22 maio, 2012

Unidade da esquerda (ou das esquerdas) as oportunidades reais e as fracturantes. Algumas reflexões - Parte II

"(...)É preciso juntar forças. Somar gentes que se oponham à política da troika e que sejam intransigentes nesse combate. Juntar partidos, movimentos e cidadãos que não se reconheçam no capitalismo. Construir uma esquerda com a ambição de vencer que esteja comprometida com a luta pela a igualdade. A crise é uma máquina de liquidação dos direitos sociais e políticos da maior parte da população.(...)" - Uma esquerda comprometida
"(...)Em Portugal e na Europa, a esquerda está dividida entre a moleza e a inconsequência. Esta esquerda, às vezes tão inflexível entre si, acaba por deixar aberto o caminho à ofensiva reacionária em que agora vivemos, e à qual resistimos como podemos. Resistir, contudo, não basta.(...)Uma esquerda corajosa deve apresentar alternativas concretas e decisivas para romper com a austeridade e sair da crise, debatidas de forma aberta e em plataformas inovadoras.(...)" - Manifesto para uma esquerda livre
Fecho o tema que abri (aqui), não com o relançar de polémica (e bem podia fazê-lo) mas com algumas perguntas, que bem podem ficar no ar. Respostas? O tempo se encarregará de as dar:

1ª Pergunta: Qual dos dois documentos, dos quais apenas retiro enxertos,  é o mais aberto, inclusivo e consequente para a desejada unidade das esquerdas?

2ª Pergunta: Tendo sido hoje anunciado, pelo líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, que o partido vai apresentar um novo projecto de resolução sobre a renegociação da dívida e requerer um debate potestativo no Parlamento sobre a matéria, é, esse facto, mobilizador ou não para outras forças e vontades lhe reforçarem a posição e desenvolverem um contexto de discussão, ou mesmo apoio? Não seria matéria para os subscritores do tal "manifesto" se pronunciarem?

3ª Pergunta: Porque o destino da Grécia parece estar em vias de estar traçado, porque hoje surgem notícias disso mesmo, e de que a Grécia nem perderá forçosamente com isso (ler aqui), e ainda porque o Relatório da OCDE trás notícias que a avaliação da troika não poderá deixar de considerar, estão ou não todas as forças que se opõem à politica das troikas disponíveis para um entendimento comum? 



Há exactamente um ano e dois dias, eram estas "as propostas concretas" de uma
esquerda que nem pode ser acusada nem de mole nem de inconsequente...

11 comentários:

  1. Caro Rogério
    A ausência de comentários neste seu post (coisa rara) é sintomática. Talvez porque os habituais comentadores não tenham muito a dizer e outros evitem ferir a susceptibilidade do meu caro.
    Neste tema o Rogério já disse tudo. Criticou logo à nascença o movimento promotor do manifesto. Confrontou o manifesto com um artigo (post) de opinião e claro que a resposta já existe. O PCP e a sua política consequente contra o capitalismo.
    Na manifestação de 15 de Outubro de 2011 encontrei um quadro clandestino do PCP (sim ainda os há) que claramente ia com uma missão, ver o que se passava e tentar falar com alguns dos organizadores, dada a sua função de dirigente de uma organização que se pretende manter aparentemente distante do PCP (daí a clandestinidade). Deu para conversar alguns minutos e transmitir-me a preocupação e o que procurava descobrir. Quem é que controla isto? Era a sua interrogação.
    Penso caro Rogério que no geral o comportamento do PCP tem sido justo no que defende, nas propostas e soluções que apresenta. Mas não pode continuar a agir como se a esquerda “consequente” ali comece e acabe. Há uma esquerda muito mais numerosa que está órfã e não se reconhece no PCP, no BE e até já nem no PS. Poderá ser a tal esquerda “livre “ e muitos desses homens e mulheres querem e sentem a necessidade de fazer mais do que escrever em blogues e no facebook.
    Desculpe qualquer coisinha e a extensão.
    Abraço
    Rodrigo

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  2. Caro Rodrigo

    Vejo que esqueceu, completamente, a primeira parte deste tema

    Três comentários ao seu:

    Primeiro: A (muito possível) ausência de comentários terá a ver muito mais do que aquilo que disse;

    Segundo: O Rodrigo se pensa, como diz, que "no geral o comportamento do PCP tem sido justo no que defende, nas propostas e soluções que apresenta" poderia interrogar-se de seguida porquê o silênciamento sistemático desse comportamento e dessa justeza? Porque não fazer dessas suas propostas uma base de entendimento?

    Terceiro - É pouco compreensível que os tais órfãos procurem o seu espaço à custa de posições anti-PCP que nada diferem dos da imprensa instalada (omissão e distorção)e da direita e do tal chamado centro-direita (que ainda não sei o que é). Se há forças de esquerda que se querem afirmar que se afirmem com um projecto. E esse, tarda.

