25 novembro, 2012

Poesia (uma por dia) - 3


INQUIETANTES DIAS SEM MEMÓRIA...
Inquietantes os dias sem memória
Como se o magma em que se despenham
Fosse apenas mar de sargaços.

E o sol que das cigarras tem o canto
Fossem pingos de chuva. Gelados.
E as bocas fossem apenas grito sufocado. E o cântico
Vazio das almas saturadas...

Ou fossem vãos desertos
Das portas...

Caminhamos injustiças como quem apascenta
Descuidados rumores da fome. E (des)esperamos
Que nesta auréola de frio escorra o sémen
Das horas. E germine a vibração do tempo...

Incertas as praças. Prenhes embora de couraçados.
E auroras faiscantes...

Lá longe o farol clama.
Na intermitência das dores. E dos relâmpagos...

17 comentários:

  1. Gosto muito!
    Uma qualquer resteazinha de bom senso sussurra-me que não pergunte quem usa o pseudónimo de Heretico... eu faço-lhe a vontade! :)

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  2. Excelente poema

    no outro lado do cais

    onde o farol clama

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  3. ... e assim com relâmpagos

    se ilumina o chão

    para caminharmos
    por sobre as águas

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  4. de vez em quando o heretico sai com um poema cá para fora, sempre muito bom.

    mais uma escolha muito bem acertada.

    beijo

    ;)

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  5. Só por um dia?
    Não se consegue mais?

    Com essa qualidade...
    Vá lá, força!

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  6. Amigo,

    Belo poema
    deslumbrante poema
    linda forma de o escrever...de o dizer, de o sentir.

    Me fascinou, junto com sua presença e palavras nos "7degraus".

    Por lá, vou procurar responder!

    Abraço, Maria Luísa

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  7. tudo lindo e profundo
    detive me no farol - que recebe as tempestades e que as faz luzes trementes
    não mais tão tementes

    adorei, Rogério.

    Barbara.

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  8. envie minhas lembranças ao "mar arável"

    por favor.

    Barbara.

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  9. Muito bom! «Caminhamos injustiças como quem apascenta
    Descuidados rumores da fome.» - Muito intenso. E bem duro.

    Muito boas escolhas, Rogerito.

    Bom domingo.

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  10. Muito belo, inquietante e algo desencantado!
    Felizmente, lá longe, ouve-se o grito do farol... A luz dos relâmpagos iluminará o caminho que nos conduzirá a bom porto.
    Parabéns ao autor e obrigada a si, Rogério!

    Um dia é muito pouco! Não sei o que aconteceu, mas eu não dei pela passagem do poema nº 2.

    Beijinhos.

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  11. A luz que se faz anunciar neste belo poema vai iluminar-nos a rota.

    Abraço

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  12. Desencanto:"E o cântico
    Vazio das almas saturadas...
    "Incertas as praças" nas raízes do porvir. E, apesar disso, apesar dos "vãos desertos
    Das portas"
    as portas entreabertas deixando passar a claridade de um "farol que clama".

    Um poema a confirmar a excelência de um dizer atual, atuante...

    Um beijo

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  13. O farol a aguardar, aguardar...
    As portas abertas, estupidamente desertas.
    O mar de sargaços, sufucado.
    O barco a navegar em águas serenas, plenas.
    Os relâmpagos iluminam o caminho de quem caminha sobre as àguas - Buda.(sozinho)
    O vazio das almas saturadas...
    E um "novo" cântico...

    Muito triste e comovente, como a história de uma vida que leio de uma forma tão transparente.
    (mas não deixa de ser um belo poema)

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  14. grato, meu caro Rogério.

    sensibiza-me a tua gentileza e a tua amizade.

    privilégio meu ver o meu "poeminha" publicado no teu blog. honra-me esse facto.

    forte abraço

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  15. Parabéns ao autor, que caminha com destreza através dos versos. E a você, pela escolha, sem dúvida baseada, também, no conteúdo do poema. Abraços

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