14 janeiro, 2013

O mail


Não me julgo diferente e penso que a todos acontece deixar de ter presente coisas que nos preencheram por termos preenchido momentos de outros. É bom beliscar a memória, dos outros e a própria. Passou tempo e já não me lembrava até que um mail mo veio lembrar. Dizia assim:
Olá Rogério, boa noite! 
Faz tempo que ando para te escrever, mas, umas vezes a minha alma , outras o meu contrário, não se têm entendido de modo a espicaçar o meu "eu" para que este se decidisse, finalmente, a dizer-te de quanto apreciei o teu livro, que li há aproximadamente um mês... 
Sabes?, conseguiste "mobilizar-me", i. é, deste-me uma visão inesperada da guerra que não vi nem vivi (mas senti na pele dos outros), mas onde perdi quatro Amigos.
O acaso -que te hei-de explicar- decidiu poupar-me e fez de mim, um "corpo" que não foi fardado (salvo os primeiros seis meses), não obstante me ter obrigado a ser um "não civil" durante três anos, três meses treze dias e meia-hora.
Gostei, aliás gosto, da tua escrita escorreita e da forma clara e objectiva como descreves um quotidiano doloroso e as suas pequenas/grandes vicissitudes.
Ler a guerra através de interpretação vestida de bata branca, a salvar vidas, é muito diferente do que saber dela de camuflado a tirar vidas, ainda que em legítima defesa. Acredita que cheguei a comover-me com as tuas palavras e retive -imaginei- muitos detalhes, que estão para além das "estórias", especialmente pelo pudor, sensibilidade e subtileza que soubeste utilizar nas (não)descrições e na maneira com preencheste muitas das entrelinhas. 
Felicito-te por tudo e agradeço-te, porque só o talento do escritor que és pode aguçar o talento do leitor que eu sou.
Não sou de muitas palavras, nem crítico literário, como sabes, mas estas que aqui deixo são sinceras e sentidas.
Temos tantas coisas em comum e, já agora, mais uma: Também nasci em Fevereiro de 1945, a revelação da data fica para o próximo encontro com os nossos Amigos. 
A minha guerra(?) foi diferente, durou uma página e se tivesse um subtítulo seria "Corpo que não foi fardado". Aqui te deixo o link: 
Um forte abraço e votos de tudo de bom para ti e para os teus. 
E foi com o ego inchado que fui ler o texto que me tinha mandado. Vá também!

6 comentários:

  1. Não fui....não tinha jeito. Nem iria por vontade própria.

    Também sou, assim sendo, "Um corpo que não foi fardado".

    Abraço

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  2. Um passado comum que aproxima vozes emoções e comoções.



    Lídia

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  3. ...e deixas-me assim com um frémito de emoção a percorrer-me o "corpo que não foi fardado".

    Obrigado Amigo!
    Grande abraço

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  4. Sou de Moçambique mas...não vivi a guerra. O que sabia, era-me contado por um irmão médico que fez tropa em zonas de alto risco e que, quando vinha a férias a casa, nos relatava verdadeiras aventuras e depois, posteriormente, casei com ex-militar que continuou fazendo um relato quase irreal (para mim) de tudo o que tinha passado... Portanto a guerra...foi quase como um filme contado por outros.
    Gostaria de ter o teu livro falado por tantos amigos comuns. Como o poderei adquirir?
    Claro que o nosso ego, de vez em quando precisa de ser alimentado e, quando condiz a cara com a careta - como é o teu caso - é mais que merecido.
    Um abraço de Parabéns.
    Graça

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  5. Gostei de lá ir :)

    Uma escrita cheio de humor que me fez sorrir.
    Outra alma que viveu tempos difíceis.

    beijinho

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