03 janeiro, 2014

"Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa." (Torga)


O miúdo aproximou-se, mais curioso que a medo, daquela figura coberta de negro. Ela caminhava, lenta mas certa, direita. Era baixa e segurava um bordão. O miúdo, por detrás, acompanhou-lhe o passo até que, decidido, lançou-lhe um olá metediço. Ela parou, e com um olhar vivo mas inexpressivo respondeu-lhe ao cumprimento. Encorajado, o miúdo perguntou o que perguntava a toda a gente com quem se metia, "Como te chamas?" -"Resignação!", respondeu ela prontamente. "Só tens esse nome?" Ela ficou um tempo imenso a olhar o ar como se esperasse ler o seu apelido entre as nuvens perdido... "Chama-me Resignação, o resto já não conta!" e continuou o caminho, agora mais apressada como se tivesse coisa importante para fazer. O miúdo ficou a olhá-la até a ver desaparecer na primeira curva do caminho que a levava à aldeia, para se juntar aos outros, também chamados resignados.

9 comentários:

  1. Adoro este rosto! Cada sulco contém uma história.
    Os olhos cansados de absorverem tanta sabedoria num corpo
    que nada mais pode fazer do que se entregar à "Resignação", sorriem-nos, num desafio que nos faz reflectir sobre aquilo que queremos para a humanidade: "Resignados"??? Acho que não!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Bom Ano!!!!

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  2. Não somos nós um povo resignado? Podemos até parecer diferente, lutadores e empenhados em mudar certos rumos, mas acabamos a cantar o Fado e a ver a Casa dos Segredos...

    Abraço

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  3. Excelente fotografia!
    Nem todos chegámos àquele limiar da resistência que, rapidamente, conduz à resignação... e nem todos chegámos, ainda, à revolta...

    Abraço!

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  4. Olá Rogério,

    Povos resignados acabam na extinção e os portugueses, segundo um jornal britânico, serão o primeiro povo europeu a conhecer a extinção. Levará menos de um século... dentro das condições que se vêem no momento. Claro, se os EUA (israel)pararem de se meter com a China, coisa que não vejo jeito, muito pelo contrário, o rumor de guerra intensifica-se, sem que saibamos pelos media e a extinção poderá acelerar-se e poderá ser questão de pouco tempo.

    Entretanto a TV, vai fazendo as delícias de quase todos os que ainda não "foram", infelizmente.

    Um abraço e Parabéns pelo 4º Aniversário.

    Força aí Guerreiro!

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  5. A paisagem denuncia a perfidia mas não decide. A resignação nada sabe...

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  6. O abandono a que se deixa o interior do país é confrangedor. Fecham-se escolas, Centros de Saúde, postos dos CTT... Os que se não resignam, partem. Os que não partem, para além de se resignarem,ficam sós.

    Beijinhos Marianos, Rogério! :)

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  7. A desertificação, a avaliar pelo número de pessoas que todos os meses abandonam o país, parece não querer limitar-se às regiões do interior.

    Ficam os fortes ou os fracos?

    Lídia

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  8. essa senhora chamada de Resignação viveu connosco 300 anos durante os tempos da «Santa» Inquisição, mais 48 anos durante os tempos da "santa" ditadura e está pronta para continuar connosco per secula seculorum... (ámen!)

    Que tristeza!

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  9. Obrigada pela visita Rogério...

    Abraço e bom Domingo!

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