessa que fizera a BrancaMar. É que o primeiro impulso que tive para lhe acalmar a alma e a incentivar à escrita foi dizer-lhe: minha querida amiga, não desista, não se vá embora, não deixe de escrever. “Seus escritos (e outros) entram na minha hora diária de leitura. Contribuem para que desvaneça desgostos e retempere o ânimo que preciso ter, que precisamos ter." Hesitei, questionando-me se teria eu tanta importância assim para a incentivar a continuar. Achei então argumentar, dando-lhe a ela os argumentos que uso eu próprio para diariamente escrever e manter viva esta conversa.
Escrevo porque sim, porque gosto das palavras, porque as gosto de alinhar, rimá-las e dar-lhes a energia que por vezes lhes falta, sobretudo às menos usadas ou às mais aviltradas. Escrevo para arrumar as ideias, aprofundar o juízo das coisas e do mundo, nesta insistente, quase teimosa, tarefa de o tentar compreender. Escrevo não só para que me leiam, mas para que eu registe a memória e me espante com o que pensava vir acontecer, depois de, mais tarde, ter acontecido. Escrevo para todos e, assim, também para mim. Escrevo e leio, porque não há escrita que não me obrigue a ir ler. De vez em quando leio um livro, faço como Montesquieu…não ler, por ler. Leio para desvanecer a desesperança. Leio para ser.
Eu, Minha Alma e Meu Contrário (num dia calmo)Voltando ao texto de Baptista Bastos, é uma prosa do... caraças.
PS: Já depois de editado BrancaMar me enviou um mail a lembrar onde reside a promessa. É nos comentários a uma Homilia. Nessa.