Dos quatro livros que Chico Buarque escreveu, dois recomendo eu. O último, o agora premiado, deu para ele conceder uma entrevista onde tenho coisas a aprender, como aprendiz de escritor com ambição. Acho até que nesta passagem ele me estaria a dar conselhos. Passo essa parte:
Escreveu este romance sequencialmente? Quando se sentou para escrever o livro começou do princípio ao fim?
Sim. Já tinha algumas coisas esboçadas aqui e ali. Pouca coisa. Quando eu julguei que tinha o livro, que tinha história boa, a história que me interessava à mão, comecei a escrever do princípio e fui até ao fim. Evidentemente, uma outra vez, mas pouco, retornei a trechos anteriores por causa de acontecimentos que sucediam ali adiante. Fui obrigado a retocar algumas coisas mas isso foi muito pouco. Na verdade, ele foi acontecendo de cabo a rabo. Geralmente o que acontecia antes é que provocava [risos], é que tinha consequências ali adiante. Uma ou outra vez confesso que não. Alguma coisa que me interessava que acontecesse ali adiante, precisava que eu alterasse uma coisinha ou outra que já estava escrita. Mas de modo geral foi escrito do começo ao fim, na ordem que está no livro.
Sempre que recomeçava a escrita deste romance, lia o que já tinha escrito para trás. Lia alto, lia só para si?
Não cheguei a ler alto, não. Mas era como se lesse alto. Eu só me satisfazia com a escrita quando ela soava bem. Mas para soar bem, não preciso falar alto. Me soa bem um pouco como uma música dentro da cabeça. Quando digo música, digo música de propósito porque tem a ver. Acho que é evidente. Quem sabe que sou músico, que trabalho com música, ou mesmo talvez para quem não soubesse, daria para se perceber que esse autor mexe com música. É um autor que tem um ouvido musical. Agora eu, para pensar numa música, não preciso necessariamente de cantá-la. Dentro da minha cabeça tenho a melodia. E a melodia de cada frase do livro tinha que soar bem dentro da minha cabeça. Não me aconteceu de falar alto para ver se soava bem, não foi necessário. Há uma cadência, um ritmo dentro de cada frase que obedece a um critério musical. Isso já disse em relação a outros livros meus e é facto.
Escreveu este romance sequencialmente? Quando se sentou para escrever o livro começou do princípio ao fim?
Sim. Já tinha algumas coisas esboçadas aqui e ali. Pouca coisa. Quando eu julguei que tinha o livro, que tinha história boa, a história que me interessava à mão, comecei a escrever do princípio e fui até ao fim. Evidentemente, uma outra vez, mas pouco, retornei a trechos anteriores por causa de acontecimentos que sucediam ali adiante. Fui obrigado a retocar algumas coisas mas isso foi muito pouco. Na verdade, ele foi acontecendo de cabo a rabo. Geralmente o que acontecia antes é que provocava [risos], é que tinha consequências ali adiante. Uma ou outra vez confesso que não. Alguma coisa que me interessava que acontecesse ali adiante, precisava que eu alterasse uma coisinha ou outra que já estava escrita. Mas de modo geral foi escrito do começo ao fim, na ordem que está no livro.
Sempre que recomeçava a escrita deste romance, lia o que já tinha escrito para trás. Lia alto, lia só para si?
Não cheguei a ler alto, não. Mas era como se lesse alto. Eu só me satisfazia com a escrita quando ela soava bem. Mas para soar bem, não preciso falar alto. Me soa bem um pouco como uma música dentro da cabeça. Quando digo música, digo música de propósito porque tem a ver. Acho que é evidente. Quem sabe que sou músico, que trabalho com música, ou mesmo talvez para quem não soubesse, daria para se perceber que esse autor mexe com música. É um autor que tem um ouvido musical. Agora eu, para pensar numa música, não preciso necessariamente de cantá-la. Dentro da minha cabeça tenho a melodia. E a melodia de cada frase do livro tinha que soar bem dentro da minha cabeça. Não me aconteceu de falar alto para ver se soava bem, não foi necessário. Há uma cadência, um ritmo dentro de cada frase que obedece a um critério musical. Isso já disse em relação a outros livros meus e é facto.
Isabel Coutinho entrevista Chico Buarque sobre "Leite Derramado"
O próprio autor lendo "Leite Derramado", depois de publicado
Oi Rogério !
