07 março, 2012

Angola (1969-1971) - Memórias de factos, afectos, angústias e medos

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Era uma tonalidade tão bela que só poderia ser obra de mulher 
a afastar o sol no horizonte. Chamei-lhe Maria do Sol
"Passado um declive muito acentuado, a coluna subiu uma ravina pouco inclinada e avistou o aquartelamento. Logo a seguir, mais de uma centena de soldados vieram ao nosso encontro gritando coisas diversas. Fixei apenas uma exclamação: «Olha a nossa salvação!» E éramos. Vínhamos render aquela gente e por isso estavam tão felizes. No céu, para onde olhei inadvertidamente, talvez para perceber de que lado estava Deus, se com a satisfação dos que iam regressar se com a tristeza dos que acabavam de chegar, apenas vi uma tonalidade avermelhada e calma do sol a partir. Era uma tonalidade tão bela que só poderia ser obra de mulher a afastar o sol no horizonte. Chamei-lhe Maria do Sol e ela antes de a estrelada noite aparecer, pareceu-me ter dito: «Rogério, amanhã o sol voltará, para te alegrar a Alma…»"
Rogério Pereira, in "Almas que não foram fardadas", pág. 33 

15 comentários:

  1. As mulheres t~emessa capacidade infinita de consolação de quem sofre...

    Tudo de bom

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  2. Fui espreitar de onde vinha a foto e fui parar ao flip...vinagre e achei graça por haver mais blogues avinagrados :)

    Quanto ao sol nascer todos os dias... já dava jeito uma Maria da Chuva ;)

    Bjos

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  3. o tom

    e o dom, o seu

    de escrever bem


    um abraço, Rogério

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  4. Caro Rogério
    Um dos episódios que memorizei ainda no blogue e que talvez tenha sido um dos que mais me fez perceber a sua forma de passar por uma guerra e aparentemente dela ter saído sem traumas "visíveis".
    Fez bem em destacar.
    Abraço
    Rodrigo

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  5. Bem... que foto linda! Estou perplexa!

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  6. A imagem estava lá, antes da imagem. Igualzinha!
    Da escrita repito-me, encanto-me...

    Um beijo

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  7. Tão bela que só poderia ser feminina.

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  8. O problema é que quando o Sol nasce, não é para todos...

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  9. Rogério, por tua única e exclusiva responsabilidade, sempre que penso em algo penso-lhe na alma. Mesmo que não a tenham. das que têm penso na minha alma castanha quando me refiro ao meu gato siamês, na alma a preto e branco e na alma doirada em relação ás outras gatas e até o meu contrário se urinou a rir, que eu não, quando deitei fora uma gilette e a minha alma me segredou que aquela alma cortante já tinha cumprido o seu papel. Sou um addicted!

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  10. Histórias fantásticas, dolorosas a maior parte delas, mas muitas que nos deixaram intensas marcas emocionais, aquelas que os que andaram por essas terras que Vasco da Gama e tantos outros acabaram por nos legar, mal imaginando os imensos dramas que os portugueses e os nativos acabaram por viver durante meio milénio.

    Estou com curiosidade de ler este livro.
    Aquelas terras vermelhas, quentes, as plantas a crescerem vários centímetros do dia para a noite, as trovoadas e chuvadas intensas que tínhamos que suportar.

    Eu parti para Moçambique, numa Sexta-Feira, 13, num avião da TAP, em rendição individual, que era da Administração Militar.

    Acabei por ser um miliciano privilegiado, a minha filha Inês, hoje com 42 anos, nasceu em Nampula.

    Fiquei apaixonado por Moçambique.

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  11. A imagem é única, belíssima.
    O sol de África é diferente e todos os poentes são em si diferentes, um festival da natureza.

    O texto esse tenho-o bem presente, ainda fresquinho e relê-lo é como olhar uma pintura bela como aquela fotogrfaia, mas uma pintura da vida real, com nuances de várias cores.


    Beijinhos

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  12. Era chegado o momento do sol delirar nos braços morenos da Maria...
    Um grande bj querido amigo

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