"O amor é revolucionário? Interessante. Importa-se de me explicar mais claramente a sua ideia? - e eu respondi que sim," e Eufrázio explicou, assim
Depois do Manuel Veiga, autor do prefácio, e do João David lhe dedicar um comovido testemunho, calhou a minha vez. E fui aventureiro, ao ponto de lhe caracterizar a obra, após ter descrito o nosso encontro e a nossa amizade, citando Vinicius: «“A gente não faz amigos, reconhece-os.” - Os poetas sabem dizer, com poucas palavras, as coisas profundas e certas.»
«A obra de Eufrázio é configurada por "um universo de palavras simples onde os quatro elementos da natureza, - tal como acontece na poesia de Sophia – ar, água, terra e fogo, têm uma presença constante. Diria que Eufrázio tem, como Sophia, a magia do artesão que, com recursos naturais, que à partida parecem limitados, fazem obra que nos penetra a alma e a razão.»
E dei exemplos brincando com títulos de poemas seus, onde o seu alinhado parece um poema:
OUSAS SER LIVRE (pág. 121)
NOUTROS AMANHÃS (pág. 135)
A HASTEAR PALAVRAS (pág. 170)
NUM HINO ÀS TEMPESTADES (pág. 187)
EM AZUIS QUE SE DESFOLHAM (pág.214)
A SOPRAR O VENTO CONTRA O VENTO (pág. 223)
CAMINHO SEM MARGENS (pág. 224)
POR UMA NESGA DE SOL (pág. 233)
EM PLENO VOO POR UM GRÃO DE AREIA (249)
(todos os títulos se referem a poemas onde entra a palavra escarpa)
Gostei disto, vou daqui… e faço uma pequena citação de um trabalho sobre a poética de Sophia, em reforço do que deixei dito:
Nela, «… a poesia "implica", isto é, compromete-se com o mundo exterior, interiorizando-o e retransmitindo-o. Há uma reconstrução da aliança com a natureza e com as coisas numa procura de harmonia e pureza. Nestes elementos Sophia busca a beleza poética, o fascínio, a meditação, o reencontro e a comunhão com o primitivo, com as origens.»
Sinto que há aqui um ponto comum, apesar da profunda originalidade de cada um.
Voltando ainda aos exemplos, não posso deixar de observar que perpassa deles um sentir militante que é muito marcante em muitos poemas.
É verdade, Eufrázio é um poeta de Abril (ou não fosse Abril um Chão de Claridades)
Mas recordo e sublinho, a esse respeito, o que o nosso comum amigo, o Manuel Veiga, referiu no seu cuidado e bem elaborado prefácio:
«Não se iludam (…) aqueles que esperam encontrar nesta obra poesia política em sentido estrito (…)E se alguma conjugação existe entre ambas (…) é pela afirmação da política como poesia e não o contrário».
E essa é mais uma característica da poesia original deste meu querido amigo.
O facto de, algumas vezes, me fazer lembrar José Gomes Ferreira é porque, neste, também os versos de combate e luta são antes de mais versos, versos belos de poeta militante.
Deixem-me agora mudar um pouco o rumo a estas minhas palavras para introduzir desassossegos da alma e da razão.
Costumo, ao falar de mim próprio, identificar-me como um Eu, alguém, que sente e age, sempre como resultado entre o confronto íntimo do sentimento com a razão. Para poder brincar com as palavras, dei-lhes nomes. Eu, sou Eu, Minha Alma e Meu Contrário
Eu decido e ajo entre a Minha Alma que sente e o Meu Contrário, que faz contraponto racional a esse sentir.
Assumo-me, assim, como sendo eu próprio a dialéctica. Quando digo que gosto da poesia de Eufrázio não estou a dizer que é algo que enche a Minha Alma, é mais que isso.
É isso, com o consentimento do Meu Contrário.(...) A sua poesia colocam em paz o sentimento que tenho ao lê-lo com os juízos (ou pensamentos) que ficam a povoar-me a mente.
E fui tentar descobrir porquê.
Não sei se consegui. A ideia que me fica é que ele habitando uma escarpa – talvez a palavra mais constante em toda a sua obra – ele a escancara ao "outro".
É isso.
Eufrázio, está lá, esperando que estejamos também. Vê de lá, esperando que vejamos também. Sente e ama de lá, esperando que seja de lá que passemos a sentir e a amar. Sobe para lá, esperando que o acompanhemos na subida. É de lá que fala de esperança, convencido de que juntamos à sua a nossa voz…
Não é impositivo nisso, pois para o poeta, o “outro”, não é mero destinatário da metáfora, é desafiado a fazer parte integrante dela. “A busca do Outro talvez seja o caminho pelo qual cada um de nós consegue chegar a si próprio. Para aproximarmo-nos àquilo que somos temos de passar pelo Outro.” Escreveu Saramago. Eufrázio, escreve-o de outro modo e alarga-lhe o sentido. Passa do ser ao estar. Na sua obra, a "escarpa" é o País de todos nós, ansiando ser um “Chão de Claridades”»
Terminei, dizendo «AINDA HOJE TE CHAMO ESCARPA»
Foi bonito
ResponderEliminarFoi? É bonito! Li lá tudo e também tudo o que aqui nos deixa. É bonito!! Precisamos tanto de "interregnos para coisas belas"!!
Beijo
Laura
Que bom friso de seres humanos...daqueles que, se a houver, têm alma dentro!
ResponderEliminarBeijo grande
Gostei de ver o Rogério aqui ao lado de Eufrázio Filipe.
ResponderEliminarParabéns a ambos, prinicipalmente ao Eufrázio,ao qual agradeço o convite.
beijinho e uma flor
Tenho a certeza que foi lindo.
ResponderEliminarPena não ter podido estar presente.
Grata pela partilha!
Estimado amigo e camarada
ResponderEliminarestou grato pela tua inestimável prestação
neste chão de Abril
Abraço-te meu irmão
Foi bonito! É bonito!
ResponderEliminarTu nunca terminas, nós todos bem o sabemos.
Abraço
ResponderEliminarSão momentos bonitos todos os que dedicamos, de alma nua, aos amigos.
Um beijo
uma jornada poética memorável.
ResponderEliminarsabes quanto me foi grato esta partilha...
abraço
Fico contente por ter sido bonito.
ResponderEliminarAbraço para ti, Manuel e Eufrázio.
Acredito mesmo ter sido lindo. É bom e belo ver a sensibilidade sustentada pela inteligência.
ResponderEliminarEstava com saudades de ler seus posts.
Beijos.
Foi bonito sim, comovente.
ResponderEliminarFoi uma honra ter assistido.
Abraço
cecilia