«Há esperanças que é loucura ter.
Pois eu digo-te que se não fossem essas já eu teria desistido da vida.» (ver aqui)
Enquanto, num imenso palco, fazemos demonstração do nosso esforço em sermos verdadeiramente humanos, muitos ainda nos olham surpreendidos. Julgam que somos a imitação de uma vida impossível de ser vivida. Essa foi a sensação em dois dias de intensa estadia pela cidade que cabe numa quinta. Cidade erguida em muitos dias de trabalho militante, num enorme estaleiro a que eu já chamei de universidade de todos os saberes. Cidade-palco desse esforço colectivo que fazemos para demonstrarmos como somos. Cidade que se abriu na sexta feira passada. Não entro em detalhes sobre a tarefa que me coube de contactar visitantes e sobre o que lhes ouvi depois de umas, poucas, interpelações. O que ouvi foram palavras e sobre o que vale a pena falar é do olhar. Isso, falar de olhares. Quase todos reflectiam surpresa: surpresa de tornarmos a cidade possível; surpresa por insistirmos em construí-la; surpresa pela persistência; surpresa pela convicção e crença. Mas as surpresas aconteceram também num outro sentido, pois eu próprio me confesso surpreendido: a maioria aceitou passar-nos seus endereços de mail e estarem receptivos a receber informação do Partido.
Faço minhas as palavras de Saramago: "Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas eu já teria desistido da vida".
HOMILIA DE HOJE
Post pré-programado"Feito o arado que rasga a terra, a passagem do tempo deixa sulcos na alma e no rosto.
“As viagens sucedem-se e acumulam-se como as gerações; Entre o neto que foste e o avô que serás, que pai terás sido?”
A única coisa que nós temos de fato é a vida. E com ela podemos fazer tudo, ou nada.
Pais, filhos e netos.
Buscar uma experiência de significação, trilhar a senda do auto-aperfeiçoamento.
A vida é um instante, um sopro.
Quantas gerações já vieram e se foram,
quantas ainda virão e igualmente passarão…
Há quem sustente que é o amor das mães que mantém o mundo em seu eixo.
Memórias poéticas e afetivas.
Os pequenos gestos e instantes que se vestem de beleza e ternura o tempo.
O ato de observar é a única chave que abre a porta dos mistérios.
A paisagem de fora, a vemos com os olhos de dentro.
A paisagem é um estado de alma.
Na realidade, o que vemos está em nós.
Não vemos o que vemos, vemos o que somos…
“Se podes olhar, vê.
Se podes ver, repara.”
Cultivar a quietude do espírito
como potência de transformação.
Ter um olhar capaz de discernir a beleza invisível.
A filosofia oriental nos ensina que
a mais bela imagem não tem forma.
Resgatar a beleza, a poesia e a espiritualidade
capazes de suavizar a nostalgia do Absoluto.
Cativar a via do Silêncio
dentro de nós.
Esta existência terrena é uma
oportunidade de despertarmos
da letargia e do sono.
Esta existência terrena
é a infância da Eternidade.
Uma oportunidade para nos
aproximarmos da Pura Luz
que habita nossa finitude.
Felizes os que aproveitam
com sabedoria a preciosa
aventura que é o existir.
Feliz o olhar capaz
de discernir a beleza
do invisível...
José Saramago, "Beleza Invisível" via facebook
"A cidade que cabe na quinta" trás-nos sempre boas recordações.
ResponderEliminarE acho que concordo, mais uma vez, com Saramago - "há esperanças que é loucura ter"...mas sem elas.....
Abraço amigo
Agora faz sentido toda aquela conversa de mandar a juventude emigrar... um país de velhos é mais fácil de controlar... e se os matarem à fome ainda é mais depressa...
ResponderEliminarBjos
A loucura das esperanças impossíveis é cada vez mais necessa´ria.
ResponderEliminarBom resto de domingo
"A paisagem é um estado de alma.
ResponderEliminarNa realidade, o que vemos está em nós."
E em nós tem de estar sempre viva a esperança, pois sem ela a vida não tem sentido.
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía."
Luís Vaz de Camões na voz de José Mário Branco, ouves ???!!!!!!!
Beijinho
Ná
Belíssima a frase de entrada da entrada de hoje! E mais não digo porque ainda estou dormente e em transe com as medidas (não são novos impostos!! que o CDS opor-se-ia...) que o senhor dos Passos anunciou no outro dia.
ResponderEliminarHoje é possível perder os passos por aqui, como se a “alma” se enchesse de saberes novos e com eles pudéssemos perceber que aquilo fazemos dentro das nossas convicções(por pouco que nos pareça), é o nosso contributo para a construção de um mundo melhor.
ResponderEliminarÉ uma ideia muito reconfortante, esta de aceitarmos os nossos limites, sem que isso nos faça desistir da luta. O “Absoluto” fica tão longe…
"Feliz o olhar capaz
de discernir a beleza
do invisível..."
Um beijo
Há supostas loucuras que nos alimentam a esperança. Sempre!
ResponderEliminar"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome; essa coisa é o que somos"
ResponderEliminarJosé Saramago
Alimentar uma louca esperança é dar força àquilo que necessitamos manter vivo dentro de nós.
Agora, mais do que nunca!
Um beijo, Rogério.
ResponderEliminar... e a seguir a nós outros virão
porque o sonho continua
Abraço
continue Rogério,
ResponderEliminarcom essa esperança talvez louca, mas que nos faz viver
um abraço
Não há o que falar sobre Saramago, sem aplausos.
ResponderEliminarCreio, porém, que, "não vemos o que vemos, vemos o que somos ...", significa uma necessidade de mudança de foco. Colocamos o que somos no que vemos porque a realidade é observada de formas diversas, por cada um. Mas podemos ter seu sentido real, independente do que somos.
O "caput" de sua postagem me pareceu deveras estimulante para seus objetivos. Bjs.