10 novembro, 2010

A consciência do tempo

Nunca utilizo palavras minhas sempre que descubro alguém que dizendo o mesmo que eu quero dizer o faz bem melhor do que eu. Por isso transcrevo partes do que o BB escreveu hoje na sua coluna de opinião, no Diário de Noticias:

"Há semanas que temos vindo a ser submetidos a um processo de intimidação mental e de asfixia social, que largamente ultrapassa os limites do suportável. O fantasma é o FMI, intermitente como todos os fantasmas, a ameaçar-nos de medos maiores do que os medos habituais no viver português (...) O bispo defendeu o espírito de entreajuda (...) São paliativos que nada solucionam e apenas evocam um conceito de caridadezinha, amiúde execrável. A Igreja tem de ser compelida, e até arrastada, pelo movimento das ideias, a encorajar o protesto generalizado e a indignação colectiva. Não deve quedar-se, através de murmúrios compassivos, pela solidariedade inócua com o sofrimento. O essencial está em causa. A boa vontade não chega. É outra expressão do quietismo, a forma mais sórdida de cumplicidade, e outro modo de disciplina férrea, com que as classes dominantes impõem as suas leis e regras. Reformar quê? Quando, na realidade, estamos a falar do demoníaco, contido numa ideologia que introduziu, como modelo de sociedade, a resignação e o aviltamento progressivo da condição humana. O campo da nossa batalha não é a procura do eterno: é a consciência do nosso tempo."

18 comentários:

  1. O meu caro Rogério cada vez está mais literário.
    O Novembro faz milagres!!!

    Conheci o Baptista-Bastos na Feira do Livro do Porto em 2006, o ano mais horrível da minha vida.
    Conversamos dois dias seguidos e comprei quase todos os livros dele.

    "O inverno vai ser longo e áspero.
    Vou ter muito tempo para recordar".

    PS: Ainda não havia o Facebook, já já se dizia que o povo português vivia para os 4 F´s.
    Para mim o único F válido é a minha FAMÍLIA!!!

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  2. Certeiro.

    Mas quantos têm consciência do nosso tempo?

    Poucos, porque os outros estão, num estado normal neste país, letárgicos.

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  3. Caro Rogério
    A necessidade de percebermos e "tomarmos conciência do nosso tempo" é uma constante. Provavelmente numa outra altura em que estivessemos mais "adormecidos" estas palavras do BB passavam ao lado. Aliás neste caso passavam mesmo não fora a excelente ideia de o meu caro aqui as "plantar".
    Abraço

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  4. Caro Rogério

    Fortes são os que tomam decisões com medo, começo a não acreditar, já quase nem os túneis vejo muito menos a luz ao fundo deles.

    Beijo

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  5. Sinceramente, neste caso, não concordo com o BB. A igreja está desacreditada e já não tem a força de mobilização que já teve. Também acho que, num momento em que se acusa a igreja de todos os males, seja coerente pedir-lhe que seja ela a dar a cara. É a minha opinião sendo certo que, também teria argumentos se defendesse a posição do BB.

    Um abraço,

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  6. Num país como o nosso de maioria católica, estou também de acordo que a Igreja devia ter um papel mais activo e actual face à crise económica e de valores morais que atravessamos, duvido é que tal venha a acontecer.

    "Morre-se de amor. Também se morre dessa doença cruel e implacável, que a sociedade moderna criou e parece não estar muito preocupada em exterminar - o desprezo pelos outros." B.B.

    beijinhos

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  7. Baptista-Bastos é um Senhor Maior da nossa cidadania :)
    Obrigado, Rogério.
    Abraço.

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  8. Olá, Rogério
    Correndo o risco de ainda poder transportar alguns vírus mais resistentes atrevi-me a vir.
    Em boa hora! Gosto do BB.
    Gosto de o ouvir, com aquela sua voz rouca, e gosto igualmente de o ler.
    Ultimamente tem-me ocorrido uma coisa. Acompanha o meu raciocínio:
    Há, em Angola, uma zona onde abunda a mosca tzé-tzé, conhecida pela "zona do sono".
    Como sabes, a picada desse insecto, para além de outras coisas, provoca no ser humano um sono profundo que, aliado a outros malefícios, pde causar (e causa, muitas vezes) a morte.
    Pois eu penso que algum ser maléfico deve ter enchido uma caixa com esses bicharocos, tendo a despejado sobre Portugal.
    E assim se explicaria a sonolência em que todos vivemos, não nos permitindo reagir às maiores diatribes dos nossos (des)governantes.
    Estou certa ou estou errada???

