Era do outro lado da estrada, à porta da tasca, num terreiro onde parava a rara camioneta de carreira que ligava o Montijo ao Barreiro. Da quintinha até lá eram cem passos apressados e mal contados. Era ali que aos domingos se juntavam os homens. Miúdos não havia, era só eu. Minha avó deixava-me ir, contrafeita "não te quero ali, aquela gente não tem tino na língua e só sabem dizer destarelos". Mas eu insistia e ia. Ia e ficava por lá até que a última rodada fosse paga por quem não tivesse ouvido uma única vez o grito de "boa malha". Tino na língua, não tinham. Quanto a dizerem "destarelos", não sabia se os diziam, mas não parecia que os dissessem. Falavam das duras condições de trabalho lá na fábrica dos adubos do Barreiro, em confronto com as condições que havia na Mundet, a corticeira ali perto. Falavam do salário magro. Falavam do pão que fazia parte da semanada. Falavam de coisas do Estado e da volta que se esperava que este levasse. Falavam de Nehru e da muito provável invasão de Goa. E entre um assunto e outro, se ia ouvindo "boa malha". Acho que aqueles homens não reuniam ali para jogar. Nem para beber. Acho que eles ficavam por ali para se sentirem irmanados naquilo que os irmanava.
O jogo era mero pretexto e de cada vez que lhes ouvia coisa acertada, gritava para dentro de mim mesmo, sem que ouvissem nada: "boa malha!"
Li com atenção os registos anteriores sobre as realizações do programa do Centenário de Álvaro Cunhal.
ResponderEliminarEntretanto, já tinha ouvido o "camarada" Jerónimo num discurso muito apelativo e muito bem engendrado de evocação a Álvaro Cunhal. Gostei de o ouvir...
Não se pode ficar indiferente à influência na vida portuguesa de Álvaro Cunhal e do PCP.
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Quanto ao chinquilho, concordo que tenha sido mais uma forma de os homens da época anterior ao 25 de Abril se poderem juntar, confraternizar e atualizar as suas informações.
E que época essa, até as paredes tinham ouvidos! E hoje?!...
Boa malha, Rogério!
O que faz falta?
ResponderEliminarÉ malha
nos que fazem deste povo
um chinquilho
Abraço
Outros tempos....
ResponderEliminarAs reuniões à vista de todos para ninguém desconfiar. O jogo da malha era um pretexto....Mas estou como se diz em cima - uma boa malha precisavam alguns que nos tornam autênticos pinos!!!
Abraço
o jogo tece e une e dá nós
ResponderEliminarcomo a malha
tenho um som ainda guardado, o do metal contra metal
O que precisamos é de malhar neles, como há muito tempo avisava o Santos Silva...
ResponderEliminarNão lhe demos a devida atenção e agora até temos a Helena Matos a participar no guião do "Depois do Adeus".
Ah, pois é...
Aqui no Norte este jogo é chamado fito. Ainda é bastante popular. Quanto ao tino na língua... Isso é coisa que por estes lados não há!
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ResponderEliminarO jogo, um "brincar" adulto para não se ser só na desgraça.
Que país este! Não se sai da "cepa torta".
Ainda se joga ao chinquilho nalgumas aldeias por aqui perto!
ResponderEliminarSe dizem "destarelos" não sei, é jogo de homens que só observava de longe em miúda quando ia de férias para casa dos avós maternos!
Eu conhecia-o por "jogo do belho". Mas a "malha" era boa...
ResponderEliminarUma irmandade que já não existe, hoje cada um joga para si.
ResponderEliminarbeijinho
Fê
As tuas palavras fazem-nos viajar no tempo. Gostei.
ResponderEliminarDesejo-te um Ano Novo com muita paz e tranquilidade, toda aquela que for possivel.
Abraço amigo.
cecilia