"Acho que as eleições, neste momento, complicam tudo e podem não resolver nada." - Mário Soares, hoje, no DN
"Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira, talvez pudéssemos nos entender melhor." - José Saramago, em 2004, na Veja
Eles se olhavam, como se questionassem o mundo...
Quando me viu chegar o velho engenheiro aproximou-se da mesa perto da minha e antes mesmo de se sentar já me diria palavras, ele que nunca o fizera antes.
- Estou a ler o que está a escrever... sobre Tamara e, ontem sobre Volos...
- Ah! não sabia que me tinha descoberto...
- É mais fácil descobrir-se um inocente que um criminoso
- E que tal?, que pensa dessas utopias?
- Na verdade? sabe? Não tenho pensado. Tenho sonhado. Sonhar é um pouco menos que pensar. Mas também é menos doloroso. Entre um sonho e um pensamento vai a distância que separa a forma de desejar o mundo e aquilo que o mundo nos parece ser...
- Nunca tinha visto isso assim... mas faz sentido
Ficámos ambos por um momento calados e o rafeiro abanava a cauda esperando o reatar da conversa. Retomo-a o velho engenheiro:
- Não é verdade aquilo das gentes perto de Alvega viverem já na antecâmara da utopia. Não é verdade que haja esse sentimento comunitário e que cada um compense o seu vizinho das faltas que ele tem, nem que procure nele aquilo de que carece...
- Não, não é verdade!
- Mentiu, portanto!
- Não, foi apenas um engano, desfeito logo de seguida pelo meu genro...
- Acha que uma utopia pode nascer a partir de um engano desses?, quem ler irá apontá-lo a dedo. Chamar-lhe-ão manipulador, falsificador...
- E o senhor?
- Bom eu acho que as utopias podem nascer de todas as maneiras... de actos voluntários...
- Como em Tamara?
- Sim, como em Tamara. Podem nascer também como forma de resistir a um sistema de perda de soberania e como resposta ao empobrecimento, à falta de recursos para o sustento...
- Como em Volos? Mas não acha que regressar a uma economia de troca não será uma regressão... civilizacional?
- A civilização nunca regredirá se voltar um pouco atrás à humanidade da partilha... Há que saber dar um passo atrás para depois avançar dois...
- Isso é uma tese de Lenine, uma estratégia...
- Uma estratégia de bom-senso, para quem descobre que vive num logro e que seguir em frente é uma loucura... é um desastre... esse sim, civilizacional...
- Acha então que devíamos ter o bom-senso de dar um passo atrás?
- Ou dois... se nos enganámos num caminho é preciso regressar ao ponto do engano e atalhar pelo caminho certo...
- E saberemos fazer isso?
- A necessidade aguça o engenho, é o que diz quem acabará por o saber...
- O povo? Este?
- Não temos outro!...
O diálogo é muito bonito e o todo o texto nos revela a Alma de um homem bom e sonhador!
ResponderEliminarPor muito que nos doa é preciso descer à terra e termos a certeza que nos próximos anos, seremos obrigados a viver com tão pouco que nada nos sobrará para trocar.
Sobretudo, aqueles que vivem nas cidades.
Claro que o sentimento de partilha e troca dos bens essenciais, fará sempre parte do instinto solidário e de sobrevivência da humanidade.
Aqui, não há utopias!
Beijinhos.
cansada de Mários Soares, cansada de toda esta gentinha que nos rouba tudo e descaradamente, cansada de que o povo português aguente tudo sem reagir!!
ResponderEliminarUm abraço amigo
Meu amigo que não nos falte o engenho e arte, pois tudo o resto já falta.
ResponderEliminarTenha um excelente semana.
beijinhos
ResponderEliminarQuem vive na aldeia e tenha as suas leiras para cultivar, esse pode trocar e pode resistir ao que aí vem.
Para o que vive na cidade, só a fome e a criminalidade encontrará... para roer e/ou trocar.
«... regressar ao ponto do engano...», pois. Mas em que tempo se situou ele?
Beijo
Laura
a água nunca passa duas vezes debaixo das pontes - passos atrás não fazem caminho...
ResponderEliminarabraço
Nao temos outro povo, não temos outras gentes, não temos outros governantes.
ResponderEliminarTambém acho que eleições antecipadas agora não iriam resolver nada.
Abraço
Nunca enjeito voltar aqui para resposta a perguntas directas
ResponderEliminarA Laura deixa a pergunta: «... regressar ao ponto do engano...», pois. Mas em que tempo se situou ele?
João Ferreira do Amaral, no video do post anterior fala disso em tom muito preciso... a partir do 10º minuto.
O tempo de adesão ao euro foi o momento errado. Procure-se então outro caminho... vai ser duro? Vai!
Mas sem recorrer a essa saída isto, estando já duro, vai endurecer mais ainda!
ola Rogério passe no meu blog pf. cordialmente
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