    Boa sexta-feira. Beijinhos

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  9. ematejoca

    Conhcimento mutuo, de Um Grande Senhor. citando o comentário da Ana Paula Fitas(lá mais abaixo). Quanto ao seu PS, Fs sempre foram 3, familia fazia parte dos valores salazarento: Deus, Pátria e Familia...

    Querida Acácia Rubra,

    Felizmente alguns ainda vão tendo, só que destes, muitos calam. Acho que se instalou a autocencura, como mecanismo de defesa relacional. Aí está um grande mal...

    Folha Seca, reforçe por favor
    a esperança dessa Flor

    Flor de Jasmim,
    oiça o Folha SEca
    hoje não precisa de me ouvir a mim

    FMF

    Meu caro, diz que igreja está desacreditada e já não tem a força de mobilização que já teve? Como explicar então a enorme mobilização em torno do Papa, com concentrações tremendas em Lisboa, Porto e Fátima? Como explicar a importancia que Fernando Nobre dá ao eleitorado católico juntando-se nessas manisfestações. O que estará a passar é que a hierarquia da Igreja se deixou ultrapassar por situações e agora tenda aparecer para não perder um terreno que ainda possui...


    A sua citação reforça a minha admiração em si e nele próprio...

    Cara Ana Paula Fitas,
    é raro eu dar mais espaço a outros que a mim próprio. Dei hoje ao BB, merecidamente. A actuação da Igreja merece ser precionada para posições mais consequentes...

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  10. Cara Mariazita

    Concordo com a imagem. Parece doença do sono. Contudo, a posição da Igreja reflecte que a própria hierarquia está preocupada com o "acordar". Enquanto a fome poder ser pretexto para a caridadezinha, ela utilizará a miséria para fazer valer a necessidade da sua força institucional. Mas creio que recei perder o controlo da situação... Voltarei ao assunto, pois ele merece toda a minha atenção. Suponho que deva merecer a atenção de todos, pois existem sectores católicos que estão apreensivos não com a igreja mas com a situação e com a falência do sistema...

    Beijinhos

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  11. Conheci Baptista-Bastos (com carinho,o nosso BB)há muitos anos, trabalhava cada um de nós em seu jornal. Muito do que dele li e ouvi contribuiu para a minha formação jornalística. Como cidadãos de corpo inteiro (perdoe-se-me a imodéstia),em muito pouco, quase nada, o nosso estar não era coincidente. Navegámos sempre, e assim continuamos, em mares semelhantes.
    Foi com grande satisfação que li este post. Dou-lhe um abraço e os parabéns por tê-lo editado, caro Rogério.
    Como a Ana Paula Fitas escreveu, Batista-Bastos é um Senhor Maior da nossa cidadania.
    --
    "O campo da nossa batalha não é a procura do eterno: é a consciência do nosso tempo."

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  12. Carlos Albuquerque,
    Eu calculava, sabia
    Que sabe bem escolher
    uma boa companhia
    (quando é que me dá razões para o colocar na minha galeria de testemunhas que provarão a existência do PiG?)

    Ariel,
    Como vê, só lhe trago gente boa
    e não é à toa...

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  13. O meu amigo e Meste BB é das mentes mais lúcidas a escrever nos nossos jornas, tão parcos em conceder espaços a gente com inteligência.

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  14. Gostei, então o último paragrafo é admirável...

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  15. Pois é Carlos Barbosa de Oliveira
    Por isso nos compete destacar a escrita, a arte e a denuncia dos vendilhões do templo, talvez que assim os mais jovens lhe seguam o exemplo...

    Abraço

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  16. donatien,

    Na construção e no sentido! Estou de acordo consigo

    Abraço

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