30 novembro, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 77 (A municipalização da educação e a escola pública destinada aos pobrezinhos)

(ler conversa anterior)
«Um professor é um decisor: alguém que, a partir do que se encontra determinado superiormente, tem a obrigação de escolher, em liberdade e com sentido de responsabilidade, de entre as possibilidades de acção aquela que, num determinado momento, se afigura mais adequada na concretização do que é o Bem em termos de educação formal. Negar-se esta faceta ao professor, que é a matriz da sua função, é negar a sua existência. Mais honesto seria acabar-se, de vez, com esta profissão!»
Helena Damião, in De Rerum Natura
«...E David Justino, (...) mostra-se entusiasmado com a municipalização do ensino, em experiência anunciada. Estou cansado de ver ex-ministros colarem-se, depois de saírem de funções, à bondade de políticas que poderiam ter executado. A descentralização de que o sistema carece é por via autonómica efectiva das escolas, que nenhum dos ministros de que falo teve coragem de promover. Mas não precisa de municipalização, metáfora do Estado Novo II para substituir um monolitismo por vários caciquismos. »
Santana Castilho, in Público

«Municipalização da educação? Digam-me uma única vantagem para a comunidade educativa, para os alunos, e eu terei de concordar com a solução.»
Director de um importante agrupamento escolar do Concelho de Oeiras

Tínhamos combinado, eu e o velho engenheiro, que não falaríamos nem de justiça, nem de detenções, nem de entronamentos e congressos, e, por isso, estávamos calados, rebuscando assunto. As professoras chegaram e falavam acaloradas. A Ana estava exaltada, a Gaby pousou a mala e elevava a fala. O rafeiro do velho engenheiro agitou-se a até ganiu, de incomodado com a enxurrada de palavras quase gritadas. Mais calada estava a Teresa, mas também ela transtornada. Eu e o velho trocámos olhar interrogativo como que questionando o que seria aquilo. Não foi preciso esperar muito. «O director deveria reunir connosco! Partilhar as preocupações, ouvir-nos...» dizia uma, para outra argumentar «Não o culpes, tudo isto tem sido tratado entre o Ministério e a Câmara, em segredo. Numas reuniões está, noutras nem é convocado». E lá fomos percebendo que se tratava da imposição da municipalização do ensino. A dada altura, sentencia a Teresa, com voz calma e firme: «Se não for afastada a essa ideia de as autarquias receberem prémios por conta da eficiência, dispensando professores a troco de uns apetitosos trocos; se os conselhos municipais de educação tiverem de ganhar um protagonismo novo, e se as suas competências forem conflituar com as dos actuais Conselhos Gerais; se passarem para a competência das câmaras, competências que hoje são atribuições da escola, conflituando com a autonomia que hoje detêm; se as Direcções da escola passarem a ter de reportar decisões que hoje não reportam a ninguém; se, de mansinho, as câmaras se apossarem da responsabilidade pelo pessoal docente; se o pessoal não docente for gerido à distancia, administrativamente, por autarquias sem a garantia de que essa tutela esteja habilitada para o efeito. se tudo, ou parte disso, acontecer, a Escola Pública vai morrer»
- «E tudo começou com a Milú»
- «Lá estás tu!»
Nesta altura eu e o velho engenheiro resolvemos romper com o nosso acordo e lá começámos a falar sobre o congresso e sobre o que lá se disse...

7 comentários:

  1. A disputa de poderes já começou. As juntas de freguesia, cá da zona, tratam as funcionários das escolas como: "as nossas" repescadas no desemprego, a preço de saldo,(bata azul) e "as deles"/escola (bata cinzenta).As nossa só fazem... as deles que façam... Como se o objetivo de uns não fosse o dos outros. Como se a articulação de funções, o planeamento feito de acordo com as necessidades, não beneficiasse as crianças,o funcionamento da instituição, a comunidade...
    Conflitos, ordens para a direita e para a esquerda,refutando tudo, mesmo o regulamento pré-definido, discutido e aprovado.
    Deve dar muito prazer "mandar" na escola, àqueles que se apresentam cheios de soluções "fáceis e obvias" que se revelam desastrosas e têm de ser abandonadas, logo a seguir, por não responderem aos anseios de alunos, pais, professores.
    Deve haver, nestas pessoas, uma espécie de "odiozinho" mal resolvido, do tempo em que andaram na escola que agora, tomados pela febre do poder, vem ao de cima. Só assim se explica tanta prepotência em tão pouca competência. Uma coisa triste de se ver e ainda "a procissão vai no adro"

    Lídia

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  2. Ainda vai haver muito empobrecimento nas nossas escolas. E quando falo em empobrecimento, não é apenas de dinheiro que falo!!
    E sim, começou tudo com a "Milú". As pessoas esuqecem-se disso mas é bom que o tenham em mente quando forem votar!

    Beijinhos Marianos, Rogério! :)

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  3. É uma ameaça que já começou há muitos anos!

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  4. "Por cada professor que dispensarem câmaras recebem 13 600 euros" . Este era há dias um título do Diário de Notícias. Embora a Física nunca tenha sido o meu forte parece-me que estamos perante o princípio dos vasos comunicantes. Explico. No passado mês de Novembro uma moção subscrita pelos quatro deputados da CDU foi aprovada por maioria dos presentes (37 deputados) apenas com um voto contra (do deputado do CDS). O orçamento não cumpre a Lei das Finanças Locais: reduz substancialmente os recursos financeiros em domínios considerados críticos como seja o do transporte escolar e impõe restrições no domínio dos recursos humanos, seja por via do controlo de admissões e procedimentos concursais, seja na valorização dos trabalhadores. Comecei pelos professores mas não quero deixar de referir a situação dos Auxiliares de Acção Educativa, a sua falta.
    O processo de destruição da Escola Pública vem de longe. Começou com o ataque da Ministra Maria de Lurdes aos professores, já lá vão dez anos, continua com o Ministro Crato (veja-se o Ofício enviado pelo Provedor de Justiça ao ministro da Educação “Exercicio de funções docentes. Aplicação da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades” : 8000 docentes excluídos das listas).
    Para quem reverte o descalabro? Para os trabalhadores e para os alunos, com o aumento do número de alunos por turma.

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  5. Diria tanta coisa!
    No cansaço...levanto-me e digo:
    - Municipalização? Nãooooo!

    Beijo

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  6. O que sabe David Justino? Nem um concurso de professores soube realizar...entroniza-se cada um neste país!
    (Cala-te, Ana...)

    Beijo

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  7. Subscrevo o comentário da amiga Ana.

    beijinho

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