ResponderEliminarTer a história certa nas mãos. É isso que me falta. Vc já deve ter percebido que tenho vontade de escrever. Mas um livro carece de um enredo especial. Este eu ainda nem desconfio.
Escrever um livro de uma só sentanda. Nossa, isso é que é inspiração! E treino, muito treino.
Que bom compartilhar esta entrevista conosco. Eu adorei. Obrigada.
A propósito, sexta-feira está chegando. Oba! Aguardo para ler mais um capítulo do seu livro.
Um abraço,
Uma entrevista dessa atiça o escritor que se esconde dentro da gente.
ResponderEliminarAbraço
Uma belissima entrevista diga-se...
ResponderEliminarOntem vi-o e ouvi-o no telejornal e fiquei logo interessada no livro.
ResponderEliminarAdoro o Chico Buarque desde os meus tempos de juventude.
Obrigada por mais esta partilha.
beijinhos
Quatro livros e eu só conheço um?!...
ResponderEliminarAi... ai! Tenho andado mal.
Acredito que a sua qualidade de músico tenha influenciado a construção do discurso literário. Harmonia e ritmo são "coisas" da música.
Um beijo
Olá Rogério!
ResponderEliminarUma boa Entrevista Com o Chico Buarque, um grande homem da música da poesia e da vida, parabéns escritor rogério.
Um abraço,
Caro Rogério
ResponderEliminarParabéns pela escolha, para quem escreve como o Rogério não me surpreende ser sensivél a música e à poesia do Chico Buarque, também eu gosto imenso, mas nunca li nada dele.
Beijinho
Depois de ter lido "Budapeste", não perderei "Leite Derramado".
ResponderEliminarA entrevista de Chico Buarque, na minha opinião muitíssimo bem conduzida por Isabel Coutinho, permite-nos mergulhar na intimidade criativa do escritor. Daí o ter entendido o sentido deste post, com o qual estou de acordo.
Parabéns, caro Rogério!
Cá voltarei na Sexta-feira para a leitura de mais uma página do seu "Caminhos do meu navegar". Não quero perder a libertação da sua veia de escritor, inspirada por José Saramago (como disse num dos seus posts) e agora também incitada por Chico Buarque!
Um abraço
Do Chico Buarque li "Budapeste", e logo que chegue ao Porto, vou ler o "Leite Derramado".
ResponderEliminarConcordo com o Carlos:
a entrevista de Chico Buarque está muito bem conduzida pela Isabel Coutinho.
Gostei muito deste post, meu caro Rogério, e amiga burguesa manda-lhe um abraço de Düsseldorf!
Rogerio,
ResponderEliminarao que parece o Chico fala a todos que pensam, querem e executam o escrever.
bjs
Jussara
Caro Rogério
ResponderEliminarConfesso que do Xico Buarque, só conheço alguma canções. Penso que a primeira vez que veio a Portugal eu estabva lá, ali para os lados do Vale do Jamor. Mas o meu caro abriu-me o apetite e claro que vou comprar (e ler) pelo menos um do livros.
Abraço
Já estou, mentalmente, na bicha para comprar o livro (o seu claro!)
ResponderEliminarBeijinho
:)))
Ah meu amigo...a vida faz-se curta para tantas páginas que queremos ler...ao Chico ainda só ouvi, nunca li.
ResponderEliminarAgora ando ás voltas com o Goncourt...
Mas prometo que sexta feira o largo...
bjo
Amigo Rogério!
ResponderEliminarDeste Chico só conheço a sua música que adoro.
Pobre ignorante sou eu, nunca li nada dele...
Lerei, prometo.
Beijos
Ná
Interessante entrevista.
ResponderEliminarNão tenho capacidade criativa para escrever um romance. Por isso, me vou limitando a escrever textos outros.E apareciar quem o faz com qualidade. Por isso, o acompanharei .
Uma serena noite lhe desejo.
Por aqui... para me pôr em dia... demorou.
ResponderEliminarIsto é o que faz, andar muito ocupada... e de momento, nem vou acrescentar ler livros... senão... nem posso vir visitar os amigos.
Bjos
Simplesmente AMO CHICO BUARQUE! Hoje mesmo no Blog tem uma musica que fez parte da minha infancia e que hoje canto para meus filhos dormirem!
ResponderEliminarQuanto aos livros, por icrivvel que parecça, como todo meu amor, ainda não li nenhum. Assim, anotado estão para a próxima compra quando for ao Brasil!
Obrigada, meu abraço.