    A questão do seu diálogo com o tal seu amigo clandestino, a resposta é difícil caber no âmbito de um comentário

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  3. Amigo Rogério,

    Penso que em Portugal é muito difícil unir as várias tendências de esquerda.

    Para começar teríamos que definir que se entende por "esquerda". Nesse contexto, não considero o PS um partido de esquerda porque apoia as ideologias do sistema capitalista tradicional.

    Sobra portanto o PCP e o BE com assento parlamentar em termo de partidos políticos. Muitos pequenos partidos não têm voz.

    Contudo, os defensores de uma esquerda social e justa não se limitam aos partidos políticos, muitos movimentos e muitas pessoas partilham esses ideais.

    Discordando com muitas das ideias do PCP, reconheço, pessoalmente, que tem sido um dos únicos a apresentar soluções para os vários problemas económicos e sociais, não se limitando apenas a constatá-los.

    Defendo uma desestruturação total do tipo de sistema políticos em que a nossa sociedade assenta, o fim desta hierarquia partidária, a criação de vários grupos a nível local que decidam das necessidades e as transmitam ao nível de decisão seguinte. Teríamos portanto uma inversão nas decisões de baixo para cima. Este tipo de esquema dispensa a filiação partidária e torna o políticos profissionais dispensáveis.

    Na ausência de uma tal democracia participativa, com o que temos actualmente, penso ser muito difícil um consenso que reúna a chamada esquerda.

    Um abraço

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  4. Rogério,

    Só lhe digo que é como diz o primeiro documento, é preciso "Juntar partidos, movimentos e cidadãos que não se reconheçam no capitalismo. Construir uma esquerda com a ambição de vencer que esteja comprometida com a luta pela a igualdade."

    Beijinho

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  5. Ou me engano muito ou este diálogo (aqui) é sintomático do que se passas ao nível dos partidos de esquerda, em Portugal.
    Quem lidera quem e o quê, parece mais importante do que contrariar, a uma só voz, para que se ouça, as políticas neoliberais que têm levado o país à ruína.


    L.B.

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  6. Ora aí está, secundo plenamente a Lídia Borges.

    A verdade é essa, o que os políticos carreiristas pretendem é o seu espaço no espectro político, para uns lugares na AR, nas Câmaras, Juntas e outras instituições públicas e público-privadas.

    Essa é que é a questão. Enquanto assim for, vai ser muito difícil bloquear o neoliberalismo galopante que domina o país e a Europa, pelo menos.
    Ou seja, contra a força do bloco neoliberal e de direita do PPD e do CDS (quiçá do PS, uma ala muito forte) só uma União das forças de esquerda. Doutro modo vai ser muito difícil contrabalançar o absolutismo das maiorias absolutas neoliberais que nos têm arrastado para a desgraça, para a diferenciação de classes, cada vez mais acerrimamente. Agora já começam a esboçar uns esquemas para ver se se consegue que os pobres não fiquem completamente lisos, quando não quem é que vai pagar a fatura da Dívida e as suas mordomias?

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  7. Ainda hoje no Parlamento

    PS/PSD/CDS

    responderam às questões

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  8. Não vou esmiuçar as questões nem tampouco dar respostas concisas, pois para tanto me falta o saber e a arte de "jogar" com as palavras.
    Defendo uma só esquerda, mesmo sabendo que em tempo algum em Portugal ela existiu, desde que se derrote a direita (PS incluído).
    Não vejo porque não hão-de governar o País todas as esquerdas unidas, independentemente das suas naturais divergências.

    Beijinho

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  9. Não me vou pronunciar sobre a pergunta que faz, porque não é através de extractos que se podem fazer comparações.
    Digo-lhe, no entanto, que o pior para a esquerda é que um partido se queira apropriar dela. Mas isso é uma história muito antiga e não vale a pena chover no molhado...

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  10. Infelizmente já não tenho ilusões de que alguma vez a esquerda se una a tempo de evitar o pior, é demasiado honesta e coerente e dessa forma se radicaliza nas filosiofias ideológicas de cada um, enquanto que a direita se une no objectivo comum que é a obtenção de capital e consequentemente um cada vez maior poder económico.

    A esquerda só se une quando já não há nada a fazer, perante a desgraça, aí são todos por um e um por todos, como muito bem sabemos que aconteceu antes de 1974 e nos primeiros dias de 1975. Logo depois foi vê-los uns para cada lado o o retrocesso progressivo dos valores defendidos. É pena, mas é o que se constacta.

    A este tema talvez ainda volte, porque demasiado delicado e neste momento não tenho condições para desenvolver.

    Beijos
    Branca

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  11. A unidade estabelece-se no direito ao trabalho e no direito ao consumo. No entanto estes direitos têm sido adulterados quanto à sua finalidade. A luta contra os trabalhadores pode revestir aspectos diversos: desde a não criação de emprego à criação do consumismo.
    Se se abandonar a perspectiva de classe toda a discussão me parece inútil.

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